Ponte Joaquim Cardozo

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Crédito: Arquivo Pessoal. Joaquim Cardozo

Severino Francisco

Como foi amplamente noticiado, a Justiça do DF suspendeu o nome Honestino Guimarães para a ponte que liga o Plano Piloto e o Lago Sul e, ao mesmo tempo, proibiu que o monumento seja chamado de Ponte Costa e Silva. A justificativa é que ambos os nomes não foram precedidos de audiências públicas. Caberá à Câmara Legislativa estabelecer o debate.

Há alguns meses, lancei nesta coluna o meu candidato: o poeta do cálculo estrutural Joaquim Cardozo. Sem ele, os voos rasantes de imaginação riscados por Oscar Niemeyer permaneceriam eternamente no papel. Quando Niemeyer apresentava seus projetos, os engenheiros calculistas convencionais diziam que eram simplesmente inviáveis. Com audácia e rigor, Cardozo contribuiu decisivamente para erguer prédios e palácios de concreto que parecem mal tocar no chão.

A criação de Brasília provocou espanto mundial não apenas pelo arrojo das formas de Niemeyer, mas também pelos avanços na tecnologia de construção. Apesar de toda a relevância, o nome de Joaquim Cardozo praticamente se evaporou da paisagem de Brasília. Não existe nenhuma menção ao ilustre engenheiro.

11/04/2016. Crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press. Oscar Niemeyer queria que a ponte mal tocasse na água como uma andorinha.

Desde que lancei a candidatura de Joaquim Cardozo, recebi inúmeras manifestações de apoio pela sugestão, que volto a compartilhar com vocês. Walter Melo escreveu: “Receba meu modesto apoio pela proposta da nova denominação da Ponte, em homenagem à Joaquim Cardozo, sábio, poeta, arquiteto, calculista, humanista e extraordinária figura humana”.

Já o leitor Sérgio Frossard de Almeida ressalta: “Muitíssimo oportuna tal lembrança. É preciso que se resgate homenagem a quem realmente foi importante para a cidade. É preciso que se resgate a história de quem é merecedor de tal homenagem”.

16/01/2016. Crédito: Gustavo Moreno/CB/D.A Press. A Catedral Metropolitana de Brasília: sem o cálculo estrutural de Joaquim Cardozo os voos de Oscar Niemeyer permaneceriam no papel.

O leitor Reinaldo Ferraz sugere que a campanha pró-Joaquim Cardozo seja encampada pelas instituições ligadas à arquitetura e à engenharia: “Alio-me feliz lembrança do inigualável Joaquim Cardozo, que morreu amargurado pela culpa de um erro que não cometeu, o desabamento do pavilhão do Parque da Gameleira, em BH. Tardiamente reabilitado, o reconhecimento não o alcançou em vida. A homenagem que você propõe, sugiro que recomende ao CREA  e ao CAU, seria absolutamente justa”.

E o cineasta Vladimir Carvalho, autor de documentários fundamentais sobre aspectos da história política, social e cultura de Brasília, escreveu na carta dos leitores, esgrimindo o argumento: “Se reverenciamos tanto e merecidamente o gênio de Oscar Niemeyer, por que não fazer justiça e emparelhar com ele o seu inseparável parceiro?”, indaga Vladimir.

E emenda: “Sem os providenciais cálculos do notável engenheiro e poeta, do nível dos conterrâneos Manuel Bandeira e João Cabral, não se concretizariam as extraordinárias esculturas arquitetônicas do grande mestre. Brasília deve esta homenagem ao multifacetado gênio de Cardozo, tão esquecido em nossa paisagem urbana”. De minha parte, assino embaixo de tudo que foi dito e só acrescentaria: Ponte Joaquim Cardozo seria um nome bonito, elegante e justo.

Severino

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