Comunidade japonesa completa 113 anos com forte contribuição agrícola

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Aniversário da migração japonesa no Brasil é comemorado com iniciativas pontuais, como prato especial no Yuzu-an. Em setembro, haverá festival

No dia 18 de junho de 1908 aportava em Santos o navio Kasato Maru, trazendo a bordo 781 agricultores japoneses para trabalhar nos cafezais paulistas. Começava ali, a comunidade nipônica no Brasil que, 113 anos mais tarde, possui dois milhões de pessoas, das quais cerca de oito mil estão no Distrito Federal.

Para o embaixador do Japão no Brasil, Akira Yamada, há três anos no posto, é difícil apontar a principal contribuição dessa imigração que, começou na lavoura paulista e depois se estendeu para “a região do Cerrado, uma das regiões mais produtivas agrícolas do mundo”. Ele lembrou ainda que na construção de Brasília, “a comunidade Nikkei respondeu ao apelo do então presidente Juscelino Kubitscheck, que pediu sua cooperação na produção de vegetais, frutas e outros alimentos, para atender ao consumo da capital”.

Ao contrário de anos anteriores, quando a data foi redonda e marcou a visita de importantes autoridades japonesas, como no centenário em 2008, quando veio ao Brasil o príncipe herdeiro Naruhito, atual imperador do país do Sol Nascente (os pais Akihito e Michiko já estiveram aqui por três vezes), neste momento não haverá festa por conta da pandemia.

A Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste – FEANBRA programou para setembro, entre os dias 10 e 12 (sexta, sábado e domingo) o Festival do Japão, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, com foco na cultura, esporte e gastronomia, tendo à frente o coordenador-geral Kuniyoshi Yasunaga. Até lá, apenas comemorações pontuais, como no restaurante Yuzu-an, cuja tradução literal significa casa do limão.

Yuzu é um cítrico tipicamente japonês, considerado ingrediente essencial na culinária nikkei. Instalado no Clube Nipo-Brasileiro, trecho 1 da Avenida das Nações, o japinha é comandado pela chef nissei Alice Yamanishi, que há três anos recebeu diploma do programa de certificação de estabelecimentos que promovem produtos fabricados no Japão junto com representantes de mais três casas: New Koto, Umami Deli e Mikami, mercearia da 414 Sul, fundada há mais de 50 anos em Taguatinga.

O prato escolhido pela chef para comemorar o aniversário da imigração japonesa ao Brasil é Okinawa Sobá, feito de macarrão caseiro com caldo à base de costelinha suína, omelete, gengibre e finalizado com cebolinha. Lançado segunda-feira ele ficará disponível no almoço e jantar até domingo, dia 20, por R$ 59,90. É só começar a cair a temperatura que os pratos à base de sopa (sobá, em japonês) tornam-se presenças constantes na mesa dos nisseis, sanseis e amantes da culinária nipônica.

Cinza na massa

chef nissei Alice Yamanishi

Outra razão da escolha tem a ver com a origem do prato. Ele foi trazido pelos imigrantes originários de Okinawa, uma ilha do arquipélago Ryukyu, sul do Japão, onde ocorreu a maior batalha marítimo-terrestre-aérea da história com a vitória dos aliados na primavera de 1945, quase no fim da guerra. Muito antes, porém, houve uma grande imigração de okinauenses para o Brasil que se fixaram em Campo Grande, atual capital do Mato Grosso do Sul.

Foi lá que a chef do Yuzu-an descobriu pela internet a confecção do sobá artesanal durante uma pesquisa sobre lámen. “Há três anos eu garimpava receitas de como era feito o lámen (macarrão com caldo) em diversas regiões do Japão para um festival do prato, que estava em alta voga no Brasil, quando me deparei com a do Okinawa Sobá”, conta Alice. A autora é a nissei Dirce Kimie Guenka, de 77 anos, cujos antepassados vieram em 1917. Viúva de um japonês, ela teve quatro filhos e sempre produziu artesanalmente a massa para a colônia nikkei da cidade e arredores.

Depois de ter ido a Campo Grande conhecer a receita, Alice se surpreendeu durante a retribuição da visita, quando Dirce pediu se havia uma churrasqueira no Clube Nipo, como é conhecido. “Ela queria um punhado de cinza pra aumentar a elasticidade do glúten, proteína da farinha de trigo que era batida manualmente”, explica a chef. “Agora já não se usa mais porque o macarrão é feito na máquina de cilindro, por onde passa a mistura de ovo, sal, água e temperos”.

Já o caldo, chamado de dashi, resulta de uma lenta e demorada cocção de ossos de suíno. “Coloco a carcaça de porco no caldeirão com alho, cebola, cenoura, sal e muita água cozinhando dois dias no fogo baixo”, ensina a chef. O prato é individual e estará disponível até domingo, 20 de junho por R$ 59,90 no almoço e jantar. Reservas: 99611-4500.

Entrevista // Akira Yamada

Qual é a mais importante contribuição da imigração japonesa para o Brasil?

Pode ser difícil escolher apenas uma. Por exemplo, os imigrantes japoneses e nikkeis personificaram valores japoneses como o trabalho duro e a honestidade, que têm sido altamente apreciados pela sociedade brasileira. Os agricultores japoneses contribuíram muito para o desenvolvimento da região do Cerrado, antes chamada de terra árida, em uma das regiões mais produtivas agrícolas do mundo. Também, na construção da cidade de Brasília, a comunidade nikkei respondeu ao apelo do então presidente Juscelino Kubitschek, que pediu sua cooperação na produção de vegetais, frutas e outros alimentos, para atender ao consumo da capital. Desde a chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, em 18 de junho de 1908, imigrantes japoneses e nikkeis têm sido ativos em vários campos da sociedade brasileira e contribuído para o desenvolvimento do Brasil.

Há quase três anos, quatro marcas do circuito gastronômico brasiliense foram distinguidas com diploma de certificação por promover produtos fabricados no Japão na Capital. Há algum outro processo em curso?
Em 20 de agosto de 2018, os estabelecimentos “New Koto”, “Yuzu-An”, “UMAMI Deli” e “Mikami” foram certificadas sob o “Programa de certificação de lojas japonesas de alimentos e ingredientes no exterior”, da JETRO. Embora nenhuma nova certificação tenha sido
credenciada neste momento, o Governo do Japão está apoiando e cooperando com as atividades das mercearias e restaurantes japoneses no Brasil, incluindo a criação de uma série de vídeos nos quais eu visito restaurantes japoneses em Brasília para apresentar o curry durante 7 dias da “Semana do Curry”. A série foi publicada nas mídias sociais da embaixada a partir de 22 de janeiro deste ano.

Por conta da pandemia e do dólar alto, estabelecimentos que praticam a culinária nipônica estão encontrando dificuldades na obtenção de produtos fabricados no Japão, como por exemplo temperos, saquê, algas e muitos outros. Cabe alguma ação diplomática?
As mercearias e restaurantes japoneses no Brasil têm sido afetadas pelas restrições às atividades econômicas devido ao desastre do
covid-19, e a Embaixada do Japão tem feito o que pode para apoiá-las. Especificamente, a Embaixada do Japão tem cooperado com mercearias e restaurantes locais japoneses na promoção da comida japonesa através do já mencionado vídeo da Semana do Curry e dos vídeos da “Oficina de Cozinha Japonesa com o Chef Nohara”, conduzidos pelo chef responsável pela cozinha da Embaixada do Japão.

Liana Sabo

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