Sobre a Capital da Esperança

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Minha Capital

 

Há tempos em que o vento sopra contra a bússola. Quando a arte de planejar é abandonada, ou substituída por caprichos momentâneos, até o mais sólido dos alicerces começa a ceder. Essa verdade se aplica com ainda mais força ao organismo complexo político. Uma gestão sem planejamento é como um corpo sem esqueleto: sobrevive, mas vergado, adoecido, desfigurado.

Nosso centro administrativo na capital do país — tão meticulosamente desenhado em papel e sonho — foi, um dia, símbolo de uma promessa racional. Com traços modernos e espírito de vanguarda, pretendia-se erguer não apenas uma cidade, mas um novo modo de habitar o poder. Os eixos da capital não brotaram do acaso: vieram da mente de quem ousou imaginar o depois de amanhã.

Hoje, no entanto, a racionalidade daquele gesto inaugural não condiz com a política nacional abrigada na cidade. O improviso se tornou método. A pressa eleitoral substituiu o traçado técnico. As necessidades de poucos se sobrepuseram ao bem de muitos. Por conveniência ou por cálculo, decidiu-se ajustar a Esplanada dos Ministérios à vontade dos passageiros do turno. O resultado? Um amontoado de desculpas que fazem a gestão envelhecer antes da hora, medidas provisórias, soluções improvisadas e interesses que não aparecem nos diários oficiais.

Há setores da cidade onde o solo treme diante de novas informações. Outros são engolidos por estruturas parasitárias que avançam sem freios sobre cidadãos comuns, em nome de uma lógica que muitos fingem não ver. Não faltam elefantes brancos, erguidos a preços de ouro, cujas sombras cobrem o erário e sufocam o contribuinte. E tudo isso sob o silêncio ou a cumplicidade de quem deveria zelar.

Curiosamente, no seio da capital onde deveriam pulsar centros de estudo e reflexão urbana, impera a ausência. Onde estão os levantamentos técnicos? Onde está o diagnóstico dos pontos frágeis? Não se ouve a voz das academias, tampouco se vê sinal da caneta dos planejadores. A cidade parece agora viver à mercê da política mal calculada como se bastasse sempre “dar um jeito”.

Mas há limites para o improviso. Quando tudo é exceção, a regra desaparece. Quando tudo é urgente, o essencial se perde. E assim seguimos, a passos curtos e apressados, na contramão daquilo que um dia poderia ter sido.

A cidade que foi pensada numa política de futuro é quase um ato de resistência. Talvez, ainda haja tempo. Mas esse tempo exige coragem: de voltar à prancheta, de dizer não ao provisório, de confrontar os interesses rotativos e, sobretudo, de devolver, ao povo brasileiro, o direito de ser pensada com os olhos do amanhã.

Não é por acaso que, pelo mundo, o investimento em inteligência é o que predomina. Essa é a diferença. Fazer política não é remendar buracos ou inaugurar estruturas com placas reluzentes. É preciso visão. E, para isso, é necessário permitir que a técnica fale mais alto do que o aplauso fácil.

O que temos visto, porém, é o triunfo do improviso sobre o critério. Em nome de conveniências passageiras, áreas públicas são loteadas, normas são flexibilizadas e o interesse coletivo é empurrado para um futuro sempre adiado. Cada puxadinho interesseiro tolerado, cada invasão das regras ignorada, cada estrutura faraônica, que serve mais à vaidade do que à função pública, representa uma escolha — e não escolher também é uma escolha. A cidade é espelho disso tudo: reflete não só os traços do tempo, mas também as omissões de quem paga a conta.

Ao fim, resta a pergunta incômoda: o que deixaremos para aqueles que ainda não nasceram? Será que estaremos apenas perpetuando um modelo de política que desaprendeu a pensar? E quando uma cidade, um país, para de pensar, o que sobra é a repetição automática do erro. Não é esse o legado que uma capital, ainda chamada patrimônio, deveria desejar carregar.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“É preciso tanta energia para desejar quanto para planejar.”

Eleanor Roosevelt

Portrait of American diplomat and former First Lady Eleanor Roosevelt (1884 – 1962), early to mid 1940s. (Photo by Stock Montage/Getty Images)

 

Terra sem lei

Se existe uma Lei Geral de Proteção de Dados, não faz o menor sentido um cliente de operadora de celular receber mais de 20 telefonemas de robôs por dia. Pior do que isso é a ouvidoria das operadoras deixarem um som irritante para o consumidor ouvir por mais de 40 minutos sem atendimento. E ainda há o pior: a Anatel só aceita a reclamação se houver registro na ouvidoria da operadora.

Anatel. Foto: gov.br

 

História de Brasília

O auditório da Universidade de Brasília se chama 2 Candangos, como homenagem ao Reitor aos 2 anônimos que morreram na construção da instituição. Em homenagem, diremos seus nomes: Gildemar Marques, de Bom Jesus, Piauí, 19 anos e Expedito Xavier Gomes, de Ipu, Ceará, 27 anos.

Tríplice perigo

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Tríplice Fornteira. Foto: anastra.com

 

Num mundo globalizado como o que temos atualmente, é tolice acreditar que conflitos e guerras que ocorrem a milhares de quilômetros do nosso país, não tragam consequências negativas também para todos nós. E não só economicamente, mas sobretudo consequências deletérias e nefastas à própria segurança nacional. Há tempos, os especialistas em inteligência vêm alertando para a possibilidade da Tríplice Fronteira – formada nas divisas entre o Brasil, Argentina e Paraguai –, vir a se constituir num ninho ou incubadora de grupos terroristas vindos do Oriente Médio, muitos deles fugindo dos conflitos naquela região, onde passaram a ser caçados sem trégua pelas Forças de Defesa de Israel. A maioria desses terroristas dos grupos Hezbollah, Hamas, Fatah, Jihad Islâmica e outros vêm para essa região remota do Sul do nosso continente, com mala, cuia, família e tudo mais, em busca não de uma nova vida para si e seus familiares, mas para dar prosseguimento à sanha terrorista que os move.

Na Tríplice Fronteira hoje estão, sem nenhum exagero, sendo chocados os mais perigosos ovos de serpente que se tem notícia, pois essa é uma região há muito abandonada pelo poder público, onde proliferam e se cruzam todos os tipos de crimes, que vão da prostituição, lavagem de dinheiro, contrabando de armas e drogas, até a falsificação de documentos e de dólares. Ou seja: um ambiente mais do que adequado para a fixação e desenvolvimento de grupos terroristas internacionais. Enquanto o governo brasileiro faz, para dizer o mínimo, cara de paisagem sobre esse problema, os EUA têm feito o que pode para, ao menos, monitorar de perto esses grupos e suas atividades. Para a inteligência americana, a Tríplice Fronteira já é de fato um importante celeiro a abrigar e dar continuidade às ações de grupos terroristas. Além de ser um ambiente propício para abrigar esses fanáticos, os terroristas que por lá vivem encontraram, na boa vontade de governos que os apoiam, todas as facilidades, como é o caso da obtenção de passaportes falsos confeccionados na Nicarágua, Bolívia, Venezuela, Cuba e outros países simpáticos às ações de terror que eles submetem os judeus residentes em Israel.

Com a guerra entre Israel e Irã, a fuga desses criminosos rumo à Tríplice Fronteira aumentou significativamente. Ninguém nega que esses grupos vêm há anos representando uma ameaça contínua a Israel e seu povo. Também o Irã, como é por demais sabido, é o país que vem financiando esses grupos, armando-os e treinando-os para destruir ou como eles afirmam: “varrer Israel do mapa”. Trata-se nesse caso da chamada “doutrina do polvo”, na qual esses grupos representam os braços armados do regime dos aiatolás e a cabeça é o próprio Irã.

Também os chamados voos humanitários que trazem populações expostas à guerra, servem como transporte para esses terroristas virem se esconder no sul de nosso continente. Notícias levantadas pela inteligência americana dão conta que aproximadamente um grupo formado por quase meia centena de integrantes e comandantes de campo do Hezbollah e suas famílias, vieram para a Tríplice Fronteira sob as bençãos dos governos locais, aumentando ainda mais o risco para a segurança interna do Brasil. A Tríplice Fronteira é hoje um polo de financiamento e logística do Hezbollah e outros grupos. A região é usada há décadas por redes ligadas ao Hezbollah e Irã para financiar operações via tráfico de drogas, armas, lavagem de dinheiro e falsificação de passaportes e documentos, aproveitando o controle estatal fraco.

O “Barakat Clan”, grupo libanês-operacional no local, já teve contas congeladas e membros sancionados por ligação com o Hezbollah e por usar cassinos na fronteira para lavar dinheiro. Há ainda evidência de atividades operacionais e planos de ataques. Investigações recentes (como a Operação Trapiche) revelaram prisões no Brasil com suspeitas de preparação de atentados a sinagogas e embaixadas, com apoio de inteligência israelense. A própria Argentina de Milei instalou um Centro de Inteligência na fronteira em janeiro de 2024 para monitorar, justamente, atividades suspeitas e ligações com a infraestrutura terrorista iraniana no triângulo fronteiriço. A transferência de quadros e famílias de militantes é conhecida na região, onde o medo impõe o silêncio.

De acordo com fontes argentinas e americanas, cerca de 400 comandantes do Hezbollah e suas famílias teriam se transferido para a América do Sul — incluindo o Brasil — após um cessar-fogo no Oriente Médio, intensificando as preocupações com o aumento repentino de pessoal ativo na região. Inserção silenciosa desses grupos com agendas potencialmente hostis: pois não se trata de refugiados comuns, mas sim de operacionais com vínculos diretos a grupos que pregam “varrer Israel do mapa” – o que sugere planos ofensivos e não apenas reagrupamentos. Se nossa fronteira é porosa, imagina então um lugar como é essa Tríplice Fronteira, um ambiente permissivo, repleto de redes de tráfico, corrupção, onde vasta comunidade árabe local facilita o disfarce, recrutamento e movimentação desse agentes. Lembrando que essa região foi palco de planejamento operacional dos atentados na AMIA e na embaixada de Israel em Buenos Aires (1992, 1994), que conseguiram atravessar incontáveis milhares de mortos. A ação dos EUA, vigiando ativamente a região, com alertas, sanções e cooperação na revelação de redes financeiras ligadas ao Irã e Hezbollah, tem sido, sistematicamente, ignorada. A reação da Argentina e Paraguai, instalando centros de inteligência, reforçaram patrulhas e congelaram bens ligados a redes terroristas – mostra que há preocupação séria, embora o Brasil ainda esteja aquém, segundo especialistas. É necessário um alinhamento do Brasil, a começar por declarar o Hezbollah como organização terrorista, reduzindo lacunas legais e investindo mais em inteligência e cooperação internacional. Ou o Brasil põe fim a esse espaço estratégico onde proliferam células terroristas ou chegará o momento em que nosso país irá sofrer as consequências desse tipo de amizade peçonhenta.

 

A frase que foi pronunciada:

“Por trás dos slogans havia um vácuo intelectual.”

Henry Kissinger

Henry Kissinger, em 12 de outubro de 1973. Foto: AP Photo, File.

 

História de Brasília

Para os arquivos do automobilismo, aqui estão os números das chapas do desastre do Eixo Monumental:25-94 e 9-9890. (Publicada em 05.05.1962)

Da crisálida à borboleta

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Charge: Nani Humor

 

Algum dia lá adiante, em alguma sala fria de arquivo ou em uma aula de história contemporânea, uma data de janeiro será revisitada com a distância que só o tempo permite. Aquilo que hoje mobiliza manchetes e entusiasmos será observado com olhos mais contidos, mais analíticos, menos apaixonados. Porque a memória, com o correr dos anos, tem o curioso hábito de revisar tudo aquilo que o presente consagrou como verdade. O que se celebra como firmeza, talvez soe como encenação. O que se apresenta como justiça, poderá um dia ser lido como teatro. E o que hoje é apontado como “exemplo”, amanhã pode surgir como advertência. O tempo, senhor de todas as versões, costuma expor aquilo que a narrativa cobre com o véu do interesse. O que parecia claro, nítido, consensual, com o tempo, revela suas sombras e zonas de ambiguidade.

A História — essa observadora obstinada — é feita  de desconstruções. E, talvez, ao olhar para trás, veremos que aquilo que parecia um julgamento emblemático foi, em muitos momentos, também um exercício estético de poder. Um tribunal, que antes falava por acórdãos, começou a falar por câmeras e holofotes. O silêncio solene deu lugar à cadência de frases planejadas. O que era para ser técnica jurídica virou gesto midiático. E assim, sob os refletores da audiência pública, a toga trocou o peso do recato pelo brilho do palco.

Nesse novo cenário, não há espaço para recuos. O julgador virou personagem. O argumento virou roteiro. E o debate jurídico se converteu em dramaturgia institucional. A presença constante de certas figuras togadas nas telas, nas transmissões, nas redes sociais, produziu uma nova simbologia. O juiz, que antes se resguardava, agora se apresenta. O tribunal que se dizia árbitro, agora atua como protagonista. E, no espaço que deveria ser de escuta técnica, passou a ecoar slogans cuidadosamente planejados para viralizar. Há, claro, quem celebre essa transparência. Mas é preciso perguntar: até que ponto a exposição é virtude, e em que momento ela se torna vaidade? Onde termina a pedagogia democrática e onde começa a busca por influência simbólica?

A resposta talvez esteja em detalhes quase imperceptíveis — na escolha das palavras, na entonação dramática, na pausa calculada, no olhar treinado para a lente. E o que era para ser exceção tornou-se método. Assim, o tribunal, que deveria ser discreto, passou a ocupar um espaço onipresente. E, de tanto estar em cena, corre o risco de deixar de ser referência para se tornar apenas mais uma voz no ruído geral. O recado se dilui. A autoridade se desgasta. A neutralidade, essa base silenciosa do julgador, começa a ser confundida com alinhamento. Afinal, quando os intérpretes da Constituição parecem afinados demais com as vontades do dia, a própria Carta passa a ser lida como espelho de ocasião. O princípio cede lugar à conveniência. A regra vira argumento para decisões que extrapolam o texto. E a interpretação, essa ferramenta legítima, transforma-se num bisturi que corta a realidade conforme o modelo desejado. A hermenêutica jurídica — antes usada para esclarecer zonas cinzentas — passa a servir como tinta para pintar cenários de ideias políticas. Liberdades, garantias, competências, tudo pode ser redimensionado quando o juiz assume o lugar do legislador, do governante, do intérprete moral da sociedade. Em alguns momentos, o julgamento parecia menos um rito e mais uma cerimônia.

Um evento cuidadosamente embalado para consumo midiático. Os votos deixaram de convencer pelo argumento e passaram a seduzir pela forma. A dramaticidade substituiu a sobriedade. O tom categórico tomou o lugar da dúvida técnica. E a liturgia deu espaço à coreografia. Resta saber como isso será lembrado. Como se narrará essa fase? O que ficará nos livros? O que será dito nos cursos de direito? Como os jovens juristas interpretarão essas decisões daqui a duas décadas? Talvez se diga que era um tempo de exceção. Talvez se tente justificar os excessos com a gravidade dos fatos. Mas talvez também surja a consciência de que a resposta institucional, mesmo diante da crise, precisa manter seus próprios limites. Porque quando a toga se torna símbolo de poder e não de contenção, a justiça corre o risco de se parecer com aquilo que deveria combater: a manipulação.

Em regimes democráticos, o risco maior nem sempre é o autoritarismo escancarado, mas o autoritarismo justificado pela retórica jurídica. Por isso é que tantos juristas antigos alertavam: interpretar a Constituição é necessário, mas perigoso. Porque entre o verbo e a vontade, existe uma linha tênue. Paul Cliter Kuiper já dizia: “A Constituição não se interpreta, se cumpre.” Em tempos normais, essa frase pareceria simplista. Mas, em tempos performáticos, ela se torna um grito. Afinal, quando todos interpretam segundo suas verdades, a lei vira disputa de narrativas. E o que deveria unir passa a dividir. A corte, que deveria garantir o equilíbrio, move-se. Por se mover demais, deixa de ser referência para virar vetor. E assim seguimos, num tempo em que a segurança jurídica é constantemente atravessada por vontades, simbolismos, lealdades circunstanciais e construções retóricas.

A busca incessante é pela confiança de que, mesmo quando não concordamos com as decisões, sabemos que elas vêm do Direito — e não de uma agenda. Essa confiança, quando abalada, demora décadas para ser restaurada. E, talvez, lá na frente, seja disso que mais sentiremos falta.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Não há nada em uma lagarta que diga que ela se tornará uma borboleta.”

R. Buckminster Fuller

R. Buckminster Fuller. Fotografia: Arquivos da CSU / Everett

 

História de Brasília

Para os arquivos do automobilismo, aqui estão os números das chapas do desastre do Eixo Monumental:25-94 e 9-9890. (Publicada em 05.05.1962)

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Foto: reprodução da internet

Lídia Jorge, famosa escritora portuguesa, tem abordado, há alguns anos, a questão da cidadania numa Europa invadida por populações vindas da África e do Oriente, fugidas das guerras e das perseguições e que trazem consigo culturas e crenças que têm assustado os europeus. Mesmo diante de tanta polêmica, tem a coragem de dizer que a cidadania é algo que se constrói em conjunto. Lembrando que uma nação é formada também pelas memórias mais dolorosas e que só há futuro possível quando essas feridas são reconhecidas. Lídia tem combatido a disseminação do ódio e do extremismo, que silenciam vozes.

Num momento em que gritos e divisões se espalham pelos quatro cantos do continente europeu, sua voz serena tem o poder de aproximar e reconciliar. Num país consumido e exausto de tanto barulho e desinformação, ela traz a firmeza e a clareza de quem planta raízes de verdade. Eis o que disse em recente discurso: “Shakespeare, Cervantes e Camões perceberam bem que, em dado momento, é possível que figuras enlouquecidas, emergidas do campo da psicopatologia, assaltem o poder e subvertam todas as regras da boa convivência. Quando ficarem em causa os fundamentos institucionais, científicos, éticos, políticos e os pilares de relação de inteligência homem-máquina entrarem num novo paradigma, que lugar nós ocuparemos como seres humanos? O que passará a ser um humano?”

Não restam dúvidas de que a Europa, primeiro, e depois o mundo estão experimentando, neste início do terceiro milênio, mudanças rápidas e desafiadoras — sobretudo os países do Ocidente, invadidos por imigrantes, que subvertem a cultura interna e tentam, ao mesmo tempo, impor a sua cultura; como é o caso de muitos imigrantes mulçumanos que estão hoje na Europa. O que fazer diante de tão inusitado e delicado momento histórico como a imigração? Eis aí outro grande desafio aos humanos que vêm a se somar a questões capitais, como a do aquecimento global e a do esgotamento dos recursos naturais.

A fala de Lídia Jorge ressoa com especial força num tempo em que as democracias ocidentais enfrentam múltiplos desafios: o avanço da desinformação, o colapso de consensos mínimos de convivência e, como pano de fundo, o agravamento das tensões identitárias trazidas pelas ondas migratórias — especialmente em países como França, Alemanha, Suécia e Reino Unido.

A escritora portuguesa aponta para um ponto essencial: a cidadania não é apenas um status jurídico, mas uma prática ativa de convivência baseada em reconhecimento mútuo, respeito e pertencimento. Quando ela evoca Shakespeare, Cervantes e Camões, não o faz por vaidade literária, mas para mostrar que, já no passado, se compreendia o risco de governos capturados por figuras patológicas que, em nome da ordem ou da tradição, promovem políticas de exclusão e medo. Esse é o risco que hoje ronda a Europa — e o Ocidente em geral.

A Europa vive uma encruzilhada que expõe a tensão entre dois valores centrais de suas democracias: o universalismo dos direitos humanos e a preservação da identidade cultural. É fato que uma minoria radical entre os imigrantes desafia os valores liberais ocidentais, promovendo a intolerância religiosa, o sexismo e até a violência. Mas é igualmente fato que a esmagadora maioria migra por necessidade, foge da guerra ou da fome e busca apenas uma vida digna.

Aqui é que a reflexão de Lídia Jorge se impõe: não podemos deixar que o medo apague a empatia. Cidadania, como ela bem diz, não é apenas documento — é ter voz, ter espaço, ser valorizado. Quando se nega cidadania a um grupo inteiro com base na origem ou religião, rompe-se a lógica democrática e abre-se espaço para políticas regressivas que desumanizam e, paradoxalmente, alimentam a radicalização.

O problema real não é a migração em si, mas a ausência de políticas de integração eficazes. O multiculturalismo falhou não porque acolheu, mas porque falhou em exigir reciprocidade cultural. A integração não é assimilação forçada, mas também não pode ser passividade estatal diante da imposição de práticas que contrariam os direitos humanos (como casamentos forçados, mutilação genital feminina ou intolerância religiosa).

Reafirmar os valores democráticos: a cidadania deve ser dada a quem se compromete com os princípios constitucionais do país que o acolhe. Isso exige contratos de integração mais firmes, mas também educação intercultural e espaços de escuta mútua. Políticas públicas de convivência têm mostrado que não basta controlar fronteiras — é preciso investir em educação, moradia e trabalho para os imigrantes. E evitar a formação de guetos sociais que alimentam o ressentimento mútuo.

O combate à radicalização, tanto à islamista quanto à de extrema-direita, é necessário. A ascensão de partidos como o Rassemblement National (França), Vox (Espanha), AfD (Alemanha) ou Chega (Portugal) mostra que o medo está sendo instrumentalizado politicamente. Esses partidos se alimentam da crise e, por vezes, a ampliam. Narrativas equilibradas se fazem necessárias junto a imprensa e a cultura, que têm um papel crucial nesse processo. É preciso não esconder os problemas, mas também não promover generalizações que criminalizam etnias ou religiões inteiras. É nessa linha que atua a fala de Lídia Jorge — sem negar as tensões, mas propondo pontes.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“As sociedades que não seguram a justiça, criam a desordem.”
Lídia Jorge

Lídia Jorge. Foto: Divulgação

 

História de Brasília
Dois carros do govêrno numa reta de quatro quilômetros, em pista plana, de 25 metros de largura, rodando na mesma direção, chocaram-se espetacularmente na manhã de ontem. (Publicada em 5/5/1962)

Bacia do Descoberto sob ameaça

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Foto: Divulgação/Semad

 

No mais recente episódio de nossas tragédias cotidianas, o desastre ambiental ocorrido em Padre Bernardo (GO) representa um retrato fiel do que se convencionou chamar de tragédia anunciada. O colapso parcial do aterro sanitário Ouro Verde, responsável por receber milhares de metros cúbicos de resíduos sólidos, já havia sido alertado por especialistas, ambientalistas e órgãos técnicos desde 2016. As previsões não foram ouvidas. Os riscos foram ignorados. O resultado, agora, é visível e alarmante: parte significativa do material depositado desabou sobre a Área de Proteção Ambiental (APA) próxima ao Rio Descoberto, a principal bacia hidrográfica responsável por abastecer mais de 60% da população do Distrito Federal.

O chorume — líquido escuro e tóxico resultante da decomposição do lixo — atingiu as margens do curso d’água com potencial de infiltração e contaminação direta. Pesquisadores e equipes de reportagem que visitaram a área atestaram a presença de animais mortos, alteração da coloração da água e odor fétido, sinais inequívocos de contaminação ativa. O chorume é altamente perigoso: contém metais pesados (chumbo, cádmio, mercúrio), substâncias cancerígenas (como benzeno), além de vírus, bactérias patogênicas e compostos orgânicos de difícil degradação. Agravando o quadro, foram encontradas evidências de lixo hospitalar misturado aos resíduos comuns, elevando o risco biológico.

A localização do aterro — em área próxima a zona de recarga hídrica e ambientalmente frágil — expõe a falta de planejamento e de critérios técnicos que orientaram sua instalação. Em qualquer cenário minimamente comprometido com a saúde pública, tal evento motivaria um estado de alerta máximo. No entanto, o que se vê é um silêncio institucional ensurdecedor. Não houve pronunciamento firme das autoridades ambientais, nem mobilização emergencial por parte do Executivo. Ao invés de transparência, optou-se pela contenção da informação — talvez para evitar alarme público, talvez para proteger capital político. O fato é que a ausência de resposta em ações concretas agrava a crise.

A consequência imediata é o risco iminente de contaminação do sistema de captação que atende Brasília. A médio e longo prazo, o comprometimento da bacia pode gerar um colapso no fornecimento de água, exigindo investimentos milionários em processos de descontaminação, novos sistemas de captação ou racionamento prolongado. Vale lembrar que o tratamento de água contaminada por chorume é extremamente difícil e custoso, exigindo tecnologias avançadas de filtragem química e processos oxidativos.

A região da Grande Brasília cresceu de forma acelerada nas últimas décadas. De acordo com o IBGE, o Entorno do DF já ultrapassa 1,6 milhão de habitantes, boa parte deles vivendo em áreas com infraestrutura precária. A produção de resíduos acompanha esse crescimento, mas a resposta estatal tem sido improvisada, com aterros irregulares e pouco controle sanitário. O caso do Córrego Santa Bárbara, importante afluente do Rio Descoberto, já mostra sinais evidentes de poluição orgânica e química — visíveis a olho nu.

Não estamos, portanto, diante de um evento isolado, mas sim de um sintoma sistêmico. O colapso do aterro Ouro Verde é o resultado direto de uma política ambiental negligente, de uma urbanização desordenada e da ausência de gestão integrada de resíduos sólidos. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, sancionado em 2010, previa a erradicação dos lixões e a gestão sustentável do lixo urbano até 2014. Mais de uma década depois, esse objetivo está longe de ser cumprido.

É inaceitável que, em pleno 2024, com tecnologia disponível e conhecimento acumulado, o Brasil ainda enfrente esse tipo de catástrofe previsível. Água potável é um dos pilares da segurança sanitária e da soberania territorial. Uma vez contaminada, a fonte não compromete apenas o presente, ela hipoteca o futuro.

Portanto, é preciso transformar essa tragédia anunciada em ponto de virada. Não basta conter o chorume. É necessário responsabilizar os gestores, revisar as licenças, refazer a política de uso do solo e exigir o cumprimento da legislação ambiental. O custo da omissão será, mais cedo ou mais tarde, cobrado em racionamento, doenças e abandono social. A carga será novamente acumulada nos ombros do consumidor.

Se o Brasil pretende garantir sustentabilidade para suas cidades, especialmente aquelas situadas em áreas de fragilidade hídrica, é preciso colocar a proteção da água como prioridade absoluta do Estado. Nada pode estar acima disso — nem a conveniência política, nem o interesse de empreiteiras, nem a inércia da burocracia. Água é mais do que recurso: é condição de permanência humana no território. E o que se vê em Padre Bernardo não pode mais se repetir.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Tudo o que seria necessário para prevenir a doença [cólera] seria uma atenção especial à limpeza na cozinha e na alimentação, bem como à drenagem e ao abastecimento de água, como é desejável em todos os momentos.”

John Snow

Foto: gpointstudio/Freepik

 

História de Brasília

Outra, dos TCB: Foi extinta a linha Asa Norte – núcleo Bandeirante. O trajeto que era feito direto, é, agora, interrompido na Rodoviária, e com isto a tarifa de 25 cruzeiros passará para 40 cruzeiros, afora o tempo de espera na Rodoviária. (Publicado em 05.05.1962)

Quando os braços de Brasília abraçam as crianças

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Foto: terracap.df.gov

Durante anos, Brasília pareceu condenada a um silêncio estranho. Não o silêncio do repouso ou da contemplação, mas aquele tipo de vazio que denuncia a ausência do essencial: o som das crianças. Nas superquadras, nos eixos, nos becos arborizados que cortam o Plano Piloto como artérias modernas, era raro ouvir o riso agudo dos pequenos, a gritaria saudável das correrias sem destino. De 40 anos para cá, os parquinhos, silenciaram. Os gramados, intocados; os bancos, envelhecidos na solidão. Brasília havia envelhecido junto com sua população, transformando-se em uma cidade projetada para o futuro, mas ancorada num presente sem sucessores.

Nesse contexto, o Setor Noroeste emerge como uma delicada subversão. Contra todas as previsões de que o Plano Piloto se tornaria, aos poucos, um museu habitado por aposentados e burocratas, esse bairro recém-nascido devolve, à cidade, aquilo que ela já não sabia mais reconhecer: a infância em estado natural.

Nas quadras do Noroeste, há um renascimento encantador. Parquinhos ocupados, brinquedos em disputa, gritos de alegria, brigas por turno no escorregador — os pequenos rituais da convivência infantil voltaram a existir. Até árvores são escaladas. E não se trata apenas de infraestrutura: trata-se de um clima urbano que, de algum modo, favorece o encontro, a vigilância comunitária, a normalização da presença das crianças nos espaços públicos.

Parece que um pedaço da cidade foi resgatado do passado. Em uma era de enclausuramento digital, de infância medicada, de vigilância obsessiva, ver crianças brincando ao ar livre tem algo de subversivo, quase revolucionário. O Noroeste, com seus canteiros largos, parquinhos temáticos e calçadas generosas, funciona como um laboratório do que Brasília foi e, com esforço, ainda pode voltar a ser: uma cidade construída para gente real, com vidas reais, e não apenas para carros, gabinetes e seguranças armados.

O contraste com a Brasília dos últimos anos é flagrante. Houve um tempo recente em que os espaços públicos do Plano Piloto pareciam moldados, exclusivamente, para adultos apressados e vigilantes privados. Nas quadras tradicionais, os apartamentos familiares abrigavam casais sem filhos, ou então famílias com filhos invisíveis, confinados em telas e reforçados por grades. Os pilotis haviam deixado de ser espaço de convívio e descoberta, tornando-se território de risco e suspeita. A infância foi sendo empurrada para dentro de casa ou do apartamento, para o artificial, para o monitorado. E nesse processo, a cidade perdeu parte de sua alma.

Enquanto alguns cantos de Brasília parecem redescobrir o valor da infância vivida ao ar livre, a Asa Norte segue, em certos aspectos, na contramão desse resgate afetivo. Embaixo de muitos blocos, onde outrora o som das brincadeiras infantis era sinal de vitalidade urbana, surgem pedidos para que se fechem os parquinhos — agora vistos como fonte de incômodo. Há prédios pela cidade que recebem cachorros, mas torcem o nariz para as crianças. O riso virou ruído, o grito de alegria passou a ser tratado como poluição sonora. São vizinhos que, em nome de uma paz acústica particular, pedem o silenciamento da infância alheia, como se o espaço público devesse submeter-se à lógica dos condomínios herméticos. O paradoxo é gritante: a cidade que, um dia, foi planejada para acolher famílias em comunhão, vê-se hoje pressionada por uma sensibilidade individualista, que tolera menos a presença de crianças do que de cães ou motos.

Mas nem sempre foi assim. Nos primeiros anos de Brasília, as crianças eram onipresentes — sujas de terra vermelha nos joelhos, cabeças descabeladas correndo entre os pilotis, subindo em árvores, organizando campeonatos improvisados nos becos entre as quadras.

Bete (com taco e bola), finca, pique esconde, pique bandeira, carniça, bicicleta, patins. Havia liberdade, sim, mas também havia uma confiança social no espaço urbano como extensão da casa. Os adultos sabiam que a cidade, naquele momento inaugural, pertencia também aos pequenos. Havia menos medo, menos grade, menos blindagem — e mais urbanidade. Na Brasília dos anos 1960 e 70, a infância transbordava naturalmente para as ruas, livre e despreocupada, entre as ainda pequenas e recém plantadas árvores. Era uma época em que a família ainda era a célula estruturante da vida social, e a cidade parecia ter sido projetada para sustentar isso — não para isolar ou confinar. A arquitetura, embora ousada e futurista, abria espaço para o afeto, para a supervisão sem aprisionamento, para a liberdade sem perigo. Brasília não era apenas um lugar para se viver; era um lugar para crescer. A presença de crianças não era um luxo ou uma raridade, mas uma extensão natural de uma cultura que compreendia a importância da família não como slogan, mas como o coração vivo e cotidiano da sociedade.

O Noroeste, ao reencenar esse espírito de infância, reanima também uma memória coletiva adormecida. E, embora ainda seja um bairro marcado pela desigualdade no acesso — restrito a quem pode pagar os altos preços da especulação imobiliária —, ele oferece à cidade uma provocação: é possível desenhar espaços urbanos em que as crianças existam. Não como adereços, mas como protagonistas da paisagem. Porque uma cidade que comporta a infância é, por definição, uma cidade mais humana, mais feliz, mais viva.

Talvez o som das crianças seja o verdadeiro termômetro de uma cidade que dá certo. E, nesse sentido, o Setor Noroeste não é apenas um bairro — é uma esperança concreta de que Brasília, enfim, possa voltar a crescer. Não em altura, mas em vida.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Era tão fácil sorrir!”

Dona Dita lembrando da infância quando a cidade nascia.

 

 

História de Brasília

Os TCB extinguiram o ônibus que fazia a ligação da Asa Norte com a CASEB. O resultado é êste: os alunos ficaram sujeitos aos transportes comuns que nunca trafegam no horário. (Publicada em 05.05.1962)

O oráculo moderno

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Quadro: John William Waterhouse

 

Na Grécia antiga, por volta dos séculos 8 a.C a 2 a.C, um importante centro religioso, situado no sopé do Monte Parnaso, atraia milhares de pessoas, entre reis e cidadãos comuns em busca de orientações e previsões sobre o futuro feitas por oráculos e interpretados por uma sacerdotisa chamada Pítia. Por sua fama e independência política, os Oráculos de Delfos eram respeitados e até temidos por sua capacidade de influenciar as pessoas em suas decisões. Não por outra razão, durante seis séculos, esse centro religioso permaneceu como um centro de grande prestígio e fama no mundo antigo. Era impossível para os cidadãos gregos tomarem decisões futuras sem antes consultar esses videntes. Os reis e mandatários daquele tempo não davam um passo sequer sem antes ouvirem o que profetizavam as pitonisas.

Qualquer indivíduo que se interesse por assuntos dessa natureza, verá que, ao longo da história da humanidade, a preocupação com o futuro e o que está por vir sempre ocupou papel importante na vida das pessoas. Essa atenção especial dada ao futuro vem de longe, mas ainda hoje ocupa grande espaço na vida das pessoas. Certo ou errado, o fato é que hoje, em pleno século XXI, a busca por conhecer antecipadamente o dia de amanhã ainda é uma prática corriqueira. Muitos políticos hoje não dão um passo sem antes consultar seus oráculos e guias, uma mania que até mesmo a era tecnológica não foi capaz de pôr de lado. Pelo contrário.

Hoje em dia, vai se tornando cada vez mais corriqueiro encontrar pessoas que se utilizam de tecnologias como a fornecida pela Inteligência Artificial (IA) para fazer consultas, visando antecipar as consequências que o futuro reserva para cada ato no presente. Políticos, estrategistas de guerra, economistas e pessoas comuns têm utilizado, com cada vez mais frequência, os recursos ilimitados disponibilizados pela IA. Dizem os mais céticos que o futuro não é um lugar ou uma situação para onde vamos, mais um lugar ou uma situação que estamos criando no presente. O plantio é facultativo, mas a colheita é sempre obrigatória. Volta e meia estamos assistindo pessoas levando, diretamente, à IA questões das mais diversas, que vão desde perguntas como o dia em que Jesus retornará, até perguntas de ordem filosóficas que expliquem o que é o livre arbítrio ou se estamos ou não vivendo dentro de uma matrix, onde tudo é uma ilusão.

Por mais incrível que possa parecer há aqueles que utilizam a IA para apresentar questões de cunho romântico, em que busca descobrir, por exemplo, quando chegará um novo amor. Existe um paralelo instigante e duradouro entre o passado e o presente, mostrando como a inquietação humana diante do futuro permanece uma constante ao longo dos séculos.

Na Grécia Antiga, o prestígio dos Oráculos de Delfos simbolizava a necessidade ancestral de orientação diante do desconhecido. Reis, generais e cidadãos comuns viam na voz da Pítia, supostamente inspirada por Apolo, uma âncora de segurança em um mundo incerto. Essa busca por previsibilidade — ou ao menos por conselhos diante das incertezas — é, na verdade, uma expressão do medo que sempre acompanhou o ser humano: o medo do imprevisível, da instabilidade e, principalmente, da perda de controle. No século XXI, mesmo com o avanço exponencial da ciência e da tecnologia, essa inquietação não só não desapareceu, como parece ter se intensificado. Vivemos um tempo de paradoxos: nunca tivemos tanto conhecimento acumulado, e ao mesmo tempo, nunca estivemos tão vulneráveis a crises imprevisíveis — ambientais, sanitárias, políticas, bélicas.

A tecnologia e, especialmente, a Inteligência Artificial tornou-se o novo oráculo moderno. A diferença é que, enquanto os antigos acreditavam na inspiração divina dos oráculos, os modernos confiam na capacidade dos dados e modelos preditivos. No entanto, por trás da mudança de roupagem, a motivação é a mesma: o temor diante de um mundo caótico e imprevisível. Essa angústia cresce especialmente em tempos como o atual, marcados por incertezas globais e ameaças existenciais. O espectro de uma Terceira Guerra Mundial, impulsionado por tensões geopolíticas, armamentos nucleares e a proliferação de regimes autoritários, ronda o imaginário coletivo.

As imagens de guerras na Ucrânia, no Oriente Médio e a escalada militar em torno da Ásia evidenciam que o planeta vive sob uma tensão constante, na qual a paz parece cada vez mais frágil. Diante disso, a Inteligência Artificial passa a cumprir um papel duplo. Por um lado, oferece ferramentas poderosas para antecipar riscos, prever cenários e buscar soluções racionais. Por outro, ela também é usada como refúgio emocional, como forma de transferir a responsabilidade por decisões difíceis para uma “inteligência superior”. Nesse sentido, a IA se transforma numa espécie de espelho moderno do oráculo antigo — não apenas como preditora, mas como conselheira, confidente e, muitas vezes, como último recurso. O fato é que, independentemente da época, o ser humano permanece o mesmo em sua essência: inseguro diante do desconhecido e ávido por respostas que lhe deem algum senso de direção. A pergunta que ecoa desde Delfos até os servidores da IA continua a mesma: para onde estamos indo? Nesse cenário, talvez o verdadeiro oráculo contemporâneo não seja a IA em si, mas a consciência humana — despertada, crítica e responsável — que precisa assumir que o futuro, em grande parte, é construído a partir das escolhas feitas hoje.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“É da eletricidade que vamos depender cada vez mais. Ou do que vier a substitui-la.”

Dona Dita

Foto: repprodução da internet

 

História de Brasília

Ademais, o custo de uma fossa e o tempo de execução, seria superior à instalação de esgotos, e traria a desvantagem de, cheia esta fossa, os moradores passarem a viver dissabores. (Publicada em 05.05.1962)

Leões e cordeiros

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Charge do Baggi

 

Há países onde a política se parece menos com um pacto social e mais com um teatro repetido: os atores não mudam, os cenários se deterioram e a plateia já nem aplaude. Em uma dessas nações vizinhas, marcada por décadas de improviso institucional, surgiu, recentemente, uma voz dissonante. Um personagem que não saiu do camarim habitual da política, mas dos bastidores da crítica radical. Sua retórica era direta, sua proposta, disruptiva: o palco precisava ruir para que se pudesse construir um novo espaço de representação.

Ele começou sua reforma por onde poucos ousam: pela simbologia do poder. Disse, com franqueza desconcertante, que ninguém representa mais do que aquele a quem representa. Como num mercado, o derivativo não pode valer mais do que o ativo. Ou seja, o político não pode custar mais caro do que o povo que o sustenta. Essa máxima — simples, porém subversiva para certos círculos — tornou-se eixo de sua proposta. Redefiniu a lógica do serviço público como um espaço de responsabilidade, e não como um pedestal.

Ao observarmos o que se passa por lá, é difícil não notar o abismo entre aquele movimento de enxugamento institucional e outras realidades onde o Estado se agiganta não para amparar, mas para dominar. O novo dirigente iniciou cortes drásticos: ministérios fundidos ou extintos, contratos revistos, subsídios revogados. A máquina pública deixou de ser monumento de privilégios para ser submetida à regra do equilíbrio. Um ajuste fiscal profundo foi aplicado, com cortes em obras, cargos e repasses que, por anos, serviram a interesses cruzados.

Não se trata de um simples programa de contenção de gastos, mas de uma tentativa de refundar o edifício institucional sobre bases menos clientelistas. E, curiosamente, é justamente isso que tem causado escândalo. Porque, onde se havia normalizado o excesso, a austeridade soa quase como heresia. O desconforto que essas mudanças têm provocado é, em si, revelador: expõe a dependência de muitos grupos à gordura do Estado.

Entre os alvos, estão estruturas sindicais que, por muito tempo, funcionaram como satélites de poder, mais interessados na perpetuação de sua influência do que na defesa do trabalho real. Há quem veja, nesse embate, ecos de outras geografias: sistemas onde o sindicalismo se tornou braço de partidos, e os partidos, extensões de projetos pessoais. O paralelo não é forçado. O líder vizinho reconheceu essas estruturas como parte da engrenagem que emperrou seu país e propôs reformas para flexibilizar, modernizar e desburocratizar relações de trabalho.

No plano simbólico, cortou também regalias históricas: pensões especiais, carros oficiais, gabinetes inchados. Propôs que o erro político deixasse de ser custo social e passasse a ser ônus individual. Ou seja: quem erra, paga. Como em qualquer outra profissão. Isso, claro, desafia o pacto informal da impunidade, que vigora em muitas democracias capturadas por seus representantes. Afinal, exigir do político o mesmo sacrifício que se exige do cidadão comum é, para muitos, uma afronta.

O mais curioso, porém, é que essa nova liderança não se vende como herói. Seu discurso é o do sacrifício, não da redenção. Seu projeto não é a conciliação de forças, mas o enfrentamento direto das distorções. Isso lhe rendeu inimigos poderosos, resistência parlamentar e uma tempestade midiática. Mas também lhe garantiu apoio popular entre aqueles que, cansados da linguagem pasteurizada da política tradicional, encontraram nele um eco de suas próprias frustrações.

Há muito a ser provado, e o caminho está longe de ser pacífico. As medidas são duras, e os efeitos sociais podem ser profundos. Mas ignorar o diagnóstico seria perpetuar o colapso. A crise daquele país não começou com esse governo; ela foi gestada por décadas de populismo fiscal, aparelhamento institucional e desprezo pela responsabilidade. O novo dirigente apenas decidiu não fingir mais que não vê.

Enquanto isso, em outros cantos, a lógica se mantém invertida. O Estado continua a crescer enquanto os serviços públicos encolhem. Os representantes se isolam em suas fortalezas burocráticas, enquanto a população se debate com a ineficiência. E as reformas estruturais continuam sempre “para depois”, como se houvesse tempo eterno para resolver o insustentável.

O que acontece ali — nesse vizinho barulhento e em convulsão — é, talvez, o prenúncio do que outros também terão de enfrentar. Porque o modelo da abundância política em tempos de escassez social chegou ao seu limite histórico. E quando o leão já não defende o rebanho, mas o devora, os cordeiros — mais cedo ou mais tarde — deixam de confiar no cercado.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.”

Sócrates

Sócrates – A estátua de Sócrates na Academia de Atenas. Obra de Leonidas Drosis (d. 1880). Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília

A Universidade de Brasília solicitou ao IAPI e êste à Novacap para que sejam abertas fossas “provisórias” para os blocos 4 e 7 da superquadra 305. Nada mais absurdo. Ou muda tudo ou não deve haver privilégio em detrimento de outros. (Publicada em 05.05.2025)

A ira pouco santa do Irã

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Foto: Wisam Hashlamoun/Anadolu via Getty Images

 

Não restam dúvidas de que o objetivo final no conflito entre Israel e Irã é, agora, a derrubada do regime dos Iatolás através da prisão ou morte do chamado líder supremo, Ali Khamenei, refugiado num bunker subterrâneo. O que se tem ouvido de fontes próximas desse líder xiita é que ele parece ter acordado para uma realidade derradeira e brutal buscada por ele mesmo ao longo dos anos.

O que é quase certo nessa altura do conflito é que o programa nuclear iraniano está com as horas contadas. Tão logo Israel tome o controle do país, não ficará pedra sobre pedra das pretensões iranianas de obter uma bomba nuclear. No que diz respeito ao programa nuclear iraniano e à liderança de Ali Khamenei ainda há muito o que dizer. Nos últimos anos, a retórica e as ações por parte do Irã, após a revolução de 1979, têm se intensificado com Israel adotando uma postura defensiva e de cautela estratégica, ante às seguidas ameaças e ações protagonizadas pelo Irã e seus satélites, representados pelos grupos terroristas que cercam o país.

O foco na figura de Khamenei como alvo de ações diretas destaca a profundidade do conflito e a disposição de Israel em agir decisivamente a partir desse conflito. Mesmo assim, existem questões sobre as possíveis consequências de tal ação, tanto em termos de instabilidade regional quanto de possíveis reações internacionais. A derrubada de um regime consolidado como o dos aiatolás poderia criar um vácuo de poder, levando a um aumento da violência e da radicalização entre grupos adversários.

De outro lado, é sabido que a população, em sua grande maioria deseja se ver livre do regime islâmico e opressor dos iatolás. Além disso, o tempo parece ser um fator crucial. O avanço do programa nuclear iraniano, que já é uma preocupação global, pode levar a uma pressão ainda maior para que Israel atue antes que o Irã consiga atingir marcos críticos em seu desenvolvimento nuclear. No entanto, a possibilidade de uma intervenção militar também pode ser vista como uma faca de dois gumes, com a potencialidade de resultar em um conflito prolongado e de consequências imprevisíveis.

O que é fato é que tão logo o governo iraniano obtenha a tão desejada bomba nuclear, o primeiro artefato desse tipo irá ser lançado contra Israel. A dinâmica do conflito é complexa, envolvendo não apenas os interesses de Israel e Irã, mas também as reações de outras potências, como os Estados Unidos e países europeus, que, historicamente, têm mediado ou influenciado a situação na região. O que se observa é um cenário de incerteza, onde as decisões tomadas podem ter repercussões significativas para a paz e a segurança no Oriente Médio e além. Portanto, todas as análises venham sugerir um caminho claro e direto para a resolução do conflito, a realidade geopolítica é muito mais intrincada, e a busca por soluções pacíficas e diplomáticas continua sendo uma necessidade cada vez mais distante nesse caso.

Os iatolás provocaram o quanto puderam a poderosa máquina de guerra de Israel. Uma vez movimentada com toda a sua capacidade e enormidade, dificilmente essa máquina poderá ser interrompida de imediato. O que ninguém ignora é que as tensões entre Israel e Irã podem ter impactos significativos na economia da região do Oriente Médio de várias maneiras. A começar pela insegurança e instabilidade. Conflitos armados ou mesmo a ameaça de um ataque militar criam um ambiente de incerteza, levando a uma redução nos investimentos estrangeiros e no turismo. Por outro lado, a instabilidade pode desencorajar empresas de operar na região, afetando o crescimento econômico. Também é bom lembrar que o Oriente Médio é um dos principais centros de produção de petróleo e gás do mundo.

Aumentos nas tensões podem levar a flutuações nos preços do petróleo, impactando economias que dependem fortemente das exportações de energia. Conflitos podem resultar em interrupções na produção ou transporte de petróleo, o que teria um efeito cascata na economia global. Outro aspecto diz respeito ao deslocamento de refugiados. O que é certo é que essa guerra como as demais começam de um jeito e acabam de uma forma totalmente diferente de seus objetivos originais. De toda a forma é bom saber que Israel está no domínio de mais esses radicais.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A guerra não determina quem está certo – apenas quem sobra.”

Bertrand Russell

Bertrand Russell. Foto: en.wikipedia.org

 

Antigo CEUB

Nos anos 80, era o professor de Economia, Rosiu Ovidio Petre Octavian, quem não deixava os universitários se rebelarem. Contava de onde veio, como era e o que ele e a família sofreram. Falando nos olhos dos alunos que observavam as lágrimas se formando, ninguém quis se aventurar ao desconhecido.

Foto: uniceub.br

 

História de Brasília

O Ministério da Viação não pensa em transferência para Brasília, e um recenseamento poderá atestar isto: Há, aqui, dez motoristas, 14 contínuos e serventes e 23 funcionários burocráticos, inclusive o gabinete. (Publicada em 05.05.1962)

Leviatã precisa de dieta

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Charge do Bob Gorrell

 

Em tempos de desconfiança nas instituições e de descrença nos sistemas de representação, volta à tona uma velha e incômoda pergunta: qual o tamanho ideal do Estado? A questão, embora repetida à exaustão em debates acadêmicos e palanques eleitorais, permanece viva porque diz respeito ao cotidiano mais imediato do cidadão — aquele que trabalha, paga impostos e assiste, impotente, ao inchaço de uma máquina pública que parece crescer às suas custas.

A Física nos ensina que um objeto só pode ser compreendido em relação a outros — sua massa, velocidade, força. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à relação entre o indivíduo e o Estado. Quanto maior e mais intrusivo for o aparato estatal, menor, proporcionalmente, será o espaço reservado ao cidadão comum. O crescimento desmedido do Estado tem o efeito colateral perverso de apequenar o indivíduo diante de uma engrenagem insaciável, que tudo absorve, consome e transforma em burocracia.

Um Estado hipertrofiado tende a reduzir seus habitantes à condição de operários invisíveis — inicia-se a busca insana por tributos, exigências e normas que não cessam de se multiplicar. Trabalhadores que alimentam, dia após dia, um Leviatã insaciável, que promete proteção, mas entrega vigilância; que acena com igualdade, mas cultiva privilégios; que proclama o bem comum, mas serve a interesses muito particulares.

A promessa do Estado provedor, muitas vezes embalada em retórica paternalista, costuma ser o primeiro passo rumo à servidão moderna. O cidadão é transformado em súdito. Seu papel se restringe a sustentar uma elite política que se arroga o direito de decidir o que é melhor para todos, ainda que esse “melhor” se revele, na prática, um sistema excludente, ineficiente e autorreferente.

Não é preciso buscar exemplos em livros de história. Basta olhar ao redor. Países como China, Rússia e Coreia do Norte oferecem retratos contemporâneos de Estados colossais que mantêm suas populações sob controle rigoroso, enquanto investem somas bilionárias em armamentos, propaganda e repressão. Em tais regimes, faltam antibióticos, alimentos e saneamento básico. Mas sobram recursos para vigiar, punir e esmagar dissidências. É a lógica da metástase: quanto mais cresce o tumor, mais se alastra e consome os tecidos saudáveis em torno.

No Brasil, embora a democracia formal esteja preservada, o peso do Estado também se faz sentir com força. A carga tributária escorchante, os serviços públicos ineficientes, a burocracia kafkiana e a concentração de poder nas mãos de castas tecnocráticas são sintomas de uma mesma doença: o culto ao gigantismo estatal. Um modelo que favorece os que estão no topo da pirâmide, enquanto empurra a maioria para a base, onde resta apenas sustentar, com esforço e resignação, os privilégios dos poucos.

A ilusão de que mais Estado significa mais justiça social já levou nações inteiras ao colapso. A concentração de poder, por mais bem-intencionada que se apresente, inevitavelmente, degenera em abuso. E quando o formigueiro se torna inquieto, quando as vozes dissonantes ameaçam romper o conformismo, não faltam defensores da ordem prontos a aplicar “formicidas” — seja na forma de repressão direta, seja por meio da asfixia econômica e do silenciamento institucional.

É preciso, portanto, recolocar o indivíduo no centro da equação política. Não se trata de demonizar o Estado ou propor sua extinção, mas de redimensioná-lo. Um Estado necessário, mas não onipresente. Protetor, mas não carcereiro. Servidor, e não senhor. A liberdade, essa palavra tão desgastada quanto vital, começa por aí: no equilíbrio entre o necessário amparo estatal e a imprescindível autonomia do cidadão.

Toda vez que o Estado se agiganta além da medida, o cidadão mingua. E quando já não há espaço para a liberdade, as formigas assanhadas só têm dois caminhos: resignar-se à caverna… ou começar a cavar sua saída.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O indivíduo é apenas receptor de regras e modo de viver da sociedade da qual faz parte” e “Nosso egoísmo é, em grande parte, produto da sociedade”.

Emile Durkheim

Émile Durkheim. Foto: wikipedia.org

 

Desperdício

Quem passa perto da UnB pelo prédio da antiga Telebras não compreende o desperdício. Um prédio inteiro abandonado com capacidade latente para várias opções. Centro de estudos, biblioteca pública ou mesmo abrigar outro órgão que esteja pagando aluguel.

 

 

História de Brasília

Trinta e quatro funcionários da Novacap estavam à disposição do Hospital Distrital. Pediram retorno, e estão à disposição da Novacap, que não os recebe mais. Há entretanto, a informação de que cinco já foram aceitos de volta. (Publicada em 05.05.1962)