Autor: Denise Rothenburg
Coluna Brasília-DF
Os políticos enroscados na Lava-Jato querem aproveitar a onda sobre Rodrigo Janot para ver se conseguem um alívio maior no Supremo Tribunal Federal (STF). A moda agora é dizer que a instabilidade emocional do ex-procurador-geral não ficou apenas na “loucura” de cogitar matar o ministro Gilmar Mendes, mas extrapolou para a redação de seus pedidos ao STF.
Só tem um probleminha: Janot, em muitos casos, apenas encaminhava os pedidos preparados por seus subordinados, uma equipe tão atônita com as revelações do procurador quanto os próprios ministros do Supremo.
O namoro com o Nordeste
O presidente Jair Bolsonaro fez questão de lançar o AgroNordeste hoje no Planalto, como parte de sua estratégia para ganhar algum terreno na região onde o PT tem inserção. O plano de hoje apostará, especialmente, na fruticultura e na cadeia produtiva dos caprinos para exportação, decorrente da abertura de mercados que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, conseguiu em suas viagens. Por exemplo, os lácteos para o Egito.
Yes, nós temos bananas
Uma das esperanças do governo é vender bananas para a Europa. Em Paris, o produto é importado de Israel e custa mais de um euro, a unidade, conforme levantamento do setor. A aposta do governo é vender uma penca por esse preço.
Melhor de três
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está com um problema de longo prazo: quem apoiar para substituí-lo no comando da Casa. Até aqui, os interessados são do Centrão — Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Arthur Lyra (PP-AL). Setores do DEM consideram que ele não pode se render tanto ao Centrão. Rodrigo vai deixar decantar nos próximos 12 meses para ver como é que fica.
A ordem dos fatores
O presidente Jair Bolsonaro já enviou ao Congresso o nome do futuro embaixador do Brasil no Canadá, Pedro Bório. O de Eduardo Bolsonaro para Washington vai esperar a votação da reforma da Previdência.
“Pode até ter júris. Mas prudência está faltando”
Do ex-procurador Aristides Junqueira, referindo-se ao papel do Judiciário e dos demais Poderes.
Nem vem/ O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), já avisou ao seu partido que, embora tenha participado do almoço com Luciano Huck na semana passada, seu candidato a presidente é o atual governador de São Paulo, João Doria. Logo, só apoiará se houver acordo.

Ex-amigos/ A foto é de agosto de 1988. De barba, à direita, o hoje ministro Gilmar Mendes. Ao lado dele… Rodrigo Janot e, em frente, Wagner Gonçalves. É, eles já foram do tipo que confraternizavam.
Local errado/ O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nem viu a manifestação do Greenpeace em Berlim, em frente à sede da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio. Ele estava em outro evento a, pelo menos, 15 quilômetros de distância.
Sig e Grossi/ A Câmara dos Deputados realiza hoje sessão solene, às 9h, em homenagem póstuma ao ex-deputado Sigmaringa Seixas e ao advogado José Gerardo Grossi.
O secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, ganhou a queda de braço com o presidente do Incra, general João Carlos Jesus Correa, afastado hoje do cargo. Nabhan vinha pedindo a cabeça do general há meses por querer influir na politica do Incra e acelerar a regularização dos assentamentos e o general resistia às pressões e também não tinha recursos para fazer tudo na velocidade exigida por Nabhan.
Antes da cirurgia do presidente, no início do mês, o secretário esteve com Bolsonaro e disse que isso tinha que ser resolvido logo. Ontem, com a volta de Bolsonaro a agenda intensa no Planalto, inclusive uma reunião com a cúpula do Ministério da Agricultura, com a presença de Nabham, secretário aproveitou e foi direto: “Se ele (o chefe do Incra) não sair, saio eu, presidente”. Bolsonaro, então, decidiu afastar o general. A UDR, instituição que Nabhan comanda, comemorou. Agora, resta saber como ficarão os outros cargos do Incra, também ocupados por militares.
Planalto avalia fidelidade nas redes sociais para liberar recursos
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
Que a relação do Planalto com o Congresso melhorou com a chegada do general Luiz Eduardo Ramos à Secretaria de Governo, quem acompanha o dia a dia na Esplanada já sabia. Esta coluna mostrou, na semana passada, que o aumento da governabilidade verificado pela consultoria Prospectiva, que mede a fidelidade dos parlamentares ao Palácio, aumentou nos últimos dois meses. O que está fora do radar de parte dos políticos e técnicos é um método próprio para acompanhar as demandas de congressistas, governadores e prefeitos que batem à porta do governo em busca de recursos para as bases eleitorais.
Há três meses no cargo, Ramos elaborou com a equipe uma espécie de planejamento estratégico para acompanhar todos os passos das demandas dos políticos em Brasília. A primeira tarefa foi fazer com que as áreas de secretaria, como assessoria parlamentar, assuntos federativos e articulação social, atuem de modo integrado. A partir de planilhas, a equipe do general tenta fechar o cerco sobre a dificuldade na liberação do dinheiro para o político e, antes da verba liberada, avançar sobre as necessidades dos moradores (eleitores) da localidade.
Por fim, o governo federal divide com o parlamentar o bônus pela entrega dos recursos. Ao longo do processo de liberação, é feito um levamento nas redes sociais dos políticos para avaliar a fidelidade do aliado com o Planalto. A estratégia é não apenas ter o acompanhamento sobre as votações, mas sobre o próprio discurso dos políticos nas bases eleitorais. Assim, eventuais traições, tanto nos plenários do Congresso quanto nas ruas, são registradas. Um detalhe: a eleição de 2020 está logo ali.
Osmose // Se não bastasse o vazamento das conversas entre os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, a revelação do ex-procurador-geral Rodrigo Janot de que mataria Gilmar Mendes enfraqueceu ainda mais a imagem do Ministério Público. Há um detalhe ainda não avaliado pelo pessoal do governo: até que ponto o desgaste é ruim para o novo procurador-geral Augusto Aras? Tem gente boa que acredita que ele, por ter isolado a lista tríplice da categoria, se fortaleceu.
Escolha do PGR // Se Bolsonaro um dia se arrepender de ter escolhido Augusto Aras para chefiar o Ministério Público, não vai poder reclamar nem com o papa. A decisão do presidente partiu da cabeça do próprio presidente, contrariando inclusive os fundamentalistas de direita das redes sociais, que eram contrários a Aras.
Monitoramento // Levantamento da consultoria Levels nas redes mostra que a escolha de Aras não agradou nem à oposição nem aos apoiadores de Bolsonaro. No flanco governista, as mensagens contra o procurador representaram 68% da rede. Na oposição, o suposto conservadorismo de Aras sobre homossexualidade e família foi a maior crítica. A coleta de dados ocorreu na última quarta-feira, dia da aprovação de Aras.
Cautela I // Os principais interlocutores do Planalto estão aliviados com a disposição de Bolsonaro em diminuir a exposição logo no início do dia, quando escorava na grade e desandava a falar. As declarações ocorriam quase sempre depois de receber mensagens no WhatsApp de gente no Planalto ligada ao vereador fluminense Carlos Bolsonaro, que pesca todo tipo de insanidade nas redes e repassa para o presidente, sugestionando as declarações agressivas.
Cautela II // Um período de tranquilidade total ocorreu durante o período que Bolsonaro passou hospitalizado por causa da cirurgia para correção de hérnia. Por recomendação médica, conseguiram tirar o celular das mãos de Bolsonaro por alguns dias. A fofoquinha de banco de praça não deveria interessar ao prefeito da quadra, não deveria interessar ao presidente. A piada era que o Ministério da Saúde adverte: ler mensagens de ódio logo cedo atrapalham o governo.
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
A ordem no Palácio do Planalto ao longo do dia de ontem era a de manter o silêncio sobre as declarações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot a respeito do assassinato do ministro Gilmar Mendes. Entre os políticos mais próximos de Jair Bolsonaro, a avaliação é a de que o episódio tira o foco do presidente, principalmente nos casos relacionados às declarações polêmicas. Há poucas coisas mais controversas na política do que uma autoridade revelar que desejou matar um adversário, e mais ainda ter levado uma arma para a mais alta Corte de Justiça do país.
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A guerra, segundo o pessoal mais ligado a Bolsonaro, deveria se restringir ao Judiciário e ao Ministério Público. Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não se conteve e arrancou risos do público de seminário no Rio ao dizer que a PF deveria tirar o porte de arma do ex-procurador. Como o tema deve dominar os debates de Brasília pelos próximos dias, aliados do Planalto têm dúvidas se Bolsonaro vai manter o silêncio sobre as revelações de Janot.
Redes sociais
Em grupos de WhatsApp, delegados da PF debateram um provável abuso do Supremo em ordenar buscas e apreensões em imóveis ligados ao ex-procurador Rodrigo Janot. “Essa ação do STF dispara a perplexidade. Muito grave. Se o máximo tribunal de um país faz isso, o que mais então poderemos esperar de um juiz de primeiro grau? E dos cidadãos comuns?”, disse um dos delegados. “Tenho zero simpatia por Janot, mas não dá.”
Associação
No final do dia, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou uma nota à imprensa questionando o mandado de busca e apreensão “flagrantemente ilegal” emitido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de repudiar o ato cogitado por Janot, a entidade disse lastimar que o “episódio negativo possa, por oportunismo, servir de pretexto para enfraquecer a instituição”. A associação se referiu também à declaração de Gilmar Mendes, que defendeu a mudança na escolha do PGR, abrindo a possibilidade de escolha entre “juristas”.
CURTIDAS
Assessoria // Janot estava sem assessoria de imprensa desde da metade do ano. A avaliação é de que ele — que já havia revelado a história de ter pensado no crime sem citar o nome de quem seria a vítima no livro Nada menos que tudo — não mediu as consequências da entrevista à imprensa. O receio agora de pessoas próximas a Janot, que já está aposentado, é de que ele possa receber punições graves do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Chaleira // A revelação de que Rodrigo Janot pensou matar Gilmar Mendes repercutiu no Ministério Público, nas redes internas e externas. O procurador do MPF em Santa Catarina, Walmor Moreira, foi um dos mais ativos no Twitter ao longo do dia de ontem. Conservador e religioso — o homem é pastor —, parte das mensagens de Moreira critica o ex-chefe da PGR, o Congresso e o Supremo. E alivia, a partir de exaltações, a equipe e o próprio Bolsonaro, chegando ao presidente dos EUA, Donald Trump. Sem esquecer de citar Deus, por óbvio.
Perplexidade // É impossível encontrar em Brasília alguém que não tenha se surpreendido com a história contada por Janot. O Instituto de Garantias Penais (IGP) se disse “perplexo” diante das declarações de Janot. “Uma pessoa que se confessou tentada pela ideia de sacar uma arma de fogo para matar um ministro meramente porque não suportou uma divergência intraprocessual, não possui a estabilidade mental necessária para exercer a função acusatória.”
Cama de gato // Aliados do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acreditam que o secretário executivo João Gabbardo tem amarrado ações na pasta para desgastar o chefe, a partir de cortes orçamentários, por exemplo. Segundo o pessoal ligado a Mandetta, a torcida de Reis é que o ministério fique com Osmar Terra, da Cidadania, do mesmo grupo político, profissão e região. No início do mês, Terra chegou a ser cotado para a Saúde no momento de maior fragilidade de Mandetta. A intriga na Esplanada atinge índices inimagináveis.
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
Uma cena atípica assustou quem estava no 8° andar do Anexo IV da Câmara no começo da tarde de ontem. Um dos funcionários do gabinete do deputado Marcelo Brum (PSL-RS) se revoltou ao ser demitido e tentou agredir o parlamentar. Os demais trabalhadores do setor ficaram sem entender quando viram o deputado correndo pelos corredores e se refugiando no gabinete de uma liderança.
Tapas no anexo
Marcelo de Brum chegou a ser atingido com um tapa no rosto, e a Polícia Legislativa foi chamada para conter o assessor demitido. Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa do congressista informou que ele está se recuperando do ocorrido e não vai se manifestar sobre o caso no momento.
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
O subprocurador Augusto Aras treinou para a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado sozinho em casa, sem ajuda de assessores ou profissionais de imagem. Não precisou, como se sabe. O novo procurador-geral da República falou o que os parlamentares queriam ouvir, mesmo quando foi pressionado, como no caso de Fabiano Contarato (Rede-ES). A desenvoltura de Aras no colegiado apenas surpreendeu quem não o conhecia. Além de atuar na área jurídica há mais de 30 anos, ele é professor da Universidade de Brasília (UnB). Tem experiência em oratória.
Entre os amigos de Aras, há a percepção que o novo procurador-geral não vai se contentar com a chefia do Ministério Público nos próximos dois anos. O objetivo será uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), algo já tentado na época do governo Dilma Rousseff. “Ele pode até não tentar disputar a vaga de Celso de Mello (que se aposenta em novembro de 2020), pois teria de entregar o cargo de procurador-geral com pouco mais de um ano. Mas a vaga de Marco Aurélio Mello (que sai em junho de 2021), ele deve tentar”, diz um integrante do MP que conhece Aras muito bem.
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Aos 60 anos, Aras tem mais cinco anos para conseguir chegar ao Supremo. Na lista dos candidatos a uma vaga no STF na gestão Bolsonaro, estão o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o advogado-geral da União, André Luiz de Almeida Mendonça.
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Apesar da tranquilidade da aprovação no plenário, o número de votos contrários a Aras (68 a favor e 10 contra) foi maior do que o de Rodrigo Janot (60 a 4), em 2015, e de Raquel Dodge (74 a 1), em 2017.
Trabalho / No próximo sábado, das 9h às 18h, o IDP promove a 3º edição da Job Fair, uma feira de carreiras jurídicas que reúne grandes escritórios de advocacia de todo o país e uma programação de palestras repleta de profissionais de referência em diversas áreas. A intenção é aproximar o estudante do IDP do mercado de trabalho, viabilizando entrevistas dos alunos. Às 11h30, tem palestra com o navegador e escritor Amyr Klink.
Aula magna / O vice-presidente Hamilton Mourão dará a aula magna do Programa da Academia Nacional de Polícia, na próxima segunda-feira. O curso é inspirado no treinamento do FBI e desenvolvido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Ao todo, serão capacitados 32 delegados da Polícia Civil e oficiais da PM, escolhidos em processos seletivos no país. A aula de Mourão ocorre às 10h, no Teatro de Arena da Academia.
Exposição / Hoje, às 19h, no Centro Cultural do TCU, tem a abertura da exposição Viagem Espacial, de Augusto Corrêa, um jovem de 19 anos com Síndrome de Down. A primeira-dama Michelle Bolsonaro e o presidente do Tribunal de Contas da União, José Múcio, participam da solenidade.
Cinema / O Escritório Econômico e Cultural de Taipei no Brasil promove, entre os dias 9 e 13 de outubro, a Mostra de Cinema Taiwanês, no Cine Brasília.
Colaboraram Renato Souza e Rodolfo Costa
Ernesto Araújo considera cerco à Venezuela de Maduro “irreversível”
Nova York — O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participou hoje de manhã da reunião do grupo de Lima, formado por 12 países das Américas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na reunião, Trump e os presidentes dos países membros, com Jair Bolsonaro representado pelo chanceler, descartaram uma intervenção militar, algo que, aliás, o presidente Jair Bolsonaro já havia dito na entrevista ao Correio que não ocorreria porque seria o mesmo que transformar a Venezuela num Vietnã e que o presidente Donald Trump também pensava da mesma forma.
“Foi uma demonstração de Força, vários países, presidentes, com unidade de propostas e de visão sobre a Venezuela. Isso é muito raro de acontecer. Mostra que há um movimento irreversível”, disse o ministro ao Correio.
As primeiras ações serão dentro do que foi tirado na reunião do Tiar, o tratado que permite que, quando um país integrante da OEA for atingido, outros possam prestar auxílio. O Tiar se reuniu nessa segunda-feira, em Nova York e tirou uma decisão de investigar supostas ligações do regime de Maduro com organizações criminosas. Agora, posição do Tiar foi reforçada na reunião com Trump.
“Estamos começando com o que está na resolução do Tiar, que é a coordenação dos países membros, para investigação dos crimes e das conexões do regime de Maduro com toda essa rede de criminalidade que existe na América do Sul. Isso vai incutir outras ideias e nos embaixadores para preparar uma nova reunião de ministros. Estamos prontos para continuar com ações diplomáticas e políticas, deixando claro que não há saída para Maduro que não seja sair do país e devolver a democracia para a Venezuela”, afirmou.
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
Parte dos diplomatas até tentou suavizar o discurso de Jair Bolsonaro, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), mas o presidente preferiu falar para os eleitores convertidos, que representam um percentual de votos hoje suficientes para levá-lo a um segundo turno.
A cabeça do capitão reformado funciona de maneira simples desde a campanha, por mais constrangimentos que possa causar à imagem internacional do Brasil — na prática ele não está preocupado com tal coisa, principalmente com a informação manjada de que Donald Trump emendaria outro discurso agressivo na sequência.
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A expectativa do corpo diplomático, menos voltado para a política eleitoral e mais preocupado com a imagem do país, era de que Bolsonaro fizesse um discurso contundente, mas sem agressividades. O curioso é que o presidente usou tais adjetivos para qualificar a própria intervenção depois de deixar o prédio da ONU.
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Mas não foi o que aconteceu. Bolsonaro, mais uma vez, embaralhou opinião com fatos, chegando mesmo a dar falsas informações sobre a qualificação dos médicos cubanos, por exemplo.
Roteiro I
Do roteiro original preparado pelo corpo diplomático, seguiu a defesa da soberania da Amazônia e atribuiu as queimadas a uma questão sazonal, por causa da seca em alguns estados brasileiros, como antecipou este Correio.
Bolsonaro também condenou o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela; reforçou o alinhamento com o norte-americano Trump; e exaltou a relação com Israel. Mas cruzou a linha da contundência, como temia o pessoal mais técnico do Itamaraty.
Roteiro II
O texto final foi fechado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Felipe Martins. Bolsonaro não apenas fez referências a um socialismo inexistente nos últimos tempos na história brasileira, como não deixou de fazer referências religiosas. Pregou para convertidos, frustrando quem esperava um papel maior para o presidente. Será assim até a campanha oficial de 2020.
Vale lembrar
Como antecipou o Correio, ontem, Bolsonaro fez referências a países, mas não a mandatários, no caso de França e Alemanha. Eis o trecho: “O receio é que Bolsonaro avance sinais de maneira agressiva, criticando diretamente chefes de Estado — algo que deve ocorrer, talvez não nominalmente”.
CURTIDAS
Se não pode vencê-los… // A equipe econômica deve abrir mão de apresentar uma robusta reforma tributária e compor com as matérias em tramitação no Congresso, as Propostas de Emenda à Constituição (PEC) 45, da Câmara, e a 110, do Senado. Uma das poucas contribuições que o governo deve sugerir é a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), a unificação entre o PIS e o Cofins.
Junte-se a eles // O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, é o mais cotado para liderar as articulações da equipe econômica e costurar uma reforma única. Qualquer novidade, no entanto, ainda será alinhada com Bolsonaro, que retorna somente hoje a Brasília. O martelo precisa ser batido por ele, uma vez que a ideia é atribuir novas funções a Marinho, cujo cargo poderia ter até outro nome.
Foco nos empregos // O que o governo não abrirá mão é de discutir a desoneração da folha de pagamentos. Estão nas análises propostas como redução de valores pagos pelos empresários para o sustento do Sistema S, a tributação de fundos exclusivos e a reoneração de alguns setores para a discussão da desoneração aos maiores empregadores da indústria, do comércio e dos serviços.
Imprensa // A ACT Promoção da Saúde — com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Joio e o Trigo e a Campaign for Tobbaco-Free Kids — promoveu ontem, em São Paulo, uma oficina para repórteres com foco no comércio de cigarros. O Correio foi um dos participantes.
Colaborou Rodolfo Costa
Bolsonaro diz que foi “objetivo e contundente, sem ser agressivo” na ONU
Nova York — Numa rápida entrevista ao sair do hotel onde estava hospedado, antes de sair para o almoço, o presidente Jair Bolsonaro avaliou o próprio discurso na Assembleia-Geral da ONU como “objetivo, contundente, não agressivo e buscando restabelecer a verdade das questões que estamos sendo acusados no Brasil”. Nas entrelinhas, deixou claro ainda que a não-citação de Emmanuel Macron, da França, e Angela Merkel, da Alemanha, de forma proposital. “Não citei Macron e Merkel, citei a França e a Alemanha como países que têm mais de 50% do seu território usado na agricultura, no Brasil é apenas 8%, tá ok?”
O presidente confirmou que pretende ir, hoje à noite, ao coquetel do presidente Donald Trump aos chefes de Estado. E fez mistério sobre onde iria almoçar. Diante da insistência, brincou: “”ou comer num podrão aí fora”. O presidente ainda está sob dieta e não pode se dar ao luxo de comer em qualquer lugar ou qualquer tempero.
O presidente deve retornar daqui a pouco ao hotel para o encontro com o ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giulianni, que pretende lhe entregar um presente. Depois, Bolsonaro sai para o coquetel de Trump às 19h, no hotel Lotte. De lá, seguirá direto para o aeroporto.
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Cavalcanti
A minuta preparada pelo corpo diplomático do Itamaraty chegou ao Planalto com cinco sugestões para o presidente Jair Bolsonaro discursar na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) — a defesa da soberania da Amazônia; a condenação do regime de Nicolás Maduro na Venezuela; o alinhamento com o norte-americano Donald Trump; a posição pró-Israel no conflito do Oriente Médio; e o estímulo ao livre comércio e à cooperação regional para o combate ao narcotráfico. O Correio teve acesso a trechos do documento dos diplomatas — com detalhes a seguir.
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Cada um dos pontos, tratados como eixos, tem uma estratégia de política internacional, mas valem para o presidente falar para a audiência brasileira. Um discurso na ONU, entretanto, passa por várias mãos. E assim o corpo diplomático teme uma mudança radical na minuta original apresentada pelo Itamaraty. O texto final foi fechado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais Felipe Martins.
Dor de cabeça I
A questão é o tamanho da dor de cabeça que Bolsonaro pode causar nos servidores de alto escalão do Itamaraty com um discurso mais agressivo. “Esperamos algo contundente, mas com equilíbrio, algo que não descambe para provocações vazias”, disse um servidor do corpo diplomático
brasileiro que preferiu não se identificar. Tradicionalmente, desde 1947, o presidente da República do Brasil é o primeiro a falar na Assembleia Geral da ONU. Bolsonaro discursa nesta terça-feira, às 9h (horário
de Brasília).
Dor de cabeça II
Para cada um dos eixos há uma estratégia própria do pessoal do Itamaraty. No caso da soberania, o que se pretende é deixar claro que o maior interessado nos assuntos da Amazônia é o Brasil, numa resposta à não participação na cúpula de mudanças climáticas nesta segunda-feira. Uma das considerações a ser feita é que as queimadas na Amazônia ocorrem, segundo o governo, por questões sazonais e estão relacionadas à época seca no país. O receio é de que Bolsonaro avance sinais de maneira agressiva, criticando diretamente chefes de Estado — algo que deve ocorrer, talvez não nominalmente.
Eixos I
O segundo eixo do discurso de Bolsonaro será a condenação do regime de Maduro, antecipado na declaração do Grupo de Lima — do qual o Brasil faz parte —, que “rechaçou os sucessivos obstáculos do regime ilegítimo e ditatorial” da Venezuela. A referência a Trump, que estará numa das partes do texto do capitão reformado, trata-se da reafirmação da proximidade com os Estados Unidos, incluindo aí a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington.
Eixos II
Outra novidade será o discurso francamente pró-Israel, ao contrário dos antecessores petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que, em 2012, defendeu na Assembleia Geral a soberania da Palestina para redução dos conflitos no Oriente Médio. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz”, disse Dilma na época. Por fim, os diplomatas alertaram a Bolsonaro que destacasse a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. O objetivo aqui é buscar argumentos para ganhar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
Curtidas
Despreparo I / O discurso do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (foto), e da equipe de segurança do estado é medonho. O político esperou 48h para reafirmar a ação estúpida do confronto, em que cinco crianças foram abatidas apenas este ano. O mais despreparado, entretanto, é o secretário de Polícia Civil, Marcus Vinícius Braga — o camarada tem uma presunção poucas vezes vistas entre autoridades públicas.
Despreparo II / O assassinato da menina Agatha Félix, de 8 anos, como se sabe, desestruturou o plano anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. O que o ex-juiz não esperava era ser citado e defendido por Witzel na desastrosa coletiva ontem. Parte dos integrantes da pasta da Justiça, principalmente os militares, é contra a divisão criada por Witzel na antiga secretaria de Segurança. Vale lembrar que o Exército esteve no comando da intervenção do Rio até o ano passado.










