Um bate-papo com Diogo, artilheiro do Campeonato Tailandês. Lembra dele?

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Crédito: Arquivo Pessoal. Entrevista com o Diogo, ex-jogador do Flamengo, Santos e Palmeiras que está na Tailândia.

Na terra do muay thai, um embaixador do país do futebol tenta ajudar o esporte bretão a ser o preferido na Tailândia. Chamado antigamente de Sião, o paradisíaco país asiático tem um novo rei no campeonato local. Diogo Luís Santo é o artilheiro da Thai Premier League com 27 gols e acaba de virar o maior goleador de uma só edição da Liga Tailandesa. Em entrevista por telefone ao Correio, o jogador revelado pela Portuguesa, convocado por Dunga para a Seleção Brasileira olímpica em 2007, e contratado pelo Flamengo em 2010 indicado por Zico, conta por que não conseguiu brilhar no time da Gávea e muito menos no Santos e no Palmeiras. Querido na Grécia, onde defendeu o Olympiacos sob a batuta do Galinho, Diogo curte, agora, a fama de ídolo da fanática torcida do Buriram United. Líder da emergente Thai Premier League, o clube tem média de público de mais de 18 mil pagantes por jogo — superior à de 13 times da Série A do Brasileirão. Diogo explica no bate-papo a seguir por que nunca emplacou na Seleção Brasileira e no Flamengo. Amigo de Neymar nos tempos de Santos, ele chuta Lionel Messi e Cristiano Ronaldo para escanteio e elege o parça melhor do mundo em 2015.

Imaginou algum dia, quando jogava lá no Pequeninos do Jockey, em São Paulo, que jogaria na Tailândia?
Quando eu joguei na escolinha do Pequeninos do Jockey era uma tradição ter excursões internacionais para a Noruega, Dinamarca, Finlândia, mas isso era no tempo de criança. Lógico que eu sempre tive o sonho de ser jogador de futebol, mas é claro que nunca passou pela minha cabeça jogar na Tailândia. Fiquei surpreso e estou muito feliz com o momento que vivo aqui.

O que é jogar no Campeonato da Tailândia?
Eu não conhecia nada. Vim mais por causa da proposta. Quando cheguei, eu fiquei muito surpreso com a estrutura do clube. Estamos afastados da capital do país, que é Bangkok, mas o Buriram tem Centro de Treinamento tanto na nossa cidade quanto em Bangkok. Temos até uma concentração fixa lá quando precisamos. A estrutura é impressionante. O nível do Campeonato Tailandês não é o mesmo do Brasileirão, óbvio, mas é competitivo.

O Buriram disputou a última Liga dos Campeões da Ásia…
Sim, tivemos a infelicidade de não nos classificarmos. Três times ficaram empatados na fase de grupos, mas ficamos fora nos critérios de desempate. Isso mostra que a liga daqui é competitiva.

Levantei que o Buriram United tem uma média de público superior à de 13 times da Série A do Brasileirão. O que justifica  isso?
Eles são apaixonados, e isso me surpreende. O esporte que ouvia falar na Tailândia era o muay thai. Aqui, eles dizem hoje que o esporte preferido é o futebol. A prova disso é o último jogo da seleção da Tailândia pelas Eliminatórias para a Copa de 2018. Cara, o estádio de Bangkok estava lotado na partida contra Taiwan. Se não me engano, tinha 60 mil pessoas. Para eles, tudo é festa, perdendo ou ganhando. A Thai Premier League é muito organizada.

Você tem 27 gols em 27 jogos no Campeonato Tailandês. Só lembro de você artilheiro na Série B com a camisa da Portuguesa. A que se deve esse recorde na história do Nacional daí?
O futebol tem coisas inexplicáveis e, ao mesmo tempo, boas. É uma soma de tudo. Eu me encaixei no sistema de jogo do time e o meu posicionamento é diferente. Eu nunca fui um centroavante número 9, fixo. As minhas melhores fases foram sempre jogando ao lado de mais um atacante e aqui atuo mais centralizado ao lado de um outro brasileiro (Gilberto Macena). Tenho liberdade ao lado dele lá na frente. Eu jogo como sempre gostei, como era na Portuguesa e no Olympiacos, da Grécia, por exemplo.

Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Fazer 27 gols no Campeonato Tailandês é fácil”
Cara, eu jogo futebol porque amo e me faz feliz. Tem uns que elogiam, outros criticam, mas isso faz parte da minha profissão. Com o passar dos anos, eu aprendi a conviver com isso. O mais importante é que eu estou feliz e dou o máximo de mim sempre.

Dos 18 times do Campeonato Tailandês, só cinco não têm brasileiro no elenco. É um novo eldorado?
Está em expansão. A Tailândia tem muitos estrangeiros, são no máximo cinco por clube.

O Heberty, paulista como você, era o maior artilheiro do Campeonato Tailandês, com 26 gols. Você superou. Hoje, ele defende a seleção do Timor Leste. E você recebeu proposta para se naturalizar?
Não, até pelo fato de eu ter servido as seleções de base do Brasil. Fui convocado até para a olímpica, em 2007, e eu realmente não sei se posso. Mas nunca recebi proposta.

Ser comandado por um técnico brasileiro, no caso, o Alexandre Gama, ajuda na adaptação?
Com certeza. A comissão técnica e o elenco têm outros brasileiros também, isso ajuda muito.

Você tem 28 anos. Poderia estar em um grande centro da Europa ou em algum grande clube brasileiro. As lesões na carreira o afastaram do futebol de alto nível?
Eu evito pensar no que poderia ou não ter acontecido, mas, com certeza, uma das coisas que me atrapalharam bastante foram as contusões. Um dos motivos da minha felicidade neste ano é eu ter suportado uma maratona de jogos muito grande. Não tive nenhuma lesão, e isso é um motivo de felicidade para mim. No Santos e no Palmeiras, por exemplo, sofri muitas contusões. Quando eu estava no Santos, cheguei a ser titular, mas me machuquei.

As lesões o impediram de disputar o Mundial Sub-20 e os Jogos Olímpicos de Pequim-2008…

Na época da convocação da Sub-20, eu quebrei o braço. Antes da lista das Olimpíadas, eu tive uma fratura no pé. Isso tudo me atrapalhou muito. Não foi frustrante ficar fora dos Jogos Olímpicos porque houve um acidente. Eu estava em uma fase maravilhosa, mas aconteceu.

Foi um erro ter trocado o futebol grego pelo Flamengo na época em que o Zico era diretor do clube?

Erro, não. Para mim, foi um privilégio defender o clube de maior torcida no Brasil. O Zico havia sido o meu técnico no Olympiacos, da Grécia, e eu não poderia recusar um convite dele. Infelizmente, eu cheguei em um momento conturbado. Eu fui apresentado uma semana depois da saída do Adriano. Além disso, teve o caso do goleiro Bruno. Se você pesar, aquele foi um ano muito complicado. Se você pegar jogador por jogador daquela época, o elenco era fantástico, mas futebol não é só isso. Não tínhamos um time ruim, o elenco era para brigar por coisas grandes.

Você foi para o Santos e ganhou quase tudo ao lado do Neymar. Como foi a experiência de jogar com ele?

O Neymar é um moleque fantástico, um craque. Para mim, não é surpresa nenhuma a fase dele. Eu notei lá no Santos, de perto, onde ele chegaria. É difícil arriscar, mas eu creio que ele  brigará pelo prêmio de melhor do mundo nos próximos anos. Para mim, ele é o melhor jogador de 2015, mas é claro que a Bola de Ouro leva em conta muita coisa e aí, a tendência é que o Messi ganhe.

Antes do 7 x 1, a pior derrota do futebol brasileiro havia sido aquela goleada do Barcelona sobre o Santos por 4 x 0 na final do Mundial de Clubes de 2011. Como explicar aquela aula?

O Barcelona era uma seleção mundial. Demos o azar de pegar o Barcelona em um dia em que eles não erraram nada. Naquela mesma época, eles haviam goleado o Real Madrid no Espanhol.

O que há com a Portuguesa, um clube capaz de revelar você, Rodrigo Fabri, Dener, Celsinho e estar na pindaíba?
A Portuguesa parou no tempo e colhe o que plantou. Foram várias más administrações.

Momento turismo. Você aconselha alguém a comprar um pacote para a Tailândia?
Pode vir de olho fechado. Além de o país ser bonito, as pessoas são muito receptivas. O povo é sempre alegre. A gastronomia tem aquelas coisas diferentes. Eu já vi escorpião, aranha, gafanhoto… A comida normal, mesmo, do dia a dia, é muito apimentada. Carne de porco, arroz, tudo eles comem com muita pimenta. Tenho mais dois anos de contrato e espero cumprir.

Já experimentou lutar muay thai?
Não dá pra mim, não, pô (risos). Se eu me machuco, como vou jogar futebol?