Severino Francisco
O racismo assola novamente o futebol brasileiro. No último fim de semana, durante o jogo Corinthians e Internacional, o lateral direito português, Rafael Ramos, teria chamado o meio-campista Edenílson, de “macaco”. O jogador corinthiano negou a acusação, se defendeu argumentando que foi malentendido, falou outra expressão comum em Portugal e de som semelhante na língua brasileira.
Esses atos são tristes, fazem a gente desacreditar na humanidade. Mas não adiante cair em depressão. É preciso desencadear ações para combater manifestações que afrontam a dignidade humana. A continuidade e proliferação do racismo só se torna possível pela certeza da impunidade. As punições devem ser individuais e institucionais.
Se um jogador que cometesse racismo recebesse a pena de suspensão por seis meses e os clubes perdessem pontos e mandos de campo, pensariam duas vezes antes de cometer ou se omitir em relação a tais delitos. Cabe aos clubes uma parcela de responsabilidade no sentido de educar os torcedores para respeitar as diferenças raciais. A consciência social do brasileiro é o Ministério Público ou a Papuda.
Na verdade, os jogadores atuais do Brasil são colaboracionistas, pois apoiam políticos racistas, que contribuem, decisivamente, para o acirramento de um ambiente opressivo para os negros. São consumidores preferenciais de fake news e agem segundo os valores que assimilam nas redes sociais. Nos tempos da democracia corinthiana, o Brasil se tornou uma referência internacional, com Sócrates, Casagrande, Vladimir e cia.
Mas, agora, a maioria absoluta dos jogadores de futebol vive dentro de uma bolha da internet, movida por uma alienação monstruosa. A todo momento os vemos exibindo o relógio de ouro ou envolvido em uma onda de trivialidades. Durante a Copa do Mundo de 2014, eles protagonizaram um vexame dentro e fora do campo.
Como se não bastasse perder em casa de 7×1 para a Alemanha, enquanto os brasileiros se preocupavam com a cor do cabelo pintado, os alemães dançaram um ritual com os indígenas brasileiros na Bahia. A situação de alheamento dos nossos craques não mudou daquela época até agora.
Na década de 1980, o cineasta Glauber Rocha dizia: “Os jogadores de futebol no Brasil têm uma bola de capotão na cabeça. Se der um furão, só sai ar”. E a frase permanece verdadeira. Antes da pandemia, com as mortes de George Floyd, nos Estados Unidos, e de João Alberto Freitas, dentro das dependências do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, Casagrande se mobilizou para fundar um grupo antirracista.
Precisou recorrer a atletas de gerações: a jogadora de vôlei Isabel e o atacante Grafite. Não é muito difícil reduzir o racismo no esporte. Basta aplicar punições mais duras e exemplares. Mas os atletas também são corresponsáveis. Não podem ser discriminados e continuar apoiando líderes racistas.
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