Espanha Barcelona Luis Enrique (camisa 8) e Pep Guardiola (9) eram titulares da Espanha, medalha de ouro em Barcelona-1992

Última seleção medalha de ouro em casa só tinha jogadores sub-23. Dunga toparia repetir o feito da Espanha?

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A Espanha foi a última seleção que conquistou a medalha de ouro dentro de casa no torneio masculino de futebol dos Jogos Olímpicos. Em Barcelona-1992, o técnico Vicente Miele teve de driblar um problema: a Fifa não permitia a convocação de três jogadores acima dos 23 anos. Até Seul-1988, a entidade máxima do futebol tolerava jogadores sem passagem pela Copa do Mundo. Quatro anos depois, transformou o torneio em Sub-23. Desde Atlanta-1996, passou a dar brecha para a convocação de três nomes acima desta idade.

Dunga esteve em Barcelona nesta semana. Abriu negociação com o técnico Luis Enrique para ter o atacante Neymar, 24 anos, como um dos três curingas nos Jogos do Rio-2016. O clube catalão aceita liberá-lo para um torneio. Dunga e Neymar querem o aval para as disputadas da Copa América Centenária, nos Estados Unidos, e das Olimpíadas. Alguém tem que ceder e o tempo é curto para que o martelo seja batido.

Em Barcelona-1992, Vicente Miera não teve nem o direito de negociar. Opções acima dos 23 anos não faltavam. Ele poderia ter escolhido, por exemplo, o goleiro Zubizarreta, o meia Michel e o centroavante Butragueño. Mas a Fifa não autorizava. Vicente Miera foi aos Jogos com o que tinha de melhor até a idade limite impressa no regulamento. Mas deu uma sorte danada. O elenco Sub-23 tinha, por exemplo, o goleiro Cañizares, o promissor Albert Ferrer e dois meias bem acima da média: Luis Enrique e Pep Guardiola. Sob a batuta de Fernando Miera, a Espanha goleou a Colômbia por 4 x 0 e derrotou Catar e Egito por 2 x 0. Nas quartas de final, desbancou a Itália por 1 x 0. Nas semifinais, Gana, por 2 x 0. A medalha de ouro chegou com um triunfo épico diante da Polônia no Estádio Camp Nou, por 3 x 2.

Dunga teria coragem de montar uma Seleção Brasileira como a do Vicente Miera, ou seja, sem jogadores acima dos 23 anos? Aparentemente, não. O treinador medalha de bronze em Pequim-2008 à frente do time verde-amarelo já deixou claro que, se tiver de escolher, prefere contar com Neymar nos Jogos do Rio-2016. Mas ouso dizer que material humano ele tem para formar um bom time sem medalhões. Talvez, esteja inseguro por não conhecer o potencial dos meninos tão de perto quanto o bom técnico Rogério Micale, que vai ser auxiliar de Dunga.

A última convocação tem bons nomes para a defesa, como Wallace, Dória e Rodrigo Caio. Fabinho e Douglas Santos são ótimas apostas para as laterais. Gosto de Rafinha Alcântara e, principalmente, do brasiliense Felipe Anderson no meio de campo. E o ataque tem talentos de sobra como Gabriel Jesus, Malcom, Gabriel, Luciano e Luan.

Está claro que a safra é boa. Mas o problema não é a safra. Muito menos a presença ou não de Neymar e mais dois jogadores acima dos 23 anos entre os 18 convocados. A comissão técnica precisa preparar psicologicamente um elenco que viu o Brasil perder a Copa de 2014 em casa — e do jeito que foi — para o desafio de tentar a medalha de ouro inédita… novamente em casa.

Mais do que a fusão da excelente safra com jogadores acima dos 23 anos, como Miranda, Oscar ou Willian e Neymar, por exemplo, é preciso estar bem da cabeça. O talento dos jogadores abaixo dos 23 anos e a inteligência, o equilíbrio emocional, levaram a Espanha ao ouro em casa em Barcelona-1992. Negociar a liberação de Neymar não é o principal desafio de Dunga. Montar um time saudável da cabeça aos pés é maior missão do capitão do tetra. Com ou sem jogadores acima dos 23 anos. Que a Espanha de Vicente Miera sirva de lição.