Autor: Denise Rothenburg
A escalada da crise
Com o fim das férias do Congresso, os parlamentares voltam ao trabalho hoje em um tom acima do que fecharam 2014. As dissidências e brigas na base governista estão amplificadas por causa da disputa na Câmara. Internamente, os maiores aliados da presidente Dilma Rousseff calculam que a perspectiva de vitória de Eduardo Cunha na Câmara e o aperto que Renan Calheiros passa no Senado jogam por terra o plano de substituir o PMDB pelo novo partido de Gilberto Kassab.
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E com um agravante: Lula, nos tempos de mensalão, e com a economia em dia, recorreu às ruas para evitar qualquer movimento mais contundente da oposição que levasse parte da base contra seu governo. Dilma, em temporada de petrolão, aumento de impostos, da gasolina e de tarifas, e com a base rachada, talvez não tenha a mesma sorte. O governo começa o ano com aquela velha batida: quando você pensa que nada pode piorar, piora.
Emendas & sonetos I
Ricardo Barros, do PP, ofereceu aos peemedebistas, já no início da noite de sexta-feira, a hipótese de juntar todos os partidos da base aliada em volta de Eduardo Cunha, com a garantia de apoio ao PT para ocupar a presidência da Casa no próximo biênio. Em troca, o PMDB ficaria com a presidência agora, mas teria de “expulsar” do bloco de apoio o DEM e o Solidariedade. A resposta foi negativa. A avaliação é a de que o governo se preocupou tarde demais com os desdobramentos da divisão da base.
Emendas & sonetos II
Ao colocar o PSD no Ministério das Cidades com a ideia de fortalecer a posição do aliado, o governo deu asas a um partido com que todos os outros antipatizam. Afinal, o PSD cresceu tirando substância não só da oposição, mas também de parceiros do governo. A primeira parcela dessa conta, Dilma vai pagar hoje se Arlindo Chinaglia for derrotado, conforme indicam as previsões.
Combustível explosivo
Os mais tarimbados na política acreditam que a velha fórmula de usar os cargos de segundo escalão para acalmar a base no pós-eleição do Congresso não vai dar certo. É que, para cada nomeado, haverá 10 descontentes, dada a fragmentação dos partidos.
Noves fora…
Em conversas reservadas, os políticos aliados de Arlindo Chinaglia acreditam que, depois do ingresso dos ministros palacianos na campanha petista para presidir a Câmara, o resultado de hoje trará aqueles com que o governo poderá contar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. O grupo eduardista acredita que, apesar dessa pressão dos petistas, o peemedebista tem gordura para queimar até a hora da votação, sem comprometer o resultado final.
Lula à portuguesa
O nome do ex-presidente Lula tem sido citado insistentemente pela imprensa portuguesa como ligado à Odebrecht, empresa que acabou enroscada nas investigações que atingem o ex-primeiro ministro José Sócrates. É confusão para mais de metro. Lula, entretanto, jamais escondeu que ajudaria as empresas brasileiras a exportarem obras, produtos e serviços. Não contava, porém, que essas azeitonas tivessem caroços.
CURTIDAS
O corpo fala/ Os quatro candidatos a presidente da Câmara passaram ontem no seminário montado para recepção aos novos parlamentares. Eduardo Cunha e Arlindo Chinaglia evitaram cumprimentos. Cunha, ao chegar, cumprimentou todos, menos Arlindo. Ao sair, o petista fez o mesmo. PT e PMDB estão cada vez mais distantes.
Ser ou não ser/ Muitos deputados de primeiro mandato chegam morrendo de medo de assinar qualquer coisa no parlamento. Um peemedebista chegou a preencher a ficha para integrar a Frente Parlamentar de Agricultura ontem no escritório do grupo, mas, na saída, pediu de volta. Iria consultar o partido primeiro.
Dia cheio/ Brasília funcionará hoje como se fosse uma quarta-feira. Vários salões de beleza que permaneceram fechados na posse da presidente Dilma Rousseff abrem hoje para atender esposas dos parlamentares e convidadas para o casamento da ministra da Agricultura, Kátia Abreu.
Noite cheia/ Os restaurantes frequentados pelos políticos, que geralmente fecham no domingo à noite, também funcionarão. O Piantella, por exemplo, convocou toda a equipe para receber as excelências. É o domingo com cara de terça-feira, quando, geralmente, as votações do Congresso vão até mais tarde.
A Petrobras, a base e o Planalto
A decisão da Petrobras de cancelar os investimentos previstos para as refinarias do Ceará e do Maranhão deixaram os políticos dos dois estados em pé de guerra com a empresa e a presidente Dilma Rousseff. No Ceará, onde Dilma prometeu concluir a refinaria ainda no primeiro mandato e chegou a lançar a pedra fundamental da obra com ares de festa e palanque, há quem defenda, inclusive, que o ministro da Educação, Cid Gomes, entregue o cargo. “O ministro agora está desmoralizado. Por duas campanhas, a presidente prometeu e, agora, cancelam a refinaria, alegando que daria prejuízo. Prejuízo é o desmantelo que impera na Petrobras e que ninguém assume a responsabilidade”, diz o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).
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O deputado José Nobre Guimarães, do PT, foi ontem ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pedir que a refinaria cearense seja retomada. Na semana que vem, será a vez da bancada do Nordeste ir em peso pedir a continuidade das obras. Mercadante prometeu recebê-los.
Renan e os ministros
O presidente do Senado, Renan Calheiros, busca os ministros políticos do governo Dilma Rousseff para dar aquela força na campanha pela reeleição. Ontem, por exemplo, conversou com Gilberto Kassab, das Cidades, por telefone. O PSD tem três senadores: Omar Aziz (AM), Otto Alencar (BA) e Sérgio Petecão (AC).
Renan e os peemedebistas
Os cálculos dos renanzistas indicam que o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), adversário de Renan, tem na bancada do partido apenas quatro votos. Jader Barbalho, que se recupera de uma cirurgia no Sírio-Libanês, mandou uma declaração de voto por escrito em favor de Renan. A certeza da decisão da bancada hoje é que fortalece a pressão para que o catarinense aceite o resultado.
Renan e os petistas
O grupo que ajuda na campanha de bastidores de Renan levou o seguinte recado ao PT: “Vocês precisam entender que o foco em 2015 chama-se Dilma Rousseff. Se quiserem eleger o Luiz Henrique como candidato do PSDB, vão pagar a conta ali na frente”, ou seja, o PMDB não vê céu de brigadeiro para a presidente em termos políticos e acena com a rede para ajudá-la, se preciso for.
Deu errado
Os petistas do governo Dilma Rousseff esperavam contar com um empurrãozinho dos governadores para levar os partidos a apoiarem Arlindo Chinaglia para presidente da Câmara. Não rolou. Na Bahia, por exemplo, Rui Costa, que é do PT, não abriu espaço ao PR no primeiro escalão.
CURTIDAS 2 em 1/ O ex-deputado Paulo Delgado se diverte acompanhando a distância a disputa pela presidência da Câmara: “Para um governo que não gosta de reunião com políticos, o melhor candidato é Eduardo Cunha: governo e oposição num cara só”.
A visão deles/ Os aliados de Arlindo Chinaglia estão conversando com os tucanos dentro do seguinte raciocínio: “O Eduardo Cunha, derrotado, é o melhor dos mundos para vocês. Votem no Chinaglia!”. Os tucanos não acreditam. Querem tudo, menos o PT na Presidência da Casa.
666, a MP/ Parece macabro, mas as refinarias que a Petrobras cancelou tinham recursos previstos na Medida Provisória
nº 666, de 30 de dezembro. Com o cancelamento, vem sendo chamada de MP da “besta”. Xô, satanás!
Enquanto isso, no Maranhão…/ O novo governador Flávio Dino contava com as obras para alavancar a economia estadual. Agora, terá de se virar sozinho. Os sarneyzistas, que perderam o poder, vão se solidarizar aos protestos. Foi-se mais uma promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Dois coelhos
Disposta a criar um partido, Marina Silva planeja usar a falta de água em São Paulo e os problemas energéticos do país para bater no PT e no PSDB. Há mais de 10 anos mandando no estado mais populoso do Brasil, os tucanos paulistas serão responsabilizados pela ausência de um plano que permitisse contornar as mudanças climáticas e não expusesse a população à situação atual. Quanto ao governo federal, a ordem será bater na ausência de diversificação da matriz energética. E os dois vão apanhar no quesito falta de planejamento e de jogar às claras a necessidade de racionamento — uma atitude que deveria ter sido adotada há tempos.
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Os marineiros, entretanto, avaliam que os tucanos ainda podem transformar o limão em limonada: podem sempre dizer que, em 2001, Fernando Henrique optou pelo racionamento de energia antes que os reservatórios secassem, como ocorre agora. Ou seja, não deixou a situação chegar ao ponto em que permitiu a administração petista. Não por acaso, Dilma chamou os ministros para discutir a crise da água. Não quer dar mais argumentos aos adversários.
Equação difícil
O presidente do PP, Ciro Nogueira, avaliou com alguns petistas que será difícil levar a bancada a apoiar Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara. É que, no ano passado, Ciro fez das tripas coração para levar os pepistas a participar da coligação de Dilma Rousseff à reeleição e, ainda assim, perdeu o Ministério das Cidades. Agora, se forçar muito a mão em direção ao PT, arrisca perder a presidência do partido em abril.
De saída para entrar
Nas rodas políticas, há quem diga que o ex-ministro do Turismo Gastão Vieira está pronto para deixar o PMDB e se filiar ao Pros do ministro da Educação, Cid Gomes. Especialista na área educacional, Gastão é considerado uma aposta para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
“Esse apoio de Gilberto Kassab a Arlindo Chinaglia já estava no script. Não podia se esperar outra coisa de um prestador de serviços”
Do ex-deputado Geddel Vieira Lima, PMDB, sobre o apoio do PSD à candidatura de Chinaglia a presidente da Câmara.
Por falar em PSD…
A coordenação de campanha de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) considerou “fraco” o apoio do PSD a Chinaglia. Isso porque apenas dois deputados estiveram presentes no anúncio. “Numa eleição secreta, pelo menos 10 deveriam ter colocado a cara naquela foto”, comenta um peemedebista.
CURTIDAS
Só ouvidos/ O ministro da Defesa, Jaques Wagner, procurou o ex-ministro Nelson Jobim (foto), que ocupou a pasta no governo Lula e não fechou o primeiro ano do governo Dilma. Wagner é da linha de que não adianta ouvir quem só elogia. Afinal, não são esses que ajudarão a enxergar e a corrigir os possíveis erros de condução política.
Crítica não faltou/ Para quem não se lembra, Jobim não tem boas referências do primeiro governo da presidente Dilma. Ele foi demitido pela presidente em agosto de 2011, depois de a revista Piauí ter publicado declarações dele chamando Ideli Salvatti de “fraquinha” e se referir a Gleisi Hoffmann, então ministra da Casa Civil, como alguém que não conhecia Brasília.
Para compensar/ Nem só de críticos vive a agenda de conversas do ministro da Defesa. Ele tem aproveitado o mês para conversar com colegas de ministério. Já almoçou com Cid Gomes, da Educação, com Carlos Gabas, da Previdência. Aos poucos, vai conhecendo os seus colegas de Esplanada e formando um quadro geral do governo.
Fim do silêncio/ Todo o mundo político vai parar na terça-feira para ouvir o pronunciamento da presidente Dilma na primeira reunião ministerial do ano. A expectativa, entretanto, é a de que ela se limite a falar sobre a crise da água, com destaque para São Paulo, território dominado pelo PSDB. Quanto à energia, há quem acene com um discurso sobre “problemas passageiros” e sistema “robusto”. Se for assim mesmo, que Deus nos proteja.
As notícias que ligam as consultorias de José Dirceu às propinas pagas como parte do esquema da Petrobras deixaram o PT como aquele personagem que não pode se mexer. Se defender demais o ex-ministro da Casa Civil, deixará irada a ala do partido que trabalha para se blindar dos malfeitos do período do mensalão. Se não defender aquele que foi sempre fiel ao ex-presidente Lula, a ala ligada ao ex-ministro ficará ainda mais frustrada.
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A propósito, Dirceu já fez chegar a todos os interessados que não voltará para a cadeia e, se tiver que ir, não irá sozinho. Nesse sentido, há quem esteja meio intrigado com o silêncio de Lula. Desde a posse, o ex-presidente não se manifesta. Espera-se que quebre esse gelo no aniversário do PT, em 6 de fevereiro, em Belo Horizonte.
Escalão a conta-gotas
A presidente Dilma Rousseff decidiu não preencher os cargos de segundo escalão numa lapada só. A amigos, tem dito que, se fizesse isso, perderia o melhor momento dos partidos, que é aquele em que todos têm expectativa de poder. Faz sentido.
Jogada ensaiada
Certo de que estará no segundo turno na eleição para presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) anunciou voto em favor de Julio Delgado se estiver fora da final com o objetivo de tentar angariar os votos dos socialistas. Aposta em especial na ala do PSB que deseja se aproximar do governo Dilma Rousseff.
Enquanto isso, no Senado…
O PT se apresenta conformado com a proposta de reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir a Casa. Em conversas reservadas, senadores do partido dizem que o melhor ali é se preparar para, se Renan tiver qualquer problema, ocupar o lugar. Isso significa que não será no meio petista que a oposição conseguirá encontrar respaldo para derrubar a perspectiva de o peemedebista alagoano comandar o Senado por mais dois anos.
O que é bom para os gringos…
…Nem sempre é bom para os brasileiros. O mesmo gás de folhelho (vulgo, gás de xisto) que ajudou a tirar os Estados Unidos do atoleiro teve a exploração suspensa por uma liminar do juiz 5ª Vara de Presidente Prudente há dois dias até que se tenha estudos ambientais sobre a técnica usada para a exploração. A tecnologia de extração traz riscos de contaminação da água e do solo. Em tempo de escassez de água, todo cuidado é pouco.
CURTIDAS
Até eles!/ Ontem faltou água no Senado. É. Pois é.
Ah, bom!/ O ministro Arthur Chioro pediu que a assessoria entrasse em contato com a coluna para esclarecer que foi de avião da FAB até o Guarujá porque a casa dele é em Santos, o município vizinho. Ele só vai a Congonhas quando divide o uso do jatinho com outros ministros. Menos mal.
De volta/ O ex-governador Agnelo Queiroz está recolhido, esperando a tempestade passar, mas o ex-vice-governador Tadeu Fillippeli (foto), do PMDB, não pretende sair de cena tão cedo. A ideia é aproveitar os próximos três anos para preparar uma carreira solo em 2018.
Olha a silhueta!/ Deputados e senadores faziam planos de dieta no fim de semana. É que, a partir de segunda-feira, eles voltam a Brasília para preparar a retomada dos trabalhos na Câmara e no Senado. E cada partido prepara um jantar para receber os seus.
Candidato a presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) ganha hoje à tarde o apoio do PSD. O casamento será oficializado às 17h, no gabinete do novo líder pessedista, Rogério Rosso (DF). Os dois partidos vão inclusive formar um bloco a fim de tentar compensar o que vem sendo formado pelo peemedebista Eduardo Cunha (RJ), o principal adversário de Chinaglia na disputa pela Presidência da Casa. O PSD tem 36 deputados e o PT, 66, o que dá um total de 102. O PT espera outros partidos para ampliar esse bloco.
Na esteira da avaliação do governo Agnelo Queiroz que o PT do Distrito Federal fará a partir da semana que vem, virão algumas manifestações no sentido de expulsar o ex-governador do partido. A ideia de afastá-lo da legenda é para tentar tirar dos ombros partidários todo o peso da situação caótica das finanças do GDF. Obviamente, dizem os petistas, não será o caso de tirar toda a responsabilidade do partido por essa situação, até porque a maioria dos secretários era orgânica no antigo governo. Porém, os políticos do partido não querem deixar que o PT pague por erros que Agnelo teria cometido sozinho.
Internamente, os petistas consideram que o ex-governador vem da escola do PCdoB, na qual as decisões são centralizadas num pequeno grupo, enquanto no PT a maioria das atitudes é decidida em conjunto. Em tempo: o PCdoB não pretende abrigar o ex-governador. Agnelo está cada vez mais sozinho.
Mina
Investigadores que foram à Suíça e à Alemanha coletaram informações muito mais importantes do que os simples depósitos em dinheiro fruto do petrolão. Será a base da Lava-Jato 8 — uma operação que ganhará outro nome. No domingo, uma nova força-tarefa se juntará a quem já está por lá.
Interminável
O PT não consegue se livrar da sombra do mensalão. Circula na internet a notícia divulgada em 10 de janeiro pela TVI de Portugal sobre o depoimento do ex-presidente da Portugal Telecom Miguel Horta e Costa no caso, mediante carta rogatória. Ele foi ouvido porque, em um de seus depoimentos, o empresário Marcos Valério disse que a empresa lusitana teria dado ao PT 2 milhões de euros no período do governo Lula. Obviamente, Horta negou tudo.
A terceira campanha…
Confiantes na vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para presidir a Câmara, pelo menos cinco deputados do PMDB se engalfinham em torno da vaga de líder da bancada: Danilo Forte (CE), Leonardo Picciani (RJ), Lúcio Vieira Lima (BA), Manoel Júnior (PB) e Marcelo Castro (PI).
…E as apostas
Dos cinco, as chances de cada um estão nessa ordem: Manoel Júnior, que já foi inclusive cotado para ministro do governo Dilma Rousseff, Marcelo Castro, Danilo Forte e Lúcio Vieira Lima. Picciani, por ser do Rio, é considerado carta fora do baralho. Na hipótese de Cunha se eleger, será preciso entregar o cargo de líder a outro estado. Para completar, o deputado fluminense ainda tem outro problema: a cassação do mandato dele, pedida pelo Ministério Público.
CURTIDAS
Tensão no ar/ No ato Somos Charlie, promovido pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) no auditório do Interlegis, a segurança foi reforçada. Além de detector de metais e revista na entrada, policiais na área interna estavam em posição, segurando a arma no coldre, pronta para ser acionada ao menor sinal suspeito por parte da plateia.
Cadê o tradutor?!!!/ Assim que o sheik Muhammad Zidan, do Centro Islâmico de Brasília, começou a discursar em árabe, houve um burburinho na sala. É que ninguém sabia, mas o tradutor estava a postos. Depois de cinco minutos do discurso, começou a tradução, para alívio da maioria dos presentes. Enquanto isso, em Congonhas…/ Há dois dias, numa sala VIP do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o deputado Pedro Paulo (foto), do PMDB do Rio, conversava com um senhor que lhe dizia, em alto e bom som: “Você é o nome para a prefeitura. O Rio merece alguém atuante como você”, e por aí vai. Pedro Paulo apenas sorria, meio sem graça, por causa da presença de pessoas à volta dele.
…Ninguém imaginava/ Pode até ser, mas, primeiro, o deputado precisará resolver o imbróglio das contas de campanha com a Justiça Eleitoral. Até agora, Pedro Paulo não fez qualquer comentário sobre o pedido de cassação do mandato por parte do Ministério Público.
Depois de perderem pastas que consideravam importantes, como Educação, petistas fazem coro na Esplanada e no Palácio do Planalto contra a hipótese de destinar os cargos de segundo escalão a integrantes do partido que ocupa o gabinete de ministro. A intenção é continuar com aquela história que reinou na Previdência: ali, o PMDB tinha o ministro, Garibaldi Alves Filho, mas o secretário-executivo era Carlos Gabas, o “espião” da presidente Dilma Rousseff e do PT. Essa é a briga do momento. E vai continuar até que tudo esteja definido.
Ansiedade em alta na Petrobras
A prisão de Nestor Cerveró levou ex-diretores da Petrobras e outros funcionários da empresa à beira de um ataque de nervos. É que nada é feito ali sem, pelo menos, 10 assinaturas. Há o temor de que novos investigados acabem surgindo nesse poço. A maior pressão será sobre a presidente da empresa, Graça Foster, que também transferiu imóveis para familiares.
Quem cala…
Lá se vão quatro dias desde que Marta Suplicy deu sua bombástica entrevista criticando “Deus” e todo mundo no PT. O mais estranho, entretanto, é não ter vindo uma palavra do ex-presidente negando as declarações de sua amiga e correligionária. Lula, segundo deputados ligados a ele, determinou ainda que seus principais aliados não se manifestassem sobre o episódio.
… às vezes consente
Embora alguns digam que tudo não passa de dor de cotovelo da senadora quase ex-petista, muitos dos aliados do ex-presidente afirmam que Marta disse de público o que eles já reclamavam nos bastidores.
Tá tudo dominado I
A cúpula do maior partido aliado do governo saiu da sua primeira reunião do ano convencida da vitória de Eduardo Cunha na Câmara e de Renan Calheiros, no Senado. A eleição é daqui a 16 dias. Renan sai da toca oficialmente apenas às vésperas do pleito. Nos bastidores, ele já está contando os votos e garante ter número suficiente para vencer a disputa.
Tá tudo dominado II
A reunião de ontem foi decidida no sentido de evitar candidaturas avulsas dentro do próprio PMDB contra Renan Calheiros, no Senado. Embora até aqui ninguém tenha admitido abertamente o desejo de concorrer, o partido preferiu deixar tido desde já que não apoiará candidatos sem o aval da maioria da bancada. Foi um balde de água fria na oposição, que planejava lançar Ricardo Ferraço.
Nós somos Charlie, o ato / O senador Cristovam Buarque (foto) e jornalistas promovem hoje das 11h as 13h no auditório do Interlegis, no Senado Federal, o ato “Somos Charlie — Contra o terrorismo, a islamofobia e pela liberdade de expressão”.
Nós somos Charlie, a lista / Até ontem, representantes de 15 países haviam confirmado presença, incluindo o ministro-conselheiro Gael de Maionneuve, da Embaixada da França. Estarão presentes ainda o Sheik Muhammad Zidan, do Centro Islâmico de Brasília; Ana Dubeux, editora-chefe do Correio Braziliense; Ricardo Pereira, da Associação Nacional de Jornais (ANJ); Daniel Slavieiro, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e, ainda, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Celso Augusto Schröder.
Enquanto isso, em Londres…/ A Canning House, principal fundação de pesquisa e promoção de relações entre Reino Unido e América Latina, em parceria com o CSFI (Centro de Estudos da Inovação Financeira) realizou ontem o evento What Now For Brazil (em tradução livre, E Agora, Brasil?). O encontro reuniu mais de 70 CEOs e diretores de bancos, fundos de investimentos e empresas. Queriam saber basicamente da autonomia de Joaquim Levy, a profissionalização da Petrobras e, ainda o novo presidente do BNDES
…eles respondem as dúvidas / Os três palestrantes foram o cientista político brasiliense Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice; Jonathan Wheatley, editor de mercados emergentes do Financial Times: e Andrew Whitley, diretor do The Elders Foundation, grupo fundado por Nelson Mandela, do qual Bill Clinton e FHC fazem parte.
Ao convocar a imprensa ontem para dizer que o governo não interferirá na eleição para presidente da Câmara, o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, queria, na verdade, repassar uma mensagem. Não aos congressistas, mas aos demais ministros da presidente Dilma Rousseff. Por mais de uma vez, Dilma afirmou à equipe que não criasse problemas em relação à Câmara. Ela está convencida de que, quanto mais mexer nesse vespeiro, pior ficará. A declaração veio ainda como um preventivo, para tirar dos ombros do Planalto e do governo qualquer especulação sobre um dedo do PT no pedido de abertura de inquérito por parte do Ministério Público para investigar se Eduardo Cunha tem alguma relação com o esquema da Petrobras, desvendado pela Operação Lava-Jato.
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As declarações de Pepe foram bem recebidas pelo PMDB, que viu ali uma tentativa de Dilma de tirar os ministros da campanha de Arlindo Chinaglia. “Pepe deu uma demonstração de habilidade política. Que outros sigam por esse caminho”, comenta o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), um dos coordenadores da campanha de Cunha. Resta saber se os demais ministros vão acolher a ordem da chefe.
Aceno
Frase de um importante assessor palaciano ontem: “O Distrito Federal, sede do governo, não pode ficar em mato alto sem cachorro”. Quis dizer que a ajuda financeira será dada. O problema é quando. A prioridade no Poder Executivo Federal hoje, assim como o de Brasília, é equilibrar as contas.
Dos males…
Em vez da Presidência da Câmara, Dilma quer que os ministros joguem a energia em outros temas, como a adequação dos orçamentos das pastas aos cortes anunciados ontem.
Wagner olímpico
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, aproveitou a quinta-feira para ter uma aula a respeito do parque olímpico com o chefe da Autoridade Pública Olímpica (APO), general Fernando Azevedo e Silva. Em breve, visitará as obras do complexo. Para bons entendedores, está claro que ninguém no governo vai reinar sozinho como o ministro das Olimpíadas de 2016.
A ordem é prevenir
A ideia de dar largada à operação conjunta de estados e governo federal contra o crime organizado logo na primeira semana de janeiro teve uma razão especial: o governo quer preparar tudo a fim de evitar que o ano anterior às Olimpíadas repita o que ocorreu em 2013, quando a Fifa chegou a cogitar transferir o evento para outro país caso o Brasil ficasse perigoso demais. O governo não quer, de forma alguma, que 2015 repita 2013.
CURTIDAS
Assunto não faltou/ O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, conversou por duas horas com a presidente Dilma Rousseff. Um dos temas foi setor elétrico.
Dudu em duas versões/ O líder do PP, Eduardo da Fonte (foto), conseguiu a proeza de dar um alô a quase todos os candidatos a presidente da Câmara. Esteve com Eduardo Cunha e passou no almoço em homenagem a Arlindo Chinaglia. Só falta conversar com Júlio Delgado.
Aliás…/O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) saiu todo feliz de Brasília ontem à tarde. É que, esta semana, depois de publicada uma informação de que pode haver um pedido de abertura de inquérito para investigar Eduardo Cunha e se ele tem algum envolvimento na Lava-Jato, o socialista passou a receber convites para visitar alguns estados. Se ganhou realmente novo fôlego, os próximos dias dirão.
Por falar em contas…/ Quem conhece a forma de agir dos deputados garante que nem foi apenas Dudu da Fonte que saiu prometendo votos para todos. Não é à toa que, somadas as contas de Arlindo, Eduardo e Júlio, o resultado supera os 513.
Os partidos podem até pressionar, mas a intenção da presidente Dilma Rousseff é demorar um pouco mais para escolher os integrantes do segundo escalão. A ideia é esperar decantar as pressões e ver como ficam as bancadas. Afinal, muitos cargos, conforme os ministros têm dito a correligionários partidários, não estarão sujeitos à indicação política como no passado. Além disso, antes de mais nada, é preciso saber como ficará a composição da Câmara e do Senado e a correlação de forças entre as legendas da base. Nesse ritmo, dizem alguns, quem for com muita sede ao pote pode acabar se queimando.
Cargo do desejo
Depois de tantos discursos de promoção às exportações — em especial o do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto, ontem — a Agência de Promoção das Exportações (Apex) ganhou peso dois no cobiçado segundo escalão. Seu orçamento, na casa dos R$ 400 milhões, é maior que o do Ministério da Pesca, em torno de R$ 200 milhões.
Mantido em suspense
O analista Daniel Godinho, servidor de carreira, continuará no cargo de secretário de Comércio Exterior. Sobre a Apex e o BNDES, Dilma Rousseff decidirá com o ministro até o fim do mês.
Cara de paisagem
Por enquanto, ninguém no Planalto ou no Ministério da Fazenda fez qualquer gesto de ajuda ao Governo do Distrito Federal. A palavra de ordem por lá “cortes”, assim mesmo, no plural.
Reclamação tardia
Ao sair do auditório do BC, onde foi a posse de Armando Monteiro Neto, Sílvio Costa (PE) encontrou o vice-presidente do PTB, Benito Gama. Foi só cobrança ao explicar por que trocou o PTB pelo PSC: “É um desrespeito! O PTB tem 18 deputados e o Jovair (Arantes, PTB-GO) transformou numa Venezuela. É líder pela 8ª vez e caminha para a 9ª. Por isso, eu saí. Não tenho nada contra ele, mas foi a favor de mim mesmo!”, afirmou. Benito apenas sorriu amarelo.
Continhas
Quem conhece do traçado na Câmara tem sido menos otimista que os candidatos a presidente da Casa. Os cálculos mais pessimistas indicam o seguinte: Eduardo Cunha tem hoje de 260 a 280 votos. Arlindo Chinaglia, entre 100 e 120. E, Júlio Delgado corre na raia três, com algo entre 80 e 100 votos. Ou seja: ainda tem muito jogo até o dia da eleição, 2 de fevereiro.
E o troféu beija-mão vai para…/ Quem acompanhou a maioria das transmissões de cargo na Esplanada essa semana fechou o dia na linha de os últimos serão os primeiros. Ao assumir o cargo, Armando Monteiro Neto, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, reuniu mais gente do que qualquer outro ministro recém-empossado. Explica-se: é que, além de ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele é senador e virou um dos conselheiros da presidente da República.
Nos bastidores da posse I/ Jorge Gerdau Johannpeter comentava com jornalistas que cortes no Orçamento devem ser vistos com naturalidade e coisa e tal, quando, de repente, alguém menciona o provável “ajuste” de impostos: “Aumento de imposto?!!! Não!”, respondeu ele, com uma negativa tão sonora que muitos convidados à volta se viraram para ver.
Nos bastidores da posse II/ Enquanto Arlindo cabalava votos entre os deputados presentes, inclusive do PSD, a deputada Cristiane Brasil (foto), presidente nacional do partido, avisava: “Nós, do PTB do Rio, fechamos com Eduardo Cunha”, disse.
Enquanto isso, no Ministério da Fazenda…/ O ministro Joaquim Levy almoçou no gabinete com o colega do Planejamento, Nelson Barbosa. Trataram dos últimos ajustes nos cortes a serem anunciados ainda hoje. No fim da tarde, Levy, ao perceber que havia repórteres na porta do ministério, foi para o vizinho, Minas e Energia, para uma reunião com Eduardo Braga. Foi quase uma quebra de protocolo. Invariavelmente, ministros da Fazenda chamam os outros ao seu Olimpo de guardiões das contas públicas. Não fazem reuniões em outros ministérios nem para fugir do assédio da imprensa. A exceção é a Casa Civil.
Paris, 07/01/15/ A imprensa ficou mais triste. E o mundo profundamente triste.
A largada da atual equipe econômica vem com os cortes profundos no Orçamento deste ano, que sequer foi aprovado pelo Congresso, e prosseguirá primeiramente com medidas de promoção ao comércio exterior. Também está no horizonte a simplificação de alguns impostos e a desburocratização, de forma a promover uma melhoria no ambiente tributário. Inicialmente, não vem aumento de impostos. Mas, “para não dizer que não avisei”, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mencionou o “ajuste tributário” como uma hipótese. E, diga-se de passagem, não foi obrigado a mudar a fala por causa disso, ou seja, o governo sentiu que não dá para desfazer discurso de posse de ministro.
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Enquanto Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, faziam as contas para anúncio dos cortes, a classe política presente ontem à posse de Patrus Ananias no Ministério do Desenvolvimento Agrário apontava o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como o pomo da discórdia entre a presidente Dilma Rousseff e o novo ministro do Planejamento. Sempre “sobra” para o ministro da Casa Civil.
Eles perderam…
Ainda que Dilma Rousseff tivesse entregue 10 ministérios ao PMDB, uma ala do partido permaneceria desgostosa com o Planalto. O que mais irritou os senadores, entretanto, foi o fato de Ricardo Ferraço estar definido às 18h da véspera de Natal como ministro de Ciência e Tecnologia e, às 22h, Helder Barbalho ter sido anunciado ministro da Pesca. Ou seja, para os peemedebistas, alguém não quis dar ao partido um ministério poderoso do ponto de vista de recursos orçamentários, caso da pasta de Ciência e Tecnologia.
…Ele ganhou
E o pior é que, publicamente, ninguém pode manifestar o descontentamento porque se trata do filho do senador Jader Barbalho, integrante da cúpula partidária. Para quem diria que Dilma não entende nada de política, ela deu uma chave de braço no partido. E só agora, passada a temporada de festa, é que o PMDB entendeu.
Renovou, mas não levou
A renovação da licença de Sérgio Machado no comando da Transpetro no fim da noite de segunda-feira foi lida no Planalto como apenas um tempinho a mais para que a presidente Dilma consiga definir o substituto. Ele não continuará no cargo nem tampouco de licença indefinidamente.
“Daqui não saio…”
Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se escolheram como adversários na disputa pela Presidência da Câmara. E tentam deixar Júlio Delgado (PSB-MG) na periferia e sufocado para forçá-lo a desistir. Júlio, entretanto, avisa que não largará a empreitada. Em 2013, quando foi candidato contra Henrique Eduardo Alves, o socialista obteve 165 votos sem apoio oficial de qualquer partido. “Mesmo que eu tenha um voto, serei candidato. Sei que tenho mais que isso”, diz.
Vou ali e já volto!/ Depois de alguns dias longe do cenário político, o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Fillippeli (foto) foi ontem à posse do novo ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha. Antes que alguém lhe perguntasse sobre a trágica situação das finanças locais, ele foi logo avisando: “Estou viajando de férias hoje, quando voltar, a gente conversa”. Então, tá.
Por falar em posses…/ As transmissões de cargo de Padilha, na Secretaria de Aviação Civil, e de Patrus Ananias, no Ministério do Desenvolvimento Agrário, mostraram que PMDB e o PT vivem mesmo como água e óleo: não se misturam. Foi cada um prestigiar o seu.
Quem avisa amigo é/ Em recente conversa com um amigo no Senado, o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, ouviu o seguinte conselho de um senador petista: “Valorize as dificuldades que você encontrou do antecessor. Afinal, você precisa desse tempo para colocar as coisas em dia”.
Sempre assim/ Quando o preço do petróleo subiu, houve pressão para aumento no preço da gasolina. Agora que o valor do barril está em queda, ninguém fala em redução. Há quem diga que a favor do contribuinte, em 2015, nem a maré, nem o vento.