Menos idealismo, mais humanismo

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Charge do Shovel

 

Pensadores sobre os caminhos da humanidade, uma especialidade cada vez mais rara nas sociedades modernas, costumam afirmar que, ao contrário do que muitos ainda acreditam, o mundo já  não necessita tanto de idealismos do tipo político. Vejam: o século XX, como aponta o filósofo Roger Scruton (1944-2020), foi forjado por idealismos políticos como o nazismo, o fascismo e o comunismo e todos sabem hoje no que resultaram essas opções.

Naquela ocasião, seus defensores, repetidamente, desenhavam ou simplesmente idealizavam um mundo à maneira de seus projetos, sem levar em conta como o mundo e a humanidade são de fato. Para tanto, não se furtavam do direito de transformá-lo à imagem do que pretendiam. Como consequência dessa sandice megalomaníaca, todos eles cometeram, sem remorso algum, crimes de genocídio e outros atentados graves contra a humanidade. “O consolo das coisas imaginárias não é um consolo imaginário”, dizia o filósofo para quem a ordem moral precede todas as coisas, inclusive a ordem econômica. O relativismo pregado pelos idealistas, no afã de tornar suas ideias plausíveis, serve também como refúgio para esses canalhas.

Venezuela ou Cuba são um retrato fiel a mostrar os resultados dos idealismos políticos, levados a última instância e que reafirmam que se pode quebrar um país e mesmo uma nação inteira, desde que o idealismo político seja cumprido tal como estabelecido por dirigentes lunáticos.

De fato, o Idealismo sem Humanismo tem sido a grande tragédia do nosso tempo. Pois há algo de profundamente preocupante na repetição histórica dos erros humanos. Desde os impérios antigos até os totalitarismos do século XX, uma constante se mantém: quando o idealismo político se divorcia do humanismo, o resultado é a tragédia. Scruton, que compreendeu como poucos as armadilhas do pensamento utópico, advertia que a “ordem moral precede todas as coisas”.

Quando a política se arroga o direito de redesenhar o mundo conforme um projeto abstrato, o ser humano, que deveria estar no centro de tudo, torna-se mero instrumento da causa. E é justamente aí que começam as catástrofes. O século XX foi o grande laboratório dos idealismos políticos. Nazismo, fascismo e comunismo, cada qual com sua retórica redentora, prometeram mundos novos, sociedades perfeitas e homens regenerados. No entanto, o que deixaram foram sangue, ruínas e desilusões.

Sob a bandeira da pureza racial, da ordem absoluta ou da igualdade total, milhões foram exterminados, perseguidos ou reduzidos a sombras de si mesmos. Esses movimentos tinham em comum uma crença cega: a de que o homem pode ser moldado à imagem de uma ideia. E, como toda crença sem compaixão, ela degenera em barbárie. A lição, contudo, parece não ter sido aprendida. O mundo contemporâneo, anestesiado por ideologias recicladas e discursos populistas, volta a flertar com os mesmos delírios.

Nosso vizinho, a Venezuela, é o exemplo mais contundente dessa tragédia moderna: um país outrora rico, vibrante e culturalmente potente foi arruinado em nome de um ideal político. Sob o pretexto de justiça social, destruiu-se a economia, calou-se a imprensa e esvaziou-se a liberdade.

Cuba, com mais de meio século de ditadura, é outro retrato sombrio do idealismo sem alma, um paraíso prometido que virou prisão a céu aberto, onde a sobrevivência substituiu a esperança. O perigo é que esses fantasmas já rondam o Brasil. Por aqui, o discurso do “bem comum” frequentemente serve de disfarce para o aparelhamento do Estado, a imposição de verdades únicas e o desprezo pelos valores morais que sustentam uma sociedade livre.

A polarização política, transformada em religião de massas, faz com que o debate seja substituído pela excomunhão do diferente. Em nome de projetos ideológicos à esquerda ou à direita, o país vai se afastando daquilo que realmente importa: o ser humano, sua dignidade e sua liberdade de pensar. O Brasil, em sua essência, sempre foi plural, diverso e criativo. Mas, nos últimos anos, o discurso maniqueísta tomou conta das instituições e da vida pública. A política, que deveria ser espaço de diálogo, virou um campo de batalha moral onde não há adversários, apenas inimigos. Os idealistas modernos, herdeiros dos mesmos delírios que Scruton condenava, acreditam que podem salvar o país por decreto, por censura ou por intervenção judicial.

Esquecem que nenhum regime, por mais virtuoso que se proclame, pode resistir quando o ser humano deixa de ser o centro das decisões. As universidades, outrora berços do pensamento crítico, tornaram-se trincheiras ideológicas. O debate foi substituído pela doutrinação, e o aluno, que deveria ser incentivado a pensar, é treinado para repetir. A imprensa, por sua vez, perdeu a isenção que lhe dava credibilidade, tornando-se muitas vezes porta-voz de projetos partidários. E a sociedade, mergulhada em redes de ódio, já não distingue o verdadeiro do falso. O resultado é um ambiente moralmente degradado, onde a verdade é negociável e a ética, relativa.

 

A frase que foi pronunciada:

“O idealismo é a virtude da inexperiência.”

Emanuel Wertheimer

Emanuel Wertheimer. Imagem: emanuel-wertheimer.de

Medo e insegurança

Com a confusão entre as obrigações da Neoenergia e CEB, o que a população está vendo é que o número de postes sem luz pela cidade é cada vez maior.

Foto: portalvarada.com
De acordo com a Neoenergia, o fornecimento foi normalizado às 15h30. – (crédito: Divulgação/Neoenergia)

 

História de Brasília

Idéia interessante seria se o cel. Cairoli determinasse que os bombeiros, com o uso dessas lanchas, destocassem as partes perigosas do Lago, que são muitas. (Publicada em 10.05.1962)

Soberania e o poder que escapa das mãos do povo

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Foto: Ministério da Defesa_149º aniversário da Batalha do Riachuelo/CC by 2.0 (Wikicommons)

 

Do ponto de vista político e filosófico, o conceito de soberania é um dos mais complexos e centrais da teoria do Estado — e também um dos mais debatidos entre cientistas políticos, juristas e filósofos ao longo da história. Em essência, soberania designa o poder supremo e independente de um Estado de decidir sobre si mesmo e sobre os que vivem sob sua autoridade, sem estar sujeito a nenhuma instância superior. Mas esse conceito, que parece simples, ganhou contornos muito distintos conforme o tempo e o contexto histórico. A noção moderna de soberania surgiu no século XVI, com Jean Bodin, considerado o primeiro teórico a definí-la de forma sistemática. Para Bodin, soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma república — isto é, um poder que não reconhece superior na ordem temporal. Esse pensamento nasce em meio à crise do feudalismo e ao fortalecimento dos Estados Nacionais, que buscavam centralizar o poder nas mãos de reis e príncipes.

Durante séculos, a palavra soberania simbolizou, ao seu território e seu povo, um ideal nascido no berço do mercantilismo e consolidado com a formação dos Estados Nacionais no século XV. Do ponto de vista da ciência política, a soberania passou por uma profunda transformação com a globalização, o avanço das organizações internacionais e a interdependência econômica. Hoje, muitos cientistas — como Jürgen Habermas, Hannah Arendt e David Held — sustentam que a soberania já não pode ser vista como absoluta. Habermas, por exemplo, propõe o conceito de soberania comunicativa, segundo o qual o poder político deve emergir do diálogo racional entre cidadãos livres e iguais — um poder legitimado pelo consenso, e não pela força. Arendt, por sua vez, desconfiava da própria ideia de soberania como domínio, pois acreditava que a política verdadeira nasce da ação coletiva e da liberdade, não da imposição de autoridade. Para Held e outros teóricos do cosmopolitismo, a soberania hoje é compartilhada entre Estados, organismos internacionais, corporações e até movimentos sociais transnacionais.

O poder deixou de ser puramente territorial e passou a circular em redes de influência globais. Naquela época, soberania significava independência, autoridade e capacidade de decidir o próprio destino sem interferências externas. Era o alicerce da autodeterminação dos povos. Mas, passados mais de quinhentos anos, o conceito parece ter se esvaziado, especialmente quando observamos a realidade brasileira, onde o poder soberano do povo, em tese consagrado pela Constituição, parece diluído entre interesses políticos, econômicos e ideológicos. Hoje, no Brasil, a soberania tornou-se um discurso conveniente, manipulado conforme o interesse de quem ocupa o poder. Políticos, juízes e militares a evocam quando lhes convém, mas raramente em defesa autêntica da vontade popular. O cidadão comum, que deveria ser o verdadeiro soberano numa democracia, vê-se cada vez mais afastado das decisões fundamentais do país. As instituições, enfraquecidas pela polarização e pela perda de confiança, parecem servir mais a projetos de poder do que ao bem público.

A tensão é evidente. Washington observa com inquietação certos sinais vindos de Brasília: o avanço de políticas que flertam com o controle da informação, o cerceamento da imprensa, a criminalização de opiniões divergentes e a tentativa de domesticar o pensamento livre. A retórica da “defesa da democracia” vem sendo usada, ironicamente, para sufocar o próprio exercício democrático. A submissão travestida de pragmatismo revela uma contradição profunda: queremos ser soberanos, mas não temos coragem de sustentar o preço da soberania. É preciso resgatar o sentido original do termo. Soberania não é apenas o direito de um Estado sobre suas fronteiras, mas o dever de garantir que o povo, e não os interesses de elites ou potências estrangeiras, seja o verdadeiro condutor do destino nacional. Quando a liberdade de expressão é ameaçada, quando o debate público é censurado e quando a oposição é tratada como inimiga, a soberania deixa de ser um princípio para tornar-se uma farsa.

O Brasil precisa decidir de que lado está — não entre direita e esquerda, nem entre Norte e Sul —, mas entre ser um país verdadeiramente livre ou um território tutelado por ideologias e poderes que não nascem da vontade popular. Enquanto o cidadão for o último a ser ouvido, a soberania será apenas uma palavra bonita nas constituições e nos discursos oficiais, mas sem vida nas ruas, nas urnas e nas consciências. Em tempos em que a voz do povo é silenciada em nome da “ordem”, e a independência nacional é negociada nos bastidores, resta-nos recordar: um país sem soberania é apenas um cenário de conveniências; e um povo sem voz, por mais que vote, já não é dono do próprio destino.

A frase que foi pronunciada:

“O que, autocracia ou democracia, é realmente mais adequado à China moderna? Se basearmos nosso julgamento na inteligência e na capacidade do povo chinês, chegaremos à conclusão de que a soberania do povo seria muito mais adequada para nós.”

Sun Yat-sen

Sun Yat-sen, c. 1911–12. Enciclopédia Britânica, Inc.

 

História de Brasília

Em vários eixos de acesso da W-3, os bueiros do DAE atingem, às vêzes, a mais de 30 centímetros de altura, no meio da pista, constituindo um sério perigo para o tráfego. (Publicada em 10.05.1962)

Polarização faz mal para a saúde

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Foto: Reuters / S. Moraes

 

Não é de agora que a esquerda no Brasil tem recorrido, costumeiramente, à retórica da luta de classes, colocando pobres contra ricos e efetivando, na prática, o “nós contra eles”. Essa estratégia, vista historicamente, é uma forma de desunião da população, favorecendo quem detém o poder para manter o controle, mas, atualmente, também tem sido usada para denunciar desigualdades econômicas e sociais profundas, ainda que gere polarização.

Notícias indicam que essa incitação pode levar o país a um caminho difícil, como o da Venezuela, marcada pela crise econômica e social severa. A retórica da luta de classes e a polarização no Brasil pode ser também um mito providencial. A imprensa mostra que a polarização política atual é uma expressão direta da luta de classes, onde existe um antagonismo explícito entre interesses das classes trabalhadoras e das elites econômicas.

Ocorre que, nos discursos das autoridades, as palavras parecem ser levadas pelo vento, desprovidas de compromisso com a realidade que pretendem transformar. O que se observa, de fato, é que, embora cultivem o discurso da luta entre ricos e pobres, tais autoridades acabam por estimular a população a voltar-se contra elas próprias, pois são justamente essas figuras públicas que se apresentam como símbolo maior da desigualdade que dizem combater.

Desfilam em trajes de alto custo, exibem relógios inacessíveis à imensa maioria dos cidadãos, hospedam-se em hotéis de luxo e promovem viagens dispendiosas, muitas vezes destinadas a companheiros de conveniência, e não a técnicos ou especialistas. Essa ostentação reiterada consolida, no imaginário coletivo, a percepção de que os verdadeiros detentores da riqueza no país são os próprios políticos — indivíduos que, em sua maioria, atuam movidos por interesses particulares ou partidários, relegando, aos contribuintes, o papel de sustentar, com seus impostos, o peso de uma máquina pública inchada e entregue aos excessos da própria gastança.

Obviamente, existe consequência dessa retórica para a paz social. Conflitos entre grupos com diferentes interesses econômicos costumam ser manipulados politicamente, causando rupturas sociais e dificuldades para a convivência pacífica. Isso torna o país vulnerável a crises políticas e econômicas mais profundas, afetando a qualidade de vida da população, especialmente dos mais vulneráveis. Fatos como estes levam, necessariamente, a comparações com a vizinha Venezuela. O caso da Venezuela serve como laboratório para este tipo de experimentação, trazendo também um sério alerta para nosso futuro. Lá, a luta extremada entre classes e o enfrentamento ideológico resultaram em uma crise econômica e social gravíssima, com hiperinflação, escassez de alimentos, desemprego e um estado de colapso social.

O divisionismo faz mal para ao nosso país. Ao seguir a mesma lógica de polarização acirrada, baseada em discursos que insuflam o antagonismo de classes, o Brasil corre o risco de acentuar crises sociais e econômicas, dificultando a construção de soluções conjuntas para problemas estruturais. O estratagema de dividir para governar, embora utilizado para controle político, pode minar a coesão social e empurrar o país para um beco sem saída semelhante ao vivido pela Venezuela, com instabilidade e piora das condições de vida.

Há dados concretos que mostram o impacto da polarização política na violência e conflitos sociais no Brasil. Segundo estudo do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE) da Unirio, entre janeiro de 2019 e maio de 2024, ocorreram 133 casos de violência política envolvendo parlamentares federais, incluindo agressões físicas e ameaças, revelando o aumento da disputa política acirrada em contexto de polarização. A pesquisa da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), realizada em 2022, mostrou que 3,2% dos entrevistados, cerca de 5,3 milhões de brasileiros, relataram ter sofrido ameaças por suas posições políticas. Além disso, 67,5% disseram ter medo de agressões físicas por conta de suas escolhas políticas, o que reflete o clima de intolerância e medo gerado pela polarização. Uma reportagem do Terra destaca que, só em 2024, foram registrados mais de 450 casos de violência política, incuindo 94 casos de violência física e 15 mortes relacionadas a conflitos políticos.

Maria De’Carli, especialista, destaca que a radicalização e a polarização aumentam a intolerância e a agressividade entre eleitores, especialmente com o fortalecimento do chamado “eleitor digital”, nas redes sociais. Dados da Edelman Trust Barometer apontam que 78% dos brasileiros percebem um aumento da divisão ideológica, e 80% notam um crescimento da falta de respeito mútuo. O mesmo levantamento revela que apenas 29% estariam dispostos a ajudar alguém com opiniões políticas diferentes, indicando um tecido social fragilizado pelo clima de polarização. Esses dados indicam que a polarização política no Brasil tem um impacto direto no aumento da violência política, ameaças, agressões físicas, clima de medo e intolerância social, refletindo uma sociedade cada vez mais dividida e conflituosa.

A frase que foi pronunciada:

“Em política, meu caro, sabe tão bem quanto eu, não existem homens, mas ideias; não existem sentimentos, mas interesses; em política, ninguém mata um homem: suprime-se um obstáculo. Ponto final.”

O Conde de Monte Cristo

Cena do filme OConde de Monte Cristo

 

Merecem reconhecimento

Não são poucas as instituições educacionais ligadas ao governo que deixam de receber as verbas a que têm direito. A Casa do Pequeno Polegar, que cresceu com Brasília, está em obras aos trancos e barrancos, já que não há verbas. Banheiros para funcionários e visitantes na área externa são prioridade.

Foto publicada no perfil oficial da instituição no Instagram

 

Diário

Só os antigos sabem dessa história. Apesar dos maus olhados para o reitor Azevedo da UnB, ele era um homem simples, sem arrogância. Grande amigo do sapateiro Abdias, o convidava sempre para almoçarem juntos.

José Carlos de Almeida Azevedo (25mai76 – 16mar80) (16mar80 – 12mar85). Foto: Arquivo Central (ACE)

Agenda

Maria Izabel de Aviz convida para o lançamento do livro Psicoterapia Fenomenológica II (O método fenomenológico). O evento será no dia 17, às 19h, no Salão Paroquial Santo Cura D’Ars, na 914 da Asa Sul. Dom Aviz, irmão da escritora, que estava em Roma, estará presente na solenidade.

 

História de Brasília

Na Quadra 7 do SCR as calçadas não estão completas. Onde há casa comercial, a calçada é feita. Onde há passagem para a W-2 é todo esburacado o piso. (Publicada em 10.051962)

A parte visível, nua e crua da nossa crise econômica

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Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

Há quem diga que Calcutá é aqui. E não sem razão. De acordo com o Observatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de pessoas em situação de rua no Brasil dobrou em pouco menos de dois anos, passando de 160 mil para 345 mil em 2025. Temos agora nessa condição uma população maior do que muitas cidades brasileiras, numa clara demonstração de que o empobrecimento de uma parcela significativa dos brasileiros segue aumentando perigosamente.

Sobretudo para aqueles que habitam nas grandes capitais do país, é cada vez mais visível e preocupante o número de pessoas pedindo esmolas ou vivendo de pequenos bicos. Essa percepção é um forte indicador, maior até do que qualquer estatística econômica a mostrar de que estamos, mais uma vez, num rápido processo de empobrecimento geral, onde nem mesmo a classe média parece escapar. Some-se a esse fator observável o fato de que há, nas principais ruas de comércio do país, um número assustador de estabelecimentos varejistas fechando as portas.

Crise econômica, inflação e mesmo déficit habitacional têm se somado para expulsar as pessoas de suas casas. A crise urbana é o lado escuro de uma realidade que nenhuma propaganda do governo consegue esconder. A miséria salta aos olhos. Nas calçadas, nas praças, nos viadutos e nas ocupações improvisadas, vive uma população em carne e osso cuja realidade fere qualquer discurso oficial: são centenas de milhares de brasileiros que perderam o teto, a dignidade, a segurança mínima para existir.

A partir desses rastros visuais tanto quanto dos números frios, revela-se uma crise social tão concreta quanto cruel, cujo agravamento recente expõe falhas sistêmicas, indecisões e omissões do governo federal. Segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, o Brasil viu em menos de dois anos um crescimento explosivo e incontrolável no número de pessoas em situação de rua e de extrema pobreza. Em dezembro de 2024, estimava-se que  327.925 pessoas estavam vivendo nas ruas, ou seja, um aumento de cerca de 25% em apenas um ano, em comparação ao fim de 2023. Em março de 2025, o dado sobe de novo para 335.151 pessoas nessa condição, de acordo com os registros do Cadastro Único do Governo federal.

Diversos perfis dessa população  denunciam escancaradamente desigualdades estruturais: cerca de 85% são homens, 70% são pessoas negras, quase 10 mil são menores de 17 anos e mais de 30 mil, idosos, segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua. A maor parte não tem acesso a nenhum abrigo.

Mas os moradores de rua são apenas a ponta visível de um iceberg ainda maior. No mercado de trabalho, por exemplo, há dados contraditórios: as taxas de desemprego formal baixam, em termos percentuais oficiais a taxa de desocupação chegou a 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor patamar da série histórica do IBGE, que começou em 2012. Também o rendimento médio dos trabalhadores com carteira assinada tem apresentado recordes em algumas frentes, embora isso não signifique necessariamente que esse rendimento seja suficiente para suprir necessidades básicas. Contudo, esse quadro melhorado em parte do emprego formal contrasta violentamente com a violência da inflação, os elevados juros, o alto custo de vida, a informalidade persistente ou crescente, e sobretudo com a incapacidade de muitas famílias da chamada “classe média baixa” de manter padrões de vida razoáveis.

Outro dado que denuncia o empobrecimento coletivo: o varejo, termômetro das economias domésticas, demonstra fragilidade crônica. Um levantamento da empresa de inteligência geográfica Cortex mostra que, entre janeiro de 2014 até agosto de 2024, foram abertas 11,6 milhões de lojas, mas 7 milhões fecharam nesse mesmo período. Ou seja: para cada 10 estabelecimentos novos, quase seis fecham as portas num prazo que, em muitos casos, é curto demais para recuperar o investimento. Isso significa não apenas perda de empregos diretos e indiretos, mas uma deterioração da oferta econômica local, fechamento de comércio de rua, perda de renda para comerciantes menores, deterioração urbana. É também sinal de insegurança de investimentos, de crédito caro ou inacessível, de custos fixos que vencem receitas espremidas pela inflação ou pela queda no poder de compra.

Se escavarmos os discursos oficiais, encontramos promessas de planos e programas: “Plano Ruas Visíveis”, articulações para assistência social, auxílios, habitação. Ocorre que, frente aos números, essas promessas se mostram insuficientes, lentas ou mal aplicadas. O déficit habitacional, apontado em vários estudos, permanece gigantesco; há muitos imóveis vazios nas grandes cidades, mas faltam políticas efetivas de ocupação, reforma, uso desses imóveis para abrigos ou habitação social. Também se nota que mesmo com desemprego em queda, a informalidade continua alta  muitos empregados sem carteira ou em trabalho por conta própria subsistem sem proteção social, sem estabilidade, com rendas que mal cobrem os aumentos de custos. Os ajustes fiscais feitos para controlar inflação ou déficit público, muitas vezes via juros elevados ou cortes em programas de assistência, agravam a desigualdade ou empurram famílias para a beira da linha de pobreza.

O que os números não contam apenas em estatísticas, contam nas ruas: um país que convive de novo com pobreza visível, com pessoas pedindo esmolas, com crianças dormindo sob marquises, com famílias que perdem a casa ou cedem espaço de moradia para dívidas ou para priorizar alimentação. O pior é que, ao longo dos últimos anos, o governo repetiu erros que agravam a crise, com a subestimação da gravidade econômica social quando políticas são desenhadas com base em médias macroeconômicas otimistas, ignorando o sufoco das famílias. É o caso das políticas de controle inflacionário que penalizam os pobres, como juros altos, tarifas energéticas ou congelamentos mal-calibrados.

Além disso, há a descontinuidade ou a lentidão na execução de programas sociais prometidos: demora em construir, reformar, entregar apoio direto ou habitação. Também a estrutura tributária desigual e os custos de vida crescentes (energia, transporte, alimentos) que corroem qualquer ganho de renda formal. Por fim, o foco excessivo em indicadores de emprego e formalização, sem assegurar qualidade de vida, proteção social, moradia, acesso à saúde, educação e segurança alimentar.

Reformas consideradas estruturais em tributação, habitação, assistência social, acesso ao crédito não são luxo, são urgência. Caso contrário, veremos um país “com rosto de Calcutá” se expandir para além dos centros urbanos, em cada esquina, em cada vitrine fechada. Este é o momento de responsabilidade: ou se muda o curso com coragem, ou aceitaremos que a miséria se torne rotina também para muitos que ainda hoje creem estar fora dela.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A pobreza não é um apelo a uma ação generosa de socorro, mas uma demanda para que mudemos as estruturas da sociedade que tornam os pobres mais pobres”.
Sem autor, na internet

Charge do Cazo

 

História de Brasília
A coluna atrás da Igrejinha N. S. de Fátima está com esta inscrição feita apressadamente: “Padre, não. Comunista, sim.” Obra de desocupado, de quem não tem o que fazer. (Publicada em 10/5/1962)

Com sangue nos olhos

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Benjamin Netanyahu. Foto: cnnbrasil.com

 

Para todos aqueles que acompanham o noticiário internacional não restam dúvidas de que o mundo assiste a um aumento sem precedentes do antissemitismo, colocando, mais uma vez, o povo judeu no centro da história, além de remeter grupos, governos e pessoas de volta aos vexaminosos bancos dos réus, numa espécie de reedição do Tribunal de Nuremberg. O futuro mostrará quem são os novos algozes de Israel e porque agem de forma tão desumana.

Mesmo depois do Holocausto, ainda é possível observar que o antissemitismo e o fanatismo persistem num mundo que se acreditava moderno e que teria, em tese, aprendido com as experiências macabras dos nazistas. O 7 de outubro de 2023, ocasião em que o Hamas perpetrou o maior assassinato de judeus desde o Holocausto, parece não ter servido de lição à uma parte do mundo, principalmente aquela formada por globalistas da esquerda, que nutrem, pelos judeus, um ódio do tipo patológico semelhante àquele exalado pelos adeptos das teorias eugenistas do século passado. Os mesmos atos vergonhosos se repetem até por quem deveria, por função de ofício, manter a postura da diplomacia. É o caso aqui do comportamento dos representantes do Brasil com assento na Organização das Nações Unidas (ONU).

Tão logo o primeiro-ministro de Israel assumiu a tribuna, a delegação brasileira saiu do plenário em fila indiana, numa clara manifestação que revela a pequenez dos nossos representantes. Com essa atitude, ficou claro que as autoridades brasileiras seguem os mesmos passos dos anões diplomáticos.

Embora a própria ONU tenha perdido, por completo, a capacidade de regular as relações entre as nações, o fato é que o antissemitismo não se avexa em se apresentar publicamente, envergonhando a todos quanto ainda acreditam na superioridade sem par do humanismo. Israel, ao contrário do que prega nosso governo e outros pelo mundo, não foi criada como uma espécie de demonstração ou de compensação pelos horrores do Holocausto e não terá seu fim decretado por terroristas ou governos equivocados como é no nosso caso. A consolidação do povo judeu em Israel é fruto de tratados honestos, feitos à luz do dia e com base na compra legal de terras, no que era antes um deserto árido e infértil. A ida das populações de judeus para Israel deu vida e alma a uma região que antes ninguém reivindicava para si, porque era um imenso vazio povoado apenas por pedras e areia. A ONU sim, foi criada após o Holocausto e mesmo assim parece ter perdido a memória ou o juízo.

Hoje, não passa um dia sequer sem que tenhamos que testemunhar, pela imprensa que ainda pensa e escreve, atentados contra judeus e sinagogas. Vergonha das vergonhas, temos hoje um governo considerado persona non grata em Israel, por suas declarações e posições claramente antissemitas e favoráveis a grupos terroristas. Não é exagero afirmar que o mundo vai repetindo conscientemente o roteiro de um antissemitismo doentio e amoral. Episódios recentes de nada serviram, não há justificativa possível para a violência dirigida contra o povo judeu.

O Brasil, que já teve tradição de equilíbrio e protagonismo na diplomacia internacional, expõe-se agora ao vexame de não ser considerado, por Israel, um país cuja legitimidade deveria ser defendida como conquista civilizatória e não relativizada em função de alianças circunstanciais. O que dizer às centenas de milhares de judeus que hoje vivem em nosso país?

Israel converteu uma região inóspita em campos férteis, cidades modernas e polos de inovação, que hoje exportam ciência, tecnologia e cultura ao mundo. A consolidação do Estado judeu é um feito histórico que representa não apenas a vitória da resiliência de um povo perseguido, mas também a contribuição concreta para o progresso global da humanidade.

Do outro lado da fronteira, o que se tem são inimigos que agem como marionetes, guiados pelas mãos sangrentas de um Alá político e de um Islã que odeia tudo o que é Ocidente. Basta olhar os números: Israel investe mais de 5% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, liderando o ranking mundial em inovação tecnológica. O “Vale do Silício do Oriente Médio” produziu inovações que vão do microchip ao aplicativo de navegação usado em carros no mundo inteiro. Avanços médicos desenvolvidos por cientistas israelenses salvaram milhões de vidas: da descoberta de tratamentos contra o câncer à criação do primeiro marcapasso eletrônico.

A agricultura de irrigação por gotejamento, desenvolvida em kibutzim israelenses, revolucionou a produção de alimentos em regiões áridas do planeta. A cibersegurança, que protege governos e empresas em escala global, também tem raízes no know-how israelense. A contribuição judaica para a humanidade, no entanto, não se restringe a Israel.

Ao longo dos séculos, personalidades de origem judaica mudaram a história do pensamento, da ciência e da cultura. Albert Einstein redefiniu a física moderna. Sigmund Freud abriu novos horizontes para a compreensão da mente humana. Jonas Salk erradicou a pólio. Franz Kafka, Leonard Cohen, Steven Spielberg, a lista é infindável e atravessa áreas que vão da literatura às artes, da música à filosofia.

O que seria da civilização contemporânea sem essas contribuições? Ignorar esse legado é mais do que injustiça histórica. É ceder ao obscurantismo. O antissemitismo, seja travestido de política diplomática ou de pseudo-progressismo, não é apenas uma afronta ao povo judeu. É um ataque frontal ao próprio humanismo.

Quando governos, como o do Brasil atual, se permitem acenos complacentes a grupos terroristas e fecham os olhos à violência que atinge sinagogas, escolas judaicas e cidadãos comuns, eles não apenas se colocam contra Israel, mas contra a própria memória civilizatória. Estamos diante de um dilema ético. Permanecer em silêncio diante do ressurgimento do ódio contra os judeus é permitir que as trevas do século XX se repitam. O mundo já viu até onde isso pode chegar. A questão é se teremos coragem de impedir a repetição da história. Governos que hoje preferem posar de “equilibrados” em fóruns internacionais serão lembrados amanhã não pela prudência, mas pela covardia e por se postarem ao lado de delinquentes que agem com sangue nos olhos.

 

A frase que foi pronunciada:

“O antissemitismo sofre mutações e, com isso, derrota o sistema imunológico criado pelas culturas para se protegerem do ódio. Houve três dessas mutações nos últimos dois mil anos (nas quais os judeus foram odiados por serem uma nação, odiados pelos cristãos como parte da doutrina da Igreja e odiados por serem supostamente racialmente inferiores), e estamos vivendo a quarta (o antissionismo).”

Rabino Lord Jonathan Sacks, 2009.

Rabino Lord Jonathan Sacks (Foto cedida)

 

História de Brasília

Rebatemos as insinuações, porque custa-nos crer que homens de gabarito como o cel. Barlem e o dr. Valdir Santos participem de uma Comissão para não apurar a verdade. (Publicada em 10.05.1962)

O café nosso de cada dia

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: © Marcello Casal jr/Agência Brasil

 

Não é de hoje que o Brasil é conhecido como a terra do café, não apenas pela quantidade que produz como pela qualidade também do produto. Entre novembro de 2023 e outubro de 2024, o consumo per capta de café foi de 6,26 quilos por ano, o que significa que nosso país é o maior consumidor de cafés nacionais e o segundo maior do mundo, isso de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de café (ABIC). O consumo mundial de café gira em torno de 177 milhões de sacas de 60 Kg. Internamente, o consumo é de 21,9 milhões de sacas nos últimos doze meses. Ocorre que, nos últimos meses, em decorrência de um aumento nos preços do produto de 40%, o que se observa é que há uma queda acentuada no consumo interno.

Por outro lado, um problema seríssimo tem afetado o gosto dos brasileiros pelo cafezinho diário. E é aqui que mora o problema. De uns anos para cá, tem aumentado muito as ocorrências policiais que mostram que o café que chega nas mesas dos brasileiros é cada vez menos café e mais outros produtos. A falsificação e a adulteração do produto têm crescido nos últimos anos e isso tem espantado os consumidores. A questão é que a falta de uma fiscalização adequada tem favorecido as quadrilhas que mais e mais ousam comercializar cafés impróprios para o consumo e de variadas marcas. A ingestão desses produtos adulterados traz um sério risco à saúde e não surpreende que tenha aumentado também os casos de intoxicação.

Os altos preços e a duvidosa qualidade de muitos desses cafés têm feito com que os consumidores mudem seus hábitos diários, inclusive deixando o café de lado. Ao fugir dos preços altos, o consumidor acaba trocando o café por marcas mais baratas, e isso só faz aumentar o problema, já que muitas dessas marcas mais em conta possuem, em sua composição, produtos diversos, que estão misturados ao café. A falsificação do café não é um fato novo, sempre existiu. Ocorre que, nos últimos anos, o problema tem crescido para além do poder de fiscalização da Anvisa e outros órgãos nacionais. Os selos de qualidade nada impedem que o produto continue a ser falsificado e adulterado.

Diante desse flagelo, a exportação do café brasileiro para o mundo tem sido enormemente prejudicada, chegando a cair mais de 20% no ano passado. A extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC), em 1990, em nada ajudou o setor e muitos chegam a considerar que isso abriu as portas para a desvirtuação do café e o aumento de marcas de baixa qualidade. Não há como separar a identidade brasileira do café. Somos um dos maiores produtores e exportadores globais, com safras volumosas e uma cadeia produtiva de enorme importância econômica, social e cultural. Contudo, por trás desse cenário de liderança, há um crescente problema que ameaça a credibilidade do setor, a saúde pública e o hábito do brasileiro de tomar seu cafezinho diário: a falsificação, a adulteração e a degradação da qualidade do café consumido no mercado doméstico.

Nos últimos meses, diversas ações de fiscalização mostraram que o risco deixou de ser apenas hipótese e virou realidade concreta. Em 2 de junho de 2025, a Anvisa determinou o recolhimento imediato de produtos de três marcas (Melissa, Pingo Preto e Oficial do Brasil) de “pó para preparo de bebida sabor café”. Os motivos foram várias irregularidades: presença da micotoxina ocratoxina A, impurezas, matérias estranhas, utilização de resíduos ou “cascas e resíduos de café” — materiais que não podem ser considerados café nos termos da legislação. Nos rótulos, expressão enganosa (“polpa de café”, “café torrado e moído”) e imagens que levam o consumidor a crer que se trata de café puro. A ocratoxina A (OTA) é uma micotoxina produzida por fungos como Aspergillus e Penicillium, que pode causar danos aos rins, fígado, sistema imunológico e está associada ao risco de câncer. Foi detectado que, em testes rápidos em amostras de pó de café torrado/moído no Espírito Santo, algumas ultrapassaram os limites máximos toleráveis para OTA (10 µg/kg). Além da contaminação, foram encontradas cascas carbonizadas, resíduos do beneficiamento, fragmentos de galhos e folhas, ou seja: componentes que não se enquadram na definição legal de café.

O Ministério da Agricultura, por meio do Dipov, realizou operações de apreensão em fábricas de vários estados (São Paulo, Paraná, Santa Catarina). As irregularidades eram graves: produtos rotulados como café torrado, mas que não tinham grãos inteiros aptos à classificação como “café beneficiado”. Esses acontecimentos não são inócuos. Eles repercutem em vários níveis, sobretudo, na saúde pública, com o risco real de contaminação por OTA, com efeitos agudos e crônicos, especialmente perigoso para grupos vulneráveis (crianças, pessoas com problemas renais ou imunitários).

A confiança do consumidor: quando o consumidor descobre que o produto que consome pode não ser café, ou que parte dele é “lixo da lavoura” isso corrói a confiança e confiança é essencial para manutenção de hábito de consumo, mesmo com preços mais altos. Imagem do Brasil internacionalmente: exportações recorde no plano externo (volume e receita) contrastam com escândalos internos de falsificação. A percepção externa sobre qualidade pode sofrer. Isso pode aumentar barreiras, exigências de certificações mais rigorosas, reduzir competitividade. Os prejuízos ao setor produtivo legítimo são grandes; produtores que fazem o café corretamente, investem em boa lavoura, processo limpo, certificações e são penalizados por terem que competir com produtos de menor custo que burlam padrões legais, muitas vezes à custa da saúde do consumidor.

Se há algo que o Brasil não pode perder é a confiança de seu próprio povo no café que consome. Mais do que bebida, o café é parte de nossa cultura, de nossos hábitos cotidianos, de nossos encontros, do alento da manhã. Se o consumidor passa a duvidar do que compra, se teme pela saúde, se percebe que os cafés “mais baratos” são menos café e mais resíduos, fragilidade institucional ou conivência, então todo esse patrimônio corre risco.

 

A frase que foi pronunciada:
“Se a vida te der limões, troque-os por grãos de café.”
Da Internet

Ilustração gerada por inteligência artificial

 

História de Brasília

Corre a boca muida na cidade, que a Comissão de Inquérito da Novacap não apurará nada contra ninguém. Nos primeiros dias de trabalho um jornalista carioca procurou atingir a honorabilidade dos seus membros, ressaltando apenas o dr. Bessa. (Publicada em 10.05.1962)

Sem clima para discussões

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Infográfico: Copernicus, 10/01/2025 (G1)

 

Um alerta de especialistas converte-se em uma realidade cada vez mais palpável, perceptível e devastadora, que se antecipa aos prognósticos mais conservadores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Já não se trata de um fenômeno que espreita o futuro em um horizonte nebuloso, mas de uma alteração radical no equilíbrio planetário, ocasionada, sobretudo, pelo modelo econômico adotado pelo homem moderno, cuja lógica de expansão ilimitada exige a exaustão sistemática dos recursos naturais, e que, por essa via, não apenas se instalou entre nós, como ameaça a intensificar-se de modo exponencial ao longo das próximas décadas, arrastando consigo as condições mínimas de sobrevivência para os mais de oito bilhões de seres humanos que hoje habitam a Terra, numa trajetória que poderá repetir, em escala grandiosa, o mesmo destino já reservado a incontáveis espécies de plantas e animais que desapareceram deixando rastros por onde viveram.

Silenciar qualquer ceticismo é simples e brutal quando se verificam os dados: segundo o relatório de 2023 do IPCC, a temperatura média global já se encontra 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais, e caso o atual ritmo de emissões seja mantido, em menos de vinte anos, ultrapassaremos o limite de 1,5 °C, aquele mesmo que, em Paris, chefes de Estado prometeram solenemente não transgredir. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) reforça que os últimos nove anos foram os mais quentes da história desde o início das medições, e que 2024 registrou picos inéditos em ondas de calor, incêndios florestais e eventos extremos, com prejuízos econômicos calculados em trilhões de dólares.

Mas, apesar do caráter alarmante desses números, a reação das lideranças políticas globais segue marcada por uma espécie de alienamento voluntário, um transe coletivo que as mantém entretidas em velhas obsessões, guerras territoriais, corrida armamentista, prospecção desenfreada de minérios, expansão de fronteiras agrícolas sobre ecossistemas frágeis, como se fosse possível postergar indefinidamente o confronto com a realidade climática.

Ironicamente, o que atinge o grau do surrealismo é quando se observa que, em escala planetária, apenas um punhado de países demonstra compromisso concreto com políticas de mitigação, enquanto a maioria age como se os relatórios científicos não passassem de ficções exageradas produzidas por um seleto grupo de ambientalistas. Tal comportamento, repetido ano após ano, leva-nos a um ponto de obviedade: ao insistirmos nesse caminho, o destino parece selado, e com ele se encerra não apenas um ciclo histórico, mas a própria possibilidade de futuro.

No Brasil, o retrato não destoa desse quadro sombrio. Depois das centenas de milhares de focos de incêndio registrados entre 2020 e 2024, que devastaram áreas imensas da Amazônia e do Cerrado, e após enchentes que varreram cidades inteiras do Sul e do Sudeste, ceifando vidas e deixando milhares de famílias desabrigadas, as autoridades resolveram, tardiamente, sair de sua confortável toca refrigerada para ensaiar gestos espetaculosos em defesa do meio ambiente. Surgiu, nesse cenário, a chamada “Autoridade Climática”, instância burocrática destinada a coordenar estratégias do chamado Plano Nacional de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos. Entretanto, como em tantas outras experiências brasileiras, a pompa do anúncio não corresponde ao vigor da prática: enquanto se redigem protocolos, o governo avança em frentes que contradizem a própria narrativa ambiental, como a autorização da exploração de petróleo na foz do Amazonas e o asfaltamento da BR-319, projeto que ameaça uma das áreas mais sensíveis e preservadas da floresta.

No campo da mineração e da agricultura, a contradição se aprofunda, onde o Brasil se mantém refém de interesses externos e de elites internas que se comportam como herdeiras fiéis da lógica colonial. Grandes corporações estrangeiras, pouco ou nada comprometidas com a preservação dos ecossistemas, seguem explorando jazidas estratégicas, deixando, atrás de si, crateras estéreis, cursos d’água contaminados e comunidades inteiras condenadas a conviver com resíduos tóxicos.

No mesmo movimento, a monocultura de exportação, assentada sobre imensos latifúndios e dependente de insumos químicos, avança sobre áreas desmatadas, reproduzindo um ciclo iniciado ainda no século XVI, quando a terra brasileira foi, pela primeira vez, incorporada à lógica mercantil de exploração. O resultado é conhecido, mas nunca verdadeiramente enfrentado: esgotamento do solo, expulsão de populações tradicionais, concentração fundiária e dependência estrutural das commodities, que nos mantêm atrelados a um modelo de desenvolvimento predatório.

Trata-se, em termos práticos, de uma política deliberada de envenenamento: ao priorizar ganhos imediatos na balança comercial, aceitamos comprometer a qualidade da água, dos alimentos e da saúde da população.

 

A frase que foi pronunciada:

“Depois da agricultura, a farsa é a maior indústria da nossa era.”

Alfred Nobel

Alfred Nobel, retrato de Emil Österman, 1915; na Fundação Nobel, Estocolmo. Imagem: © Photos.com/Jupiterimages

História de Brasília

Ademais, o problema da falta de energia elétrica é uma constante preocupação. Quanto ao DI, falta regularizar os lotes para que possam ser vendidos a quem possa construir, e destruir os barracos de madeira. (Publicada em 10.05.1962)

Folha de pagamento dos políticos

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Charge do Bruno

Ao contrário dos políticos, a matemática não engana ninguém. Pelo o que dizem os números relativos à imensa folha de pagamento dos políticos eleitos em todo o país, a conta com os pagamentos de milhares de cargos distribuídos na esfera federal, estadual e municipal se mostra simplesmente impagável. Ou pagamos mensalmente os políticos eleitos, ou deixamos de investir em saúde, educação, segurança e infraestrutura. A conta não fecha. Temos, nessa folha de pagamentos, um presidente da República e um vice. A qual se somam 89 senadores e 513 deputados federais. Mais 27 governadores, e 27 vice-governadores. Além de 1.049 deputados estaduais. Com ainda 5.568 prefeitos mais 5568 vice-prefeitos. Adicione-se ainda 59.931 vereadores, ou seja, 70.794 políticos recebendo todo o mês. Fora os salários relativos ao STF e ministérios.

Tudo isso sem contar os 27 mil assessores para os deputados estaduais, além de 600 mil assessores para os vereadores. Temos assim que, obrigatoriamente, pagar, mensalmente, R$ 10.7 bilhões aos políticos. Ou se empreende uma verdadeira reforma política e administrativa em nosso país, ou vamos prosseguir sem saída nesse labirinto, onde não existem recursos sequer para aliviar o dia a dia dos cidadãos. Obviamente que, para manter essa situação surreal, a saída tem sido aumentar a carga tributária incidente sobre cada brasileiro. Não surpreende que tenhamos, por isso, a maior carga tributária do planeta. Vale lembrar os bilhões de reais que esvaem quase todos os dias na forma de corrupção e malversação dos recursos públicos. Não há nação que possa resistir a esse derrame de dinheiro. E ainda assim prosseguimos aos tropeços.

O Brasil se encontra diante de um dilema estrutural que, mais cedo ou mais tarde, cobrará um preço insuportável: a conta da política não fecha. Ao contrário dos discursos retóricos, a matemática não permite disfarces. Uma engrenagem onerosa que custa, segundo cálculos recentes, mais de R$ 10,7 bilhões mensais apenas em salários de políticos e auxiliares diretos. Essa cifra, por si só, seria escandalosa em qualquer democracia desenvolvida. No Brasil, torna-se trágica porque se soma ao peso de uma carga tributária que já figura entre as mais altas do planeta. O drama não está apenas no volume dos gastos, mas no desvio de finalidade.

Enquanto bilhões são drenados para manter estruturas de poder, a saúde pública colapsa em filas intermináveis, a educação perde qualidade ano após ano e a segurança permanece frágil. A cada centavo que vai para sustentar privilégios, retira-se investimento em políticas que poderiam alavancar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nacional. O resultado é um país rico em potencial, mas pobre em resultados concretos para sua população. Esse beco sem saída se agrava com o ingrediente mais corrosivo: a corrupção.

Estimativas não oficiais apontam para bilhões evaporando todos os anos, um verdadeiro assalto sistêmico ao bolso do contribuinte. E a resposta recorrente dos governos, em vez de cortar gastos e reformar a máquina pública, tem sido sempre a mesma: aumentar impostos. Assim, o cidadão paga mais, recebe menos e permanece prisioneiro de um sistema que privilegia quem já detém o poder. A consequência desse desequilíbrio é devastadora. A desigualdade se perpetua, a produtividade fica estagnada e o país se torna incapaz de competir globalmente.

Enquanto nações emergentes direcionam recursos para inovação, infraestrutura e qualificação da mão de obra, o Brasil permanece atolado em disputas internas e custeando uma elite política onerosa.

O alerta é claro: sem uma reforma política e administrativa profunda, que reduza privilégios, enxugue gastos e direcione os impostos para o desenvolvimento humano e econômico, estaremos condenados a um ciclo de mediocridade. Persistir nesse modelo é empurrar gerações inteiras para a frustração e para a descrença nas instituições. O futuro do Brasil não pode ser a eterna manutenção de uma máquina pública insaciável. O futuro precisa ser a construção de um Estado eficiente, que devolva ao cidadão aquilo que dele arrecada. Caso contrário, não haverá matemática capaz de nos salvar.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“⁠O que falta na educação financeira não é como ganhar dinheiro, mas como gastá-lo.”

Fabio Centeno

Ilustação feita com inteligência Artificial

 

História de Brasília

Ademais, o problema da falta de energia elétrica é uma constante preocupação. Quanto ao DI, falta regularizar os lotes para que possam ser vendidos a quem possa construir, e destruir os barracos de madeira. (Publicada em 10.05.1962)

De olho na Europa parte 2

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Muçulmanos rezam em uma rua de Paris. Foto: istoe.com

 

Haveria, de fato, uma guerra anunciada em toda a Europa, contra o crescimento da imigração mulçumana no continente, principalmente contra o islamismo político e sua insistência em dominar o Ocidente e aniquilar os chamados “infiéis”. As populações na Inglaterra e na Alemanha parecem ter acordado sobre esse problema e ameaçam empreender uma luta contra os mulçumanos expulsando-os do continente numa nova fase de retomada dos territórios como havido no século XV. O que isso pode representar para o futuro da União Europeia? A Europa, berço do Iluminismo e do humanismo moderno, vive hoje um dilema que parece resgatar fantasmas de sua própria história. O avanço da imigração muçulmana, intensificado por crises humanitárias no Oriente Médio e na África, encontra-se no centro de uma crescente polarização política e social dentro do continente. O que antes era tratado como um desafio de integração e multiculturalismo, agora assume contornos de ameaça existencial para parcelas significativas das populações de países como Alemanha e Inglaterra. A comparação com o século XV, quando a Europa cristã se mobilizou contra a expansão otomana, não é mera retórica de grupos radicais, mas vem se tornando referência recorrente em discursos nacionalistas.

A percepção de que o islamismo político não busca apenas coexistência, mas sim hegemonia cultural e religiosa, alimenta movimentos que clamam por uma “reconquista” europeia – não mais de territórios perdidos, mas de valores, identidade e soberania interna. Esse sentimento, ainda que controverso, já encontrou espaço nas urnas. Partidos de direita e extrema-direita, antes marginais, hoje são forças determinantes em países como França, Itália, Hungria e até a Alemanha, onde o AFD tem conquistado eleitores em regiões historicamente resistentes ao radicalismo.

Na Inglaterra pós-Brexit, o endurecimento contra a imigração tornou-se não apenas política de governo, mas também bandeira de setores sociais que veem na presença muçulmana um risco à coesão nacional. O risco imediato para a União Europeia é a fragmentação política. Se, de um lado, há governos que defendem o acolhimento de refugiados e a convivência multicultural, de outro há países que pressionam por fronteiras fechadas e políticas de deportação em massa. O resultado é uma União dividida entre a defesa de direitos universais e a exigência de proteção da identidade nacional. Essa contradição mina a própria essência do bloco, que se pretende unido justamente pela superação das diferenças históricas.

A médio prazo, o cenário pode evoluir para tensões civis mais intensas. Os protestos que se multiplicam nas ruas alemãs contra mesquitas, as marchas inglesas em defesa da “cultura ocidental” e os incidentes de violência em periferias francesas já funcionam como prenúncio de uma possível escalada. Se a retórica de confronto direto contra muçulmanos se consolidar, a Europa corre o risco de assistir a uma guerra interna de narrativas e identidades, capaz de corroer suas instituições democráticas.

Por fim, há a dimensão geopolítica. Uma União Europeia mergulhada em conflitos religiosos internos enfraquece-se como ator internacional. Perde capacidade de negociação, autonomia estratégica e relevância frente às grandes potências. O continente que se orgulhava de exportar valores universais pode, paradoxalmente, fechar-se sobre si mesmo em uma nova Idade das Trevas, marcada não pela escassez de conhecimento, mas pela abundância de medo.

O futuro da União Europeia dependerá, portanto, de sua habilidade em equilibrar segurança e integração, identidade e diversidade, soberania e solidariedade. O desafio é imenso: impedir que o debate legítimo sobre imigração e islamismo político descambe para uma cruzada moderna, capaz de repetir, em pleno século XXI, os piores capítulos da história europeia.

Obviamente, se essa radicalização em torno da imigração muçulmana e do islamismo político ganhar corpo na Europa, os efeitos não se limitam ao plano interno: eles, inevitavelmente, repercutem nas relações externas do continente, inclusive com o Mercosul. Primeiro, porque um continente politicamente fragmentado e socialmente tensionado tende a voltar-se para dentro. Em outras palavras, a União Europeia pode reduzir seu interesse estratégico em acordos internacionais complexos, como o tratado comercial com o Mercosul, que já enfrenta resistência de países europeus preocupados com questões ambientais e agrícolas.

Um endurecimento europeu contra a imigração islâmica poderia reforçar políticas mais restritivas também contra migrantes latino-americanos. A diferença, no entanto, é que a cultura latina respeita a cultura europeia, não tentando impor crenças e pensamentos como fazem os muçulmanos.

Se partidos nacionalistas e protecionistas se consolidarem no poder, cresce a tendência de fechamento dos mercados europeus a produtos agrícolas do Mercosul, sob o argumento de proteger o produtor local. O que já hoje é visto como ameaça à competitividade de agricultores franceses e irlandeses, poderia transformar-se em bloqueio político permanente. Isso abriria espaço para que potências como China e Estados Unidos ampliassem sua influência sobre a América do Sul, diminuindo a relevância estratégica da União Europeia para o Mercosul.

Expulsos mais uma vez da Europa, todo esse contingente mulçumano, que agora busca desestabilizar o continente, viria para a América, não em busca de novas oportunidades de vida, mas para dar prosseguimento a essa ideia de subjugar os cristãos em nome de um Alá radical e belicoso.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Por muito tempo, alguns políticos preguiçosos envolveram líderes de comunidades muçulmanas como um atalho para o engajamento de cidadãos muçulmanos marginalizados.”
Sadiq Khan

Sadiq Khan. Foto: © Frederic Legrand/Shutterstock.com

 

História de Brasília  
A Asa Norte do Plano Piloto continua com os mesmos problemas de há seis meses. No lado comercial, não há compradores, e no lado residencial, não há comerciantes. (Publicada em 10.05.1962)

De olho na Europa parte 1

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Imagem: portal.fgv

 

Não resta dúvida de que existe hoje uma forte desunião interna dentro da União Europeia. Esse fato somado à perda de autonomia estratégica, está relegando esse bloco à União Europeia para um plano em importantes negociações geopolíticas, enfraquecendo significativamente a posição global da Europa e a sua capacidade de defender, de forma independente e coerente, os interesses coletivos da comunidade. De fato, a UE assiste, cada vez mais, a um protagonismo da esquerda globalista nas decisões do bloco e na definição de suas políticas; com isso, passa a enfrentar desafios cada vez maiores e críticas devido a essas posições eurocéticas e anticapitalistas. Com isso, o futuro do bloco é incerto.

É necessário refletir criticamente as tensões internas da União Europeia, sua perda paulatina de autonomia estratégica, o crescimento do euroceticismo e os dilemas que se colocam para o futuro do bloco. Um possível desmanche desse bloco, por pressões internas, pode redesenhar o mapa geopolítico não apenas do continente, mas do resto do mundo. A União Europeia (UE), por décadas, símbolo de cooperação econômica, estabilidade política e integração democrática, enfrenta, hoje, uma crise que vai muito além das habituais disputas de orçamento ou migração. É uma crise de coerência estratégica, de unidade política e de credibilidade externa. Se não encontrar, com urgência, uma linha comum de ação capaz de conciliar soberania nacional e interesses comunitários, corre o risco não apenas de se tornar secundária nas grandes negociações globais, mas de ver seus valores fundamentais corroerem-se de dentro para fora.

Em seu discurso anual sobre o Estado da União, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, fez questão de apelar para uma Europa “livre e independente”, dizendo: “Europa está numa luta por uma Europa livre e independente. Uma luta pelos nossos valores e as nossas democracias… Isso não é uma luta opcional, é uma luta pelo nosso futuro.” Contudo, essa retórica enfrenta desafios práticos, e críticos têm alertado que há um hiato persistente entre o que se promete e o que se executa. Um editorial recente do Le Monde resume bem esse hiato: “O problema da Europa não é a falta de ideias, é a diferença entre a retórica e a implementação.” O jornal aponta que iniciativas como o Clean Industrial Deal, promessas de critérios “made in Europe” para compras públicas, ou contratos massivos com os Estados Unidos vinculados à energia, muitas vezes desmentem os compromissos de autonomia e independência estratégica.

Por outro lado, figuras como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, colocam em termos claros essa tensão entre soberania nacional e centralização europeia. Em discurso no verão de 2024, ele afirmou que “A Europa desistiu de defender os seus próprios interesses” e acusa o bloco de seguir, incondicionalmente, a política externa dos democratas americanos, ao custo da sua própria autodestruição.

Além disso, ex-políticos de peso também se manifestam. Michel Barnier, ex-negociador-chefe de Brexit, em entrevista e em livro, acusa Von der Leyen de conduzir um desvio autoritário em Bruxelas, por concentrar decisões e subestimar o papel dos parlamentos nacionais e sociais no debate. Os fatores dessa desunião européia são múltiplos e vão desde a diversidade dos interesses nacionais: Estados-membros têm realidades muito distintas dos orçamentos, dependência energética, corrente política dominante, relações externas com potências como a Rússia ou China.

O que funciona para Polônia ou Hungria pode parecer risco político ou econômico para França ou Alemanha. Há ainda limites institucionais e de capacidade: a UE tem ambições diplomáticas e militares cada vez maiores, mas suas capacidades concretas em defesa, cooperação externa, produção industrial estratégica permanecem fragmentadas.

Pesquisas acadêmicas recentes apontam que políticas de autonomia estratégica muitas vezes se traduzem, na prática, em “dé-risks” seletivos, ou iniciativas modestas, com inúmeros condicionamentos. Polarização interna com o crescimento de partidos de direita nacionalista e de partidos de esquerda radical ou populista tem exigido que o centro político se desloque para abordagens mais cautelosas, frequentemente mais retóricas que operacionais. Essa polarização mina consenso sobre política externa comum, solidariedade fiscal, requisitos de Estado de direito, e ação contra grandes potências externas. Também a contínua dependência externa persistente com a UE em muitos setores críticos (tecnologia, defesa, energia), de fornecedores externos, alianças militares e rotas logísticas que escapam ao seu controle.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Liderança não te torna especial, o especial é aquele grupo sem ou com o líder trabalhar em equipe, porque o dever do líder é fazer todos trabalharem juntos.”

Nathan Reginhard

Ilustração: Getty Images

 

História de Brasília

Idéia interessante seria se o cel. Cairoli determinasse que os bombeiros, com o uso dessas lanchas, destocassem as partes perigosas do Lago, que são muitas. (Publicado em 10.05.1962)