Bucha de canhão

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Fluxo de aviões saindo da Rússia / Reprodução/CNN

 

         Ditaduras, por suas características políticas ruinosas, necessitam, tanto para a sua ascensão como para sua consolidação e prolongamento no tempo, de estratégias moldadas em mentiras e muita propaganda de governo, na qual a figura central do ditador vá ganhando uma presença cada vez mais absoluta, de modo a confundir o governo e, principalmente, o Estado, com o próprio mandatário.

         É do jogo e sempre foi feito dessa maneira, em todo o tempo e lugar. Mas até que essa ascensão se solidifique e se torne incontestável, é preciso ainda desconstruir e mesmo destruir todo o sinal de oposição, classificada agora como inimiga do Estado e do povo. Para dissimular ainda mais essa tirania, o substantivo “povo” passa a ser uma palavra corrente na novilíngua da ditadura, embora nada signifique de fato.

          Povo é sempre uma abstração política usada em nome de algo concreto e perigoso. Para confundir a opinião pública, outra abstração moderna, são realizadas eleições com toda a aparência e jeito de democrático. Por detrás dos biombos, a farsa se impõe, com a propaganda oficial anunciando os resultados quase unânimes do pleito em favor do mandatário. Diante de números como esses, todas as esperanças são poucas. É justamente junto ao povo que os ditadores retiram o combustível para suas façanhas, em forma de carne humana.

          É preciso carne para manter as fornalhas do poder absoluto aceso. Carne e sangue. A cumplicidade de muitos e a indiferença do mundo, dito civilizado, dão a permissão e o agrément para que tudo ganhe ares de normalidade, com o ditador sendo aceito e até saudado nas rodas de conversa e nos encontros internacionais. Ninguém, por medo ou diplomacia, ousa dizer que ali está um autêntico açougueiro de gravata e capital. Tem sido assim ao longo da história humana.

          Mesmo a modernidade, com seus fóruns internacionais, repletos de pessoas sofisticadas, mostra-se simpática e não ousa impedir ou contrariar a sanha desses novos Calígulas. A invasão da Ucrânia pelas forças de Putin não é uma disputa armada entre um Estado contra outro, mas uma guerra de origem pessoal, travada por um déspota contra uma outra nação livre e autônoma e que é arrastada para esse conflito por uma decisão absolutamente subjetiva desse mandatário, para dar continuidade a uma estratégia de permanência no poder que exige, em contrapartida, que haja um clima de guerra sempre presente.

         É na fornalha das guerras que os ditadores obtêm o combustível necessário para seus governos. A paz é contrária aos propósitos dos ditadores porque deixa tempo, de sobra, para as reflexões da sociedade, algumas de caráter contestador. Ocupados em guerrear, não sobra, às plebes, tempo para elucubrações do tipo democráticas. É preciso a marcha contínua dos canhões.

         Depois de literalmente mandar, para o moedor de carne da Ucrânia, mais de 100 mil jovens russos, que retornarão para suas famílias em forma de cinzas, armazenadas em latas de alumínio, o ditador paranoico, manda alistar, à força, mais 300 mil homens em idade produtiva para que sigam o mesmo destino.

         Cientes dessa morte anunciada, centenas de milhares de jovens fogem em direção às fronteiras para escapar do destino certo. Serão outros trezentos mil mortos a servirem de bucha de canhão, com suas carnes e entranhas transformadas depois em medalhas e condecorações militares douradas, a ornar o peito desse bravo facínora e de seus comandantes, mesmo sabendo que todos eles se mantiveram a milhares de quilômetros do front de guerra.

         Nessa marcha bélica contínua, depois da Ucrânia, outros países, necessariamente serão apontados como o alvo da vez, até que não reste nada a Leste e a Oeste.

A frase que foi pronunciada:

“O vosso povo que, daqui a poucos dias, celebra o aniversário da Revolução dos Cravos que também vos libertou da ditadura, sabe perfeitamente o que estamos a sentir.”

Zelensky, presidente da Ucrânia, em abril

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Gestão

Não foi feito alarde sobre essa questão, mas os funcionários dos Correios que pagavam taxas mensais para tentar diminuir o rombo dos fundos de pensão, agora, com a gestão do General Floriano Peixoto, que estampou o maior rendimento em 22 anos (R$3,7 bilhões), recebem participação nos lucros da empresa.

General Floriano Peixoto e funcionários. Foto: ASCOM Correios

 

Homem político

Sr. Menezes, conhecido pela honestidade no trabalho de ajustes de portões elétricos no Lago Norte e arredores, estava contando que encontrou um candidato à Câmara Legislativa pedindo votos nos hospitais. Disse tudo o que iria fazer se conseguisse a reeleição. Menezes, homem experiente, foi direto. “Se tinha esses objetivos, por que não executou quando estava no poder?” O candidato deu as costas e Menezes viu que estava representado no sorriso dos presentes.

Charge: Nani

 

História de Brasília

Mas os moradores são cariocas, e às vezes fazem blague. Há luz aqui? Não sei! Só venho aqui de noite! (Publicada em 10.03.1962)

Soberania pela posse efetiva

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Foto: BBC

 

        Na realidade, o mundo tem os olhos postos muito mais sobre a região da Amazônia Brasileira do que, propriamente, sobre os brasileiros. Interessam, aos estrangeiros, os destinos da Amazônia, como floresta tropical que abriga a maior biodiversidade do planeta. Nesse conjunto de interesses, há também um olhar, um tanto exótico e romântico, sobre os povos indígenas da região, descartando tudo mais que possa existir naquela parte do Brasil. Com isso, os estrangeiros que vêm a turismo para essa região ficam surpreendidos ao encontrar ali metrópoles imensas, com tudo que há em cidades de grande porte, sobretudo, milhões de não indígenas que ali vivem, em meio às turbulências de uma grande área urbana.

Fosse a Amazônia apenas uma grande e inexplorada floresta, sem a presença de outros brasileiros que ali nasceram, por certo, essa região tão rica e variada estaria nas mãos desses novíssimos defensores da natureza, descartando essa parte do país do restante e impondo sobre ela uma soberania estrangeira de fato, com regras próprias, e exigindo passaporte aos cidadãos brasileiros que desejassem visitar esse santuário natural.

O que tem impedido o avanço dessas forças alienígenas sobre essa área é justamente a presença, in loco, de milhões de brasileiros, que ali vivem com suas famílias há várias gerações. O que temos nessa questão de soberania sobre a Amazônia é dada pela população urbana que lá está e não pela presença de autóctones, erroneamente chamados de indígenas. A defesa dessa imensa porção de terras é feita por brasileiros, fardados ou não, e que ali estão em nome do restante da população.

Temos muito que investir nessa parte do Brasil, levando o progresso que se vê no Sul e Sudeste para a região. De acordo com um dos últimos dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os estados da Região Amazônica têm os mais baixos níveis de qualidade de vida de todo o país.

A questão é curiosa já que se trata de uma região onde estão concentradas as maiores fontes de recursos naturais de todo o Brasil. Recursos abundantes como água, minérios diversos, madeira, produtos extrativos, ouro, nióbio, terras raras e diversos outros bens naturais de grande valor comercial em nada têm contribuído para fazer, das populações locais, cidadãos com uma razoável qualidade de vida. Pelo contrário: quanto mais essas regiões são exploradas e exauridas de seus bens, mais a população se vê na condição de pobreza e de esquecimento.

A questão central que pode explicar, em parte, essa contradição na qual brasileiros em situação de miséria caminham sobre as maiores riquezas naturais do país, pode ser entendida muito além do chamado determinismo geográfico, que coloca populações em regiões distantes do poder central, às margens do desenvolvimento. É fato que, por séculos, a Região Amazônica vem sendo deixada de lado por todos os governos, não apenas da esfera federal, mas, inclusive, pela maioria dos próprios governos locais.

Segundo o Fundo das Nações Unidas pra a Infância (Unicef), a Região Amazônica, onde vivem cerca de 9 milhões de crianças, é um dos piores lugares de todo o continente para a infância. Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Roraima, Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e Acre, estados que formam a grande Amazônia Legal, possuem praticamente os mesmos índices de desenvolvimento humano, carecendo de moradias, sistema de educação e saúde regular, saneamento, atendimento adequado aos direitos das crianças. Nessas regiões, a existência do trabalho infantil é uma constante em grande parte dos municípios. Esses brasileiros do Norte, deixados à própria sorte por séculos, sabem que agora o mundo todo está de olho da Amazônia, não exatamente em sua população, que continua explorada por nacionais e estrangeiros, mas em suas abundantes riquezas.

Deep state

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Ilustração: defato.com

 

         Nessa altura dos acontecimentos, vai ficando cada vez mais nítido o fato de que o ex-presidente, que volta a concorrer às eleições, é, sem dúvidas, o candidato do sistema ou, se quiserem, o preferido e ungido pelas forças do chamado “deep state”.

         Primeiramente, é preciso entender o que vem a ser essa forma disforme de poder. Trata-se, na visão de estudiosos, de uma estrutura global e local, responsável tanto por pautas econômicas como sociais e políticas, e que, em certo sentido, priva os cidadãos de decisões vitais, enquanto exaure e dilapida todas as riquezas do país, transferindo esses bens diretamente para as mãos de um seleto grupo, formado, em sua maioria, por grandes corporações e entidades políticas com controle, incrustadas tanto nos Três Poderes de um Estado como em grandes corporações.

          É, em um sentido mais acurado, um governo invisível, composto por pessoas que devem fidelidade apenas a si próprios, descartando o povo, que, em tese, deveria ser o objeto da ação do Estado. A saída desse candidato, diretamente da prisão para a volta aos palanques políticos e eleitorais, não foi como se quer fazer acreditar, uma anistia do tipo política, concedida a um opositor, cujos crimes são especificamente de ordem política e ideológica.

         A recolocação desse verdadeiro peão, no tabuleiro do xadrez político, obedece a um conjunto de esquemas muito bem engendrados por essa espécie nova e nefasta de governo, que age com desenvoltura nos bastidores, usando luvas de pelica e indisfarçado talento de persuasão.

          O povo, em geral, não faz a mínima ideia do que vem ocorrendo nesses bastidores do poder, em que a política, em seu sentido literal, foi exilada para uma ilha distante. Talvez, nem mesmo o próprio candidato, incensado e tratado com todos os mimos, que o dinheiro possibilita, sabe o que ocorre atrás de si.

         Estão nesse jogo como marionetes à mercê dos marionetistas, esses sim, cientes do que fazem. Não chega a ser surpresa, diante de um personagem que, apanhado em diversas situações de corrupção, sempre afirmou nada saber o que estava acontecendo à sua volta. Até mesmo a bem estruturada desconstrução de toda exitosa Operação Lava Jato, uma possibilidade que, à época, parecia impossível, dado ao gigantesco conjunto de provas e delações, foi obra desse “deep state” ou Estado profundo, cuja sede de poder ninguém sabe, ao certo, onde está localizada.

          Infelizmente, o único personagem que por uns segundos pode agir para modificar essa verdadeira trama diabólica é o eleitor, ou aqueles que ainda não foram iludidos por parte das mídias sociais de informação ou que, de certa forma, ainda acreditam que a paralisação de todos os processos que respondia o citado candidato foi conduzida por instância inapropriada e sob o comando de um juiz parcial, que tinha como objetivo perseguir maldosamente essa alma pura e honesta, cuja as “prerrogativas” ou direitos especiais, por sua posição, o coloca acima das leis, com regalias, que somente o deep state pode conferir ao seus agentes.

A frase que foi pronunciada:

“Somos todos fantoches, Laurie. Eu sou apenas um fantoche que pode ver as cordas.”

Alan Moura

 

Comércio exterior

Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, está animado com a participação na Missão Comercial SIAL Paris 2022, feira onde alimentos e bebidas brasileiras serão apresentados ao mundo. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a expectativa é que o evento possa render mais de R$200 milhões em exportações em um ano. O evento começa no dia 14 e vai até 19 de outubro.

Robson Braga de Andrade. Foto: Ruy Baron/Valor

 

Consignado absurdo

Veja a imagem a seguir. Tão logo o processo de aposentadoria esteja marcado no INSS, misteriosamente, o idoso recebe mensagem do número 62(821) 82571720, dando os parabéns e mostrando o montante disponível para a linha de crédito “mais barata do Brasil”. Invasão de privacidade. O número disponível é o 08000001710 e o whatsapp https://bit.ly/3BriAdt.

 

Até quando?

Água Mineral e teatros de Brasília. Lugares de deleite estão constantemente ameaçados. Ou pela privatização, ou por reformas eternas. A Capital do Brasil não ter seu teatro disponível por mais de 5 anos é impensável! Nem as viagens internacionais convenceram nossos governantes sobre a importância do lazer e cultura para uma nação.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

 

História de Brasília

A iluminação é a única diferente de Brasília. Em tôda a cidade os postes são lindos, e as luminárias, importadas. No “avião”, são pequenas lâmpadas presas aos postes que lembram Caucaia. (Publicada em 10.03.1962)

Napoleão de hospício

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          Nenhum homem é uma ilha, já ensinava o humanista e autor da obra “Utopia”, Thomas Morus (1478-1535). Do mesmo modo, pode-se inferir que nenhum país é também uma ilha, no sentido de estar apartado e exilado do resto do mundo. Principalmente, no contexto atual de forte globalização e interdependência, que força muitos países a se unir em blocos ou mercados comuns, visando não só a complementaridade de suas economias, mas, sobretudo, unir forças políticas visando uma relação mais equilibrada com outras nações. Desse modo, torna-se explícito que o isolamento de um país, na forma como vemos, por exemplo, na Coreia do Norte, ou mesmo em Cuba, é extremamente prejudicial ao pleno desenvolvimento humano de suas populações.

         Acreditar que os conflitos que ocorrem, a milhares de quilômetros daqui, não trarão reflexos imediatos e deletérios para os brasileiros, é pura ilusão. Antigamente, dizia-se, com razão, que se os Estados Unidos espirrassem, o Brasil, por sua dependência, logo teria uma pneumonia. Se o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, quando se acreditava que essa seria uma guerra curta e fácil para o poderio militar russo, já trouxe complicações para a importação de produtos como corretivos agrícolas para nossa lavoura, o prolongamento dessa luta, sua intensificação e o perigo iminente dela vir a atrair novos protagonistas, alastrando seus efeitos maléficos para uma generalização mundial, são altos e reais.

          Num mundo globalizado, o perigo de uma guerra ganhar dimensões planetárias é também considerável, ainda mais quando uma das partes desse conflito, por sua posição mais realista e diante de um impasse nessa guerra, ameaçar outros países com o emprego de armas de destruição em massa. Peritos e estrategistas, nesses jogos de guerra, em todo o mundo, têm alertado para a possibilidade real do emprego desse tipo de armas, dizendo que os russos não estão simplesmente blefando, mas preparando o cenário para esse próximo evento. Com isso, nossos problemas, quer queiramos ou não, reduzem-se ao tamanho de uma formiga, ante o perigo real da destruição do próprio planeta.

         Pouco podemos fazer, não apenas por nossa posição atual nas relações internacionais, conhecida como anões diplomáticos, mas pela pouca contribuição que poderemos dar para impedir que tudo vá pelos ares. Mesmo a posição do Brasil dentro do Bloco dos BRICS, torna-se irrelevante, pois, nesse xadrez, onde a posição de peças atômicas sobre o tabuleiro vão sendo estabelecidas, exclui naturalmente aqueles países que não dispõem desse tipo de armamento. O perigo nessa contenda é que pode não haver ganhadores, nem de um lado nem de outro, sendo que não há também um juiz nesse jogo capaz de impedir o avanço dessas peças. Mesmo organismos como a ONU são impotentes diante desse quadro. Fechar os olhos e ouvidos ao que ocorre nessa parte do globo talvez sirva de consolo, já que a experiência nos ensina a não preocuparmos com problemas que não podemos, por nós próprios, resolver. Nesses tempos confusos, independe de nós a possibilidade de o mundo vir a virar pó sob nossos pés e isso pode nos dar uma pequena noção do quanto somos frágeis e incapazes de controlar efeitos dessa natureza.

          Até mesmo fenômenos como as mudanças climáticas, com todo o seu potencial de destruição, parecem encolher diante de uma ameaça nuclear, levada a cabo por um único homem, pequeno em estatura física como Napoleão, e tão doido quanto os napoleões de hospício.

A frase que foi pronunciada:

“Nenhum homem é uma ilha. Mas alguns são península.”

Robin Williams

Robin Williams. Foto: GETTY IMAGES

 

Na terra

Na última década, o DDT foi proibido no Brasil. Mas, pelo fato de o rastro desse agrotóxico permanecer por 30 anos, os solos brasileiros continuam sendo estudados. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o DDT no Grupo 2A – provável cancerígeno humano com base na indução de tumores hepáticos e aumento da incidência de linfomas em animais, e em evidências limitadas de linfoma não-Hodgkin e câncer de fígado e de testículos em seres humanos. A informação é da Divisão de Toxicologia Humana e Saúde Ambiental, da CETESB, agência do Governo do Estado de São Paulo responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição.

Charge: Arionauro Cartuns

 

Pés no chão

Estudo de Rodrigo Fracalossi de Moraes mostra, em sua conclusão, que a regulação de agrotóxicos, assim como as de vários outros produtos e serviços, não é um processo politicamente neutro. Regulações adotadas por governos não resultam apenas da influência de normas e conhecimento científico, mas também do poder relativo de grupos que ganham e que perdem com a regulação. A concepção de que existe algum tipo de regulação imparcial, proposta por comissões de experts e implementada por burocratas politicamente neutros é, portanto, ilusória.

Charge: noticiasdocamposttr.blogspot.com.br

 

História de Brasília

Abriram valetas para colocação de esgotos. Fecharam as valetas. Jogaram terra. Nenhuma placa indica o perigo, e a todo instante, um carro atola perigosamente. Ponham alguma indicação, por favor. (Publicada em 10.03.1962)

Olhos vesgos

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Charge do Cazo

 

          Insensibilidade e indiferença profundas, diante da dura realidade nacional, talvez seja o traço mais forte e negativo a caracterizar a personalidade de nossas elites políticas, desde sempre. De fato, esses senhores veem o país com os únicos olhos que possuem e que traduzem o mundo exterior, de acordo com a alma mesquinha que abrigam em seus corpos. De outra forma, como entender o comportamento perdulário que apresentam, mesmo frente a tantos problemas econômicos vividos pela população, que, em última análise, representam também seus fiéis eleitores?

          A explicação pode estar justamente bem debaixo de nossos olhos. O dinheiro que torram e que lhe foi confiado pelos cidadãos é recurso público, que escorre, em grande quantidade, por entre os dedos como areia fina. Na verdade, esse dinheiro, retirado a fórceps dos contribuintes, graças a uma das maiores e mais escorchantes cargas tributárias do planeta, faz falta onde devia ser empregado de fato, mas, ainda assim, é retirado de quem menos pode para ser entregue aqueles que tudo podem.

          Detalhes como esses e que dizem respeito às agruras experimentadas pela maioria da população não parecem comover ninguém. Foto recente, retratando um desses muitos eventos em que os áulicos comemoram suas vitórias pessoais na capital do país, chama a atenção para aqueles que querem enxergar a sinistra troca de olhares que esses personagens parecem estabelecer entre si, e que os fazem irmanados num mesmo grupo, o Centrão, empenhados nos mesmos projetos e propósitos, que nada dizem respeito ao resto da população.

         Apenas em posse dessa foto e sabedor do que fazem no Congresso, como é o caso aqui do chamado orçamento secreto, já seria possível, a qualquer juiz justo, condenar a todos, sem perdão. Criado por volta de 2020, o orçamento secreto, ou emendas do relator, cujos critérios de transparência e de prestação de contas simplesmente inexistem, vieram se somar a outras verbas bilionárias ou emendas ao orçamento da União já existentes, como os casos das emendas individuais, de bancada e de comissões.

         São justamente essas emendas de relator ou secretas, e que passam muito longe do faro das instituições de controle, que possibilitam os mais esdrúxulos acordos políticos, em sua maioria até antirrepublicanos. Mas é esse o preço a ser pago pelo chamado presidencialismo de coalizão, que, nesse caso, está mais próximo de um presidencialismo de cooptação. Trata-se aqui de uma versão modernizada do famigerado mensalão, que consistia na compra de votos pelo governo. A situação chegou a um tal paroxismo que impedir esse tipo de emenda inviabilizaria todo o governo. Para alguns, trata-se de uma chantagem pura e simples e que tem as bençãos e o apoio do Centrão.

         Mesmo com um orçamento da União curto, o governo acabou pressionado a cortar dotações, por exemplo, do Programa Farmácia Popular, para suplementar o orçamento secreto e assim não contrariar o Centrão. É esse o jeito que as nossas elites no poder conseguem enxergar as políticas públicas, olhando-as a partir dos olhos vesgos que possuem.

 

A frase que não foi pronunciada:

“Por onde o secreto anda, o diabo dança.”

Ariano Suassuna, enquanto dá uma olhadinha para o planeta Brasil

 

Inacreditável

São tantos impostos que chegava a ser brincadeira dizer que, daqui a pouco, seria cobrado o ar que você respira. O ar, ainda não. Mas a luz do sol, sim. Quem instalar painéis fotovoltaicos, para ter uma redução na conta de luz, vai ser abraçado pela “Taxação do Sol”, que entrará em vigor a partir do próximo ano.

Queima

De Goiás, diretamente para o Rio Grande do Sul. Minas de carvão tomam espaço, justificadas pelo Projeto na Mina Guaíba, que se espalha em 5 mil hectares a céu aberto. Senador Paulo Paim está fazendo o que pode para evitar esse desastre. A Justiça Federal não aceitou o processo de licenciamento.

Foto: Reprodução/RBS TV

 

Futuro

Pela liturgia católica, os noivos devem entrar na igreja de braços dados com os pais. O noivo com o pai e a mãe e a noiva com o pai e a mãe. Em algum tempo, não haverá noivos, nem pai e mãe e, tampouco, Igreja Católica. Esse é o desabafo de um padre em excursão a Lourdes.

Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, França. Foto: AFP/Arquivos

 

Solução nacional

Mais uma vez, a Embrapa avança com estudos que reduzem a dependência de fertilizantes na agropecuária nacional. Balanço das ações da Caravana Embrapa, que leva soluções para uso eficiente de fertilizantes e insumos, será apresentado no XXXIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo.

Foto: embrapa.br

 

História de Brasília

Abriram valetas para colocação de esgotos. Fecharam as valetas. Não fecharam. Jogaram terra. Nenhuma placa indica o perigo, e a todo instante, um carro atola perigosamente. Ponham alguma indicação, por favor. (Publicada em 10.03.1962)

Desarmados e indefesos

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Foto: Joédson Alves (EFE)

 

         Uma das razões que comumente levam os partidos de esquerda, no Brasil e em todo o mundo, a pregarem, sistematicamente, contra o acesso dos cidadãos a posse de armas, tem suas raízes fincadas muito além de quaisquer princípios ideológicos de paz ou coisa do gênero. Por detrás dessa vedação estratégica, os fatos históricos demonstram que, em todo o mundo, o crescimento da hegemonia dos partidos de esquerda dentro do Estado só foi efetivamente concretizado à medida em que se processava, paralelamente, o desarmamento da população e de toda a quaisquer dissidências, impedindo-as de reagirem em tempo.

         Ao arbítrio da força das armas, imposta por governos com as mesmas características, sejam de esquerda ou direita, somente uma força igual e contrária em intensidade é capaz de reverter a situação. População desarmada é refém e presa fácil da imposição da bandidagem, esteja ela dentro do Estado ou nas ruas.

         Esse é um fato inconteste a provar que, mesmo em democracia evoluídas, as relações sociais necessitam do lastro das armas para sua efetivação. Não por outra razão, a maior democracia do planeta, os EUA, consagram, em sua Carta Magna, o direito dos cidadãos ao porte de armas de fogo. Tanto a segunda como a décima quarta emenda daquele país, protegem o direito dos cidadãos de portarem armas de fogo para defesa pessoal, de sua família e de sua propriedade.

         As esquerdas não conseguem mais esconder que desejam os cidadãos desarmados, pois, dessa maneira, podem, a qualquer tempo, como bem esclareceu recentemente o próprio teórico do partido dos Trabalhadores, José Dirceu, “tomar o poder” mesmo após um processo eleitoral normal. O fato de levantar estatísticas mostrando que o aumento da violência urbana e rural está diretamente ligado ao aumento no número de armas, já não tem surtido os efeitos desejados pelos defensores do desarmamento. O que existe de fato é que o crescimento exponencial da violência, principalmente nos centros urbanos nos últimos anos, e a pouca efetividade da segurança pública têm levado os cidadãos a comprar armas e a investirem, cada vez mais, em segurança pessoal ou condominial, o que tem favorecido a indústria e o mercado legal de armamentos.

         Cursos de defesa pessoal, de tiro e de uso correto e preventivo de armas de fogo têm aumentado também por todo o país. A maior liberação ao acesso às armas, feitas pelo atual governo, inclusive com o incentivo ao uso de armas, tem ajudado a população a se armar como nunca antes. Vídeos mostrando a atuação frustrada de bandidos e a pronta reação dos brasileiros também têm incentivado a compra de armamentos por muitos. A questão do aumento do armamento não está no mercado legal de armas, mas na possibilidade ampla do tráfico de armas, realizado graças à porosidade excessiva de nossas fronteiras terrestres. Os armamentos clandestinos entram no país e têm sua clientela certa junto às organizações do crime, essas sim representam um verdadeiro perigo para todos e estão associadas diretamente aos índices de violência.

          Bairros inteiros, nos quais boa parte da população já possui armas, os bandidos, precavidos desse fato, passam a evitar, por razões óbvias. Com a população devidamente armada e preparada, há que se pensar duas ou mais vezes antes de agir.

 

A frase que foi pronunciada:

“Oligarcas e tiranos desconfiam do povo e, portanto, privam-no de suas armas.”

Aristóteles, 384-322 a.C.

FOTO: CREATIVE COMMONS

 

Terror

Deputado federal Hercílio Diniz (MDB), Dr. Luciano (Patriota), David Barroso (União) e o piloto levaram um susto. O helicóptero fretado para campanha caiu, na tarde de ontem, no Vale do Rio Doce, no município de Engenheiro Caldas. Todos estão vivos, apenas com leves ferimentos.

Foto: Reprodução/redes sociais

 

Participe

Até o dia 30 deste mês, A UnB, em parceria com a Biblioteca Central e Editora UnB, vai reunir livros infantis que serão doados a instituições beneficentes de todo o DF e entorno. São 14 pontos de coletas de doações, um deles na entrada da Biblioteca da universidade.

Foto: crb1.org.br (Felipe Menezes)

 

Mala direta

Está respaldado na Lei 6538/78, o serviço dos Correios a pessoas físicas e jurídicas que contratarem o envio de mensagem publicitária para vender ou divulgar serviços, e até promover eventos, inclusive, a candidatos e partidos políticos. Veja todos os detalhes no link Soluções dos Correios para ações de comunicação nas Eleições 2022.

Imagem: correios.com

 

Falando nisso

Outra forma de presença importante dos Correios durante as eleições é com o suporte aos mesários, com o vale postal eletrônico para a alimentação, além do transporte que, este ano, é de mais de 100 mil urnas.

Foto: bbc.com

História de Brasília

Abriram valetas para colocação de esgotos. Fecharam as valetas. Não fecharam. Jogaran terra. Nenhuma placa indica o perigo, e a todo instante, um carro atola perigosamente. Ponham alguma indicação, por favor. (Publicada em 10.03.1962)

O avanço da poeira

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Foto: Carlos Fabal/AFP – 25/08/19

 

         Marchamos a passos acelerados, movidos por cega ganância, por um caminho que, inevitavelmente, irá nos conduzir a um novo e vazio Planalto Central. Tomado pela aridez do deserto, esse imenso território, varrido por ventos escaldantes e pela poeira fina, está agora todo coberto com o farrapo branco da morte.

         O horizonte em volta daquela região central do país, que um dia foi o berçário das águas e da vida, está hoje irreconhecível. Assim como a outrora moderna e pujante capital do país, cercada e inviabilizada pelo deserto que avança intrépido por ruas, avenidas e monumentos, cobrindo tudo com o pó fino das areias.

         Entre julho e setembro, o céu se fecha com a cortina espessa e escura das nuvens de poeira, que aos poucos vão soterrando Brasília e o entorno. Tal como um coveiro lança terra sobre os mortos, a natureza, indiferente, vai sepultando tudo em volta, cobrando seu preço por décadas de destruição dos campos do Cerrado.

         Eis aí um vaticínio certo e seguro, que mostra como será, num curto espaço de tempo, o Centro Oeste do Brasil, caso prossigam na mesma rota suicida substituindo a vegetação local por monoculturas transgênicas, implantadas em imensos latifúndios e destinadas à exportação e ao lucro de poucos. O Cerrado, como tem alertado os ecologistas e cientistas do meio ambiente, está agonizando à vista de todos, por conta do agronegócio e da expansão desenfreada da monocultura.

          Somente o setor agropecuário, que coloca o Brasil como o país com o maior rebanho bovino do planeta, já tomou conta de mais de 45% de toda a área do bioma Cerrado. É o lucro feito a qualquer custo e tem sido denunciado aqui, neste mesmo espaço, para a contrariedade daqueles que acreditam ser possível lucrar com a destruição irreversível. O Cerrado, como tem alertado a doutora em Antropologia Social e assessora do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Raisa Pina, está pedindo socorro e exigindo medidas urgentes para conter o desmatamento. Sobretudo agora, às vésperas das eleições gerais, quando esse importante tema deverá ser incluído ou, ao menos, citado entre os diversos programas de governo apresentado pelos candidatos. Por enquanto, esse tema delicado, por se tratar de um setor com grande poder de lobby e com uma expressiva bancada no Congresso, ainda não veio à tona.

         Falar de forma negativa do agrobusiness, quer apresentando verdades incontestes ou elencando seus efeitos deletérios, mesmo em se tratando de um setor superavitário e incensado pelos políticos, desperta paixões e, não raro, termina em confusão e pressões indesejáveis. É, sem dúvidas, um assunto delicado, mas que não deve ser evitado, sob pena de comprometermos, severamente, o futuro das próximas gerações de brasileiros, que irão colher os frutos amargos de ações impensadas e baseadas apenas na ideia de lucro imediato.

          Atrás do processo dinâmico do desmatamento, vem o agronegócio, de olho na expansão insana da produção. Quem, por acaso, duvidar desse processo de destruição acelerada basta verificar o que mostram os números e dados fornecidos pelos cientistas que monitoram esse território.

         Raissa Pina chama a atenção para o fato de que mesmo os chamados desmatamentos legais são irregulares e trazem enormes prejuízos a todo esse Bioma. A controversa política de Estado, baseada no desmatamento em favor do aumento de produção do agronegócio, só faz legalizar uma atividade que vem destruindo, sistematicamente, o Cerrado. Essa história de que o agronegócio preserva não passa de propaganda falsa, feita para iludir consumidores, principalmente na Europa, onde aumentam os embargos a produtos, fruto de destruição do meio ambiente.

         A cada avanço das fronteiras agrícolas e do aumento de produção, sempre anunciados com estardalhaço, aumenta, em maior proporção, a destruição do meio ambiente, a expulsão dos povos autóctones e a decadência da agricultura familiar e da produção de grãos sadios. Para se ter uma ideia do avanço do agronegócio sobre o Bioma Cerrado, apenas entre 2010 e 2020, o Cerrado perdeu mais de 6 milhões de hectares de vegetação nativa, lembra a pesquisadora. Não se trata de uma área qualquer, já que o Cerrado ocupa quase um quarto do território nacional e responde sozinho por mais de 5% de toda a biodiversidade do planeta.

         O desaparecimento desse delicado bioma trará impactos profundos em toda a Terra. Como dizia, com muita propriedade, o pensador austríaco Karl Kraus: “O progresso é o avanço inevitável da poeira”.

 

A frase que foi pronunciada:

“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”

Nicolas Behr

Nicolas Behr. Foto: correiobraziliense.com

 

Emboulos

Uma faixa na igreja universal afirmando apoio, postagem nas redes sociais e milhares de visualizações. O candidato pelo PSOL teve essa ideia para angariar mais eleitores. O caso foi parar no TSE, já que a instituição negou, veementemente, apoio a Boulos. Por muito menos, há candidatos que perderam a chance de concorrer às eleições deste ano. Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos.

Imagem: universal.org

 

História de Brasília

Talha logo, perde. Mas crianças do “Gavião” não precisam tomar leite. Um frigorífico não é para ser usado no “Gavião”. E fica o bairro sem leite, depois das nove horas. (Publicada em 10.03.1962)

Muito $inceros

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Charge do Nicolielo

 

Canalizados sob as mais diversas rubricas, sob as mais inventivas nomenclaturas, e de forma absolutamente compulsória, nenhuma legenda política, das mais de trinta que orbitam os legislativos do país, sobreviveria por mais de quatro anos ou por mais de uma eleição, não fossem os recursos públicos empreendidos.

Apenas por esse aspecto sui generis, podemos inferir que a representação política, tão necessária para a manutenção do chamado Estado Democrático de Direito, realizada por meio de partidos sustentados exclusivamente com verbas públicas, resultam, na verdade, numa espécie de democracia do tipo estatal. Em outro sentido, pode-se entender que, por essa fórmula, o que os brasileiros tem em mãos para representá-los junto ao parlamento, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, são empresas típicas do Estado, que, ao contrário de muitas, espantosamente, não necessitam adotar regras de compliance ou mesmo prestar contas, aos contribuintes, dos recursos que arrecadam e dos gastos que empreendem.

A questão nesse caso é como alcançar uma verdadeira democracia, com igualdade de oportunidade, sabendo-se que a ponte que liga o cidadão ao Estado é inteiramente construída e alicerçada com a vontade e os recursos estatais, administrados nesse caso por indivíduos ou grupos instalados dentro da máquina pública.

Quando surgiu como uma força nova dentro do cenário político do final dos anos setenta, o Partido dos Trabalhadores empolgava as oposições ao regime pelo fato de obter seus recursos diretamente da população, por meio de vaquinhas, venda de camisetas e churrascos, festas, outros meios originais e absolutamente transparentes. Essa era a força que mantinha esse partido bem ao gosto popular. Esse tempo amador, mas autêntico, já vai longe.

Hoje as legendas vivem à sombra do Estado, devidamente azeitados com verbas bilionárias, fechados em si mesmos, distantes da população, hoje chamada apenas de base. Fenômeno semelhante parece ter ocorrido também com os clubes de futebol. Antigamente, era comum falar-se em amor à camisa. Eram tempos de inocência dentro do futebol. Os times viviam praticamente dos recursos obtidos das bilheterias dos jogos. Por esse critério, o desempenho no campeonato e a boa performance contavam muito para atrair o público. Só os bons times, bem armados e treinados, sobreviviam aos torneios. Esses também são tempos que já vão bem longe. Atualmente, os times são empresas e, quem parece brilhar, mais do que os jogadores, são os cartolas. Guardadas as proporções e a importância de cada um para a vida dos brasileiros, os recursos fáceis e abundantes acabaram por roubar a paixão de eleitores e torcedores.

Fundos partidários, eleitorais e para campanhas arrancam bilhões dos cidadãos, a cada ano, transformando as legendas em empresas de grande porte, capaz de fazer inveja aos países do primeiro mundo. Não é por outro motivo que existem atualmente tantos partidos, com a expectativa de criação de muitos outros. Ainda assim, com tanta fartura material, os partidos, e mesmo os políticos, nunca estiveram tão em baixa na confiança do cidadão.

Seguidas pesquisas mostram que, dentre as instituições do país, aquelas que menos gozam da simpatia e da confiança dos brasileiros são justamente os partidos e os respectivos políticos. Por aí se pode ver que não é o dinheiro que torna pessoas, empresas e instituições em algo respeitável e aceito pela população.

Se o financiamento público, como afirmam muitos, é necessário para afastar a influência das empresas privadas, por outro lado, a abundância de recursos e a sede como os políticos se atiram ao pote dos financiamentos públicos têm trazido mais prejuízos do que benefícios para os próprios políticos e por tabela para o processo de aperfeiçoamento da democracia brasileira.

Nem todo o dinheiro do mundo em propaganda seria capaz de reverter a perda de credibilidade. Um sinal de que o dinheiro não pode tudo é que, a cada eleição, aumenta o número de eleitores que simplesmente deixam de comparecer às urnas. Há, inclusive, estudos que mostram que, não fosse a obrigatoriedade do voto, inscrito na lei, muitos eleitores só saberiam que é eleição por se tratar de um feriado.

Do ponto de vista do cidadão comum, os partidos vivem numa espécie de divórcio litigioso com a população. Transformados em clubes fechados e insistindo em manter interlocução apenas entre si e com aqueles instalados no poder e na máquina pública, os partidos políticos já não empolgam a população. Esse efeito é ruim para a democracia.

De acordo com o Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), 118 países adotam algum tipo de financiamento público para apoiar partidos ou campanhas, mas nenhum deles possui tantos recursos e facilidades como o sistema brasileiro. Ao deixar de sobreviver com as contribuições diretas dos filiados e simpatizantes, os partidos políticos começaram a cortar o cordão umbilical com a sociedade que afirmavam representar.

Ao adquirir a independência econômica, muito acima das necessidades, essas mesmas legendas se apartaram de vez da população, de quem só depende efetivamente a cada quatro ano. Apoio efetivo só se compra daqueles que trabalham diretamente nas campanhas. Há uma crise dos partidos que parece só ser vista por aqueles que estão do lado de fora e que é formada pelo grosso da população.

É justamente esse ponto que foi percebido, com a lupa da ganância, pelos mais caros e criativos marqueteiros de campanhas políticas de todo o país. Capazes de transformar água em vinho, essas expertises da propaganda tiravam leite de pedra, mas, ainda assim, não foram capazes de solucionar a crise de identidade das legendas e seu desgaste perante a opinião pública.

Impressionante como ainda muitas legendas são capazes de vender a alma para garantir um tempo maior em rádio e televisão. Mais impressionante verificar que, mesmo de posse de grandes somas de dinheiro, capaz de comprar os serviços dos mais renomados bruxos do marketing político, ainda assim os partidos políticos não contam com a simpatia sincera da sociedade.

 

História de Brasília

Saia da escola, por favor. Vá ao Posto de Saude. Não há. Procure o mercado. Está em obras. Funciona, precariamente, em uma casa, vendendo o que é possível, sem dar para o abastecimento de tôdas as casas. O leite cega cedo, e não é conservado em geladeiras, porque não há frigoríficos. (Publicada em 10.03.1962)

Atoleiros pelo caminho

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Tropas russas próximas à fronteira com a Ucrânia. Foto:
Reuters

 

         Em algum momento de nossas vidas, haveremos de nos deparar com atoleiros, que impedirão o avanço em qualquer direção. Do mesmo modo, governos e nações enfrentam essas barreiras e imprevistos. O jeito é parar e refletir tanto sobre os caminhos que nos levaram ao brejo, como nos meios capazes de nos retirar desse impasse que, por um tempo, parece nos tragar como areia movediça.

         Em situações como essa, quanto mais você se move e age de modo irracional, mais afunda. O Brasil e os brasileiros estão, neste momento, imersos nesse tipo de pântano sem fundo. Há uma espécie de inconsciente coletivo, herdado de nossa história colonial comum, que, com sua mão invisível, nos conduz a esses espaços abissais, onde não podemos nos mover sob pena de complicar, ainda mais, nossa situação de momento.

         Às vésperas das eleições gerais, essa é a situação atual da nação. Não há respostas prontas ou soluções fáceis. Um olhar distante sobre nossas fronteiras mostra que outras nações e governos estão, neste momento, mergulhados em seus atoleiros.

         Na Europa, de modo geral, é o que se assiste. Mais à Leste, a Rússia encontrou seu atoleiro. Não por acaso, já que foi em busca dele. A Guerra particular de Putin contra a Ucrânia vai se mostrando um enorme atoleiro para as tropas russas. Curiosamente, a Ucrânia é, por sua configuração geológica, repleta de áreas onde existem essas traiçoeiras areias movediças. O melhor da juventude russa e ucraniana vai sendo dizimado nesse conflito insano. Seguir em frente com essa guerra, que já conta com a ajuda militar e de armas de outros países, de um lado e de outro, é afundar, ainda mais, nesse pântano, conduzindo o mundo para um conflito generalizado e sem vencedores.

         Também a China, a exemplo dos russos, mira seu atoleiro na ilha de Taiwan. Os Estados Unidos também conheceram o seu pântano, quando enviaram suas tropas para o Vietnã. Precisaram sair às pressas, com as calças nas mãos.

         Em nosso continente, muitas são as nações que se encontram agora atoladas e imóveis em seus brejos. Venezuela, Argentina, para ficar apenas nesses dois países, vão afundando aos olhos de todos. Os motivos e as causas são conhecidos e, mesmo assim, não foram evitadas a tempo. Também em nosso caso particular, as causas e motivos que permitiram e nos lançaram nesse atoleiro são conhecidas.

         Num sentido figurado, é como você soltar uma cobra venenosa dentro de uma sala escura, apertada e cheia de gente. Salve-se quem puder! Ou seja, salvam-se apenas aqueles que, por sua força bruta, podem escalar pontos mais altos, usando para isso as costas dos mais fracos. Num ambiente hostil dessa natureza, ficar imóvel, pode representar um verdadeiro movimento para a salvação.

         Assim como a Rússia se deparou com seu atoleiro ao invadir a Ucrânia, encontramos também nossa areia movediça ao adentrarmos, de cabeça, no campo da política sem ética e da disputa pela disputa.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A história nos desafia para grandes serviços, nos consagrará se os fizermos, nos repudiará se desertarmos.”

Ulysses Guimarães

Foto: agenciabrasil.ebc.com.br

 

Cidade

Pessoal queimando folhas no próprio terreno está deixando vizinhos asfixiados. A falta de empatia e chuva está deixando Brasília uma cidade diferente do que era.

Foto: Adriana Bernardes/CB/D.A Press

 

Passeio

Entre 9h e 17h deste domingo, a Força Aérea de Brasília ficará aberta para receber a população com diversas atrações.

Foto: fab.mil.br

 

Reforma

Mais transparência às atividades. Esse é o intuito da Lei 13.709/18, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A Corregedoria Nacional de Justiça deu 180 dias para que os cartórios tomem as providências para modificar os procedimentos técnicos e adotar as novas medidas estabelecidas.

Foto: Reprodução

 

Sem respostas

Por falar em LGPD, Jusbrasil é um portal destinado à publicidade de atos dos tribunais. A diferença é que a busca nos portais da Justiça é mais detalhada. Já o Jusbrasil rasga a vida do cidadão até com dados mortos, que ficam expostos ao público depois de terem sido resolvidos. No Reclame Aqui, é uma enxurrada de protestos! Retirar as informações do portal? Impossível! E o pior: se quiser ter acesso a mais detalhes do que já estão disponibilizados pelos tribunais, há que se desembolsar por volta de R$30/mensais.

Foto: divulgação

 

História de Brasília

Atrás da escola há um boteco. Os bêbados ficam soltando palavrões, e as professôras procuram superar os nomes feios com os ensinamentos em voz mais alta. (Publicada em 10.03.1962)

O remédio para a memória

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Charge do Duke

 

          Um dos atores principais nessa e em outras eleições, tanto no Brasil como no resto mundo, tem sido a mídia jornalística. Ela atua, de modo ativo, trazendo o mundo político à tona, com informações aos leitores e eleitores sobre as andanças e até as estripulias de cada candidato ao longo de seus mandatos.

         Seria de grande proveito para a população se, às vésperas das eleições de outubro, essa mesma mídia jornalística voltasse sua atenção para a realização de um modelo especial de retrospectiva, como os que são feitos, a cada final de ano, só que desta vez apresentando ao grande público a performance de cada político na legislatura que finda, mostrando sua atuação quer no parlamento ou em qualquer atividade pública.

         Ao reviver a performance desses personagens, os eleitores seriam naturalmente levados a um despertar de consciência e mesmo de clarividência, capaz de possibilitar a reavaliação, com muito mais critério e racionalidade, de seus votos. De certo que, ao refrescar a memória do distinto público que vota, muitos dos atuais candidatos à reeleição seriam descartados de imediato. É com a falta de memória dos eleitores que esses eternos candidatos contam para se reelegerem ano após ano. O pior é que a cada nova legislatura, eles voltam ainda mais escolados e sabidos nas artimanhas da engabelação. Para fugirem a perseguição dos eleitores por suas atuações contra a vontade popular, esses verdadeiros especialistas em política com p minúsculo, misturam-se a bancadas mais numerosas, onde a defesa mútua de interesses dificulta punições individuais.

          Eis aí a roda viva das agruras do cidadão. O eleitor desmemoriado é um perigo para si e para o país. Essa amnésia coletiva transforma nossa democracia num jogo em que o lado perdedor nem ao menos percebe que foi novamente enganado. Por isso é preciso rever, com toda a atenção, a atuação desses candidatos em cada matéria de interesse para o cidadão que foi votada no Legislativo. Importante é também rever o comportamento ético desses políticos dentro dos quadros do governo.

          Ao rememorar como se portou em votações como a prisão em segunda instância, a nova Lei de Improbidade Administrativa, o aumento de verbas para o Fundo Partidário, Fundo eleitoral e outros projetos, como as suspeitíssimas emendas secretas, o eleitor poderia ter uma visão menos embaçada pelo tempo, decidindo com mais firmeza e justiça na hora do voto. É na cabine de votação que os destinos comuns a todos são traçados em questão de segundos. A questão aqui é entender os mistérios que levam um simples gesto de apertar um botão, mudar o destino de toda uma nação.

          No caso específico das chamadas emendas secretas, é preciso refrescar a memória do eleitor, mostrando, com todas as letras, quais políticos votaram favorável a essa matéria. A razão é simples: quando o cidadão e eleitor for buscar na Farmácia Popular os remédios para as crises asmáticas, hipertensão ou diabetes, ou até a fralda geriátrica, e lá for informado de que esses medicamentos estão em falta na prateleira, ficará sabendo que o governo cortou 60% do orçamento desse programa para atender prioritariamente às emendas secretas e sem controle externo. Aí, nesse caso, melhor pedir ao balconista um remédio para a memória. Se tiver…

 

 

A frase que foi pronunciada:   

“Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados”

Mia Couto

Mia Couto. Foto: AFP PHOTO/FRANCOIS GUILLOT

 

Proativo

Em pouco menos de um mês, as chuvas vão chegar e as faixas de pedestres ainda não receberam reforço de tinta. Nem as linhas de asfaltos e sinalizações necessárias. Agora é o momento para limpar as bocas de lobo, recolher lixos em áreas abertas.

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

 

É sério?

Se, em vários países sérios, que honram o direito à privacidade, o compartilhamento de dados entre órgãos públicos é fato, não há como compreender que essa prática não seja adotada no Brasil.

Na real

Com tanta verba destinada à Secretaria de Educação, parece impossível imaginar que alguém carimbe a mão de um aluno para não repetir a alimentação. Caso a Secretaria de Educação não entenda, uma das razões para se frequentar as escolas é justamente o lanche e o jantar. Certamente não é o excelente nível de instrução dispensado.

Foto: Reprodução

 

Pressa

As comissões do Senado estão com um tempero diferente. Os parlamentares se ouvem mais nervosamente porque muitos estão em campanha. Foi o caso do senador Romário, quando tentou driblar o senador Omar Aziz. Mas não deu certo. Teve que aguardar a vez para o pronunciamento.

Senador Romário. Foto: senado.leg.br

 

História de Brasília

Já começaram a retirar as cadeiras novinhas, de formica, para colocar no barracão imundo. Dentro em pouco, nem mel nem cabaça. Ninguém é responsável, e a escola continua funcionando num barraco horrível. (Publicada em 10.03.1962)