Se Bolsonaro não enquadrar 03, o cenário econômico (e político) vai piorar ainda mais

Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro
Publicado em coronavírus, Covid-19, Governo Bolsonaro

Como se não bastasse a crise do coronavírus, o deputado Eduardo Bolsonaro criou mais uma confusão ao se referir a China “uma ditadura que preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e a liberdade seria a solução”. O embaixador chinês no Brasil reagiu, dizendo que Eduardo Bolsonaro deve ter adquirido um “vírus mental” em Miami.

O bate-boca sino-brasileiro não tem precedentes na relação entre os dois países. Um deputado federal, filho do presidente da República, usar o seu Twitter para atacar um parceiro comercial do Brasil. Um parlamentar ficou tão chocado que achou que era tudo fake news, inclusive a resposta do embaixador chinês, Yang Wanming. Alguns procuraram diretamente na Embaixada e confirmaram a declaração do diplomata.

Já se passaram mais de duas horas do post de Eduardo e até agora o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou. Quem tentou conter o estrago até aqui foram os parlamentares. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pediu desculpas ao embaixador em nome da Câmara dos Deputados pelas palavras irrefletidas de Eduardo. Outros dispensaram os punhos de renda e optaram por declarações mais contundentes.

“Depois da crise diplomática criada com a China, precisamos usar a portaria do ministro Sérgio Moro e colocar no isolamento compulsório e sem Twitter os filhos do presidente, sob pena de eles seguirem espalhando o vírus da imaturidade e da irresponsabilidade e prejudicando o pais”. O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato, foi direto “Eduardo Bolsonaro, por certo orientado pelo seu “grão mestre” Olavo de Carvalho (americano de araque) certamente tentando desviar a atenção do povo brasileiro neste momento de crise, comete um grande crime contra a nação brasileira.

A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. E nesse momento em que a economia desacelera e as projeções de crescimento do PIB desabam, o governo brasileiro precisará dos chineses para manter suas exportações e tentar segurar parte do emprego e renda. No mercado, há um consenso de que, se Jair Bolsonaro não despender energia logo mais para enquadrar 03 e tentar retomar suas relações com a China, os reflexos do coronavírus na economia brasileira vão se agravar.

Na politica, a situação não é diferente. Há um consenso de que não é hora para impeachment, a hora é de cuidar da saúde das pessoas e de salvar vidas (veja detalhes na coluna Brasília-DF), no jornal impresso desta quinta-feira. Mas, se os Bolsonaro continuarem nessa toada de geração de crises, vai ficar difícil. Até o embaixador Yang vai bater panela na turma das 20h.

Atualização: Até aqui, 10h07, não se tem notícia de resposta do presidente ao governo chinês

Empresas aéreas temiam fazer o regaste de brasileiros e perder clientela

empresas aéreas para resgate de brasileiros
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Antes de o presidente Jair Bolsonaro ordenar o uso dos dois aviões da Presidência da República para buscar os brasileiros em Wuhan, a Aeronáutica moveu mundos e fundos em busca de uma aeronave de grande porte para essa tarefa. Não conseguiu. Nos bastidores do comando aéreo brasileiro, a coluna soube que nem as empresas queriam expor suas marcas nesse serviço, com receio de perder clientela, nem as tripulações estavam dispostas a assumir a tarefa, com medo de contágio. Afinal, buscar essas pessoas é uma missão. E, nesse caso, só mesmo militares fazem sem questionar.

A Força Aérea não tem um avião de grande porte para realizar o serviço, seja um Airbus, seja um Boeing. A licitação de leasing está suspensa por ordem do Tribunal de Contas da União (TCU), que apura se houve irregularidades na operação. Enquanto a pendência não for resolvida, o país está sem uma aeronave destinada a resgate de brasileiros em situação de risco, como no caso do coronavírus. Num país deste tamanho, a situação é um fiasco aéreo.

Para quem não acompanhou, vale lembrar: no ano passado, a Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington (CABW) do Comando da Aeronáutica cancelou uma licitação de US$ 30 milhões, do Grupamento de Apoio Logístico do Comando da Aeronáutica (GAL), ainda no governo Michel Temer, para a compra de um Boeing, vencida pelo consórcio Cloud Aria. Depois, abriu outra licitação para leasing do mesmo tipo de aeronave. Resultado, a Aria foi ao TCU e pediu que se abrisse uma investigação, alegando ato antieconômico, uma vez que o leasing estava mais caro do que a compra do avião em US$ 10 milhões. O processo está em fase de parecer do Ministério Público.

Feitiço contra o feiticeiro

Ao montar o plano de trabalho da CPI da Chapecoense para este ano, os técnicos do Senado descobriram que a Lei de Abuso de Autoridade cortou as asas das investigações parlamentares. Várias solicitações de documentos e pedidos de busca tiveram de ser revistos por causa da nova legislação.

E sem cenas teatrais

Os técnicos já avisaram às excelências que acabou, inclusive, a história do “Teje preso!”, que marcou a carreira da senadora Heloísa Helena (PSol-AL), quando do depoimento do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes à CPI dos Bancos, em 1999. Agora é que algumas excelências descobriram como se sentiram integrantes do Ministério Público diante dessa nova legislação.

Acordo contra cartéis

O procurador-geral da República, Augusto Aras, vai hoje de manhã ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) assinar um acordo de cooperação técnica para repressão dos cartéis e outras infrações à ordem econômica e relações de consumo. A troca de informações é o principal objeto da parceria assinada entre Aras e Alexandre Barreto, presidente do Cade, e terá validade de cinco anos.

Diferenças/ A série de escalas prevista para os voos rumo a Wuhan poderia ser evitada se fosse um Boeing. Já havia, inclusive, uma rota definida, com apenas uma escala, em Israel. Sem essa aeronave, o jeito é seguir “pingando” por outro caminho.

Dez lugares/ Até ontem estava prevista uma equipe de cinco profissionais de saúde em cada avião para acompanhar os brasileiros durante todo o percurso.

Aliança/ Sempre que perguntado se vai assumir algum cargo no governo ou se tornar senador a partir de uma eventual indicação de Izalci Lucas para o Ministério da Educação, Felipe Belmonte responde, com bom humor, que o casamento com Bolsonaro foi por amor e não por interesse. “O meu apoio ao Bolsonaro e à criação do Aliança surgiu da admiração pelo presidente e da vontade de contribuir para um projeto que vai transformar o Brasil. Esse é meu único interesse”, disse a interlocutores.

“Sextou” na terça/ Muitos imaginaram que o Congresso ficaria vazio apenas na sessão de abertura, por ser uma segunda-feira, em que as excelências costumam ficar nas bases. Nada disso. Ontem, alguns deputados já estavam no aeroporto voltando para casa, em plena terça-feira. Isso, depois de 40 dias de férias. E olha que serviço não falta.

Guedes: ideia é se aproximar dos EUA sem abandonar a China

paulo guedes
Publicado em Governo Bolsonaro

Washington — O ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende sair dos Estados Unidos, amanhã, com a certeza de que plantou a semente do “ganha-ganha”, ou seja, não é excluir a China em favor dos Estados Unidos, mas dar ao país Ocidental o espaço que, no passado recente, não foi tão valorizado na relação comercial. “Houve uma atitude de desinteresse com um parceiro extraordinário, que está aqui do lado. E isso se agudizou no período do governo do PT. Vários países fizeram acordo com os americanos e nós não. Vamos mudar isso e não é para se contrapor a ninguém”, disse o ministro, numa rápida entrevista no hotel onde está hospedado.

Essa visão não significa abandonar a China, principal parceiro comercial do Brasil hoje, e sim ampliar a relação com os Estados Unidos. Tecnicamente, avisam alguns integrantes da comitiva, é deixar bem claro aos Estados Unidos que há o interesse chinês em financiar infraestrutura no Brasil e que cabe aos ocidentais decidir se vão deixar o país comercialmente mais atrelado à China ou trabalhar de forma conjunta para favorecer essa reaproximação. Da parte do Brasil, a ordem é manter as negociações abertas com todos.

O tema foi tratado no jantar da noite de domingo, quando o ministro conversou com formadores de opinião norte-americanos e fez um discurso sobre as relações comerciais do Brasil acoplado a uma análise geopolítica, sobre o fato de a economia de mercado produzir democracias. E que o mundo, a China inclusive, opta pela economia de mercado para tirar sua população da pobreza. Guedes foi ainda claro ao dizer, no jantar, que “o Brasil, geopoliticamente, sabe o que é: Ocidental e uma democracia”. O ministro foi ainda incisivo ao dizer que “só quer saber do que pode dar certo”. Ele, porém, mantém reservas para dizer como e sobre quais produtos as conversas podem evoluir ainda nesta viagem aos Estados Unidos. Ele saiu do hotel direto para uma conversa como secretário de Comércio dos Estados, Wilbur Ross.