Banco Central vende US$ 1 bilhão de reservas e dólar recua

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

O Banco Central realizou um leilão de US$ 1 bilhão de reservas no mercado à vista, nesta quinta-feira (28/11). Vendeu tudo, dando uma leve segurada na alta da moeda norte-americana, que registrou nova máxima histórica, ontem, de R$ 4,26.  Após a operação realizada antes das 10h, o dólar comercial abriu as negociações em queda e estava cotado a R$ 4,245 para a venda, pouco depois das 12h, com recuo 0,33% em relação à véspera. 

 

Outro leilão previsto pelo BC hoje antes da abertura dos mercados, de contratos de swap cambial para a rolagem de contratos, não teve procura alguma. A autoridade monetária realizou três leilões extraordinários no mercado futuro nos dois últimos dias mas não consegui evitar os recordes históricos da semana para a divisa norte-americana, porque acabou vendendo bem menos do que ofertou. 

 

A instabilidade no mercado de câmbio nesta semana foi resultado, principalmente, das declarações desastrosas do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o dólar e cogitar um novo AI-5, no caso de manifestações, segundo os analistas. A fala gerou inquietação e abriu espaço para especuladores apostassem contra o Banco Central, testando até onde o dólar poderia ir para que o BC começasse a interferir.  “Estamos vendo uma briga do mercado com o Banco Central. Ele quer ver qual é o limite para a alta do dólar, que estava encostando em R$ 4,30, para ver até que ponto ele vai intervir mais fortemente”, comentou o economista Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora. 

 

O BC preferiu agir com cautela, atuando apenas no mercado de derivativos nos últimos dias, e, por conta disso, não conseguiu evitar os novos recordes para a moeda norte-americana, no entender dos analistas. “O mercado não quer swap. Ele quer dólar à vista e o BC tem errado na comunicação para evitar os ruídos que foram provocados pelo Paulo Guedes”, avaliou Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora. Ele lembrou que, em todo final de ano, há uma demanda maior por dólares pelas empresas com sede no exterior e pelos exportadores, que precisam fechar seus contratos e enviar lucros e dividendos para as matrizes. “É normal uma saída maior de dólares nos últimos meses do ano. Mas o cenário externo e a frustração com o leilão da cessão onerosa, que previa uma entrada de US$ 8 bilhões, nas não chegou a US$ 1,7 bilhão, deixou o mercado de câmbio mais instável”, explicou.

 

Para Nehme, a autoridade monetária está se comunicando mal com o mercado, porque não há fundamentos que apontem uma crise cambial no momento. “O risco país está baixo e as reservas são elevadas. Houve falha na comunicação do BC. Ele precisa mostrar preocupação com a alta do dólar, porque isso poderá interromper mais cedo do que o esperado o ciclo de redução da Selic (taxa básica de juros)”, ressaltou. 

 

Desde 23 de agosto, o volume de reservas internacionais encolheu US$ 22,1 bilhões até 26 de novembro, último dado disponível do Banco Central, totalizando US$ 367,8 bilhões. “Não há problema algum se o BC vender mais reservas”, disse. Ele lembrou que essa recuo do dólar também acabou tendo uma ajuda do mercado externo, porque as bolsas dos Estados Unidos estão fechadas devido ao feriado enquanto as demais caem por conta da declaração do presidente Donald Trump apoiando as manifestações de Hong Kong contra o governo chinês. Mais uma pitada de nervosismo da guerra comercial entre as duas potências globais.

 

Na avaliação de Galhardo, como os juros estão baixos há um movimento de investidores estrangeiros saindo do país porque o retorno não está sendo vantajoso em relação ao risco tradicional de um país emergente. “O capital ruim está saindo, que é o especulativo, mas o bom, que é o investimento de longo prazo, ainda está demorando para entrar porque as privatizações não estão avançando no ritmo esperado”, completou. Ele lembrou que, em outubro, o volume de saída de dólares do país divulgado pelo Banco Central, de US$ 8 bilhões, ficou acima dos US$ 5 bilhões esperados, outro motivo que gerou tensão no mercado de câmbio.