Bom para o Brasil, bom para o Neymar. Uma reflexão sobre a exclusão do capitão e camisa 10 da Seleção de Dunga da Copa América

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Itália, Espanha e Alemanha foram campeãs do mundo sem um “Neymar”

Há muito tempo defendo que o título da Itália na Copa de 2006 foi um marco. Deu início a um hiato naquele papo de que, para ser campeã, uma seleção precisa necessariamente ter e depender de um craque. Pergunto: quem era o fora de série daquele time do Marcello Lippi? Ninguém! Era o time. A Squadra Azzurra anunciava o fim do vínculo técnico com um cara, do tal do joga a bola no Maradona, no Romário, no Ronaldo, que ele resolve. A Itália foi tetra porque formou uma equipe. A partir disso, o talento individual de caras como Pirlo, Totti, Del Piero e Cannavaro — zagueiro eleito melhor do mundo — fez a diferença.

A história se repetiu nas últimas duas Copas. Responde aí: quem era o Messi, o Cristiano Ronaldo da Espanha de Vicente Del Bosque em 2010? E da Alemanha de Joachim Löw em 2014? Nenhuma das duas seleções gravitava em torno de um fora de série. Assim como a Itália de 2006, Espanha e Alemanha trabalhavam com um conceito de time. Aliás, diga-se de passagem, três timaços na minha humilde opinião.
O que quero dizer com isso?
A suspensão de Neymar por quatro jogos, ou seja, sua exclusão da Copa América, pode ser encarada de uma forma positiva. Por mais que a safra seja limitada, Dunga tem a chance de descobrir dentro de uma competição um time capaz de tornar seu fora de série a cereja do bolo. Não importa se a Seleção ganhará ou perderá a Copa América. Isso não pode ser o mais importante neste momento de crise do futebol brasileiro. Aliás, além da taça, o torneio continental dá direito ao campeão de disputar a Copa das Confederações da Rússia em 2017. Aquela que o Brasil ganha sempre na véspera do ano da Copa e se dá mal na hora do Mundial. Vale a pena o esforço?
É difícil aceitar, mas o momento exige a formação de um time capaz de jogar junto com o Neymar, que não seja dependente dele para tudo, ou seja, da cobrança de um tiro de meta ao gol. O desafio de Dunga é o mesmo de Gerardo Martino na Argentina, e de Fernando Santos em Portugal. Montar um time capaz de dar suporte aos fora de série Messi e Cristiano Ronaldo. Nenhum deles conseguiu isso ainda. A Argentina não ganhou nada com Messi ainda. Portugal também não na era de Cristiano Ronaldo. 
Montando um time, treinando duro, trabalhando, é possível até conquistar títulos sem um Messi, um Cristiano Ronaldo, um Neymar. As últimas três seleções campeãs da Copa do Mundo — repito — mostraram isso. É preciso ter um técnico (Dunga ou um outro qualquer) disposto a pagar o preço e dirigentes minimamente pacientes para tolerar bons e mais resultados. A missão não é fácil. E alguém falou que seria?
Quanto a Neymar, repito o que disse, há duas semanas, na minha coluna “Máquinas do Tempo” no Correio Braziliense. Como recomendou Xavi, Neymar precisa refletir sobre seu estilo de jogo. Ninguém é chamado de “cai-cai” a toa por um bandeirinha. Ninguém é odiado a toa por tantos jogadores de clubes e seleções diferentes. Alertei que ele não contaria na Copa América com a blindagem que teve em casa na Copa do Mundo. 
Na partida contra o Peru, recebeu cartão amarelo porque apagou a marca de spray do árbitro no gramado. Desnecessário. Diante da Colômbia, outro amarelo, dessa vez por colocar a mão na bola, e um vermelho depois de chutar a bola em Armero, dar uma cabeçada em Murillo,xingar o árbitro Enrique Osses e pressioná-lo no túnel. Tudo isso depois do apito final. A atitude seria inadmissível para um simples jogador. Neste caso, estamos falando do craque do time, do camisa 10, do capitão da Seleção Brasileira.
Por isso, vai ser bom para o Brasiljogar sem Neymar. Eis uma chance de se redescobrir, de se reinventar mesmo em tempos de vacas magras.  Por isso, vai ser bom vai ser bom também para o Neymar a geladeira. Nada como pensar de cabeça fria no conselho dado  por Xavi e que, pelo jeito, foi totalmente desprezado por quem está fora da Copa América por causa simplesmente das própria prepotência.