Série Hacks, disponível na HBO Max, é indicada a 15 Emmys. Por meio da comédia, texto fala sobre solidão e machismo
Em inglês, o nosso verbete “interpretar” é “to play”, que também serve para “jogar”. É exatamente isso que Jean Smart e Hannah Einbinder fazem como as protagonistas de Hacks: jogam a “bola” do jogo da interpretação uma para outra. E dali saem muitos gols de placa.
Disponível no catálogo da HBO Max, Hacks tem 15 indicações ao Emmy, incluindo melhor série de comédia, melhor atriz em série de comédia (Jean Smart), melhor atriz coadjuvante em série de comédia (Hannah Einbinder) e melhor ator coadjuvante em série de comédia (Carl Clemons-Hopkins). Vai ser dura a escolha entre Kaley Cuoco (The flight attendant) e Jean Smart, que tenta o quarto Emmy da carreira. Vale lembrar que Jean ainda concorre como atriz coadjuvante de série ou minissérie por Mare of Easttown.
Em Hacks, ela vive a comediante Deborah Vance, uma lenda do stand up comedy que vive um período de decadência na carreira. Embora não reconheça a necessidade, Deborah acaba contratando Ava (Hannah Einbinder), jovem roteirista que acaba de ser cancelada nas redes por uma piada homofóbica, para ajudar a escrever o próximo show.
O roteiro de Hacks não é dos mais originais: Deborah e Eva demoram a encontrar um ponto em comum entre elas, tentam sabotar uma a outra e, numa reviravolta, descobrem que são ótimas juntas. O que salva Hacks da mesmice é que as duas atrizes são vividas com garra por Jean e Hannah. As duas fogem do estereótipo como o Diabo foge da cruz e acertam no tom de cada provocação, de cada acerto de contas entre elas.
Hacks também traz reflexão
As protagonistas de Hacks não nos dão apenas momentos de diversão. Elas nos trazem reflexão também. Além do talento para o humor – note na curva que a série traça do humor de 40 anos atrás até o de hoje ー as duas são solitárias. O temperamento de Deborah a afastou da irmã e faz com que a relação dela com a filha seja turbulenta. O secretário particular dela, Marcus (Carl Clemons-Hopkins), é quem está ao lado dela, mas passa por uma fase de querer afastar-se para se dedicar à própria vida.
Ava rompeu com as amigas, terminou o namoro antes de se encontrar trabalho com Deborah e a mãe dela faz questão de frisar os fracassos de Ava e a instabilidade da carreira de roteirista. Apenas o pai dela, que sofre um AVC há pouco tempo, é o porto seguro encontrado pela jovem. Mas ele não está disponível.
O machismo no mundo artístico também é tema tratado em Hacks. Quando Ava vai estudar mais sobre a carreira de Deborah, percebe quanto preconceito ela sofreu por ser uma das primeiras mulheres no mundo do stand up comedy e mesmo do humor. Daí as piadas autodestrutivas que acabaram dominando os roteiros da humorista ー funcionavam como autodefesa. Ava mostra a Deborah o quanto isso é nocivo para ela e para outras mulheres e a importância de se lutar contra esse tipo de ação e contra empresários que acham “normal” passar a mão nas humoristas antes de elas entrarem no palco.
Ava tentar levar essas questões para o roteiro do novo show de Deborah, o que transformaria o texto numa verdadeira simbiose entre elas. Se deu certo no show, saberemos numa já confirmada segunda temporada. Nas telas deu supercerto!
Leia sobre os indicados ao Emmy no Próximo Capítulo
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I may destroy you – I may destroy you tem trama desconexa apesar do mérito de abordar tema tabu, o abuso sexual
Lovecraft country – O racismo é o grande monstro a se combater
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O gambito da rainha – Trama envolvente até para quem não entende de xadrez
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