lovecraft country 3 Crédito: HBO/Divulgação

Lovecraft Country, da HBO, mostra que o racismo é o grande monstro a se combater

Publicado em Séries

Produção mistura ficção, fantasia e referências da realidade a partir do contexto dos Estados Unidos de 1950. Confira crítica do primeiro episódio de Lovecraft Country

É quase impossível não comparar Lovecraft Country com outras produções. Isso acontece primeiramente pela presença de Jordan Peele entre os produtores ao lado de Misha Green — a atração tem ainda as mãos de J. J. Abrams. Há um quê do filme Corra! na narrativa, assim como é possível lembrar de Watchmen, seriado também da HBO. Nos três casos, a questão racial é um ponto crucial abordado em narrativas que passam pela ficção científica e pelo terror.

Lovecraft Country, que teve o primeiro episódio exibido no último domingo (16/8) e terá uma temporada de 10 episódios, se inspira na obra Território Lovecraft, de Matt Ruff lançada em 2016, que acompanha a trajetória de Atticus (Jonathan Majors), um veterano de guerra que volta da Coreia para os Estados Unidos na década de 1950 para encontrar o pai, que está desaparecido.

Como o próprio título da série e do livro induzem, a história tem referência a Howard Phillips Lovecraft, o H. P. Lovecraft, escritor estadunidense conhecido no gênero de terror e fantasia. Por isso, o seriado tem elementos fantásticos, demonstrados em alguns momentos do piloto, como no início quando Atticus sonha com uma guerra que envolve OVNIs e Cthulhu, entidade cósmica apresentada em obras de H.P. Lovecraft, e na reta final quando o personagem se depara com monstros na vida real.

A narrativa gira em torno dessa busca de Atticus pelo pai que acontece quando ele coloca o pé na estrada ao lado do tio George (Courtney B. Vance), responsável por fazer notas para o guia de viagem para negros, e da amiga de infância Letitia (Jurnee Smollett). O trio se depara na jornada com o racismo latente de um EUA num contexto ainda de segregação racial, entidades fantásticas e um mistério envolvendo a origem da família da mãe do protagonista.

Crédito: HBO/Divulgação

Mesmo que seja uma obra de ficção científica e voltada para o terror, é quando se aproxima da realidade que Lovecraft Country ganha ainda mais força. As referências que a série faz a fatos que realmente aconteceram é sensacional, como a menção do motivo de a Casa Branca ser branca; a citação ao Green book, o guia de locais seguros para viajantes negros; e até imagens emblemáticas, como uma fotografia de Gordon Parks, fotógrafo e diretor de cinema que retratava as complexidades da luta pelos direitos civis dos negros no país.

Fora isso, a produção faz ótimo uso dos elementos dos gêneros ao qual se define. Há mistério, suspense, ritmo envolvente, reviravolta e horror, principalmente, em relação ao tratamento aos negros. Mesmo que tenha monstros sobrenaturais, a todo momento Lovecraft Country deixa evidente quem realmente é o vilão que assombra todos ali: o racismo. O que é, de certa forma, uma provocação até ao escritor que inspira a obra. Afinal, H.P. Lovecraft era declaradamente racista. O elenco, inclusive, fala sobre isso em vídeo publicado no site Jovem Nerd, assista aqui.

Pelo gancho que encerra o primeiro episódio, Lovecraft Country ainda trará episódios ainda mais surpreendentes e com belas atuações do trio de protagonistas, que está muito bem. Quem realmente se destacou no piloto foi Jurnee Smollett, entregando uma personagem forte com o verdadeiro “girl power” que tem tudo a ver com os dias de hoje. Atualidade é outra característica da obra, que não tinha momento melhor para estrear.

Novos episódios aos domingos, às 22h, na HBO.