Aventuras do Tintin

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Na semana passada, fui tomar um café com a minha amiga Mila Petrillo, fotógrafa com quem trabalhei durante mais de 20 anos. Nós acompanhamos o crescimento das nossas filhas, dos nossos filhos e, agora, dos netos. E, na conversa, conheci um personagem que não posso sonegar a vocês: o neto Martinho, ou melhor, Tintin, de 11 anos.

Quando eram pequenas, Nadia, Raissa e Janaína, as filhas da Mila, pareciam três fadinhas, extraídas das ilustrações de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol. Elas cresceram, se tornaram mulheres e mães de seres singulares. Tintin é filho de Nádia, no entanto, puxou pelo pai, tem porte e feições de indígena ou havaiano.

É do signo de leão, com ascendente em gêmeos. Para ele, não existe tempo ruim, é dinâmico, ativo e audacioso. Durante o carnaval, ele resolveu levantar uma grana, juntou 200 dindins e foi para a folia, vestido com a fantasia de uma nota de dinheiro na qual estava estampada a própria foto em que era possível ler: Dindin do Tintim. Claro, tudo sob a supervisão implacável das tias. Pois ele vendeu os 200 dindins e conseguiu a grana que queria para comprar bermuda, camiseta e boné.

A descoberta do PIX foi uma revolução na vida do Tintin. Sempre pedia os presentes dos pais, tias e avós na forma da transferência virtual instantânea. Mila estava com uns amigos no Rio de Janeiro, contou a história e eles acharam tão interessante que resolveram depositar um PIX para o Tintin. Quando soube que pingaria um dinheirinho na conta, o garoto pulou de felicidade: “Yes, PIX é amor, PIX é vida!”

Tintin é vascaíno apaixonado, na vitória e na derrota. O Vascão veio jogar em Brasília e o garoto achou que o acontecimento não podia passar em branco e precisava ser ritualizado. Então, decidiu raspar a cabeça somente na parte central. As tias foram tomadas de indignação, tentaram convencê-lo de que ele ficaria horrível, mas tudo foi inútil. Tintin optou pelo corte de cabelo exótico e se dirigiu até a Arena Mané Garrincha.

O jogo começou, está valendo e, de repente, o estádio explode: goooool do Vasco! Tintin ficou alucinado, pulou e berrou. E, claro, com aquele corte de cabelo estrambótico chamou a atenção dos câmeras das tevês, que focaram em nosso personagem e transmitiram para todo o Brasil. O site Vascomunista publicou uma foto do Tintin ao lado da imagem de Mao Tse Tung. A semelhança entre o corte do garoto e a careca do líder chinês é impressionante e recebeu a legenda do site: “Vejam, Mao Tse Tung torce para o Vasco!”

Certo dia, Tintin atravessava a rua interna de uma superquadra quando ocorreu um incidente. Talvez ele estivesse pensando em vender uma leva de dindin, como fez no carnaval, para levantar uma grana e comprar bermuda e boné. Ou em novo corte de cabelo ainda mais bizarro que usaria no próximo jogo do Vasco em Brasília no Mané Garrincha. Ou em dar umas dicas infalíveis para o pirata Veggeti, centro-avante do Vasco, botar o pé na forma e acertar o gol.

Enfim, por algum motivo insondável, Tintin cruzou uma rua interna da superquadra distraído e, em um átimo, caiu das nuvens, levou um tremendo susto, sentiu o baque e foi atirado na calçada por um carro. O motorista desceu do carro com as mãos na cabeça desesperado ao ver que atropelara uma criança de 11 anos e perguntou aflito: “Como você está? Posso fazer alguma coisa por você?”. “Sim, deposita R$ 35 no PIX”, respondeu Tintin sem vacilar, enquanto se levantava, ileso, lépido e fagueiro, limpando a poeira da bermuda, pronto para a próxima aventura.

PS: Soube que o Tintin ficou felicíssimo ao ler a Crônica da Cidade e ver que ele era o personagem. Mas disse que, agora, quer sair no Fantástico.

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