Polícia para quem precisa

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MAMFIL com Circe Cunha

Num Estado democrático, a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos só pode ser plenamente alcançada e mantida com a responsabilidade de cada um de seus membros no estrito respeito às leis. Regra básica para que isso ocorra é a observância das normas, por todos e principalmente por aqueles que ocupam altos postos na hierarquia do Estado, devendo, por sua importância e relevância do cargo, servirem como exemplo e modelo irrepreensíveis para toda a sociedade. Obviamente, não é isso que ocorre no país. Pelo contrário. O que os brasileiros têm visto nestes últimos tempos é a exposição em público de extensas confissões que vão revelando pari passu os mecanismos que fizeram dessa República, em particular, um valhacouto para criminosos de várias espécies disfarçados de autoridade.

Aqueles de quem a nação poderia tomar como baluartes da ética estão sendo, um a um, postos a nu diante dos espectadores. Constrangidos, resta aos cidadãos assistir a esse desfile de zumbis políticos. Se o mau exemplo vem de cima, não chega a ser surpresa que esse tipo de comportamento venha sendo repetido também nos estamentos de baixo, transformando nosso país, cada vez mais, num caso de difícil solução. Perdida a moral e a decência, nosso Legislativo se transformou, em pouco tempo, em alvo fácil e constante de agitadores mercenários e profissionais do lobby. Desta vez, sob a fantasia de agentes da lei, um bando de cerca de mil policiais, com armas na cintura e certos da impunidade, depredaram a entrada principal do Congresso, tentando invadir o Parlamento para impor à força pauta própria.

A demonstração de brutalidade irracional desses funcionários, armados pelo Estado, tem se repetido a todo instante em diversas partes do país. A desenvoltura com a qual muitos policiais em todo o Brasil têm afrontado e ameaçado abertamente o Estado de direito revela sinais preocupantes de que alguma coisa está muito fora da ordem.

Os fatos ocorridos recentemente no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e em outras localidades onde a polícia entrou em greve revelam não só o despreparo de nossas forças de segurança e a falta de comando efetivo, mas sobretudo sintomático sinal de que esses servidores estão agindo por conta própria, sem receio de serem enquadrados.

Em Brasília já se tornou comum observar a polícia estacionada tranquilamente sobre calçadas, ciclofaixas ou jardins, dando mau exemplo e afrontando o cidadão. Impõe o contrário do que cobra. É comum observar ainda os carros de polícia furando sinais sem necessidade, andando acima da velocidade permitida, fazendo manobras proibidas em via pública e mesmo recebendo lanchinhos e outros brindes dos comerciantes amedrontados.

Corre sério risco o cidadão que, por ventura, se arriscar a chamar-lhes a atenção para esse comportamento inadequado. Agora mesmo foi autorizado aos agentes de trânsito portarem arma de choque elétrico conhecida como taser. Para esses servidores a arma, mesmo não letal, é fetiche que lhes empresta falsa sensação de superioridade. De armas na cintura ou não, esses indivíduos têm que ter em mente que são apenas servidores públicos e, como tais, devem se portar como todo cidadão comum: dentro da lei.

A frase que foi pronunciada
“A arte de fazer política é falar o que o povo quer ouvir, mas fazer tudo aquilo que o povo não deve saber.”
Sérgio, o Cancioneiro

Impossível
» Quem pretende passear pelas calçadas do Lago Sul, pela Quadra 25, tem dificuldades em se desvencilhar do matagal. O maior IPTU da cidade deveria dar ao cidadão contrapartida mínima.

Conivência
» Ainda pelo Lago Sul é possível ver, ao longo da pista principal, moças com geladeiras de isopor debaixo do sol com alimento de natureza desconhecida. É uma fatalidade permitir a venda de alimentos nessas condições.

Experiência
» Realmente, as instalações do Hospital Sírio Libanês, a educação dos funcionários, o valioso “ouvir” dos médicos oferecem o que a capital do país estava precisando: respeito.

História de Brasília
O Circular JK-W3 iniciou a linha com a tarifa de 10 cruzeiros. Posteriormente, alegando estender a linha pelos ministérios, foi seu preço elevado para 15 cruzeiros, sem cumprir o prometido. Agora, a empresa lança nova linha, Três Poderes-JK, com tarifa de 20 cruzeiros e está aos poucos retirando os JK-W3. (Publicada em 26.9.1961)

Contribuição à crise

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MAMFIL com Circe Cunha

Em todo tempo e lugar, povos das mais diferentes culturas atravessaram períodos de crise profunda. Tem sido assim desde que o mundo é mundo. A diferença essencial entre aquelas civilizações que sobreviveram às depressões e se fortaleceram ainda mais e aquelas que, simplesmente, sucumbiram e desapareceram para sempre é que, as primeiras, recorreram à experiência e a sabedoria dos mais velhos para encontrar uma saída racional do labirinto das crises cíclicas. O mundo está repleto de exemplos de como esses aconselhamentos lúcidos salvaram sociedades inteiras da extinção. No Brasil, não deveria ser diferente. Envolto na maior crise de toda a sua história, a nação, se desejar realmente superar esse período de instabilidade e dele retirar lições claras para o futuro, deve, antes, consultar e ouvir com atenção redobrada aqueles que podem apontar caminhos e têm o que ensinar e transmitir as novas gerações.

Nesse sentido e uma vez identificadas as origens de nossas mazelas históricas, convém destacar os ensinamentos e o receituário de Modesto Carvalhosa, um dos mais lúcidos e notáveis juristas deste país. Autor de livros, como Considerações sobre a lei anticorrupção das pessoas jurídicas, e coordenador de outras obras importantes, como O livro negro da corrupção, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Carvalhosa encabeçou diversos movimentos contra a ditadura militar, sendo, constantemente, convidado a dar entrevistas e palestras sobre as questões nacionais.

No Manifesto à nação, escrito em parceria com os também juristas Flávio Bierrenbach e José Carlos Dias, o eminente advogado e pensador enumerou diversas medidas urgentes para que o Brasil possa atravessar, sem maiores traumas, a atual fase negativa e dela tirar proveitos duradouros para amadurecer as instituições e o modelo de sociedade democrática que almejamos.

Para Modesto Carvalhosa, a Constituição de 1988, desfigurada por incontáveis emendas, já não corresponde mais à realidade do país e necessita ser refeita por uma assembleia constituinte independente, integrada por pessoas que não tenham cargos políticos, mas por políticos eleitos, exclusivamente, com esse propósito para introduzir na Carta Magna dispositivos tais como: eliminação do foro privilegiado; eliminação da desproporção de deputados por unidades da Federação; voto distrital puro, sendo os parlamentares eleitos pelo distrito eleitoral respectivo; referendo no caso de o Congresso legislar em causa própria, sob qualquer circunstância; estabelecimento do regime de consulta, com referendo ou plebiscito, para qualquer matéria constitucional relevante; nenhum parlamentar poderá exercer cargos na administração pública durante o mandato; eliminação de cargos de confiança na administração pública, devendo todos os cargos ser ocupados por servidores concursados; eliminação do Fundo Partidário e do financiamento público das eleições: serão os partidos financiados unicamente por seus próprios filiados; eliminação das emendas parlamentares que tornam os congressistas sócios do Orçamento, e não seus fiscais; criação ou aumento de impostos, somente com referendo; fim das coligações para quaisquer eleições; eliminação de efeitos de marketing das campanhas eleitorais, devendo o candidato se apresentar no horário gratuito pessoalmente, com seus programas e para rebater críticas; distribuição igual de tempo por partido no horário eleitoral gratuito para as eleições majoritárias (presidente e governador); inclusão do princípio da isonomia na Constituição, de modo que a lei estabeleça tratamento igual para todos, em complementação ao princípio vigente de que todos são iguais perante a lei; Isonomia de direitos, de obrigações e de encargos trabalhistas e previdenciários para todos os brasileiros, do setor público e do setor privado; eliminação da estabilidade no exercício de cargo público, com exceção do Poder Judiciário, do Ministério Público e das Forças Armadas, devendo os servidores públicos serem submetidos às mesmas regras do contrato trabalhista do setor privado; eliminação dos privilégios por cargo ou função (mordomias, supersalários, auxílios, benefícios etc.), devendo o valor efetivamente recebido pelo servidor estar dentro do teto previsto na Constituição.

A frase que foi pronunciada
“No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla.”

Roberto Campos

Sensacional
» Nos 100 anos de IBM no Brasil, uma parceria interessante está aproximando a população da arte por meio da tecnologia. Normalmente, nos museus uma gravação sobre as peças esclarece, mas não interage. É assim que a IBM e a Pinacoteca de São Paulo se uniram para pôr em prática o projeto A voz da arte.

Gênio
» Fabricio Barth, da IBM Watson Pina é o líder técnico da Watson para a América Latina. A proposta funciona da seguinte maneira: qualquer pergunta, por mais absurda que seja, poderá ser feita em relação à obra. Particularidades, curiosidades, contexto, história, cores, números… A pergunta é processada e a resposta é dada individualmente.

Vem
» O projeto A voz da arte é inovador e estará disponível ao público que visitar a Pinacoteca de São Paulo, na Praça da Luz, até 5 de junho. Agora, é torcer para Brasília ter o mesmo privilégio.
História de Brasília
Uma nota que publicamos, aqui, sobre a alimentação gratuita dos candangos nos Saps não tinha boa informação. Realmente, o Ministério do Trabalho está dando alimentação gratuita, mas esses candangos são fichados no Serviço de Colocação, onde, por sinal, o Sr. Edmilson Teixeira da Silva está fazendo um belo trabalho. (Publicado em 26/9/1961)

Atualidade de Nelson Rodrigues

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Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Transportada para a cena política em tempos de delações, a sentença do dramaturgo Nelson Rodrigues adquire atualidade e amplidão muito além da ficção. Com a deduragem generalizada e propiciada unicamente pelo medo da polícia, toda a nação comprova uma suspeita antiga: no Brasil, o dinheiro compra tudo, inclusive, o pacote fechado contendo os políticos, os índios, o debate eleitoral, os três Poderes, a confecção das leis e a interpretação das mesmas dependendo do cliente.Diante de uma realidade crua como essa, qualquer outro prognóstico sobre o país do futuro e outras balelas ufanistas caem por terra. Não temos futuro algum. Pelo menos como eleitores, cidadãos e com essa classe de políticos, dirigentes e empresários que aí está. Se todos não mudarem, apenas uma certeza permanece: continuaremos na rabeira do mundo civilizado.Brasília, com a emancipação política, passou a importar todas essas mazelas e, hoje, encontra-se na mesma situação de impasse e dilema. Não há como prosseguir, dentro do que anseiam as pessoas de bem, com essa classe dirigente nem com o atual modelo gestão da coisa pública, que permite e facilita a perpetuação desse flagelo.

O que está ocorrendo com a sociedade é justamente o que já previa o dramaturgo tempos atrás: “A bondade brasileira está se deteriorando a cada 15 minutos, aumentando o desgaste de nossa delicadeza”. É o que temos assistido, ao vivo, com a maioria dos políticos sendo hostilizada ou mesmo ameaçada de linchamento em público. A revolta não é preventiva. Os votos provam isso.Nossa classe dirigente se encontra, literalmente, em palpos de aranha. Fosse vivo hoje, Nelson Rodrigues experimentaria frustração sem par, ao verificar que a realidade do dia a dia tem se mostrado, extremamente, mais imaginosa do que qualquer ficção. Os apelidos atribuídos a cada um dos atores dessa pantomima revelam o quanto de ficção e surrealismo existe em nosso modelo de democracia. Até mesmo a atuação célere do juiz Sérgio Moro, buscando desinfetar o país, remete ao nome dado à operação policial.“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”, diagnosticava Nelson Rodrigues, para quem o subdesenvolvimento se resumia à questão profissional, já que alguns vivem às custas dessa “generosa abundância”. A tentativa de forçar, agora, a reforma política visando, entre outras excrescências, anistiar a todos, também foi observada de antemão pelo autor de A vida como ela é, quando afirmou: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.

O que todos estamos presenciando neste momento é, no antigo dizer do escritor, à “multicolorida variedade dos vigaristas”. Nossos modelos de gestão pública, previa o dramaturgo, “trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”. Até o odioso “nós contra eles”, tão comum em tempos recentes, fez sucesso por que naquela ocasião “o sujeito preferia que lhe xingassem a mãe e não o chamassem de reacionário”.A repetição dos mesmos nomes, eleição após eleição, enganando a população há décadas, tem justificativa singela em Nelson Rodrigues: “A burrice é eterna”. Para o escritor, a explicação para a realidade ontem, hoje e sempre é que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, já que “não há nada que fazer pelo ser humano: o homem já fracassou”.

A frase que foi pronunciada

“O sorriso do Sr. Odebrecht durante a delação premiada significa que o crime (ainda) compensa.”

Qualquer telespectador atento

História de Brasília

Por essa e por outras é que precisa ter alguém no DCT, que o dirija mesmo, como seria o caso do coronel Dagoberto. (Publicada em 26/9/1961)

Fachin e faxina na política

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MAMFIL com Circe Cunha

Segue, com a divulgação da lista do ministro Fachin, o desenrolar de mais um capítulo da longa trama político-policial levada pela primeira vez ao conhecimento da opinião pública em junho 2005, com a divulgação das negociatas de bastidores envolvendo o Palácio do Planalto e boa parte dos membros do Congresso Nacional.O que, naquela ocasião, parecia ser, pela dimensão, o último grande escândalo da República e o início de novo Estado, constituiu, na verdade, apenas um prólogo do que viria na sequência com as revelações da Operação Lava-Jato. A continuidade delitiva que se estendeu por mais uma década só foi possível porque, naquela ocasião, as investigações não chegaram a atingir de fato o núcleo criminoso, e os mesmos órgãos que sempre descuidaram da fiscalização do dinheiro público continuaram inoperantes e de olhos propositadamente bem fechados.Ainda agora, à mercê das descobertas vergonhosas que vão vindo à tona, é quase certo que muitos ralos por onde escoam os recursos dos contribuintes ainda estejam escancarados. Especialistas no assunto costumam alertar para um fato importante: quando a corrupção é detectada em todas as esferas de um governo e nas principais empresas de um país, é bastante provável que grande parte do tecido social esteja também contaminado. Nesse caso, o que grande parte dos representantes eleitos pela população fazem é reproduzir, nas altas esferas de poder, o que já existe em abundância na própria base da pirâmide.

Assim no céu como na Terra. Em situações como essa, resta apenas ao Poder Judiciário e a polícia agirem para trazer de volta à normalidade jurídica e institucional. No entanto, não basta a existência de juízes eficientes e imunes àcorrupção nem leis modernas que dificultem o desvio de dinheiro público. Mais importante do que tudo isso é a mudança cultural. E é aí que a situação se complica. Mudança cultural requer tempo e persistência a longo prazo e só é atingida, de fato, a partir da educação.Há muito é conhecida a relação existente entre o alto grau de instrução de um povo e o baixo nível de corrupção. Esse fato se explica por uma razão simples: é preciso antes aprender o que é certo e o que é errado. No nosso caso, o baixo grau de informação do povo age como uma espécie de fermento para crescimento da corrupção e seu transporte para as esferas mais altas do poder por meio dos representantes legitimamente eleitos.No Brasil, a corrupção é endêmica e perpassa verticalmente toda a sociedade numa linha contínua, cortando toda a pirâmide — da base ao cume. Trata-se de fenômeno histórico, presente desde que Cabral por aqui aportou em 1500. Só agora despertamos para o combate efetivo desse câncer.

A frase que foi pronunciada

“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.”
John Galbraith

Reclamação
Entre o Cresspon e o Minas Brasília Tênis Clube, há constantemente queimada de lixo. O fato incomoda demais a vizinhança.

Nova fonte
A Embrapa terá licenciamento para comercializar a tecnologia que desenvolve, e o acesso aos produtores do resultado dessas pesquisas será facilitado. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado analisa a proposta, que permitirá o recebimento de royalties. O senador Álvaro Dias é o autor e a senadora Kátia Abreu, a relatora. O texto muda a legislação acrescentando as novas fontes de renda à Embrapa.

Ecad
Novamente em pauta as peripécias do mundo nebuloso chamado Ecad. Blindado contra investigações, o Ecad continua com cobranças abusivas e sem a transparência necessária da distribuição dos recursos arrecadados. A deputada Renata Abreu quer garantir a segurança jurídica em relatório que será votado. Quer avançar na transparência, na disponibilização das informações sobre os processos de direitos autorais e mais clareza quando os repasses não são feitos.

Algemas
Lei proibindo que mulheres durante o trabalho de parto e de pós-parto sejam algemadas foi sancionada agora pelo presidente Temer. Trata-se de um instrumento há muito reclamado pela sociedade.

Curiosidade
Com 83 facções nascidas em presídios brasileiros, vamos ver as consequências da convivência com os presos por corrupção.

História de Brasília

Quem quisesse passar um telegrama às 11h20 de ontem no Correio da W3 teria que esperar porque “o funcionário foi tomar um cafezinho e não tem quem o substitua”, segundo informação da moça ao lado. (Publicado em 23/9/1961)

É gangrena!

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MAMFIL com Circe Cunha

Ao longo de pouco mais de uma década, a Odebrecht ousou destinar meio bilhão de reais em propinas apenas para formar ampla base de políticos que passaram a atuar nas diferentes esferas de poder sob seu comando e a seu soldo.

O caso pode ser resumido de modo singelo: o eleitor vota, escolhe seu candidato, mas, ao fim ao cabo, quem vai representá-lo de fato é o apontado pela empresa.

Pelas declarações, fica depreendido também que, ao longo de todo esse tempo, as construtoras ocuparam simultaneamente os Três Poderes da República, legislando em causa própria, executando seus desígnios e julgando com base em suas necessidades.

O que se tem, com apenas parte das revelações que agora vêm ao conhecimento da nação, é um país eviscerado à luz do sol, mostrando as entranhas a todos. As delações viram, como se dizia no passado, à tripa-forra, ou seja, em grande quantidade, tal qual gigantesco dique de sujeiras que, de súbito, se rompeu.

O que se vê nessa ferida gangrenada e aberta coloca as pessoas em dúvida: salvar o paciente, cortando-lhe logo as partes apodrecidas, ou fazer um pequeno curativo e aguardar que o tempo tome a melhor decisão?

A frase que foi pronunciada

“A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama.”
Ovídio

Deixa assim
» Loterias são verdadeiras lavanderias. Ao Coaf cabe a fiscalização. Ou compram bilhetes premiados, ou pagam pelos bilhetes mais do que a aposta. Até hoje a Caixa não tomou medidas para impedir esse tipo de roubo. Tudo seria diferente se o jogador fosse cadastrado. Mas será que há intenção de mudar as coisas?

Essa não
» Túnel sem luz no fundo. Agora até as medidas de combate à corrupção estão correndo o risco de não sair do papel. Isso porque os relatores do pacote anticorrupção estão na lista de Fachin.

Números
» Uma eterna fonte de notícias boas, a Codeplan divulga que a inflação em Brasília caiu 0,75% em fevereiro. Para as donas de casa que frequentam supermercados, há controvérsias na informação.

Teatro e música
» Artur Soares continua deixando seu rastro de brilho por onde passa. Dessa vez com o barítono Licio Bruno, a ópera Don Pasquale é uma sequência de risos. A montagem, de Janete Dornellas em homenagem ao aniversário da cidade, tem como cenário a Brasília dos anos 60. No Teatro do Sesc Gama, nos dias 15 e 16 de abril, às 19h; e no Teatro Levino de Alcântara — Escola de Música de Brasília, nos dias 29 de abril, às 19h; no dia 30, às 11h e às 19h; e no dia 1º de maio, às 19h.

Interessante
» Houve, na Câmara dos Deputados, uma discussão para apresentar substitutivo a uma lei que impede o acréscimo de gordura trans, gordura vegetal hidrogenada, em alimentos humanos. Apesar disso, a margarina continua nas prateleiras de supermercados e padarias.

Raízes
» Uma jovem aprendiz encontrou R$ 100 no chão de uma Comissão do Senado e só sossegou quando encontrou a dona. Uma copeira. A diretora do Senado, Ilana Trombka, sensibilizada com a situação, fez um belo discurso enaltecendo a ética. Ficou claro que a educação em casa é o início de tudo e bom impulso para ser honesto.

História de Brasília
Mesmo dando menos lucro, os postos deviam manter seu estoque de gasolina azul para satisfazer os fregueses, como é o caso do Atlantic do Eixo Rodoviário, perto da SQ do Banco do Brasil. (23.9.61)

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Um país eviscerado

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Diante da contundência e da naturalidade com que foram revelados os pagamentos feitos pela Odebrecht às principais lideranças políticas do país em troca de favores diversos, a questão urgente que se impõe é como prosseguir o cortejo, levando o cadáver de uma república, justamente com os mesmos personagens que lhe tramaram a morte?

O que os brasileiros de bem reclamam neste momento não é pelo justiçamento cego dos envolvidos no megaescândalo, mas afastamento preventivo de todos até que as luzes da razão voltem a iluminar a caverna Brasil. Com que autoridade os listados podem agora cuidar das reformas estruturais tão importantes para a vida da população? Que representatividade efetiva podem ter os que se venderam e traíram o cidadão por 30 dinheiros? Essa história toda só serve para confirmar a tese de que quem se vende não vale o que recebe.

Por seu lado, fica a constatação evidente de que todos os pleitos eleitorais em que essa “desconstrutora” inoculou seu dinheiro sujo estão, obviamente, maculados e nada mais valem. Aqueles que, por algum motivo, não foram cooptados por essa empresa ficaram em evidente desvantagem nas disputas eleitorais e podem recorrer com o argumento de que perderam porque jogaram limpo. Da mesma forma, fica elucidado que a maioria das grandes obras públicas foi contratada apenas para o benefício direto de um pequeno cartel de construtoras.

A frase que foi pronunciada
“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”
Abraham Lincoln

Outro mundo
» Senador Paim quer mais debates sobre as reformas trabalhista e previdenciária. O impacto sobre o trabalhador será enorme. Enquanto comparam a situação em outros países, esquecem-se de que o salário mínimo lá fora é U$1000.

Dívida
» No Monitor Fiscal, material produzido pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira do Senado Federal com base em informações do Banco Central, informa-se que o endividamento do setor público é sinalizado em porcentagem do PIB. Em relação ao setor público consolidado em 2017, a projeção da dívida bruta do governo geral alcançará 79,9% do PIB.

Atendimento
» Sem muito estardalhaço na divulgação, o trabalho do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua, Centro POP, abriga, alimenta, higieniza e disponibiliza espaço para guardar os poucos pertences. O diretor de Serviços Especializados da Família e Indivíduos da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Felipe Areda, é um dos entusiastas da iniciativa.

Zoonose
» Melhor que prender animais e matá-los seria castrá-los. A política pública para animais abandonados no Brasil não evoluiu com o tempo. Merece estudos e planejamento.

Insuportável
» Depois da Fafá de Belém e Moacyr Franco, agora serviços funerários são oferecidos por telefone. A falta de respeito é sem cerimônia. Em qualquer dia e hora.

Simples assim
» Quando prefeitos estiveram em Brasília, conseguiram investimentos e repasses. Não há que fazer monitoramento do dinheiro gasto por amostragem. Para receber novos recursos, o mínimo a apresentar seria a prestação de contas.

Vergonha
» “Não existe ninguém no Brasil que tenha sido eleito sem caixa 2.” A declaração de Marcelo Oderbrecht mostra como a história do candidato não é relevante. Nem passado, nem presente, nem tampouco futuro.

História de Brasília
A gasolina azul está dando menos lucro que a amarela. Isso é o suficiente para que todos os postos de Brasília possuam apenas gasolina amarela, o que constitui uma desatenção com os consumidores. (23.9.61)

#Partiu. Só que não

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MAMFIL com Circe Cunha

Viajar é ir de encontro com a aventura. Tudo pode acontecer de surpresa, inclusive, para quem programou cada passo longe do lar. Da porta de casa para fora, o que se apresenta a todos é um mundo hostil, intolerante e pouco amistoso, principalmente com as hordas de turistas afoitos que invadem cada canto das cidades famosas.Num planeta super populoso, os seres humanos parecem ter perdido a paciência com os seus semelhantes. Hoje em dia, visitar pontos turísticos é quase um exercício de resistência física e mental. Nada do que anunciam os panfletos de viagens, recheados de ótimas fotos coloridas, é real de fato. Em cidades de forte apelo turístico como Roma, a última coisa que os residentes querem encontrar pela frente é com esses viajantes curiosos .Tudo está superlotado, congestionado. Os preços, na alta temporada, sobem e obrigam os nativos a irem para outros sítios em busca de sossego e de economia. O dinheiro trazido pelos turistas, reconhecem, é necessário, mas rouba a paz. Apesar desses atropelos, nunca se viajou tanto. Os aeroportos estão sempre com lotação máxima. Com tanta gente indo e vindo, já não há tempo para mesuras individuais. A maioria, que viaja nas classes econômicas e se hospeda em hotéis pouco estrelados, é a que mais sofre com os maus tratos.
Muitos deixam de lado o conforto de casa, fecham os olhos para os contratempos inevitáveis e seja o que Deus quiser. Mas quando a situação resvala para intolerância e a violência, como vem se tornando comum hoje em dia em diversas partes do mundo, dá saudade da segurança do lar. Fatos como o ocorrido a pouco dentro do avião da United Airlines, uma empresa de larga experiência e tradição, ocorrem com frequência cada vez maior em muitas outras companhias aérea e é mais comum do que se pensa.A expulsão do passageiro daquela empresa, arrastado para fora da aeronave como um animal morto, só ganhou as manchetes do mundo porque foi flagrado em imagens que viralizaram pela rede. A lei americana permite o ocorrido. Funcionários da empresa precisaram embarcar e com o overbook passageiros são escolhidos para ceder o lugar se não aceitarem vantagens pecuniárias. No caso citado, o escolhido é um médico, que tinha pacientes o aguardando.

Os maus tratos a turistas, principalmente os oriundos dos países subdesenvolvidos são constantes. Começam pelo tratamento dispensado aos viajantes nas embaixadas ou consulados, onde a busca pelos vistos de entrada é precedida de longas esperas e pelo atendimento pouco cortês e desconfiado dos funcionários. Mesmo na embaixada de Portugal, o tempo mínimo de espera são 3 horas. Há apenas uma pessoa no atendimento ao público.As entrevistas aos turistas mais lembram inquéritos policiais. Essa situação desagradável ganhou ainda mais rispidez e falta de educação, a partir dos ataques terroristas. Hoje, todos são suspeitos potenciais, principalmente se vindos do terceiro mundo.Para os idosos, as viagens se tornam ainda mais penosas. Não há cortesia e atenção que a idade avançada merece e casos de truculência são noticiados aqui e ali. Na ausência de um Estatuto Internacional do Turista que valha, o jeito é viajar como quem fecha os olhos e encara a jornada como um sonho, nem bom, nem ruim, apenas um sonho que no percurso os olhos devem estar cerrados. Há outra saída ditada pelo filósofo de Mondubim: grande viagem faz aquele que em sua casa fica em paz.

A frase que afoi pronunciada
“Pior que não terminar uma viagem é nunca partir.”

Amyr Klink
Nove dias
» Se o governo precisa de argumentos para não subir o valor de impostos, a Associação Comercial de São Paulo traz em números. Até 20 de março, o total de impostos pagos no Brasil chegou na marca dos R$ 500 bilhões. No ano passado o impostômetro da ACSP chegou a essa marca só no dia 29 de março.

Denúncia
» Discursos do Senado são resgatados por trazer notícias interessantes. Um deles é do senador Ataídes de Oliveira, que em 2013 chamava a atenção do Brasil para a falta de publicidade nas atividades do Sistema S. A prática à qual se referia tratava da arrecadação direta de empresários sem que a verba passasse pela Receita Federal.

Reclamações
» Por falar em publicidade, a Receita Federal também deve respeitar a Constituição Federal, Lei da Transparência e Lei de Acesso à Informação. As notificações e os boletos de pagamento não discriminam nem esclarecem a que se referem.

Murros
» Outro senador que cantou a bola sobre a corrupção foi Mario Couto. Durante a atuação parlamentar, ele esbravejava, batendo no púlpito contra os eventos ocorridos no governo passado. As denúncias anunciadas por ele estão sendo apuradas uma a uma.

História de Brasília
Um desses infratores ocupa um box nos mercadinhos da W4, e seria conveniente que a Novacap soubesse disto, para uma punição ao infrator da economia popular. Filet é filet, e só pode ser vendido como tal. (Publicado em 26/9/1961)

Programas de televisão são um lixo

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MAMFIL com Circe Cunha

Educação de casa se leva à praça, diz o filósofo de Mondubim. Hoje, com a substituição dos pais pelos aparelhos eletrônicos, principalmente a televisão, o que se tem são legiões de jovens reproduzindo naturalmente no mundo real exemplos colhidos ao longo de horas em frente à telinha. No Brasil, como em todo o mundo, a televisão passou a representar o principal centro de atenção dos lares. A mesa de refeições onde as discussões do cotidiano ocorriam com frequência, foi substituída pela sala de televisão, na qual as pessoas, automaticamente abduzidas pela caixa de fazer doidos, engolem o que está no prato e na tela num gesto mecânico, sem se dar conta do mundo e das pessoas ao redor.

A televisão se transformou numa espécie de babá eletrônica da meninada. Os efeitos dessa exposição duradoura a um mundo virtual, onde até as regras mínimas de convivência e tratamento pessoal são fictícias, t”em conduzido toda uma geração a estabelecer relações interpessoais com base em exemplos, muitas vezes, impróprios. O peso da presença da televisão nos lares não é correspondido com o mesmo grau de cuidado com o conteúdo da programação veiculada. Obviamente, o que se busca na televisão é a maior apreensão possível do telespectador, o que vai corresponder de forma direta no valor pago pelos patrocinadores.

A fórmula mais sucesso, mais anunciantes é a regra para a própria sobrevivência econômica das redes de televisão. Diante dessa equação, tudo o que se faz é buscar a maior audiência possível. E é aí que mora o perigo, quando falta monitoramento. Na busca desenfreada pela audiência conta menos o conteúdo adequado do que o sensacionalismo. É justamente por esse motivo que a programação das televisões, de forma quase geral, é de baixíssima qualidade. O que se tem são programas apelativos e, muitas vezes, ofensivos à dignidade humana.

Exemplos dessa abstinência total de qualidade podem ser verificados diariamente, em programas vespertinos que reportam a criminalidade bestializada nas ruas do país. O grau de violência desses programas sangrentos, só perde em audiência para as baixarias de mau gosto apresentada pelos programas de reality show, em que a miséria humana é exposta na vitrine com toda a sua crueza animalesca. Nesses programas, particularmente, é destacada, em sons e cores e até glamourizada, a degradação ética do ser humano, submetido a modelos de comportamentos que envergonhariam até os primatas.

A alta audiência verificada durante a exibição desses programas, muito antes de servir de motivo para mantê-los no ar, tem uma explicação simples: os telespectadores brasileiros, até hoje, não foram apresentados a uma programação com sentido e com qualidade cultural inconteste, tal qual é feita em muitos países. Sorvem o que está à frente, sem se dar conta de que estão engolindo lixo tóxico.

A frase que foi pronunciada

“Quem vive em Brasília não sabe nada de Brasil.”

Turista radical embasbacado com a beleza arquitetônica da Praça dos Três Poderes.

Você sabia?

» Cobrar R$ 50 mensais de cada morador para fazer ronda de moto à noite é um preço bem alto pago nas ruas do Lago Norte. Todos conhecem o motoqueiro pelo nome e, dentro do acerto, pode-se pedir para buscar remédios ou pizza. Para muitos, vale o conforto.

Segurança

» Chama a atenção o número de carros da PM circulando entre o Paranoá e Varjão. Pelo visto em outras áreas também.

Stand by

» Sérgio Cabral e Pezão não estão sendo tratados com o mesmo peso e medida. A água está passando por baixo da ponte, mas, mesmo assim, há pegadas na beira do rio.

Cuidado

» Novo golpe na cidade. Agendamento de serviço por telefone. Nunca aceite se receber esse tipo de ligação dizendo ser da Sky, Net, Caesb ou CEB ou qualquer outra empresa. Ladrões telefonam para residência usando lista telefônica com números fixos. Agendam a visita, chegam uniformizados, são recebidos, entram na casa e anunciam o assalto.

Cidadania

» Atividade física, aulas de artesanato, alfabetização, canto coral, informática, aulas de dança, grupos terapêuticos e confraternizações apenas para idosos. Essas são as ofertas oferecidas pelo projeto Bombeiro Amigo. As inscrições podem ser feitas nos quartéis de Ceilândia, Brazlândia, Samambaia, Gama, Guará e São Sebastião.

Release

» Nesta sexta, dia 14, às 11h, será aberta a 11ª edição da tradicional Feira Internacional de Artesanato (Finnar), que, como sempre, será realizada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O evento segue até o dia 23. Durante os feriados, sábados e domingos, o início das atividades será às 11h e o término, às 22h. Nos dias úteis, funcionará das 16h às 22h. Ingressos a R$ 10,00 (inteira), com censura livre. O evento conta com o patrocínio da Caixa e apoio da Secretaria de Estado de Esporte, Turismo e Lazer do DF.

História de Brasília

E mais: alguns açougueiros estão vendendo filé com contrapeso, o que é um absurdo. Estes, então, devem ser anotados pelas donas de casa. (Publicado em 26/9/1961)

Precisam-se de gestores

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Jornalista_aricunha@outlook.com
circecunha@outlook.com e MAMFIL

Das muitas consequências nefastas, provocadas pela açodada emancipação política da capital, o inchaço populacional do Entorno feito, inclusive, sobre extensas áreas de proteção ambiental, foi o mais importante. Mesmo alertados sobre os perigos de se assentar populações inteiras de forma improvisada e sem planejamento, os diversos governos que se sucederam naquela ocasião não demonstraram sensibilidade alguma para deter esse tipo de prática.
Pelo contrário, incentivavam e financiavam as invasões como forma de obter apoios políticos momentâneos, dentro da fórmula um voto, um lote. O resultado visível desse modelo irresponsável. Hoje, é patente, sendo agravado ainda pela falta de aptidão administrativa dos atuais gestores. Brasília, não é segredo para ninguém, tornou-se, a exemplo de muitas cidades brasileiras, praticamente ingovernável. Os problemas e o caos urbano se sucedem num ritmo mais veloz do que as medidas adotadas para corrigi-los.
Em situações como essa, faltam gestores e sobram políticos. São Paulo, a maior cidade da América Latina, com toda a complexidade de uma megalópole, viu que não podia mais perder tempo com experimentações e tratou logo de defenestrar prefeitos fisiológicos, substituindo-os por gestores eficazes e com prática comprovada. A grande Brasília necessita desesperadamente de gestores, sob pena de vir a se tornar inviável como capital.
A desordem urbana torna qualquer orçamento, mesmo os mais vultosos, insuficientes para atender às múltiplas e urgentes demandas. Para ficar apenas no Plano Piloto, que ainda é o cartão-postal da capital, a degradação geral é visível em toda a parte. As avenidas W3 Norte e Sul, principais eixos comerciais da cidade, continuam abandonadas, sem iluminação, sujas e perigosas à noite, calçadas irregulares, poluição visual.
Nos Setores Hoteleiros Norte e Sul, porta de entrada dos turistas, a situação de caos se repete, com assaltos à luz do dia, furtos de veículos, consumo de drogas, prostituição , moradores de rua e viciados perambulando livremente e ameaçando os transeuntes. Os hóspedes de muitos hotéis da região são simplesmente aconselhados a não saírem à noite, criando uma situação surreal de turista retido por falta de segurança. Na maioria das cidades do mundo, as áreas ao redor dos hotéis são as mais vigiadas e iluminadas e onde se concentram as grandes atrações turísticas e de entretenimento.
Por aqui, a situação é diferente. Considerada Patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, Brasília não tem feito jus ao título. O Teatro Nacional, um dos mais importantes da capital, permanece, há anos, fechado para manutenção e vai se transformando, aos poucos, em abrigo para viciados. O mesmo ocorre com o Museu de Arte de Brasília (MAB), com o Espaço Cultural Renato Russo e com o Centro de Dança do Distrito Federal. A Concha Acústica está abandonada. Isso sem tratar das bibliotecas e espaços culturais de escolas públicas. A situação de abandono dos pontos turísticos vai num crescendo tal formaque pode chegar a um ponto de não retorno, com prejuízos para todo mundo. Brasília merecia melhor sorte.

A frase que foi pronunciada
“Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história os que não compreenderam e não amaram esta obra.”
Juscelino Kubitscheck

Merece medalha
» O projeto Jovem Senador que mobiliza grupos escolares de municípios de todo o país, trazendo a cidadania à tona, nasceu na Secretaria-Geral da Mesa, Relações Públicas e Diretoria Geral do Senado quando eram comandadas por Claudia Lyra, Juliana Rabelo e Doris Marise. Lucyana Vega, à época da RP, também foi fundamental para a concretização do projeto.

Autorrepresentatividade
» “Mudamos”, aplicativo de celular lançado em meados de março, passa a ser o verdadeiro representante do povo. Criado pelo juiz Marlon Reis, o mesmo que disparou a Lei da Ficha Limpa como projeto de iniciativa popular, o aplicativo conclama a população para exercer o direito de também criar projetos de lei, fazendo-se representar no Congresso, já que poucos parlamentares se dignam a representar os eleitores. A equipe de Ronaldo Lemos, da ITS do Rio de Janeiro, foi fundamental para a concretização dessa proposta.

Tráfico
» Chama a atenção o número de carros da PM circulando entre o Paranoá e Varjão madrugada a dentro. Deu resultado. Traficante importante que atuava no Paranoá foi abordado pela equipe do Gtop 40 Bravo, do 20º Batalhão de Polícia Militar, quando patrulhava a Quadra 21. Resta saber quanto tempo a Justiça dará de segurança aos moradores da área.

Álcool
» Mesmo com os altos valores das multas por dirigir sob efeito do álcool, as abordagens da PM aos domingos sempre são positivas. Principalmente para os que guiam com responsabilidade e que são geralmente os que sofrem pela irresponsabilidade alheia.

História de Brasília
As donas de casa do Rio e São Paulo estão fazendo a “greve da carne”. Em Brasília, um movimento nesse sentido bem que deveria ser feito. O filé mignon custa, no supermercado, 200 cruzeiros, e há casas de carne vendendo a 250 cruzeiros. (Publicada em 26/9/1961)

Como criar deserto

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Pesquisa realizada, por mais de uma década, pela organização não governamental Forest Trends alerta que mais da metade dos desmatamentos ilegais de áreas de florestas tropicais do planeta foi provocada pela atividade agrícola. O Brasil, como o maior país tropical do mundo, é também o que mais tem destruído suas florestas para substituí-las por culturas comerciais de grãos e criação de animais.
Ainda de acordo com essa pesquisa, 90% do desmatamento da Amazônia brasileira tem como catalizador a atividade agrícola praticada de forma ilegal. Calcula-se que quase metade da soja produzida no país possui relação direta com a derrubada ilegal de florestas. O mesmo ocorre com a produção de carne. Segundo o relatório, 65% da pecuária para exportação é feita às custas do desmatamento ilegal.
O governo, por motivos óbvios, fecha os olhos. Na verdade, até hoje não se ouve falar numa investigação sobre os prejuízos causados ao meio ambiente por estas atividades. Vive-se num período de patriotismo agrário, no qual tudo o que vem do campo, principalmente os dólares, deve ser aceito com a mão no coração.
Costumamos dizer, cheios de orgulho, que somos hoje os maiores produtores de grãos e de carnes do planeta. Mas escondemos que, para chegarmos a esse grande feito, prosseguimos arrasando tudo em volta, com tratores e correntes, introduzindo, depois da bonança, a cultura da desertificação paulatina, deixando para trás um grande e abrasador areal para as próximas gerações.
A destruição do bioma é um capítulo que ainda está por ser escrito dentro do que consideramos ser nossa redenção econômica do momento.

A frase que foi pronunciada
“Nós não herdamos a Terra de nossos antecessores, nós a pegamos emprestada de nossas crianças.”
Provérbio Índio Americano

Eleições I
Caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o futuro do país. Assegurada como inviolável, falta apenas a impressão do voto pela urna eletrônica para convencer de que não há erros ou violações durante o sufrágio. O argumento de que o voto impresso demorará mais é muito frágil para um país que aguarda por mais de duas décadas para entrar nos trilhos.

Eleições II
Em 2018, o TSE terá sua parcela de responsabilidade em demonstrar competência para fazer valer o preâmbulo da Carta Magna. Na linha de frente, com a maior parcela de cidadania nas costas, está o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino. É da equipe dele que depende o sucesso e lisura das eleições em 2018.

Novidade
Visitas vexatórias estão com os dias contados em algumas unidades prisionais do país. Com as licitações feitas no ano passado, os escâneres corporais já começam a ser instalados. Em Santa Catarina, 11 unidades receberão os aparelhos.

Torcida
Cientistas brasileiros são disputados no exterior. Quem sabe agora, Leonardo Brito consiga mudar essa situação valorizando nossos gênios? O garoto de 17 anos foi admitido em Harvard depois de participar do programa Jovem Senador. Ele é de Rondônia e tem como sonho se tornar cientista e mudar a legislação brasileira para, efetivamente, valorizar o desenvolvimento científico e tecnológico do país. As universidades de Stanford, Columbia e Tufts também o aceitaram. Ele parte para Harvard em agosto.

Senado
O programa Jovem Senador é um projeto da Secretaria de Comunicação Social, Secretaria-Geral da Mesa e Consultorias Legislativa e de Orçamento, com apoio da Diretoria-Geral.

Denúncia
O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) foi um dos grandes vilões do país, ao descumprir sua competência e sua missão. Prova disso são as operações da Polícia Federal. O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy reconheceu a inoperância do órgão, suas falhas e a fragilidade nos procedimentos que lhe cabem. A parcialidade na distribuição dos processos e a demora para finalizá-los foram os problemas mais graves.

História de Brasília
Não diz, entretanto, o sr. Maurício Jopert da Silva, que o projeto Cota Mil ficou à disposição da Câmara durante largo tempo, e, se assim foi feito, é porque todos concordaram. (Publicado em 26/09/1961)