Autor: Denise Rothenburg
O líder Do PMDB, Leonardo Picciani, balançou, nas não caiu. Ele resistiu ao movimento dos oposicionistas do partido para apeá-lo do cargo graças à interferência direta do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que mandou dois secretários de volta ao Congresso para evitar que a oposição peemedebista obtivesse maioria. Pedro Paulo e Marco Antônio Cabral, filho do governador Sérgio Cabral reassumiram o mandato apenas para salvar o líder.
À noite, Picciani buscou acordo para tentar manter o cargo sem precisar segurar dois secretários em Brasília. Por enquanto o futuro dele é incerto quanto o de Dilma e de Eduardo Cunha.
As últimas manobras em torno da comissão especial que analisará o pedido para abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff mostraram a muitos que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não está tão morto politicamente como esperavam os palacianos. Sentindo-se renovado diante das discussões do processo contra Dilma, Cunha retoma o controle do processo, ao dar tempo para que os adversários do líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ), favoráveis ao impeachment, montem uma chapa para concorrer contra os nomes indicados pelo líder para compor a comissão especial. Há um grupo que não descarta sequer montar uma lista para tentar destituir Picciani do comando da bancada.
A confusão criada no PMDB tem um segundo objetivo velado: evitar que o Conselho de Ética da Casa vote ainda esta semana o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) que recomenda a continuidade do processo de perda de mandato contra Eduardo Cunha. O atual presidente da Câmara quer comandar impeachment de Dilma, de forma a coroar a vingança. E, diante das manobras em curso, há quem aposte que ele pode até conseguir esse feito, com ou sem conta na Suíça.
PSB na roda pró-impeachment
O líder do PSB, Fernando Filho (PE), participou da reunião fechada com o grupo pró-impeachment no gabinete de Mendonça Filho (DEM-PE). O deputado socialista é herdeiro politico do senador Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro da presidente Dilma Rousseff. O PSB ainda não definiu que rumo tomará nesse processo contra a presidente.
Pressão sobre Temer
Os inúmeros elogios da presidente Dilma e de seus ministros ao vice-presidente Michel Temer são para forçar um posicionamento dele contra o impeachment. Quem conhece o vice, jura que essa declaração não virá. Aguardemos.
“Na atual conjuntura da Câmara, vaca não reconhece bezerro”
Do especialista Eliseu Padilha, ex-ministro da Aviação Civil
Na pauta
Depois de quase uma década, está previsto para amanhã o julgamento do empresário e ex-senador Luiz Estevão por envolvimento no desvio de dinheiro da construção do Tribunal Regional de São Paulo (TRT-SP). A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) incluiu o processo na pauta da sessão extraordinária convocada pela ministra Rosa Weber.
Independentes S.A.
Entre os deputados indicados para a comissão especial do impeachment dentro do PMDB, pelo menos José Priante e Washington Reis têm apadrinhados no governo. A bancada do Rio indicou os diretoras das Docas do estado e Priante fez parte do grupo que indicou os integrantes da Codesp, as Docas de São Paulo. Isso sem contar os cargos no Pará.
CURTIDAS
Novo quartel general/ As salas onde funcionam a liderança do Democratas, vizinhas do gabinete do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, viraram o bunker do grupo pró-impeachment. Ontem, lá estavam, além dos integrantes do DEM, peemedebistas, tucanos, pepistas, representantes do Solidariedade e até socialistas.
“Eu peitei ele!”/ Quem chegou à sala de reuniões na maior felicidade foi o deputado Júlio Lopes (PP-RJ). Aliado de Eduardo Cunha, ele falava para quem quisesse ouvir: “Fui falar com o Leonardo Picciani e peitei ele: Se não for correto, 4 a 4, vou fazer campanha contra você!”. Referia-se aos votos contra e pró-impeachment no rol de indicados do PMDB. Ora, ora… Quem diria… O PP “peitando” o PMDB…
Enquanto isso, no grupo de ministeriáveis…/ O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) é direto quando perguntado sobre a consulta para ingressar no governo Dilma: “Consultei minha mãe, d. Dica; minha mulher, Luciane, e elas não me autorizaram a assumir cargo no governo Dilma”, diz ele, um dos nomes da chapa alternativa para a comissão especial pró-impeachment.
Detalhes/ A carta de demissão do ministro Eliseu Padilha é de 1 de dezembro, terça-feira. O protocolo palaciano, deu-se na quinta-feira. Ele agora ocupará uma mesinha na presidência do PMDB. Em tempo: Foi assim que, em menos de um ano, ele se viabilizou para ser o nome do partido ao Ministério dos Transportes do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
O grupo de oposição do PMDB já chegou ao número de assinaturas suficientes para destituir Leonardo Picciani (RJ) do cargo de Líder da bancada do partido na Câmara. O indicado para ocupar o posto é o deputado baiano Lúcio Vieira Lima, que havia perdido a eleição para líder em fevereiro por um voto de diferença. A operação, se concluída, será mais uma demonstração de força do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Diz-se que a verdade liberta. Quando alguém fala a verdade deixa ao outro a decisão sobre o que fazer com essa verdade. Foi isso que Temer fez com Dilma ao lhe enviar a carta (a transcrição está ao final). Dilma poderia ter, depois da carta ter chamado Temer para uma conversa e tentar consertar as coisas. Não o fez. O vazamento da carta tem o claro objetivo de constranger ainda mais o vice-presidente e evitar que ele se movimente à luz do dia em prol do impeachment. O que Dilma entretanto não calculou é o que isso pode fazer no PMDB. A cúpula do partido estava reunida ontem quando a carta foi divulgada. Saíram da reunião para deflagrar hoje o movimento de unidade do partido em torno de Temer. E Temer não precisará fazer qualquer movimento para que isso ocorra.Não precisará dizer que apoia o impeachment, ou o inverso. Basta ficar quieto e deixar as ondas quebrarem na praia. O PMDBe, sua maioria, a partir de agora, trabalhará pelo seu presidente. Quem é que vai dormir, no Planalto ou no Alvorada, com um barulho desses?
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas “desfeitas”, culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta “conspiração”.
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden – com quem construí boa amizade – sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da “espionagem” americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa “Uma Ponte para o Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
MICHEL TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
Os times do impeachment, o futuro de Eduardo Cunha e os movimentos do PMDB
A política continuará fervendo a partir desta segunda-feira, quando serão escolhidos os integrantes da comissão especial que analisará o pedido de abertura processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, o Conselho de Ética da Câmara deve finalmente votar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) que determina a continuidade do processo por quebra de decoro contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha.
Cunha na berlinda, dividindo o palco do desgaste com Dilma
A tendência é o Conselho de Ética aprovar o parecer de Pinato contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha e deflagrar a investigação. Paralelamente, seguirá a batalha na comissão especial do impeachment, onde haverá uma guerra para escolha do presidente e do relator da comissão formada por 65 deputados. Tanto o presidente quanto o relator da comissão do impeachment devem ser escolhidos ainda esta semana.
E o PMDB tem a força…
A contar pela posição tomada pelos partidos, Dilma estará nas mãos do PMDB. O partido do vice-presidente da Republica já deflagrou a operação de desembarque do governo, com a saída do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, do PMDB do Rio Grande do Sul, ligado ao vice-presidente Michel Temer _ não foi à toa que Dilma passou os últimos dias cobrando juras de fidelidade de seu companheiro de chapa. Ela sabe o que representa a saída do ex-deputado gaúcho do governo.
Padilha tem um livro onde ao longo de vários meses anotou o comportamento de cada deputado e mapeou os cargos e benesses que cada um já recebeu do governo. Agora, esse conhecimento estará a serviço do impeachment, que já tem o apoio formal do PPS, PSDB, DEM e SDD. (leia mais sobre PMDB abaixo)
… E o apoio do PSDB
A entrevista de José Serra hoje na Folha de S. Paulo é um claro sinal de que ele está com os dois pés no projeto para colocar Michel Temer. E para Serra ter colocado seu chapéu ali, significa que já existe um acordo de que o peemedebista não concorrerá à reeleição. Há menos de um mês, Serra recusava todos os pedidos de entrevista alegando que não era hora de se pronunciar. Agora, para bons entendedores, ele saiu da toca.
A rede da Legalidade
Para se contrapor a essa onda da oposição, os partidos aliados com um viés de esquerda lançaram no fim de semana a Rede da Legalidade, numa alusão ao grupo que, em 1961, se mobilizou pela posse do presidente João Goulart. Ontem, no Maranhão, o governsdor Flávio Dino (PCdoB), reuniu-se com integrantes do PDT para selar o apoio à presidente Dilma. O ex-ministro Ciro Gomes atacou diretamente o vice Michel Temer, chamando-o de “capitão do golpe”.
O governo sabe que se esses partidos de centro (PP-PTB-PR e uma parcela do PMDB) estiver junto com a oposição em favor do impeachment, as chances de vitória da presidente Dilma Rousseff serão praticamente nulas. Daí, o fato de a presidente tentar manter o embate com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, de acordo com a pesquisa Datafolha, está hoje em pir situação do que a presidente, uma vez que 81% querem sua saída da presidência da Casa.
Lula, os governadores e os movimentos sociais
O ex-presidente tentará ajudar a pupila colocando os movimentos sociais em manifestações em prol do mandato da presidente Dilma. Na mesma direção, atuará o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, tentando segurar seus correligionários ao lado da presidente da República. O pano de fundo dessa disputa é o controle do PMDB, hoje com os vários grupos em guerra, tentando arregimentar apoios para a convenção do partido no ano que vem. Os favoráveis ao impeachment, liderados pela Bahia. Os governistas, pelo Rio de Janeiro. Não por acaso a presidente já ofereeceu a Secretaria de Aviação Civil à bancada na Câmara comandada do Leonardo Picciani, abandonando assim a ideia de extinguir pastas que predominava em julho. Você deve se recordar, leitor, que essa pasta de Eliseu Padilha chegou a entrar na lista de cargos fadados à extinção e, depois, o governo voltou atrás.
STF e as tentativas de barrar o processo
Paralelamente, seguem as ações para tentar barrar o processo de impeachment. Até aqui, duas tentativas fracassaram. Outras virão.
Economia e recesso
Com o impeachment e o processo envolvendo Eduardo Cunha em pauta, fica cada vez mais difícil o governo conseguir colocar em votação as medidas pendentes. E pior: Se o Congresso for mesmo convocado para trabalhar no recesso, a ideia do grupo aliado ao presidente da Câmara é que ele coloque o impeachment como tema único para janeiro, deixando todo o resto no congelador até depois do carnaval. Os partidos, entretanto, vão defender que o processo contra Eduardo Cunha seja incluído, bem como as medidas do ajuste fiscal. Afinal, com tantos problemas e a crise a cada dia mais aguda não dá para a classe política simplesmente sair de férias. Aliás, como cantava Milton Nascimento, ficar de frente para o mar e de costas para o Brasil não vai fazer desse lugar um bom país.
Nas conversas com os líderes partidários ao longo do fim de semana, o governo pede que as indicações dos integrantes da comissão especial que analisará o processo de impeachment se baseie em dois pilares: lealdade à presidente Dilma Rousseff; e capacidade de enfrentamento. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por sua vez, tem feito apelos para que os líderes de partidos aliados indiquem aqueles em quem o governo não pode confiar plenamente.
Segundo round
Os parlamentares opositores ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estudam com uma lupa o regimento da Casa e do Congresso para tentar incluir o funcionamento do Conselho de Ética numa possível convocação da Casa para trabalhar no período do recesso. Afinal, dizem alguns, não dá para tratar apenas do impeachment e deixar o processo contra Cunha parado no colegiado.
Pânico no Ceará
A perspectiva de delação premiada dos executivos da Galvão Engenharia, condenados esta semana na Lava-Jato, deixou muita gente à base de calmantes em Fortaleza.
O imponderável
Em meio a toda a confusão envolvendo os processos de impeachment e o julgamento de Eduardo Cunha, tem ainda a Lava-Jato que não está parada esperando a chegada de Papai Noel. Há quem diga que o tal japonês fará novas visitas
em breve.
Tempo & personagens
A pressão da oposição pelo recesso tem um ingrediente que vai além do agravamento da crise econômica. É que, em fevereiro, tem troca de comando em diversas lideranças partidárias, em especial, no PMDB, onde hoje Leonardo Picciani (RJ) joga a favor da presidente Dilma Rousseff.
Jogo de empurra
Desde que saíram as notícias de que o executivo da Andrade Gutierrez optou pela delação premiada, a responsabilidade final pela construção do estádio Mané Garrincha pula de mão em mão. Os petistas começaram a dizer que o assunto era da lavra dos peemedebistas e vice-versa.
E o Delcídio, hein?/ Numa deferência ao senador Delcídio do Amaral (MS), suspenso do PT na sexta-feira, policiais deixaram que ele assistisse à sessão de seu julgamento no Senado, no dia em que foi preso. Ele estava crente que seus “amigos” peemedebistas na Casa ajudariam a tirá-lo da cadeia. Ao ver o resultado, percebeu que estava sozinho. A um amigo, desabafou: “O PMDB não é amigo de ninguém”.
Ô homem difícil!/ Não é só o ex-ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que diz não conseguir falar com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que está cheio de atribuições no governo, inclusive a coordenação de ações interministeriais para conter a proliferação do mosquito da dengue, da chikungunya e zika vírus. O deputado Osmar Terra (PMDB-RS) tenta há semanas marcar uma conversa sobre esse tema e não recebe sequer retorno.
R$ para o DF/ Relator da parte do Orçamento de 2016 que engloba o Poder Judiciário, o deputado Danilo Forte (CE), do PSB, mesmo partido do governador Rodrigo Rollemberg, reservou R$ 25 milhões para a construção da sede do “Polo da Justiça, Cidadania e Cultura” do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
Façam suas apostas/ Faz parte do cardápio dos almoços e jantares, em Brasília, enquetes com a pergunta: quem cai primeiro: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ou a presidente Dilma? Cunha “vence” essa corrida por uma pequena margem. Se Dilma vai ultrapassá-lo, o tempo dirá.
A saída do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, pode custar o cargo da presidente Dilma Rousseff mais à frente. Por um simples motivo: Padilha é o guardião do mapa da mina do PMDB e dos partidos aliados. É, de todos os ministros do PMDB, o mais ligado ao vice-presidente. No período em que Michel Temer cuidou da coordenação política do governo, durante as primeiras votações do ajuste fiscal, Padilha montou um quadro geral da Câmara. Sabe tim-tim por tim-tim quem indicou quem, para onde, as emendas que cada um deseja, em qual área de atuação. Detalhista, o ministro tem tudo anotado numa espécie de “livro-caixa”, onde registrava pedidos atendidos, pendentes e o comportamento do parlamentar em todas as votações, o mapa de entradas e saída de políticos da base governista. Tudo indica que agora todo esse conhecimento estará a serviço de levar Michel Temer ao cargo de presidente da República. É a primeira baixa do governo desde que Eduardo Cunha embolou o cenário político. E, em termos estratégicos, uma das mais importantes.
A justificativa que Padilha deu para se afastar foi o fato de ficar dias esperando para falar com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para tratar de uma indicação na Anac. Wagner não respondeu e, ontem, na reunião ministerial, foi abordar Padilha sobre isso quase como quem pedia desculpas, mas Padilha deu uma resposta atravessada. Há quem considere que a história da Anatel tenha sido uma desculpa, uma vez que o PMDB, como todos sabem, já está com um pé na canoa da oposição e outro no governo. Michel Temer, impávido ao centro, mantém os olhos voltados ao 3º andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial.
Governo e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), jogam a partir de hoje a batalha da vida política. Cunha oferece à oposição os votos de seu grupo em prol do impeachment de Dilma em vários partidos aliados. Em troca, pretende manter o mandato. O governo, conforme já antecipou a coluna há alguns dias, sentia a iminência da apresentação do pedido de impeachment e já contava os votos, sondando deputados sobre cargos e emendas.
Bateu temor
Entre os parlamentares crescem as desconfianças de que o líder do PSC, André Moura, gravou a conversa que teve com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Ele nega.
Colégio de líderes
Muitos comandantes de bancada já se escolheram para compor a comissão especial encarregada de dar parecer sobre o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O primeiro foi o do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).
Prévia
A eleição dos integrantes da Comissão Especial que analisará o pedido de abertura de processo contra impeachment de Dilma Rousseff tende a se transformar numa disputa igual à escolha dos membros da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Todos os lados vão tentar influir nas indicações. Quem não conseguir poderá apresentar candidatos avulsos no plenário.
Tropeço na largada I
As duas primeiras ações do governo na batalha do impeachment foram atabalhoadas. O primeiro foi forçar a aproximação com o vice-presidente Michel Temer. O segundo foi o recurso ao Supremo Tribunal Federal que, ao cair nas mãos de Gilmar Mendes, fez o governo correr.
Tropeço na largada II
Quanto a Michel, seus mais fiéis escudeiros refutam a declaração de que ele teria dito à presidente Dilma que o pedido de impeachment não teria lastro jurídico. “Estão querendo colocar a assinatura dele num parecer que ele não deu”, afirmava ontem um de seus maiores aliados.
Separados/ Aliados do vice-presidente Michel Temer apostam que ele evitará a foto ao lado da presidente Dilma Rousseff como um dos defensores do mandato dela. Ontem, por exemplo, o vice, chamado, voltou do aeroporto, conversou com a presidente e voou novamente para São Paulo. Hoje, vai ao Espírito Santo. Só retorna a Brasília na terça-feira.
Afinados/ Assim que saiu da convenção do DEM ontem em Brasília, o prefeito de Salvador, ACM Neto (foto), foi se reunir com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Ambos tratam dos termos de um possível acordo com o PMDB em prol do impeachment.
Por falar em DEM…/ O DEM finalmente começa a resgatar sua história dos tempos de PFL. Na convenção, homenagens ao ex-vice-presidente Marco Maciel, representado pela esposa, Ana Maria Maciel, e seu filho João.
Enquanto isso, em Israel…/ Integrante da comitiva de parlamentares brasileiros em Tel Aviv, o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) ouviu críticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao governo brasileiro. Diz Netanyahu que, por diversas vezes, tentou estabelecer relações comerciais com o Brasil, mas as autoridades do Executivo não lhe deram resposta.
O anúncio de que o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff será analisado pela Câmara foi recebido por deputados de todos os partidos como a maior demonstração de que o presidente da Casa, Eduardo Cunha, não tem mais onde buscar os votos para tentar escapar de responder por quebra de decoro perante o Conselho de Ética, com risco de cassação do mandato. Sem o PT, a admissibilidade do processo de cassação de mandato por quebra de decoro virá cedo ou tarde.
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Ontem, no início da tarde, Cunha estava irado com os petistas. Há relatos de que telefonou para o presidente do Senado, Renan Calheiros, pedindo que começasse logo a ordem do dia do Congresso. Queria, assim, deixar a votação do parecer de Fausto Pinato para a semana que vem. Agora, ele espera passar a penumbra para ver o que é possível fazer até a próxima terça-feira, quando o Conselho volta a analisar o caso.
Tudo ou nada
Com as notícias de chantagem correndo soltas na terça-feira, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) fez correr um documento entre os senadores propondo que se enfrentasse logo este processo de impeachment. “É melhor passar logo por isso do que ficar com esta espada de Dâmocles sobre a cabeça”, dizia a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), que ajudava a coletar as assinaturas no início da noite.
Outros campos
Sem os votos do PT, Eduardo Cunha se preparava ontem para procurar o prefeito da Bahia, ACM Neto, para ver se o antigo colega de Câmara poderia ajudar a virar o voto do deputado Paulo Azi (DEM-BA). Há quem diga, entretanto, que o prefeito não deseja conversa que o deixe atrelado a Cunha.
Rio em foco
Os deputados estão preocupados. Temem que o número de casos de microcefalia registrados no Rio estejam subestimados para não afastar os turistas que pretendem visitar a cidade na virada do ano e nas Olimpíadas de 2016.
Vai uma força aí
Entre os deputados, há quem aposte que o presidente do Senado, Renan Calheiros, fará o que puder para dar uma mãozinha a Eduardo Cunha no sentido de adiar votações no Conselho de Ética. Tudo porque Renan sabe que será o próximo da lista de desgaste, se ou quando Cunha cair.
CURTIDAS
Corrida maluca/ A pergunta ontem, no início da noite, no salão azul do Senado, era “quem cai primeiro: Eduardo Cunha ou Dilma?” Já há quem diga que, com ele, o impeachment não vai. E, com ela, a economia não decola.
Holofotes & penumbra/ Os peemedebistas adversários da presidente Dilma não escondiam a felicidade com a tramitação do pedido de abertura do processo de impeachment. Diziam que, agora, as tevês só vão tratar disso, assim como as manchetes dos jornais. “Eduardo Cunha agora vai ficar mais sossegado, com o PT correndo atrás do prejuízo e deixando de falar dele”.
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Nós nos demos bem/ Os congressistas do PSDB e do DEM comemoravam a apresentação do pedido de impeachment para análise na Câmara. Ficaram contra Eduardo Cunha e ainda conseguiram o que queriam. “Eu não vou mudar de posição”, afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE) (foto), referindo-se à defesa do afastamento de Eduardo Cunha do cargo.
Posse na ADPF/ Os delegados da Polícia Federal estarão em peso hoje em Brasília. Calma, pessoal. Até nova ordem, não se trata de nenhuma nova fase da Lava-Jato. É simplesmente a posse do novo presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral.
Em conversa com os líderes do governo depois do pronunciamento da noite de quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff se disse “aliviada” com o fato de o presidente da Cämara, Eduardo Cunha, fazer tramitar o processo de impeachment. O governo tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, Cunha tomaria essa atitude. Embora ciente das dificuldades que tem pela frente, por causa da instabiidade na base e das ambições do PMDB, a presidente se julga livre de qualquer chantagem por parte do presidente da Câmara.
Agora,começa o jogo da sobrevivência. E, a contar pelo pronunciamento de Dilma há algumas horas, ela partirá para o ataque contra o presidente da Câmara. Na Câmara, já é possível vislumbrar que ela talvez tenha apoios inesperados. O deputado Jarbas Vasconcelos era citado pelos líderes governistas como o padrinho da expressão “impeachment da chantagem”.
Em tempo: O pronunciamento é visto como algo que pode dar problema logo ali na frente. Muitos advogados consideram que ela não poderia ter usado esse recurso para se defender de um processo de impeachment. Diante de tudo o que se viu até agora, se sabe que dezembro será animado.