Uma cidade precocemente envelhecida

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO Criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960 Com Circe Cunha e Mamfil

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Foto: chiquinhodornas.blogspot.com

 

Ao percorrer algumas áreas da parte central de Brasília, um turista acidental, do tipo que conheceu a capital ali pelos anos setenta, ou uma década após sua inauguração, constata, sem esforço, que a cidade idealizada por um dos maiores urbanistas do planeta envelheceu precoce e severamente em pouco mais de algumas décadas.

A decadência de áreas como as W2 e W3 Sul e Norte, das quadras 700, dos setores bancários, do setor comercial e principalmente de todo o perímetro em volta da Rodoviária do Plano Piloto, deixa claro que esses endereços, outrora chiques e disputados pela valorização local, hoje se apresentam como lugares perigosos, sujos, mal iluminados, tomados pelo mato, com calçadas quebradas e lixo, muito lixo, espalhado por onde quer que a vista alcance.

O Plano Piloto, ou seja, o coração da capital, com suas belezas arquitetônicas, seus espaços bucólicos, arborização, sua setorização arrumada, vai, pouco a pouco, desaparecendo ante o descaso, a falta de preservação adequada e outras atitudes de seguidos governos.

Não bastasse esse desmazelo com a capital de todos os brasileiros, circular por esses locais e mesmo em meio as Superquadras é se deparar a todo momento com menores abandonados, homens, crianças e idosos cheirando derivados de petróleo, usando entorpecentes à luz do dia. A poluição visual, com letreiros ocupando cada centímetro do espaço livre, as pichações e depredações dos móveis urbanos, fornecem os indícios de que essa é uma cidade sem lei ou, ao menos, sem fiscais da lei.

Difícil é andar nesses locais sem ser abordado por todo o tipo de pedinte, alguns ameaçadores. O descaso com a cidade, a falta de ação por parte das autoridades e mesmo de moradores, com muitas exceções, e comerciantes, parecem decretar o fim dos espaços públicos ou ao menos o respeito pelos espaços que são de todos. A noção errada de que nossa cidade termina onde começa a porta de nossas casas precisa ser reaprendida, sob pena de ficarmos ilhados e fechados dentro de quatro paredes.

Com isso, nossas ruas vão se transformando em áreas hostis, sem policiamento, escuras e malcheirosas, tal qual uma cidade abandonada à própria sorte. O desrespeito pelas normas urbanas está por todo lugar. Invasões, barracos de lata de comércio precário, puxadinhos dos comércios locais sem cerimônia. Vão se espraiando por áreas verdes, ocupando calçadas, canteiros, com cada um fazendo o que bem quer sob o olhar indiferente das autoridades.

A fragilidade de uma cidade planejada ou seu Tendão de Aquiles está justamente no comportamento sem urbanidade de seus cidadãos e dos seus responsáveis. A obediência aos códigos de postura, de edificações e ao que delimitam as leis é condição fundamental para a continuidade de toda e qualquer cidade. No caso de Brasília, considerada por muitos uma joia do modernismo e do empreendedorismo de uma nação, o descaso e o abandono continuado de suas áreas centrais, poderá, dentro do que ensina a Teoria das Janelas Quebradas, conduzir a capital para um estágio tal de desestruturação de seus espaços, que torne impossível a recuperação da beleza e harmonia originária, condenando a cidade e entrar para o rol das muitas capitais brasileiras depredadas e abandonadas pelo poder público.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Juscelino Kubitschek

Foto: doc.brazilia.jor.br

 

BSB, meu amor!

Por falar em Brasília, nas comemorações dos 59 anos da capital, as fundadoras do movimento Mexeu com Brasília, Mexeu Comigo – lançaram a primeira edição do Prêmio Olhar Brasília de Fotografia. O projeto tem curadoria do fotojornalista Alan Marques. As jornalistas convidam os brasilienses para se inscreverem até o dia 21 de abril com fotos que mostrem o amor pela cidade.

 

Cartaz: facebook.com/olharbrasilia

 

Arte

Até o dia 25 de maio, mais de 30 artistas participam da exposição Entre Cores e Utopias, que mostra os grafites da cidade. Renata Almendra, com fotografias de Juliana Torres, apresenta o movimento de Brasília nas mãos dos grafiteiros. Suas propostas, crenças e protestos. Veja o vídeo no blog do Ari Cunha sobre o lançamento do livro de Almendra sobre o assunto.

Foto: facebook.com/entrecoreseutopias

 

NET

Enquanto o internauta pensa que parece ter uma conta vencida sem ter sido paga, aparece no email uma mensagem falando exatamente sobre isso. Com dados completos, nome do cliente, endereço e a melhor parte: a Net propõe que você não fique inadimplente. Por isso dará 50% de desconto na mensalidade. Preocupado em não deixar passar mais nenhum dia de inadimplência, o internauta paga pelo código de barras. Confere e percebe que quem recebeu o pagamento foi uma pessoa física.

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Mais de meio milhão, custou a limpeza dos trevos durante a última inundação. Nós já havíamos chamado a atenção contra a suspensão da plantação da grama, agora atacada pela Novacap. (Publicado em 17.11.1961)

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