Eduardo Leite pediu para Doria adiar a vacina em dia de mais de mil mortos por covid

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Como diz o ditado, “o diabo mora nos detalhes”. E, às vésperas da prévia do PSDB que escolherá o candidato do partido à Presidência da República, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, será confrontado com um dado no mínimo constrangedor para sua a campanha e seus apoiadores. O fato de ter telefonado ao governador de São Paulo, João Doria, em 15 de janeiro deste ano, para pedir que o paulista adiasse o início da vacinação contra covid. E o fez a pedido do general Eduardo Ramos, então ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro. Naquelas 24 horas, o país registrou 1.059 mortes e o país olhava __ e ainda olha __ para a perspectiva da vacinação como o prenúncio de dias melhores.

O telefonema foi admitido por Eduardo Leite em entrevista ao jornalista Igor Gielow, da Folha de S.Paulo. A resposta de Dória à época, publicada há pouco por Lauro Jardim, de O Globo, foi direta: “Lamento, Eduardo, que você tenha se prestado a atender um pedido dessa natureza do general Ramos. Diga a ele que vamos iniciar a vacinação, tão logo a Anvisa autorize a utilização da Coronavac. E que eu estou ao lado da vida e dos brasileiros”.

O que não se tinha ideia era do número de mortes por covid, àquela altura o equivalente à lotação de sete Boeings 737-700.  Não dava para esperar nem um minuto para começar a vacinação, ainda mais a pedido do próprio governo que deveria correr para vacinar as pessoas. O governo federal, porém, queria ter a primazia de ofertar a primeira vacina aos brasileiros. Hoje se sabe que, graças às vacinas, metade dos hospitais estaduais de São Paulo não tem mais pacientes da covid. No Distrito Federal, as internações pela doença não chegam a 25%. O ultimo levantamento aponta que na terça-feira foram registradas 140 mortes em todo o país.

A volta da velha briga

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A volta da velha briga

A disputa entre o fiscal e o social, que terminou por levar o ministro da Economia, Paulo Guedes, a se enfraquecer, volta com força ao palco e promete ficar assim até a eleição de 2022. Agora, quem puxa essa queda de braço é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Quem estava na plateia do IX Fórum Jurídico de Lisboa notou políticos se remexendo na cadeira quando Campos Neto alertou para a necessidade de o país seguir na linha de responsabilidade fiscal e reformas estruturais, justamente para conseguir sinalizar ao mercado uma capacidade de crescimento sustentável mais alto.

O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, também presente ao Fórum, respondeu no ato, dizendo que o país não pode levar em conta apenas as questões fiscais e que precisa “sobretudo” ter responsabilidade social. Há pouco mais de um ano, Marinho era chamado de “fura-teto” pela turma da Economia, inclusive Guedes. Com a dívida dos precatórios e a pandemia, Guedes refluiu na sua defesa intransigente do fiscal.

O detalhe é que Campos Neto não vai recuar. O BC, agora, tem autonomia e pode perfeitamente continuar com o seu périplo para mostrar a necessidade da responsabilidade nas contas públicas. Quem não gostar, paciência. Ele vai continuar falando em todos os fóruns políticos e jurídicos, aqui e além-mar.

CURTIDAS

Postura de candidato/ Sergio Moro e a presidente do Podemos, Renata Abreu, foram ao Instituto do Coração, em São Paulo, colher sugestões para o programa de governo na área de saúde. E depois ainda tem gente dizendo que ele não irá concorrer ao Planalto.

Decepção tucana/ Tem um grupo de tucanos-raiz para lá de entristecido com o ex-governador Geraldo Alckmin (foto). Nas rodas de conversa, há quem diga que, depois de o partido dar a ele a prerrogativa de ser o candidato a presidente da República e fazer dele governador de São Paulo, era a hora de ajudar a agregar o PSDB, e não cuidar apenas de um projeto pessoal e de vingança.

De fora para dentro/ Bolsonaro no mundo árabe e Lula em Paris. É a polarização da disputa presidencial nos fóruns internacionais. O ex-presidente, em seu discurso lá fora, tem criticado o governo, dando o tom do que vem por aí na disputa presidencial de 2022. O périplo de Lula na Europa é devidamente registrado para exibição no horário eleitoral, com todas as honras e aplausos com que foi recebido.

Menos, Lula, menos/ As críticas do ex-presidente não foram tão bem recebidas pela turma do centro, quanto o foi pela plateia que ovacionou o petista no Instituto de Ciência Política de Paris. A turma a quem Lula tem recorrido para ampliar sua base política rumo a 2022 lembra que, Juscelino Kubitschek, mesmo exilado e perseguido pela ditadura militar, não falava mal do Brasil no exterior. Roupa suja, avisam alguns, se lava em casa.

 

Padrinhos secretos

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O governo informará ao Supremo Tribunal Federal (STF) tudo o que foi liberado a partir das emendas do relator ao Orçamento, as famosas RP9, mas, nas respostas, o “padrinho” será o responsável pela relatoria e não o parlamentar que indicou os municípios, serviços e obras beneficiados. Foi a forma que a Casa Civil e a cúpula do Congresso definiram para preservar os seus e ganhar tempo, enquanto trabalha para evitar uma nova CPI do Orçamento.

Os dois grupos da terceira via

Em conversas reservadas, deputados dividem os postulantes que desejam quebrar a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula sob o ângulo da capacidade de articulação política. Já levaram o apelido de “os desagregadores” o ex-juiz Sergio Moro; o governador de São Paulo, João Doria; e o ex-ministro Ciro Gomes.

Com eles tem jogo
No rol daqueles que “têm conversa” para composições, ou seja, “os agregadores”, estão o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; e a senadora Simone Tebet. A parlamentar, aliás, é vista como a vice dos sonhos para a maioria dos “desagregadores”. Só não tem jogo ali com Ciro Gomes, porque bate demais no MDB.

Dá um refresco, Arthur
A vontade do governo de prorrogar a desoneração da folha de pagamentos em troca da reforma administrativa ainda não está garantida para este ano. É que, depois da confusão dos precatórios, os deputados vão pedir ao presidente da Câmara, Arthur Lira, uma “pauta mais light” para esta reta final de 2021.

Temporada de ensaios
O momento é de testar e de especular à vontade para ver o que agrada ao eleitor. Lula com ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin de vice, Eduardo Leite com Sergio Moro de vice. Só tem um probleminha: Alckmin gosta da especulação, porque acredita que isso amplia a possibilidade de chamar a atenção dos eleitores e se mostrar capaz de dialogar com todas as forças políticas, quando assumir aquilo que deseja: o governo de São Paulo. E os tucanos preferem esperar para ver se o ex-juiz emplaca.

Por falar em tucanos…
A sete dias das prévias do PSDB, os dois lados consideram que a disputa está acirrada entre Eduardo Leite e João Doria, e todos adotam muito cuidado para apostar em um ou outro. A única certeza é de que, independentemente do resultado, o PSDB não será o mesmo e tende a encolher.

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Pense num problema/ Dia desses, um político que se aposentou, mas acompanha tudo a distância, definiu assim a situação do país: “A coisa está tão ruim que deveria inverter: quem perder assume”.

Depois dos precatórios e da CPI…/ A turma aproveitou para relaxar um pouco nas homenagens pelos 70 anos do advogado Inaldo Leitão, ex-deputado federal e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aproveitou o sábado de tempo fechado em Brasília para passear no shopping com a namorada. É um político que consegue andar nas ruas. Algo que não é para todos nessa atividade.

Fez sucesso…/… o reality show “O Político”, promovido e idealizado pelo ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB), em que jovens interessados no assunto debateram temas polêmicos ao longo de toda a semana. Estiveram em pauta a legalização da maconha e do aborto, simulando um debate eleitoral. No total, foram mais de 10 mil inscritos e 12 escolhidos, com jurados de peso, como o ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-ministro Ciro Gomes. O programa será exibido em breve no canal de Márcio, no YouTube.

Tirada de Cristiana/ A crise no governo Dilma Rousseff estava cada vez maior no setor econômico, e eis que Aloizio Mercadante, então ministro da Casa Civil, passa no corredor do Planalto, em frente a uma sala de espera, onde aguardávamos uma conversa no quarto andar. Cristiana Lôbo, na hora, o abordou. Ele tentando dizer que ainda tinha esperança na derrota do pedido de abertura do processo de impeachment e coisa e tal. Cristiana foi direta: “Ministro, agora você vai virar ‘Mercarrezante’, porque só milagre para evitar a aprovação do pedido na Câmara”. A passagem de Cristiana, na semana passada, sem dúvida, deixou o jornalismo político mais triste. A nós, que tivemos o privilégio de conviver com ela, restam as histórias. Bom domingo e bom feriado a todos.

Chegada de Moro bagunçou o coreto das eleições 2022

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Oficialmente, a campanha eleitoral só começa daqui a oito meses, mas já tem muito político preocupado com os cenários. E com Sergio Moro filiado ao Podemos e na posição de terceiro colocado em muitas pesquisas, já tem muita gente calculando que, se o ex-juiz da Lava-Jato ganhar fôlego e conseguir quebrar a polarização, tirando o presidente Jair Bolsonaro do segundo turno, os integrantes do Centrão vão correr para apoiar Lula.

O “plano de emergência” não se restringe ao segundo turno. Tem deputado no grupo calculando que, se houver algum “risco de Moro vencer”, o jeito será fazer essa transferência para o petista ainda no primeiro turno, para tentar liquidar a fatura e não dar a menor chance ao ex-ministro. Falta combinar com o eleitor, o senhor da razão e do destino do Brasil.

Guedes foge da Câmara…

O ministro da Economia, Paulo Guedes, quer encerrar 2021 sem ser obrigado a comparecer à Câmara dos Deputados e responder sobre a offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. Esta semana, ele faltou à convocação feita pela Comissão do Trabalho. Por intermédio de seus advogados, pediu que a documentação encaminhada à comissão encerre o assunto.

…e a offshore volta à baila
O presidente da Comissão do Trabalho, Afonso Motta (PDT-RS), não aceitou e marcou nova data para 23 de novembro. Só não agendou para a semana que vem porque o ministro respondeu que estará em Dubai, com Jair Bolsonaro. Na Comissão de Fiscalização e Controle, porém, onde o presidente não marcou nova data, o autor do pedido de explicações do ministro já recorreu ao Supremo Tribunal Federal.

O problema é político
A documentação informa que Guedes não fez nada ilegal nem cometeu crimes. Mas os deputados querem mesmo é saber por que o ministro da Economia do Brasil mantém seu dinheiro no exterior. Além disso, a legislação diz que, convocados, os ministros devem ir pessoalmente dar explicações. A queda de braço só termina quando Guedes resolver comparecer, ou seja, não tem conversinha.

Hora das contas
Os presidentes de partido aproveitam o fim de semana prolongado para fazer as contas das nominatas de deputado federal rumo a 2022. Tem muita gente desesperada atrás de puxadores de votos, que agora interessam mais do que alianças partidárias.

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Dois contra um/ Saiu de Arthur Virgílio um dos maiores petardos contra Eduardo Leite no debate das prévias tucanas. João Doria levantou o tema da votação da PEC dos Precatórios, que contou com o apoio de deputados do PSDB gaúcho, e Arthur completou: “Líder tem de liderar a bancada. Não deixe que lhe preguem na testa a tarja de bolsonarista. Não faça isso”, disse Arthur a Eduardo.

Almoço com política I/ Com as vacinas em dia, voltam as mesas animadas, como a da sexta-feira, em homenagem ao arquiteto Carlos Magalhães, falecido em maio. As conversas, porém, já estão focadas em 2022, fazendo pontes para o futuro de Brasília. À mesa, quase 20 pessoas, dos mais variados partidos e tendências. Tanto é que juntou o pré-candidato a governador do Distrito Federal pelo PSDB, Izalci Lucas, com dois dirigentes do MDB, Tadeu Filippelli e Luiz Pitiman, e um do PV, Gastão Ramos.

Almoço com política II/ Por essa mesa já passaram muitos governadores, senadores e líderes políticos. Nesse reencontro pós-vacina, na foto, de pé, Pitiman, Gastão Ramos, Silvestre Gorguho (ex-secretário de Cultura do DF), senador Izalci e o ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro. Sentados, o advogado Paulo Castelo Branco, Filippelli e o consultor Jack Corrêa, autor do livro Lobby Stories, que teve um lançamento para lá de concorrido esta semana em Brasília.

O “jeitinho” está posto

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O “jeitinho” está posto

Uma das soluções que os deputados da Comissão Mista de Orçamento estudam para liberar as emendas de relator, as tais RP9, é aproveitar os projetos de remanejamento de recursos orçamentários deste final de ano, os tais PLNs, e trocar a “identidade” dessas verbas. Assim, em vez de se chamar RP9, receberão outro código identificador e ficarão fora do alcance da transparência requerida pela ministra do STF. Esse sistema que eles buscam, agora, é muito parecido com aquele usado pelos “anões do Orçamento”.

Corra, Rosa, corra

Alguns especialistas em orçamento temem que esse “jeitinho” dificulte a identificação dos padrinhos da destinação dos recursos das RP9 que, como o leitor da coluna pôde ver acima, é tudo o que os deputados beneficiados desejam. A correria, agora, é para que, quando o prazo de Rosa Weber começar a contar, parte das emendas de relator que até aqui não foram empenhadas ou liberadas esteja com outro nome e livre para liberação.

Ele, não

Aliados do ex-juiz Sergio Moro têm dito que não será fácil fazer de Luiz Henrique Mandetta, do União Brasil, ou mesmo a senadora Simone Tebet vice na chapa encabeçada pelo ex-ministro da Justiça. No Rio de Janeiro, por exemplo, o União Brasil tenta atrair Danielle, a filha de Eduardo Cunha, e Marco Antônio Cabral, filho de Sérgio Cabral. Ambos vão trabalhar dia e noite para deixar o partido bem distante de Moro.

Nem vem

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), apontada pelos moristas como o nome ideal para a chapa, também não terá o partido interessado em fechar com Sergio Moro. O ex-presidente José Sarney, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e Romero Jucá (MDB-RR) querem distância do ex-juiz.

A favorita

Luiza Trajano que se prepare: Gilberto Kassab, do PSD, não desistiu de tentar convencer a empresária a compor uma chapa à Presidência da República com Rodrigo Pacheco. E, para completar, Renata Abreu, do Podemos, também quer entrar nessa disputa pela empresária.

Trinta dias de agonia

Nos bastidores da sessão do Congresso que votou os projetos de remanejamento de verbas orçamentárias, só se falava daquilo: o prazo concedido pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal — e acolhido pela maioria da Corte — para que a Câmara dê transparência à distribuição de emendas de relator. Alguns parlamentares, confiantes de que não haveria uma lupa sobre esse dinheiro, destinaram verbas a municípios de estados onde não foram eleitos, atitude que, no mínimo, deixará os eleitores dessas excelências furiosos. O pior é que, se não houver uma boa justificativa, esses casos têm tudo para desaguar numa investigação pela Polícia Federal. “Rosa Weber mirou naquilo que viu e acertou no que não viu. Esta Casa vai ferver”, comentou um deputado à coluna. Assim que vier a publicação do acórdão e o prazo começar a correr, vai faltar Rivotril para acalmar essas excelências.

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Próximos passos/ Antes de cuidar dos vices, tanto Gilberto Kassab (foto) quanto Renata Abreu vão cuidar das composições regionais para fazer bancada. Renata está para lá de confiante na imagem de Sergio Moro para alavancar o partido.

Sentiu o tranco/ O comentário “ele não aprendeu nada”, feito por Jair Bolsonaro sobre a filiação de Sergio Moro ao Podemos, foi lido no partido do ex-juiz como um sinal de que o discurso do ex-ministro incomodou. Aliás, nas hostes bolsonaristas, muita gente diz que Moro vai, sim, tirar votos do presidente.

“Eu sou D’Ávila”/ O deputado Marcel Van Hattem, para que não fique dúvidas, reforça que foi à filiação de Sergio Moro ao Podemos porque havia sido convidado pelo próprio ex-juiz. “Como eu te disse, o Novo tem candidato, e eu apoio o Felipe D’Ávila.”

E a nossa Cris Lôbo virou luz/ O jornalismo político perde a perspicácia, o humor e a análise precisa de Cristiana Lôbo, uma referência de amor à vida e à notícia. Vá em paz, minha amiga, e ilumine o caminho daqueles que ficam. Ficam aqui os meus mais profundos sentimentos de gratidão por tantas aulas, risadas e parcerias ao longo de 30 anos de cobertura diária.

 

Cristiana Lôbo, uma referência do jornalismo com muita informação recheada de humor

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E lá se vai uma amiga e uma referência. Cristiana Lôbo, nossa Cris Lôbo, ou “Lobinha”, como chamávamos muitas vezes de forma carinhosa, deixou sua marca de bom humor, generosidade e perspicácia por onde passou. Eu a conheci como comecei a trabalhar no Globo, em julho de 1989. Quando vim para o Correio, em 1997, ela estreou na Globonews, onde com seu jeito simples e elegante de transmitir as notícias, fez escola e ensinou a muitos de dentro e de fora da emissora. Quando fui para a Rede Vida de Televisão, onde faço comentários diários para o jornal da Vida e sou âncora do Programa Frente a Frente, ela me deu uma aula de televisão, que guardo até hoje. Na convivência diária da cobertura política, não foram poucas as vezes em que, quando a excelência começava a “enrolar” nas conversas no cafezinho da Câmara ou do Senado, ela logo soltava esta: “Vamos Deni, vamos procurar outra fonte, porque essa aqui não está disposta, E táxi parado não pega passageiro”.

No corre-corre do dia-a-dia, não era raro ficarmos horas à espera das fontes e Cristiana nos salvou muitas vezes com sua generosidade e perspicácia. Não foram raras as vezes em que, cheguei ao cafezinho do Senado, e ela já rodeada de fontes e colegas da Globonews, dizia, “Deni, vem para cá”. Certa vez, na Câmara, Aldo Rebelo, no papel de articulador politico do governo Lula, passou quase o dia todo evitando a imprensa. De repente, lá vem ele com o celular ao ouvido. Estávamos à espera e, de repente, Cristiana se levanta e para bem na frente dele. “Rebelança, se é para enrolar, enrola direito”. Aldo, sem entender, ainda manteve o celular colado ao ouvido. E ela emendou: “O celular tá virado!” Foi a única que notou e, graças a rapidez dela, a “Rebelança _ mistura de Aldo com liderança”, como dizia nossa Cris Lôbo __, na mesma hora, muito sem graça, largou o telefone e conversou longamente conosco.

De a generosidade e de uma leveza ímpar, Cristiana era ainda detentora de uma memória de causar inveja a muitos, inclusive eu. Numa das salas de embarque do aeroporto de Brasília, por exemplo, enquanto aguardávamos o vôo para ir ao velório de Jorge Bastos Moreno, no Rio, Cristiana sacou uma história do fundo do baú, que provocou muitas risadas em Murilo,  seu marido e companheiro de uma vida, Helena Chagas e Bernardo, marido de Helena. Cris contou que, um belo dia de 1990, Moreno chegou na redação O Globo com uma caixa de pinhas (ata, fruta de conde), sua fruta predileta. Ela, sentada numa mesa mais distante da porta da redação, abriu um sorriso. Moreno, porém, foi em minha direção e me entregou a caixa. “Só para me deixar com ciúmes!”, contou a nossa Cristiana naquela sala de embarque. Eu, sinceramente, não me lembrava. Mas Cristiana, sim. “Eu saí de lá triste e ele com aquela cara de ‘me vinguei da nega'”. Ali, Cris teve inclusive a ideia de colocar a historia no texto em que homenageou o “compadre”.

Na história de Cris, só um reparo: Pinha também é a minha fruta predileta, mas o relato fica muito mais saboroso do jeito que ela percebeu a atitude de Moreno. Moreno se foi em 2017. Querido amigo Jorge, receba a nossa Cristiana, sua comadre e nossa eterna referência. A esta altura, os dois devem estar discutindo no céu, dando risadas e degustando as melhores pinhas do universo.  A Murilo, seu marido, Bárbara, Gustavo, seus filhos, e aos netos e todos os familiares, ficam aqui os meus mais profundos sentimentos. Obrigada por tudo, Cris.

Viva Cristiana Lôbo.

Com Moro, Lava-Jato entra na campanha contra Lula e Bolsonaro

Publicado em coluna Brasília-DF

A chegada de Sergio Moro à arena da política leva a memória da Lava-Jato para a campanha presidencial de 2022, gerando um constrangimento tanto para o PT de Lula — que ensaia um discurso sobre não ter havido corrupção na Petrobras — quanto para Jair Bolsonaro, que hoje marcou seu ingresso no PL, de Valdemar Costa Neto, para 22 de novembro. No caso do presidente, os constrangimentos irão mais além, uma vez que o ex-ministro tem a simpatia do vice Hamilton Mourão, que definia o ex-juiz como “uma reserva moral do governo”. Na Polícia Federal, Ministério Público e militares, segmento nos quais Bolsonaro reinou em 2018, os ventos dos votos tendem a soprar para Moro. O ex-juiz não está a passeio.

Simone, a vice dos sonhos

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) é vista no Podemos como um nome a ser procurado para vice de Moro. Além de atrair o eleitorado feminino, reforça o ex-juiz no Centro-Oeste, onde o presidente Jair Bolsonaro é forte.

Implodiu…

O União Brasil foi lançado com o desafio de eleger parlamentares no Distrito Federal praticamente cumprido, uma vez que a fusão do DEM com o PSL lhe daria Bia Kicis (PSL), Alberto Fraga e Luís Miranda (ambos do DEM). O grupo, porém, vai esfacelar. “Eu já tenho candidato a presidente, mas ainda não tenho partido”, disse Miranda à coluna.

… e encolheu

Bia Kicis vai esperar a filiação de Bolsonaro ao PL para definir seu destino. No União Brasil não ficará. Resta Alberto Fraga, que está decidido a concorrer a um mandato de deputado federal.

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Alckmin quer união/ O ex-governador Geraldo Alckmin voltou a conversar com o União Brasil, onde a conversa de vice de Lula não está nos planos. Alckmin, hoje, tem a certeza de que o PSD o apoiará ao governo de São Paulo, em qualquer hipótese. O União Brasil já avisou que o quer como candidato ao governo, mas apenas se ele estiver filiado à legenda. As conversas voltam depois das prévias do PSDB, onde Alckmin trabalha por Eduardo Leite.

Novo balança/ O partido Novo, que não se uniu em torno da candidatura do Luís Felipe D’Ávila à Presidência da República, marcou presença forte na filiação de Sergio Moro ao Podemos. Os deputados Marcel Van Hatten (RS), Alexis Fonteyne (SP) e a distrital Júlia Lucy fizeram questão de ir até o Centro de Convenções dar um abraço no ex-juiz.

Discretíssimo/ O procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima, que integrou a força-tarefa da Lava-Jato e, hoje, é advogado especialista em compliance, fez questão de ir à filiação de Moro ao Podemos. Porém, preferiu ficar bem distante do palco. “Sem a mudança do sistema político, o Judiciário não consegue impor a lei aos poderosos. As grandes empresas e os empresários estão preocupados e não se envolvem mais. Agora, se não seguirmos em frente com mudança na política, voltará ao que era antes”, disse à coluna.

João Roma na lida/ Quem não saiu do Congresso nos últimos dias, cabalando votos, foi o ministro da Cidadania, João Roma. A todos dizia que votar contra a PEC dos Precatórios era votar contra os R$ 400 do Auxílio Brasil. Fará o mesmo discurso no Senado.

Moro chega ao Podemos com discurso voltado aos eleitores decepcionados com Bolsonaro

Publicado em ELEIÇÕES 2022

 

 

 

O discurso com o qual Sérgio Moro se filiou ao Podemos nesta manhã pode perfeitamente ser repetido num lançamento de candidatura. E vem sob encomenda para atrair aquele grupo de  aqueles eleitores que, depois de eleger Jair Bolsonaro em 2018, terminou decepcionado. Aliás, como ocorreu com o próprio Moro, que agora entra na arena da política, disposto a brigar pela vaga de líder alternativo ao petismo e ao bolsonarismo, tal e qual ocorre agora com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)(, que mudou de partido com vontade de chegar ao Planalto.

      A diferença de ambos se vê na largada. O ingresso de Pacheco no PSD, em solenidade no memorial JK, com direito a um grupo de chorinho e o legado do ex-presidente que fundou Brasília, atraiu mais políticos do que a chegada de Moro ao Podemos. Porém se Pacheco tem apoio político, Moro começa a sua caminhada com mais apelo popular. E será um pedra no sapato de Lula, uma vez que levará para campanha presidencial a memória da Lava Jato., E por mais que o PT diga que Moro foi considerado suspeito no julgamento do ex-presidente Lula e venha com o discurso da inocência do petista, Moro estará ali para lembrar que houve roubo na Petrobras, um montante expressivo de dinheiro devolvido aos cofres públicos e mais de cem pessoas presas. E vem com um “eu julguei na forma da lei”. De quebra, ainda lembrará que o dinheiro da corrupção é menos recursos para programas sociais, menos atenção às pessoas, á economia, aos problemas do país como um todo.

Moro “chegou, chegando”, dizia uma senhorinha que acompanhou a solenidade sentada no chão dentro do auditório do Centro de Convenções, em que o ex-juiz apresentou a ideia de criar uma força-tarefa de erradicação da pobreza e lançou as bases de um programa de governo., centrado em “verdade, ciência e justiça”, incluídos aí, disse ele, a justiça social e não apenas o combate á corrução.  Ele vem com bandeiras parecidas com aquelas que guindaram o PT pela primeira vez ao governo, de justiça social associada a um combate intransigente à corrupção e á politica do compadrio __  que foi também um dos motores da eleição de Bolsonaro com a tal “nova política”, etc. Moro apresentou no seu discurso de uma hora as bases para deixar preocupados todos aqueles que não querem fazer marola na polarização. Por enquanto, a campanha eleitoral está apenas no aquecimento. E Moro chega como um personagem a ser acompanhado bem de perto. Assim como errou quem desprezou Bolsonaro em 2018, corre o risco de errar quem apostar desde já que Moro não deve ser levado em conta.

 

Roberto Campos Neto em busca de apoio

Publicado em coluna Brasília-DF

Enquanto a Câmara se dedicava à PEC dos Precatórios, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chamado reservadamente por muitas parlamentares de “o bonitão”, pedia um jantar fechado com um grupo suprapartidário e que “tivesse juízo”, para, numa conversa franca, apresentar a real situação da economia. Ontem (9/11) à noite, 24 deputados o receberam para o encontro olho no olho, sobre inflação, câmbio e o cenário macroeconômico. Antes mesmo de ouvir o diagnóstico, muitos deputados prometeram ajudar, embora não sejam os mais fiéis aos projetos do governo de Jair Bolsonaro. No Executivo, esse encontro é visto como uma das brechas para que o governo consiga evitar as “pautas bombas” neste final de ano.

Só tem um probleminha: de antemão, muitos avisaram a Campos Neto que a desoneração da folha de pagamentos, que termina em dezembro e tem um projeto de prorrogação parado na Câmara, tem tudo para ser aprovado. Afinal, é dinheiro que o atual governo nunca viu, uma vez que a medida vigora há cinco anos. O empresariado, somado aos sindicatos, está em plena campanha junto aos parlamentares para que a desoneração seja mantida.

Eles comemoraram

Os ministros do governo comemoraram reservadamente a suspensão das emendas de relator pelo Supremo Tribunal Federal. É que muitos já estavam cansados de ter de recorrer ao Congresso implorando por recursos para conseguir aplicar nas prioridades elencadas pelo Poder Executivo. A batalha, porém, ainda não acabou. Até aqui, as emendas foram suspensas e não extintas.

Promessas continuam
A suspensão das RP9, aliás, não tirou de cena a expectativa de liberação no futuro. Tanto é que, na votação da PEC dos Precatórios, muita gente continuava negociando um naco desses recursos.

A aposta dos empresários
Empresários que participaram do seminário do Instituto Unidos Brasil (Iub), que faz os estudos e projetos para a Frente Parlamentar do Empreendedorismo, avisaram aos parlamentares que ainda não acreditam na quebra da polarização entre Jair Bolsonaro e Lula. E, nesse caso, a maioria, pelo menos, garantia nas conversas reservadas que vai de Bolsonaro.

Se acabar a desoneração da folha, o governo terá nas mãos o imposto-desemprego, com mais um milhão e meio de desempregados para se somarem aos 14 milhões
Do presidente da UGT, Ricardo Patah, aplaudido num evento de empresários

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Juntos e misturados/ Dispostos a fazer bancada no próximo ano, PP e PL não descartam totalmente uma federação. Essa decisão, porém, só será tomada mais perto das eleições. Até março, vão jurar que cada um cuidará de si.

Moro pelo Brasil/ Ao se filiar ao Podemos, hoje, o ex-ministro Sergio Moro se apresentará “à disposição do povo brasileiro, pelo Brasil”, conforme contam seus aliados. A fala indicará a estreia de um político com jeito e cara de candidato à Presidência da República. Tal e qual Rodrigo Pacheco em sua filiação ao PSD.

Por falar em Pacheco…/ No meio da tarde, quando o governo venceu a maioria dos destaques à PEC dos Precatórios em primeiro turno, a oposição já olhava para a correlação de forças do Senado. Lá, acreditam os líderes oposicionistas, que o presidente Rodrigo Pacheco não terá o mesmo empenho que Arthur Lira em prol da emenda constitucional.

Quem diria/ Com a decisão do Superior Tribunal de Justiça, de anular as provas do caso das “rachadinhas” do tempo em que Flávio Bolsonaro era deputado estadual, o filho de Bolsonaro entra no mesmo barco de Lula. Ambos os processos voltaram à estaca zero.

Tendência é governo aprovar a PEC dos Precatórios em segundo turno

Publicado em Câmara dos Deputados

Faltando metade dos destaques a serem votados para concluir a análise da PEC dos Precatórios em primeiro turno, os líderes da oposição consideram que o governo vai conseguir os votos para aprovar o texto em segundo turno. É que, até aqui, o governo tem conseguido uma margem maior de votos a favor dos destaques. A exceção foi o destaque que pretendia dar um “cheque em branco” para o governo quebrar a “regra de ouro” sem precisar pedir autorização ao Congresso em cada ação nesse sentido. A regra de ouro é aquela que proíbe a emissão de títulos para pagamento de despesas correntes. Hoje, a cada vez que o governo precisa emitir títulos para pagamento de desse tipo de despesa, quebrando a regra de ouro, o Congresso precisa autorizar. E assim vai permanecer, uma vez que o dispositivo da PEC que queria dar um choque em branco para essas ações não obteve os 308 votos.

Em conversas reservadas, líderes oposicionistas contaram ao blog que a “situação está difícil” e que a esperança deles é tentar barrar essa PEC no Senado, onde a base governista é mas frágil e o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, não demonstra o mesmo empenho de Arthur Lira em prol de ações que beneficiam o governo. “Ainda não entregamos os pontos, mas está muito difícil derrotarmos a PEC”, contou um líder ao blog.