Fifa Aldyr Schlee venceu, em 1953, o concurso que elaborou o novo uniforme da Seleção. Foto: FifaTV Aldyr Schlee não quer ver a camisa da Seleção nem pintada

Entenda por que o pai da amarelinha não quer nem saber como será a camisa do Brasil na Copa da Rússia

Publicado em Esporte

Era um telefonema simples. Só para apurar se Aldyr Schlee, de 83 anos, fazia ideia de como será o uniforme do Brasil na Copa da Rússia — a nova camisa azul será usada neste mês, no amistoso contra a Rússia, em Moscou; e a amarela, diante da Alemanha, em Berlim.

De Capão do Leão (RS), onde mora Aldyr Schlee, a voz firme e irritada surpreende em entrevista ao blog: “Não sei nem quero saber (como será o uniforme da Copa). Não faço questão nenhuma. Que façam do jeito que acharem melhor”, desabafa o criador da camisa canarinha — uniforme número 1 da Seleção há 68 anos, desde 20 de janeiro de 1954, quando o novo modelo foi apresentado.

A justificativa para o desapego é política, ideológica. “A camisa da Seleção foi utilizada na campanha contra a (ex-presidente) Dilma (impeachment), como símbolo de nacionalidade. A camisa é a própria corrupção, tem o símbolo da CBF”, argumenta Aldyr por telefone.

Até a Copa de 1950, a camisa da Seleção era branca. Depois da derrota por 2 x 1 para o Uruguai, na última rodada do quadrangular final da Copa de 1950, a cor foi amaldiçoada como símbolo do Maracanazo. Houve um concurso promovido pelo jornal Correio da Manhã para a elaboração do novo uniforme. Aldyr Schlee venceu e virou o pai da amarelinha.

A cada lançamento, Aldy Schlee costuma receber do fornecedor de material esportivo da CBF uma camisa customizada da Seleção.  O modelo de 2018 ainda não chegou, mas ele reforçou mais de uma vez ao telefone que não faz questão de ver.

Em um determinado momento da conversa, Aldyr Schlee arrependeu-se até mesmo de ser o pai da amarelinha. “Não quero mais saber. Abdico de ter qualquer ligação por ter feito. Quanto mais diferente (o modelo da Copa da Rússia) do que eu criei, melhor. Que vistam outra cor. De preferência, marrom, que é cor de m…”, esbraveja.

Minutos depois, um pouco mais calmo depois de falar da seleção do Uruguai, sua maior paixão, Aldyr recuou. “Eu não me arrependo de ter feito (a amarelinha), mas fico indignado com gente mal informada, ignorante. Fazer campanha contra a Dilma com uma camisa que é o próprio símbolo da corrupção no país?!”, questiona.

Aldyr Schlee conta que recebeu da Nike várias versões da camisa da Seleção. “Isso começou na época em que o Ingo Ostrovski era o diretor da Nike no Brasil. Uma pessoa fina, muito educada”, conta.  Embora tenha uma coleção de mimos, o pai da amarelinha jamais deixou de ser o crítico número 1 da grife norte-americana.

“Aquela caminha que tinha uma bola e número  no meio era uma das piores, uma coisa horrorosa, parecia até bingo. Teve uma também com uma gola que parecia de pijama”, lembrou, com ataques também aos marqueteiros da marca e da CBF. “Eles sempre dizem que o novo modelo é inspirado na camisa da Copa de 1970. Não mudam o discurso”, alfineta.