Há uma simplicidade na estrutura narrativa de Voláteis da qual Paulo Scott se orgulha bastante. Publicado em 2005, o primeiro romance do escritor gaúcho envelheceu bem e ganhou nova roupagem em reedição da Alfaguara e revisão do autor. Scott trocou nomes de alguns personagens e reformulou a descrição de algumas expressões que hoje, aos 55 anos, ele diz compreender melhor.
Voláteis é um thriller policial que se organiza em torno de personagens do submundo envolvidos com crimes e cenários espúrios. Fausto, Lucimar, Machadinho e Ângela se embrenham em assaltos e assassinatos, mas também em relações nas quais se consomem e se esgotam. A narrativa policial de Scott é mais sobre esse encontro entre quatro pessoas que, como ele descreve, se vampirizam umas às outras do que realmente sobre o mundo do crime. Há mistérios, há suspense e há surpresas reservadas às últimas páginas, cardápio básico das narrativas policiais, mas há também uma maneira singela de comover o leitor para o drama pessoal e banal dos personagens. “É meu primeiro romance, um livro que me abriu os espaços e portas para as editoras do centro do país”, lembra Scott. “Ele vem com o propósito de contar uma história em que você não descobre de imediato onde está o centro da narrativa, em torno de que presença você pode resolver a narrativa. Só no final você descobre.”
Para o autor, cada uma das personagens é uma metáfora alegórica na grande alegoria que é a narrativa. As duas personagens femininas são as chaves da história. A partir delas, o romance se destrava e se resolve. Ângela é jovem e imprudente. Lucimar é madura, cautelosa e silenciosa. Fausto navega entre as duas e carrega um desencanto nascido num passado misterioso e, em diversos momentos, prestes a se desmanchar num sentimento desenvolvido por Ângela. O passado atado a Lucimar, no entanto, se apresenta com frequência excessiva para ser ignorado.
A relação entre Fausto e Lucimar é um dos poucos aspectos que Scott retrabalhou no livro. Falas e diálogos ganharam uma revisão. “A personagem tem 60 anos, então acabei alterando um pouco e atualizei um aspecto que hoje é melhor compreendido por mim, que é o olhar e a sensibilidade de quem já tem uma maturidade. Hoje compreendo melhor o que é essa solidão e essa inquietação de quem se aproxima dos 60”, explica o autor.
Scott acredita que nunca mais conseguiu construir um romance com a mesma estrutura narrativa de Voláteis. Livros gerados depois, como o de contos Ainda orangotangos e os romances Ithaca road, Habitante irreal, ganhador do Machado de Assis, e Marrom e amarelo, vencedor do Prêmio Açorianos, são mais herméticos e tecidos na ideia de subversão da linguagem. “Eu imaginava que tinha que contar uma história longa que fosse bem simples na estrutura, embora fragmentada nos eixos das personagens protagonistas, mas com uma simplicidade de estrutura que não retomaria em romance nenhum meu”, repara.
Agora, ele se debruça sobre Ninguém Rondonópolis, um policial de fronteira no qual quer refletir sobre a ética da violência nas narrativas brasileiras contemporâneas. Mas antes desse romance ir ao prelo, ele publica Direito antifascismo brasileiro, um livro poético-ensaístico de defesa da constituição brasileira. “Muito maltratada pelas instituições que deveriam defendê-la como o Ministério Público, o Judiciário, o serviço público de segurança e as próprias faculdades de direito”, lamenta o autor.
Voláteis
De Paulo Scott. Alfaguara, 166 páginas. R$ 54,90