Mourão minimiza pandemia e diz que brasileiro “não tem medo” da covid-19

Hamilton Mourão
Publicado em coluna Brasília-DF, Covid-19, Governo Bolsonaro
Brasília-DF, por Carlos Alexandre de Souza

Ao afirmar que o brasileiro médio “não tem medo” da pandemia de covid-19, o vice-presidente Hamilton Mourão caiu na tentação de teorizar sobre o chamado “povo”. É mal frequente nos gabinetes de Brasília lançar interpretações vagas sobre a realidade nacional, sem o respaldo de estatísticas nem de dados reconhecidos. No contexto da pandemia, trata-se de uma temeridade. Ainda está recente na memória a declaração do presidente Bolsonaro sobre a nossa inata resistência imunológica ao novo coronavírus.

“O brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele”, disse em março, em uma das inúmeras ocasiões em que minimizou a doença que já matou mais de 73 mil compatriotas. Ontem, em um raciocínio arriscado, Mourão sustentou que o brasileiro não teria receio da covid porque já se habituou a outras calamidades nacionais, como a violência, a pobreza, o transporte público.

Nesse sentido, a covid seria apenas outra desgraça do dia a dia, um novo normal dessa tragédia. Não há como evoluir nessa argumentação. Ontem Bolsonaro reafirmou que a “desinformação foi largamente utilizada” no enfrentamento do coronavírus e que “os números da verdade perseguirão para sempre aqueles que pensaram mais em si do que na vida do próximo”. Segundo os dados oficiais do ministério da Saúde, 733 brasileiros morreram nas últimas 24 horas por covid-19. Com medo ou sem medo.

Sem provas

Abraham Weintraub, antes de sair às pressas para os Estados Unidos, também era conhecido por generalizações e teorias não comprovadas sobre a sociedade brasileira. No final do ano passado, o ex-ministro foi convocado na Câmara para explicar a existência de “plantações extensivas de maconha” nas universidades. Não apresentou prova das acusações.

Azul e rosa

Também ficou conhecida a generalização da ministra Damares Alves de que “menino veste azul, e menina veste rosa”. Em seguida ela tentou se emendar: “Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores.”

Na mira

Abatido em combate pelo chefe durante a batalha contra a covid-19, o ex-ministro Mandetta se juntou às fileiras com Gilmar Mendes e criticou a presença ostensiva de militares na pasta que comandou. Segundo ele, Pazuello e seu batalhão são especialistas em “balística”, e não em “logística”. Mandetta criticou, ainda, a postura do Planalto à época. “O Presidente da República nunca deixou de saber quais eram os cenários reais (da pandemia). Não foi por desconhecimento. Foi por opção de não seguir orientações do Ministério da Saúde.”

Voto na ciência – O Tribunal Superior Eleitoral terá consultoria da fundação Fiocruz e dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein para adotar a melhor prevenção durante as eleições municipais de novembro. Um protocolo de segurança deverá ser seguido por eleitores, mesários e colaboradores da Justiça Eleitoral em todas as seções eleitorais. O presidente do TSE, ministro Luís Barroso (foto), agradeceu a ajuda “patriótica” das instituições de saúde, sem custos aos cofres públicos.

ECA, 30 anos – O Estatuto da Criança e do Adolescente completou 30 anos ontem. A lei que busca proteger os direitos da infância foi tema de reflexão no Senado. Fernando Collor (Pros-AL), presidente da República quando a lei foi promulgada, disse que a proteção da infância e da adolescência passa necessariamente pela educação e pelo cumprimento dos princípios defendidos pela lei. “É mais escola, e não mais prisão”, defendeu. E completou: “A solução para o problema não é simples, não é barata, não é rápida e não é mágica, mas está aí, aos olhos da sociedade”.

Desafios – O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou os desafios que se impõem ao ECA. “Apesar de ser um marco na luta pela proteção da infância e da adolescência, ainda precisamos avançar muito para reduzir as desigualdades para que o estatuto alcance toda a parcela que representa”, observou. “É uma comemoração incompleta, infelizmente”, lamentou.

Do barulho – O Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu o deputado federal Guilherme Mussi (PP-SP) de promover festas em sua residência na capital paulista. O desembargador Felipe Ferreira julgou procedente a ação movida por uma vizinha do parlamentar, inconformada com as baladas com som alto e aglomeração. Um dos agitos ocorreu em 23 de maio, durante um feriado decretado pelo governo estadual para forçar o isolamento social.

Bolsonaristas pedem saída em massa das redes de Moro e alertam para “PEC anti-Mourão”

Bolsonaro e Moro
Publicado em Congresso, Política

Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro mandaram uma mensagem de WhatsApp a todos os grupos pedindo àqueles fiéis ao capitão que se desliguem das redes sociais do ex-ministro Sergio Moro. Os coordenadores dessas redes estão convencidos de que, se Moro perder apoio massivo nas redes, eles conseguem conter os movimentos contra o presidente Jair Bolsonaro, em especial, processos de impeachment. Também, com o pedido, querem ter noção exata do tamanho da base virtual do comandante do Planalto.

Entre quinta e sexta-feira da semana passada, quando Moro deixou o governo, Bolsonaro perdeu 41 mil seguidores no Twitter, conforme levantamento da consultoria Bites. Os filhos também sofreram alguma desidratação. Agora, a ideia é saber quem está com o presidente e não pretende acompanhar o ex-ministro.

 

PEC Anti-Mourão

Esses mesmos apoiadores citam a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) apelidada de anti-Mourão, como um risco de “ver o traidor” (Moro) sentado na Presidência da República no fim do ano. A PEC, de autoria dos deputados Henrique Fontana (PT-RS) e Paulo Teixeira (PT-SP), foi apresentada em março do ano passado, ou seja, quando Bolsonaro vivia seus primeiros meses de governo e o país, confiante no governo, não imaginava uma crise deste tamanho.

A proposta dos petistas determina novas eleições em 90 dias, em caso de afastamento definitivo do presidente da República. O objetivo, à época, era abrir a discussão sobre o papel do vice-presidente e o colocar no mesmo patamar do presidente, em caso de afastamento. Ironicamente, se for aprovada, pode guindar ao Planalto o juiz que pediu a prisão de Lula e terminou com o sonho petista de governar o país por, pelo menos, 20 anos.

A proposta, agora, assusta tanto petistas quanto bolsonaristas. Afinal, se essa emenda for aprovada, Mourão não assume. E Moro, na avaliação de apoiadores do presidente, poderia ser candidato. O DEM, que hoje comanda a pauta das duas Casas, Câmara e Senado, não pensa em tirar essa carta da manga. O clima já está tumultuado o bastante para esse ingrediente bagunçar ainda mais o momento. A não ser, claro, que haja um acordo que envolvesse também os militares. Diante das incertezas, não custa nada prestar atenção no andar dessa carruagem.