Terceira temporada de Stranger things explora evolução do vilão, com ares de despedida e mais ação

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Novos episódios da ficção científica dos irmãos Duffer chegaram à Netflix em 4 de julho. Confira a crítica completa (com spoilers) da terceira temporada de Stranger things

A cada temporada Stranger things avança em sua narrativa. Na primeira, o arco da história girou em torno do desaparecimento de Will (Noah Schnapp) e da chegada de Eleven (Millie Bobby Brown), uma menina com superpoderes, a Hawkins, dois acontecimentos que culminavam no aparecimento de uma força misteriosa e no conceito do mundo invertido. A segunda leva de episódios se passou um ano após a narrativa anterior e mostrou um Will ainda perturbado pelos fragmentos do mundo invertido e do devorador de mentes. Na terceira sequência, Stranger things segue seu caminho crescendo na história, agora, focada numa evolução do devorador de mentes para dominar o mundo — ou, ao menos, Hawkins.

A terceira temporada de Stranger things se passa no verão de 1985. Apesar disso, o primeiro episódio mostra momentos de 1984 quando as forças russas estão tentando abrir um portal, semelhante ao que foi fechado por Eleven na segunda temporada. A produção não explica o verdadeiro interesse dos russos nisso, mas fica claro que os estrangeiros farão de tudo para reabrir o portal, seja na Rússia, seja nos Estados Unidos.

Depois dessa introdução, Stranger things volta para Hawkins e estabelece como está a vida de cada personagem nesse novo contexto: Eleven namora com Mike (Finn Wolfhard) e continua a morar com Hopper (David Harbour), que não está nada feliz com a aproximação dos jovens; Joyce (Winona Ryder) permanece de luto pela morte do amado na temporada anterior; Will sente um não pertencimento ao lado dos amigos; Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) estão trabalhando no jornal da cidade; Dustin (Gaten Matarazzo) também sente a distância dos colegas após uma temporada em um acampamento; Max (Sadie Sink) e Lucas (Caleb McLaughlin) engataram o romance iniciado nos episódios passados; Steve (Joe Keery) está trabalhando numa sorveteria do novo shopping da cidade, já que não conseguiu entrar na faculdade; e Billy (Dacre Montgomery) parece mais calmo atuando como salva-vidas na piscina comunitária da cidade.

Os dramas pessoais dos personagens não são a única coisa que preenche a narrativa de Stranger things. Pelo contrário, eles são um recurso paralelo e interessante. No entanto, o grande enredo da temporada é a volta do devorador de mentes a Hawkins, graças a interferência dos russos, que começam a reabrir o portal fechado por Eleven. Com isso, parte dessa força sobrenatural é reativada e volta a ameaçar a pequena cidade em Indiana.

É nesse momento que Stranger things estabelece um novo jeito de introduzir o vilão. Tudo que foi usado na primeira e na segunda temporada, aqui ganha uma evolução. Que num primeiro momento pode causar estranheza. A série, com mais cores e efeitos visuais ainda mais elaborados, ganha ares de filme de ação dos anos 1980. A correria, os confrontos de luta e a forma com que o devorador de mentes escolhe para sobreviver lembra muito produções como Alien. A série perde um pouco daquele terror do que não se vê, indo para um suspense em que o vilão está bem estabelecido na cara do espectador.

Personagens na terceira temporada de Stranger things

Crédito: Netflix/Divulgação

Por ter muitos personagens, Stranger things opta por trabalhá-los em núcleos. O que é um acerto, mas ao mesmo tempo um risco. Há núcleos legais e que funcionam, como o formado por Dustin e Steve, a dupla que virou queridinha na temporada passada, ao lado de Erica (Priah Ferguson), a irmã de Lucas, e Robin (Maya Hawke), a companheira de trabalho de Steve na sorveteria. O quarteto entrega cenas engraçadas e as mais legais da terceira temporada. Cabe aos quatro descobrir o envolvimento russo na principal ameaça de Hawkins depois de decifrar um código captado por Dustin e que vem do shopping Starcourt.

Do outro lado, temos Nancy e Jonathan investigando o misterioso comportamento dos ratos em Hawkins, que até é interessante, pois traz discussões da função da mulher na sociedade nos anos 1980 e desenvolve a narrativa, mas, ao longo da temporada, é repetitivo; a interação entre Joyce e Hopper, que é a mais sem graça da temporada, pois vende-se um romance de gato e rato, ao mesmo tempo que tem uma correria para descobrir se há ou não uma ameaça novamente à cidade, num enredo pra lá de cansativo; e o grupo formado pela maioria dos jovens, com Mike, Eleven, Lucas, Max e Will, que vive os dramas de um término em meio a Will voltar a sentir a presença do devorador de mentes e se sentir afastado dos amigos. É legal ver a interação entre os casais e o estabelecimento da amizade entre Eleven e Max, mas Will parece perdido no núcleo.

Crédito: Netflix/Divulgação

De modo geral, Stranger things tratou bem seus personagens. A maioria deles cresceu na terceira temporada. Os novatos da segunda, por exemplo, Erica e Billy ganharam merecidos tempo de tela. Ela na interação do melhor núcleo; e ele assumindo de vez um papel de vilão, já que o devorador de mentes escolhe o irmão de Max para ser o hospedeiro na terceira temporada. Também é interessante a escolha da série de mostrar mais do passado do personagem, introduzindo o motivo de sua revolta e violência constante.

Apesar disso, dois personagens do elenco principal ficam à mercê do roteiro. Will é o principal deles. Era melhor ter matado o jovem na temporada anterior. O menino ficou completamente sem objetivo nos novos episódios, sendo usado apenas para repetir a mesma frase “ele está aqui”. É compreensível e até correto que não se decidisse incluir novamente o personagem no drama do devorador de mentes. Mas ele poderia ter tido um papel muito mais interessante e bem explorado. A série também perdeu a oportunidade de explorar uma possível descoberta da sexualidade de Will, já que Mike, em um dos diálogos, até joga na roda. No entanto a produção não segue para esse caminho.

O outro personagem que também tem defeitos nesta temporada é Hopper, outro que, como Will, foi destaque na segunda temporada. O xerife está chato e rabugento, o que, nos primeiros momentos, é engraçado. Só que depois serve para criar um ranço do personagem. A relação dele com Joyce é infantil e cansativa, tanto que há até um diálogo dentro da série que explica isso: “essa briguinha de vocês no começo era legal, mas já passou da graça”. Pelo menos nos episódios finais, a série se redime e entrega um personagem bem melhor.

Desenvolvimento da terceira temporada de Stranger things

Como dito anteriormente, Stranger things escolhe explorar de forma diferente a narrativa dos novos episódios. O que é interessante, pois repetir a fórmula é um erro constante em outras produções. A decisão causa estranhamento inicial, mas depois e, principalmente, com os últimos episódios, dá para entender a escolha do roteiro.

A questão dos russos como parte da vilania é dúbia. Ao mesmo tempo que é uma repetição de enredos norte-americanos de sempre colocar os russos como vilões, serve para entregar as melhores cenas, já que a invasão do núcleo encabeçado por Steve e Dustin às instalações russas garante as melhores cenas da temporada.

Crédito: Netflix/Divulgação

Também é muito legal que Stranger things decide em sua terceira temporada seguir um rumo de despedida — é preciso saber a hora de terminar. A sequência poderia facilmente ser um término e seria um encerramento ainda no auge. Há uma cena pós-créditos que dá a entender que vem mais uma sequência aí, mostrando uma outra evolução dos monstros do mundo invertido que poderia ser explorada em novos episódios explicando o motivo pelo qual os russos têm tanto interesse nessa questão.

A terceira temporada de Stanger things mostra que a série mudou e se desenvolveu. Ganhou mais ação e menos terror. Explorou bons personagens e se descolou de vez do tributo ao passado — há referências óbvias, mas não é um recurso constante, como anteriormente. Entretém e agrada aos fãs, mesmo que em uma temporada mais inconsistente que as demais.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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