Autor: Denise Rothenburg
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acaba de chegar ao Congresso. Ele me disse que não irá esperar a publicação do acórdão do Supremo Tribunal Federal sobre rito do processo de impeachment para entrar com os embargos de declaração. “Não é comum, mas vou apresentar os embargos em 1 de fevereiro”, afirmou. “Faremos esses embargos de acordo com os votos dos ministros, que já são conhecidos”. Cunha está nesse momento reunido com o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que fez a defesa da Câmara na sessão do STF da última quarta-feira.
A presidente Dilma Rousseff recebe líderes e ministros hoje à noite, para uma confraternização de Natal no Alvorada. Embora, o clima seja de austeridade, é preciso manter a equipe unida e motivada. E uma reunião informal, dizem os palacianos, sempre ajuda.
A contar o que revela a pesquisa Datafolha divulgada nesse domingo, a população começa a deixar de lado a campanha pró-impeachment. Uma das razões, reveladas na próxima pesquisa, é que 58% dos brasileiros consideram que um governo Michel Temer seria igual ou pior ao que aí está. A olhar pelo cenário atual e a disposição dos atores, o mundo da política só volta a girar com força depois do carnaval. Sendo assim, a presidente Dilma tem aí na prática dois meses para tentar colocar a economia num patamar que traga mais confiança a todos. Se conseguir, talvez transforme os 65% que hoje consideram seu governo ruim ou péssimo em algo que dê mais segurança contra o impeachment.
A presidente, entretanto, não ficou tão insatisfeita com os 65%. É que, há quatro meses, esse percentual era 71%. Há quem diga que esse arrefecimento se deve à percepção de que os atores da política estão, em sua maioria, presos no labirinto. Lá estão o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o do Senado, Renan Calheiros, alguns ministros e uma série de aliados do governo. OU seja, ainda não dá para dizer com segurança, mas há quem esteja convicto de que o país está chegando ao ponto de ruim com ela, pior sem ela. Ou seja, o impeachment pode terminar por colocar no Poder outros enroscados no esquema da Lava Jato, tocada por uma força-tarefa que faz uma breve pausa para Natal e Ano Novo e volta à ativa no início de janeiro.
Enquanto a Lava Jato fará o seu trabalho, Dilma poderá aproveitar essa parada congressual pra ampliar as chances de sobrevivência, ainda que não tenha maioria na Câmara. Aliás, nunca é demais lembrar, as disputas internas do PMDB, liderança, presidência da Casa e convenção vão tomar o primeiro trimestre, paralelamente à tramitação do impeachment. Na corda bamba, Eduardo Cunha, que, em fevereiro, corre o risco de ser afastado do cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Daqui a pouco, tem a posse do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que passou o fim de semana trabalhando. Barbosa não vai tirar férias. Sabe que seu tempo é curto. Janeiro será dedicado à economia, enquanto, na política, o jogo, conforme já dito aqui, será travado no subsolo, com cada um tratando de montar o seu time para as batalhas que estão por vir, em especial, no PMDB.
Veremos o que dirá Barbosa em seu discurso hoje. Aos investidores estrangeiros, logo cedo, ele afirmou que a política do ajuste continua e que sua prioridade é reduzir a inflação.
Certeza mesmo, nesse fim de ano, é que as crises voltam em 2016.
Neste fim de ano, nos intramuros da política e do próprio PMDB, há quem considere as citações do nome de Michel Temer nas conversas entre o executivo da OAS, Leo Pinheiro, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como combustível para substituir o movimento pró-impeachment por outro, mais forte, em prol de novas eleições presidenciais ainda no próximo ano.
A parte dos congressistas aliada a Temer, sentindo que o impeachment está próximo do naufrágio se mantido o cenário atual, pregará um movimento no Congresso para implantação do regime semi-parlamentarista no país. A ordem, aí, é tirar os poderes administrativos de quem estiver no cargo de presidente da República — que, na avaliação deles, por três anos ainda será Dilma Rousseff.
Quatro tempos de um jogo
Nas últimas 48 horas, os peemedebistas que permanecem em alerta, caso do experiente José Sarney, traçaram o que vem pela frente em termos de embates dentro da crise do PMDB, que se confunde com a da política como um todo: 1) liderança do PMDB; 2) Substituição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha; 3) Troca do vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão, por um nome do PT; e 4) A convenção do PMDB.
Sarney é Renan
As tentativas do vice-presidente Michel Temer de levar o senador José Sarney a ajudá-lo na luta interna do PMDB não funcionaram. Sarney ficará ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros. O ex-presidente da República ainda domina os diretórios do partido no Maranhão e no Amapá, fundamentais para todas as fases do jogo peemedebista.
Aliviado
O senador Roberto Rocha (PSB-MA) termina o ano com um sentimento de alívio, privilégio de poucos nos dias atuais. É que está parado e pode ser até arquivado na Justiça Eleitoral o processo em que ele é acusado de estelionato por ter maquiado doações de campanha. O PMDB, autor da ação, desistiu, porque Gastão Vieira, principal beneficiado de uma eventual condenação do senador, deixou o partido. A Polícia Federal ainda investiga o caso das supostas notas falsas apresentadas como doações de campanha.
Pros despenca
Nas alturas mesmo, no Pros, só o helicóptero adquirido e usado quase que diariamente pelo presidente do partido, Eurípedes Júnior, para ir de Planaltina de Goiás a Brasília. O Pros recebe do fundo partidário R$ 1,4 milhão por mês e não há cursos de formação política nem nada que permita o crescimento da legenda. Vai cair de nove para dois deputados em breve.
CURTIDAS
Os 20%/ O deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) entrou dia desses num restaurante em João Pessoa e eis que, de repente, um senhor se levanta. Por um momento, veio aquela sensação de “pronto, lá vem alguém reclamar que estou defendendo Eduardo Cunha”. Na verdade, o sujeito, antipetista convicto, cumprimentou o deputado. Considerava que, em política, é preciso ter posição. É, pois é. As pesquisas indicam 80% favoráveis à saída de cunha, mas ainda tem quem o defenda.
E o barraco ainda rende…/ Na casa do senador Eunício Oliveira, durante a confraternização de Natal, o governador Rodrigo Rollemberg se preparava para dar um palpite no entrevero entre Kátia Abreu (foto) e o senador José Serra quando a primeira-dama, Márcia, lhe tascou um beliscão e sussurrou: “Não fala nada!” Rollemberg se conteve.
Por falar em Kátia Abreu…/ Depois de chamar Serra de “filho único, mimado, feio, que nunca vai ser presidente”, a ministra da Agricultura decidiu se precaver de novos embates. Na confraternização seguinte, promovida pelo senador Renan Calheiros, ela foi acompanhada do marido, Moisés. Nome sugestivo para ajudar a atravessar o mar vermelho e enlameado que se tornou a política.
Quando a guerra é grande…/ Fim de ano é sempre hora de acalmar os ânimos. Por isso, tem muita gente na política apostando que vem por aí um acordão para que as excelências escapem do furacão. Difícil. A Lava-Jato continuará aberta no período de férias. Ainda bem.
Inconformados com a decisão do Supremo Tribunal Federal de impedir candidaturas avulsas para compor a comissão especial do impeachment, deputados cogitam tentar reverter isso mediante alterações pontuais no regimento interno da Câmara. A ideia é promover esses ajustes regimentais já na terça-feira, na última sessão antes do encerramento dos trabalhos deste ano. Assim, quando o STF retornar do recesso, os parlamentares apresentarão um pedido de revisão da decisão, antes mesmo de analisar a comissão especial do impeachment. Falta combinar com os partidos do governo que, dizem alguns, devem obstruir qualquer votação que possa representar perigo à decisão do Supremo.
Cardozo, o visitante
Permanece cercada de mistérios a visita do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Curitiba recentemente. Há, dentro do PT, quem diga que parte da agenda do ministro mantida em sigilo foi uma visita a dona Edilaira, esposa de André Vargas, que, em outubro, declarou ao juiz Sérgio Moro que tem uma iogurteria e vende bolos e perfumes para sustentar a casa.
Veja bem, Michel
Diante das fracas manifestações pró-impeachment e da gravidade da crise econômica, alguns peemedebistas procuraram o vice-presidente, Michel Temer, para alertá-lo: se ele mantiver a briga pró-impeachment e vencer, vai enfrentar a CUT, a UNE e os movimentos ligados ao PT todos os dias em manifestações na porta do Planalto, fora a divisão dentro do próprio PMDB, se ele chamar José Serra para ministro da Fazenda.
Por falar em PMDB…
A lista para a recondução de Leonardo Picciani não contou apenas com a ajuda de ministro Hélder Barbalho, filho da deputada Elcione. Houve, ainda, a liberação de R$ 20 milhões em emendas de, pelo menos, cinco deputados peemedebistas.
Bombeiros…
Não é para apagar a crise política. O deputado Beto Mansur (PP-SP) conversou com a corporação e decidiu aproveitar esse recesso de janeiro para fazer logo a reforma no plenário da Casa e, assim, obter o alvará do Corpo de Bombeiros para o local. “O plenário tem 55 anos, não tem alvará dos bombeiros”, diz o deputado.
…E obras
Além das portas corta-fogo, o primeiro secretário vai ampliar as rotas de fuga do plenário e criar um corredor de um metro e 20cm nas laterais. Um deputado que outro dia soube da obra comentou: “Desde que não seja rota de fuga para escapar da Polícia Federal, tudo bem”.
Descanso curto/ O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner (foto), sai de recesso na próxima quarta-feira e retorna em 4 de janeiro. Para alguém que vem da Bahia, onde há o folclore da preguiça, é algo como passar só um fim de semana na praia.
Volte três casas/ Confronto com Dilma Rousseff, com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e, para completar, uma reversão de expectativas no Supremo Tribunal Federal (STF), com a ampliação de poderes dos senadores e dos líderes. Só isso era ontem o suficiente para que nove em cada dez políticos colocassem Michel Temer como o maior perdedor do processo de impeachment até agora. Não é à toa que o vice sairá de férias.
“Barba, cabelo e bigode”/ Quem termina o ano com a sensação de dever cumprido é a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento. Ela começou 2015 com toda a classe política descrente em relação à aprovação do Orçamento. Sai de recesso com a meta fiscal do ano revista, a LDO e o Orçamento aprovados.
Há vagas/ Dilma Rousseff optou por Nelson Barbosa para o Ministério da Fazenda porque as sondagens de gente do mercado não tiveram sucesso. Para completar, até hoje a Secretaria de Aviação Civil continua com um ministro interino, Guilheme Ramalho. Tem aliado torcendo para que o mesmo não ocorra com a Controladoria-Geral da União (CGU).
A transferência de Nelson Barbosa do Ministério do Planejamento para a Fazenda coloca o PT novamente no comando da economia. Havia uma pressão no partido para que Barbosa substituísse Joaquim Levy há muito tempo, mas a presidente Dilma Rousseff resistia. Agora, ela joga para se reaproximar do seu partido e dos movimentos sociais. Não se sabe, entretanto, diante de uma economia tão combalida, como atender as reivindicações desses movimentos, algo que requer recursos, e, ao mesmo tempo, convencer o mercado de que o Brasil ajustará as suas contas. Essa mágica é que Nelson Barbosa terá que apresentar como projeto e no curto prazo. Vamos aguardar o que dirá o novo ministro
Enquanto o jogo do impeachment passa agora ao subterrâneo (leia post abaixo), sobe à ribalta a economia e a substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, não descarta uma conversa entre Dima e Levy ainda hoje, e aproveitou uma rápida conversa com jornalistas há pouco para dizer que quem banca a política econômica é a presidente da República. A frase foi vista como um sinal de que a presidente talvez encerre o ano com um ministro interino deixando a apresentação do novo titular do cargo para depois do Ano Novo. Afinal, a presidente, diferente do Legislativo e do Judiciário, não pretende tirar férias durante todo o mês de janeiro.
A primeira batalha
Com Leonardo Picciani de volta ao comando da bancada do PMDB, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desistiu de compor a comissão especial do impeachment agora. A ideia é deixar para fevereiro, quando Cunha tentará retomar o controle do PMDB e influir na escolha dos representates de partidos como o PP, o PTB e o PR, onde tem um número expressivo de aliados. É esse trabalho a que todos vão se dedicar a partir da segunda semana de janeiro. Você pode ter certeza: Essa história de fim de termino do período legislativo apenas apagaram as luzes e desceram o pano, encobrindo o palco para que você não veja os acordos que vão se desenhar nas coxias daqui até fevereiro, no retorno das atividades do Congresso. Vamos acompanhar.
“Não vou tirar Dilma para botar Eduardo Cunha na presidência da República”. A frase é dita reservadamente a amigos pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Isso porque, em várias conversas que manteve nos últimos dias, o senador saiu convencido de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, passa dias e noites cobrando do Ministério Público que volte suas baterias contra o senador. Essa desconfiança contrapôs Renan ao vice-presidente, Michel Temer, que é tido como mais ligado ao presidente da Câmara do que ao grupo do Senado.
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Entre os aliados de Renan, há quem vá mais além e diga que Temer não consegue dizer não a Eduardo Cunha, daí a ira de Renan sobre Temer numa entrevista concedida ontem, em que o senador responsabilizou o vice-presidente por grande parte das dificuldades políticas do momento. Temer, que até aqui pregava a pacificação do país, terá que pacificar primeiro o PMDB. Com o partido dividido e sem o apoio do Senado, ele não governará.
Cantinho da criação
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o líder da bancada, Eunício Oliveira, saíram da casa do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, às 3h30 da madrugada de ontem. As análises saídas dali inspiraram as declarações de Renan contra o vice-presidente Michel Temer. Essa guerra interna vai longe.
Ação & reação
O pedido do Ministério Público de afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara levará o deputado a se aproximar ainda mais do vice-presidente, Michel Temer, e o Supremo Tribunal Federal a trabalhar dobrado esses dois dias até o recesso. Há, entre os ministros, quem diga que não dá para sair de férias deixando esse pedido pendente, ainda que se termine a apreciação do rito de impeachment.
Próximos capítulos
Conforme antecipou a coluna há alguns dias, os partidos de oposição começaram a estudar se há algum ponto do rito de impeachment que permita o ingresso de “embargo de declaração” e, assim, adiar a apreciação final do tema para fevereiro, quando a Justiça retoma as suas atividades.
Romário fora
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, destituiu o senador Romário do cargo de presidente do diretório estadual do partido. A gota d’água foi o envolvimento do tesoureiro estadual da legenda, Wilson Musauer, nomeado pelo senador, em caso de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha no Rio de Janeiro.
Levy fora
O meio político já trata Joaquim Levy como ex-ministro da Fazenda. Consideram que ele está apenas “fazendo a transição”.
Porta errada/ Ainda de pijamas na manhã de terça-feira, o vice-presidente do conselho de Ética, Sandro Alex (foto), assistia ao noticiário na tevê. Justamente quando um repórter informava “a Policia Federal realiza neste momento 53 mandados de busca e apreensão…”, toca a campainha. Pelo olho mágico, Alex se depara com dois homens de terno. Abre a porta e… “O senhor me desculpe, erramos o apartamento”, comenta um dos engravatados. Alex volta à frente da tevê sem esticar a conversa ou fazer perguntas.
Por falar em busca e apreensão…/ A Polícia Federal se apressava ontem a esclarecer que não houve esse tipo de ação relacionada ao líder do PP, Dudu da Fonte. Nem na casa e nem no escritório.
Ponto para Aécio/ Na briga por espaço dentro do PSDB, o presidente do partido, Aécio Neves, terá um aliado na liderança do partido na Câmara. O deputado Antônio Imbassahy, da Bahia, venceu outro baiano, o deputado Jutahy Júnior, ligado ao senador José Serra.
Papéis trocados/ Depois que foi divulgado que Fernando Baiano “pegou” a delação premiada do ex-diretor Nestor Cerveró, os deputados brincavam que o ministro Luiz Edson Fachin “pegou” o voto do ministro Gilmar Mendes, dada a decisão de manter a votação secreta feita pela Câmara para fazer a comissão especial.
Na superfície, a discussão sobre se as novas filiações partidárias devem passar pelo comando partidário, conforme decidido hoje de manhã. No subsolo, entretanto, essa briga é muito maior. No pano de fundo,está a briga pelo controle do partido e pela própria sobrevivência na selva da política devastada pela operação Lava Jato.
Numa entrevista mais cedo, Renan colou no governo Dilma Rousseff e expõs o vice-presidente Michel Temer como alguém que tem culpa pela crise política. Rena n acusou o partido de, quando chamado á ajudar na condução da politica, se preocupar mais com o “RH”m ou seja, os cargos, perdendo assim a oportunidade de qualificar sua participação no governo.
Renan deixa claro de que lado ficará. O grupo de Michel insiste hoje no impeachment, trabalha com ele e se aproxima cada vez mais da ala construída por Eduardo Cunha, com ramificações inclusive em outras legendas, como o PP e o PR. Enquanto isso, Renan e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, cerram fileiras em favor de Dilma, olhando lá na frente, em 2018. O plano de Renan é reeleger o filho governador. O de Pezão, se tudo der certo, manter o PMDB no comando do estado com um nome próprio.
O plano de Michel é diferente: Quer assumir agora o governo, uma vez que é candidato único, e assim, tentar construir alguma aliança com a oposição a fim de tentar passar para a história como o homem que ajudou a país da crise. Não é de se estranhar que, diante de tantos projetos, José Sarney esteja quieto.