Ensino da cultura brasileira

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jornalista_aricunha@outlook.com

Circe Cunha e MAMFIL

Nenhuma reforma do ensino público que se pretenda eficaz e efetiva, moderna e produtiva pode prescindir da valorização da cultura nacional. É por meio do que foi produzido no país, nos últimos cinco séculos, nas mais diversas áreas do conhecimento, que os jovens de hoje poderão saber melhor e mais a fundo o que é e qual é a importância da cultura brasileira para a formação não apenas de sua geração, mas de todas que os antecederam e as futuras. A informação aprofundada sobre a vasta cultura brasileira deveria se constituir no ponto central da formação de nossos alunos, ressaltando os valores que sempre lhes são familiares. É pelo conhecimento do imenso legado deixado à sua disposição por legiões de brasileiros que nossos jovens poderão buscar a própria identidade, comparando, em cada grande obra, resquícios da própria realidade.Ao identificar na produção nacional traços da própria formação, os alunos encontrarão o verdadeiro porto seguro de onde vão zarpar para outras aventuras do conhecimento, sem perigo de se perder no caminho. É preciso que a reforma seja assentada basicamente naquilo que de melhor a nação possui. É por meio da cultura que é possível entender o exato sentido de nação. Nenhum grande país pode construir sua pujança alijando de sua origem a produção cultural. A cultura nacional de um povo talvez seja sua maior e mais preciosa riqueza e, quanto mais repartida, mais rica se torna pela contribuição contínua de todos, principalmente dos jovens.
Todos os países desenvolvidos não se furtam de constantemente mencionar os nomes e as obras daqueles compatriotas que ajudaram a construir e dar feição ao que são hoje. É preciso resgatar para o presente e apresentar a nossos jovens todos os brasileiros que fizeram de suas vidas um trabalho diário em nome da nação. Nenhum conceito de nação é completo se lhes falta a cultura. É a cultura que identifica e dá sentido à Nação. São esses produtores de cultura que esculpiram o brasileiro atual e que precisam estar onipresentes ao longo de toda a jornada de nossos alunos, moldando-lhes o caráter com o exemplo de suas obras.É preciso ensinar às crianças e aos jovens que cada feito, desses brasileiros ilustres, representou um tijolo a mais na construção daquilo que somos hoje e que a obra ainda não está completa. Qualquer reforma de ensino para valer deve apresentar aos alunos uma longa lista de nomes ilustres e de suas realizações, nas várias áreas do saber e das artes que servirá como farol a indicar caminhos e para mostrar que esse lado do Brasil, que sempre deu certo, é o país possível e que, afinal, importa a todos nós.

Melhor do que reformar o currículo do ensino público é revolucioná-lo com a introdução de uma massiva lista de grandes realizadores nacionais, apresentando aos mais jovens o quão imenso é o tesouro à sua disposição. Toda essa fabulosa mina de riquezas, criada por brasileiros de todas as condições sociais e econômicas ao longo do tempo, está ao alcance daqueles que se propõem a buscá-la. É necessário, pois, dar a conhecer a todos os pequenos brasileiros o mapa da mina.Trata-se do que é nosso, nossa carteira de identidade, com nossa digital impressa. Qualquer reforma do ensino para valer deve pelo menos começar com uma lista que contenha nomes como Rachel de Queiroz, Chiquinha Gonzaga, Chica da Silva, Anita Malfatti, Zilda Arns, Maria Quitéria, Cora Coralina, Bertha Lutz, Clara Sverner, Magdalena Tagliaferro, Alice Piffer Canabrava, Pixinguinha, Radames Gnatalli, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Joao Gilberto, Vinicius de Morais, Tom Jobim, Caetano Veloso, Maria Bethania, Gal Costa, Nise da Silveira, Adriene Baron Tacla, Suzana Herculano-Houzel, Camargo Guarnieri, Villa-Lobos, Guerra Peixe, Ernesto Nazareth, Adoniran Barbosa, Dias Gomes, Guimaraes Rosa, Euclides da Cunha, Quintino Cunha, Neusa França, Darlan Rosa, Claudio Santoro, Hugo Rodas, Alexandre Ribondi, Plínio Mósca, Castro Alves, Olavo Bilac, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Pacetti, Guignard, Omar Franco, Sebastião Salgado, Martins Penna, Alberto Nepomuceno, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Rui Barbosa, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Hildete Pereira de Melo, Lígia M. C. S. Rodrigues, Luiz Gonzaga, Alice Piffer Canabrava, Carlos Chagas, Osvaldo Cruz, Di Cavalcanti, Portinari, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Ignácio de Loyola Brandão, Rubem Fonseca, Luís Fernando Veríssimo, Érico Veríssimo, Aleijadinho, padre José Maurício, padre Antônio Vieira, Alline Campos, Daiana Ávila, Tábita Hunemeier, Cecília Salgado, Karin Menéndez–Delmestre, Elisa Orth.
A frase que foi pronunciada
“Pintei meu pensamento aqui.”
Colunista, escolhendo as cores

História de Brasília
Façam assim. Fichem o candango, deem comida por uma semana, enquanto ele vai embora ou se emprega. Assistência social não é dar meio de vida sem trabalhar. Braço parado quer emprego e não esmola. (Publicado em 21/9/1961)

Penitenciárias, escritórios de quadrilhas

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Do ponto de vista do marketing, é certo que as rebeliões em vários presídios do país resultaram num sucesso estrondoso sem igual. As organizações criminosas obtiveram exposição na mídia nacional e estrangeira que mesmo aquelas empresas mais famosas do planeta não conseguiriam, ainda que investissem centenas de milhões de reais. Para o crime organizado, a divulgação de suas ações e poderio foi feita sem gastar um só centavo. Para isso, recorreram ao capital que tinham à mão, no caso, a vida de uma centena de presos que foram sacrificados com a degola no altar da impunidade. Nesse caso, pode-se afirmar, com certeza, que a missão foi cumprida à risca.

Além da exposição de seu poder intimidatório, as organizações obtiveram o que esperavam do Estado: a transferência dos líderes da rebelião e de facções para presídios federais, onde as condições carcerárias são bem melhores e onde se encontram também seus comparsas. Para organizações de qualquer espécie — exceto, claro, aquelas de cunho secreto —, imagem é tudo, mesmo as mais tenebrosas. Sem a propaganda dos feitos criminosos, não há como causar o efeito desejado de incutir o medo em uns e provocar o respeito e a admiração em outros, principalmente perante os novos integrantes e futuros pretendentes.

Pertencer a esses grupos do crime, que ganham manchetes aqui e alhures, é tudo que os neófitos desejam. Nesse sentido, é bom observar o que alguns países, como Portugal, procedem em relação a situações semelhantes. Naquele país, considerado hoje um dos mais seguros de toda a Europa, quando um criminoso cai nas malhas da Justiça e é condenado, praticamente ele some do horizonte e é deletado da sociedade até o último dia de sua condenação. Nem mesmo a impressa sensacionalista tem acesso ao seu paradeiro. Trata-se de um morto-vivo, cujo destino só interessa à Justiça que o condenou.

No Brasil, as penitenciárias, no entanto, transformadas em escritórios centrais do crime, toda a divulgação é permitida. Para isso, retardam, ao máximo, a simples instalação de bloqueadores de celulares. Aliás, nesse ponto, é bom destacar que os sinais de celulares funcionam bem melhor intramuros do que fora das prisões, onde os consumidores são tosquiados pelas operadoras omissas.

Vivemos uma contradição: prendemos, mas queremos permitir mordomias, como visitas íntimas, churrascos, bebidas, drogas, e um entra e sai de pessoas das mais diversas, que, em parte, fazem o papel de pombos-correio. Em democracias muito mais justas do que a nossa, os presos não têm direito a conversas particulares e outras regalias comuns em nossas cadeias.

Qualquer pesquisa feita entre as classes menos favorecidas, justamente as mais prejudicadas pela criminalidade, mostrará que elas desejam uma atitude mais dura por parte das autoridades. Teorias como a humanização de presídios é coisa de discurso de pessoas situadas no alto da pirâmide social. O povão quer mesmo é que bandido pague sua pena, de preferência trabalhando enquanto cumpre a condenação, até para reparar o mal causado. Que trabalhe para pagar pelo que come e pelo abrigo.

Neste mês, as revoltas nas penitenciárias empurraram das manchetes dos jornais a Operação Lava-Jato e colocaram em seu lugar o morticínio de presos. Para não ser acusado de omisso e sob forte pressão dos governadores, a maioria da base política, o presidente Temer resolveu colocar as Forças Armadas para garantir a segurança nos presídios.

Especialistas alertam para o perigo de lançar as FA em missões que não dizem respeito a seu papel constitucional. Muito mais proveitoso do que colocar mil homens das FA, seria utilizar essa força especialíssima para formar um forte cordão de segurança ao longo dos milhares de quilômetros de nossas fronteiras com os países produtores de drogas e vendedores de armamentos.

A população carcerária hoje é de 600 mil presos, outros 400 mil condenados e com mandado de prisão aguardam na fila. Além disso, não há controle do tempo de internação, o que, com a tecnologia disponível, deveria ser automático. Cumpriu a pena, liberdade imediata. Infelizmente, até hoje um problema simples como esse não foi resolvido. A impressão do cidadão comum é que estamos enxugando gelo sob o Sol. A situação ameaça sair dos muros frágeis das prisões e ganhar as ruas, já excessivamente violentas do país. Soluções extremas não chegariam à origem do problema, que está nas escolas abandonadas, sem equipamentos, com professores desprestigiados e mal pagos.

>>A frase que foi pronunciada
“O caráter de alguns homens públicos é como o próprio cheiro de corpo. Só incomoda os outros. ”

Dona Dita, lendo jornal

>>História de Brasília
O ministério do Trabalho está dano comida de graça aos candangos, à custa do Saps. Mas não tem nenhum controle, e muita gente está mandando chamar parente para viver à custa do governo. (Publicado em 21/9/1961)

Não existe lixo

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Circe Cunha e MAMFIL

A afirmação, que à primeira vista pode parecer falsa, tem sido encarada por muitos países como algo possível e vem ganhando a cada dia uma legião de adeptos e entusiastas com a ideia de que nada se perde, tudo se transforma. Tudo pode ser reinserido na cadeia de consumo de modo a racionalizar e perpetuar o ciclo de produção, tão necessário para a geração de riqueza e empregos.

Nesse contexto, o lixo é visto como ouro, bem precioso. Mas, para chegar a esse ponto, são necessárias uma preparação prévia e a introdução de muitas mudanças e alterações de antigos hábitos e costumes. A questão vem a propósito da transferência gradual do lixão da estrutural para o novo local, situado na DF 180, próximo a Ceilândia e Samambaia, segundo prevê a Lei 12.305110, conhecida por Política Nacional de Resíduos Sólidos.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a nova política vai “instituir a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo”.

Para uma cidade que pretende servir de modelo para o restante do país, a questão do adequado manejo do lixo urbano é, talvez, a mais importante de todas as políticas a serem implantadas a médio prazo. Antes de tudo, impõe-se apresentar a proposta aos garis, mostrando a importância do manejo do descarte reutilizável. São os garis os primeiros a manusear o lixo seletivo. É importante que tenham conhecimento do futuro do material. A geração do número de empregos, as formas de reutilização, a importância de reaproveitamento, os desafios à criatividade.

O segundo passo são as escolas. Há que envolvê-las no assunto. Elas são a base para a formação de cidadãos conscientes sobre a importância da questão do lixo urbano. Desde lições preliminares de urbanidade, como o lixo no lixo, até a conscientização da família para a questão.

Também o saber das universidades deve ser incorporado ao terna, com a criação de cadeiras que tratem especificamente do tema, de modo que se busquem soluções racionais para este que é um dos maiores problemas da atualidade.

Somente com o poder multiplicador das escolas é possível chegar a uma solução razoável para tratar o descarte responsável. O governo e os órgãos a ele subordinados devem dar o exemplo internamente, na minimização do consumo de todo material que possa gerar lixo e, sobretudo, empreender campanhas para tratar o assunto com a seriedade requerida.

Nesse ponto, a fiscalização sistemática para o correto manuseio do lixo torna-se necessária e urgente, estabelecendo pesadas penas para quem deposita lixo de forma inadequada, como vem se tornando habitual na cidade. Circular pelas quadras comerciais hoje é experiência desagradável, dada a quantidade de lixo estocado de forma incorreta em contêineres superlotados e malcheirosos. E visível, ao final do dia, quando o lixo do comércio local é recolhido, a presença de chorume escorrendo rua abaixo, inundando o ar de mau cheiro insuportável.

Diariamente são gerados aproximadamente 3 milhões de toneladas de lixo doméstico em todo o DF. Trata-se de problema de enormes proporções, que requer ação rápida e constante, sob pena de, no futuro, inviabilizar ambientalmente a própria cidade.

A reutilização e o reaproveitamento dos materiais sólidos em centros especializados e modernos de triagem têm sido solução correta e econômica tanto para os catadores como para o próprio governo. É preciso incutir nos brasilienses a ideia e a importância da reciclagem.

Em alguns países vem ganhando força a construção de fábricas que utilizam roupas usadas como matéria-prima para a fabricação de papel de ótimo padrão e fios e tecidos de algodão de excelente qualidade. Com 7 bilhões de habitantes, o planeta já não consegue mais suprir a demanda de consumo. O futuro é da reciclagem, da reutilização dos materiais e do repensar o consumo do sistema capitalista selvagem, que enxerga o meio ambiente apenas como objeto para a geração de lucros sem fim.

Pode ser interessante fazer visitas guiadas das escolas aos lixões, para que os novos alunos tomem ciência, in loco, do tamanho do problema e do perigo que correm no futuro caso não repensem imediatamente seus padrões de consumo e de comportamento.

>>A frase que não foi pronunciada

“Esse silêncio político é apenas o preparo da receita de sempre para o ano que se inicia.”

Alguém pensando depois de uma reunião de partido

>>História de Brasília

Ajude a Câmara Júnior, na Campanha de Trânsito. Não precisa dar dinheiro. Basta cumprir o Código, respeitar os outros e, quanto ao mais, procure defender a si próprio sem sacrificar ninguém. (Publicado em 211911961)

Rebeliões nos presídios e as Farc

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Circe Cunha e MAMFIL

Quais são as relações que poderiam haver entre as atuais rebeliões com dezenas de mortes nos presídios do Amazonas, Acre, Rio Grande do Norte e outros, com a chamada rota do Solimões e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)? Em documento datado de 2010, e enviado ao Palácio do Planalto, o Serviço Antiterrorismo da Polícia Federal elaborou, ao longo de quatro anos, um minucioso mapeamento das rotas de tráfico de armas e drogas e das bases de operação das Farcs em território nacional. A rota, extremamente lucrativa e pouco vigiada, se estendia ao longo do Rio Solimões na Amazônia e se constituía, à época, na principal fonte de recursos para as guerrilhas de narcotraficantes colombianos e posteriormente para as facções do crime organizado, que passaram a ver, naquele longo trecho, um meio fácil de obter grandes somas de dinheiro.

Facções, como a Família do Norte (FDN), conhecida agora dos brasileiros, depois das chacinas no Presídio Anísio Jobim, em Manaus, se fortaleceram como grupo criminoso graças às facilidades oriundas da rota ribeirinha. PCC e CV também utilizavam o percurso para comprar armas e drogas que circulavam livremente pela região. A ligação entre os grupos do crime organizado e as Farc rendeu muito dinheiro para todo mundo, até que a FDN resolveu se apoderar, sozinha e à força, desse território, considerado sua terra natal.

Com o processo de pacificação da Colômbia, as Farc deixaram o território livre para a ação dos bandos do crime organizado do Brasil. Em 2010, a PF enviou o seguinte relatório ao governo: “O curso das investigações, desenvolvidas sob a denominação Rota Solimões, deixou claro que a organização criminosa formada principalmente por colombianos trasladou suas bases operacionais para território brasileiro, aproveitando a vastidão da zona de fronteira pouco guarnecida para se homiziarem (esconderem) das ações do governo colombiano”.

Naquela ocasião, soube-se que o território brasileiros já não era apenas rota de passagem, mas base fixa para os negócios da guerrilha e do crime organizado local. A essa altura, a PF e o Exército já tinham traçadas todas as estratégias para bloquear o avanço da guerrilha sobre o território nacional, então o Palácio do Planalto usou de todo o seu poder não apenas para deixar esfriar a situação, como ainda fez diversas gestões de bastidores para amenizar a reação contra os narcoguerilheiros, considerados pelo governo petista como companheiros de jornada.

Dessa atitude oficial, de aparente neutralidade, é que tanto os terroristas colombianos quanto o crime organizado se aproveitaram para seguir se fortalecendo, enriquecendo às custas do contrabando de armas, drogas e tudo mais. A convivência entre os diversos grupos, longe dos olhos da lei, afastada por pressão de cima, favoreceu a cada um individualmente e, na ocasião, era comum a troca de ensinamentos nas artes de guerrilha e noutras modalidades de crime. A partir do enfraquecimento das Farc e com o conhecimento de que a rota Solimões era uma mina de tesouros fabulosa, começaram os conflitos entre os grupos do crime organizado, que resultaram nas chacinas brutais. Portanto, foi, com a bênção do governo da época, o início dessa história a cujo desfecho assistimos agora.

A frase que foi pronunciada
“Para escrever bem deve haver uma facilidade natural e uma dificuldade adquirida.”
Joseph Joubert

Tarifas
» Caso a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) impetrada pelo governador Rodrigo Rollemberg, contra a decisão da Câmara Legislativa, que vetou o aumento das passagens de ônibus e metrô, venha a ser acolhida pelo Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), o que poderia ser uma questão de negociações envolvendo Executivo e Legislativo poderá se transformar num embate de proporções dramáticas.

Tarifas 2
» Com os ânimos acirrados e em busca de ganhar espaço positivo junto à população a CLDF pode ter encontrado o leitmotiv que procurava para dar início a um desgastante processo de impeachment contra Rollemberg.

Tarifa 3
» Gente querendo puxar o tapete do governador não falta. Dentro do Palácio do Buriti, a quem sempre torceu para isso, inclusive, plantando factoides na imprensa. Dentro da Câmara Legislativa, tem também aquela turma, alvo da Operação Drácon, que espera para dar o troco.

Tarifa 4
» Nesta hora, é bom que o governador mantenha o bom senso, amparado pela legalidade e pela legitimidade de suas ações e não se deixe intimidar. Caso venha se tornar refém da voluptuosidade dos deputados distritais, seu mandato pode ser considerado definitivamente findo.

Tarifa 5
» Tão importante quanto o reajuste honesto nas passagens, é a manutenção da redução de gastos que a população reconhece como supérfluos, como é o caso dos R$ 62 milhões cortados da CL para despesas com viagens, diárias e outras perfumarias. De Brasília desde os primeiros tempos, Rollemberg não precisa de conselhos para saber o
que a população apoia e o que condena.

História de Brasília
O balcão de fórmica, também é muito bom, mas só dá passagem pela abertura da balança, obrigando a todos passarem por uma estreita abertura. Logo mais, nas chuvas, quando o DAC chamar algum despachante, ele terá que ir pelo lado de fora, na chuva, para atender à administração do aeroporto. (Publicado em 21/9/1961)

Corrupção afeta o turismo

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Circe Cunha e MAMFIL

Ainda não foram devidamente contabilizados pela economia do lazer os prejuízos decorrentes da corrupção e da violência generalizadas que ocorrem no país. Mas, pelo que se comenta lá fora, a situação interna não recomenda a vinda de turistas, não só pelos serviços de baixa qualidade oferecidos, pelos quais são cobrados preços altíssimos, mas, sobretudo, pelos riscos de morte que correm aqueles estrangeiros que perambulam distraídos por nossas cidades, hostis, violentas e sujas.

Nos últimos três anos, as imagens que o mundo tem recebido quase que diariamente do Brasil mostram membros da elite política e os mais ricos e influentes empresários do país chegando às sedes da Polícia Federal, em longas filas, de cabeças baixas, algemados e com as mãos para trás. Também são mostradas na tevê, sem cortes, as dezenas de presos degolados por ordem das facções criminosas que agem e comandam o milionário comércio de drogas e armas de dentro das masmorras.

O que os comentaristas e os editoriais estrangeiros apontam, com seriedade, é que o submundo da criminalidade em todas as suas vertentes vem perpassando todo o Estado brasileiro. A diferença básica com a corrupção praticada nos estamentos superiores e por gente refinada é que, nesse patamar, os lucros são infinitamente maiores e a divisão do butim é feita em restaurantes caríssimos, sem maiores alardes e, como manda a boa educação, sem cabeças cortadas. De toda forma, os assaltos praticados pela elite política em conluio com os empresários espertalhões causam danos bem maiores a longo prazo, condenando gerações inteiras de brasileiros ao subdesenvolvimento e à indigência eterna.

Em 1655, padre Antônio Vieira apontava o dedo para ferida histórica e vale a pena replicar o registro: “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem esse título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.”

Estragos à imagem do país não ficam só na foto, têm reflexos diretos e pesados na própria economia, afastando investidores, dificultando concessão de créditos, cancelando projetos e colocando o Brasil na dianteira daqueles países do qual o melhor é passar longe e esconder o dinheiro. Com imagens como estas, exibidas à exaustão em todo o mundo, o maior prejudicado acaba sendo o já incipiente turismo local. Que família de turistas estrangeiros virá ao Brasil descansar sabendo que aqui se rouba até tampa de bueiro? São assaltados nos táxis, nos hotéis, nas praias, pelos comerciantes e pelo governo por meio de uma diversidade de taxações excessivas e abusivas. Acostumados a explorar o turista e não o turismo, o que ainda sustenta esse setor não foi criado por nós e se resume à belezas naturais espalhadas por todo o território nacional , principalmente ao longo de milhares de quilômetros junto à costa do Atlântico.

A frase que foi pronunciada

“Não se alcança a harmonia quando todos tocam a mesma nota.”

Doug Floyd

Enletrando
» Brasília, um tapete de cor. Poesia de Gil Guimarães, patrimônio cultural da humanidade, exposto no aeroporto. Vale apreciar. Guimarães, com mais de 80 anos, tem o mesmo vigor de um adolescente defendendo as ideias.

No calor
» Brasília por trás das obras. Um livro que está no forno e será lançado pelo poeta e engenheiro

Futuro próximo
» Juscelino Kubitschek apareceu em sonho para o poeta Gil Guimarães pedindo um monumento JK no Universo, que será instalado no Memorial JK, enaltecendo a participação de todos os pioneiros na construção da cidade. Oscar Niemeyer, Lucio Costa e JK estão à frente da construção da capital, mas vários engenheiros, arquitetos e políticos foram de fundamental importância para que a cidade brotasse das pranchetas. É um sonho justo. Certamente terá o apoio de Anna Christina e Paulo Otávio.

Escolas públicas
» Seria um ganho para os alunos de Brasília uma palestra com o engenheiro e poeta Gil Guimarães. Que os diretores preocupados com a importância da história da cidade aproveite essa gente experiente que deu a vida pela mudança da capital.

História de Brasília
A Panair, Pan American, Varig e Real já resolveram à sua moda o problema de jogar as malas pela cerca porque falta um portão. Mas é deselegante. Retiram uma parte da cerca, puseram de lado, e deixaram o trânsito livre para os carrinhos bagageiros. (Publicado em 21/9/1961)

Quer saber onde estão os recursos?

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A Câmara Legislativa tem, habitualmente, tomado medidas que implicam despesas, sem apontar receitas, contribuindo para o desequilíbrio econômico do Distrito Federal. A afirmação, feita pelo governador Rodrigo Rollemberg, veio em resposta à decisão dos deputados distritais que derrubaram, na quinta-feira, o aumento de 25% nas passagens do transporte público de Brasília.

O que, à primeira vista, parece uma queda de braço entre Executivo e Legislativo, normal, nas democracias, esconde de fato uma guerra subterrânea iniciada pela CLDF, catalisada desde que a Polícia Civil, cumprindo mandato de busca e apreensão, vasculhou e apreendeu documentos e computadores em gabinetes da Mesa Diretora da Câmara Legislativa, em setembro último, em meio à Operação Drácon.

Naquela ocasião, todos os membros da Mesa foram afastados de suas funções. Para alguns distritais, principalmente aqueles envolvidos até o último botão do colarinho branco no propinoduto da saúde, a operação teria sido orquestrada pelo atual governador. Para o ex-chefe da Casa Civil e ex-homem forte do governo, Hélio Doyle, “deputados, no Congresso e na Câmara Legislativa, fazem mais negócios do que política. Ou melhor, a política é, para eles, um instrumento para fazer negócios”.

No melhor estilo, matando dois coelhos com uma só cajadada, na mesma sessão extraordinária, que renderá um reforço extra aos próprios salários, os distritais derrubaram também uma decisão do governador que cortava R$ 62,8 milhões da Câmara Legislativa, os quais serviriam para contratar serviços diversos, custear passagens, pagar diárias e outras inutilidades.

Na verdade, depois que descobriram que, nos cofres vazios do GDF, restavam apenas promissórias vencidas e que, portanto, as torneiras do dinheiro fácil dos contribuintes estavam fechadas, acirrou-se a contenda entre a CLDF, obrigada a apertar os cintos e reduzir as mordomias, e o Palácio do Buriti.

Para manter a decisão que tomou para si de ser reconhecido como o governador que não permitiu a quebra de Brasília, Rollemberg tem colecionado inúmeros adversários e críticas, não só perante os políticos locais, mas ante sindicatos, servidores públicos, empresários e outros setores da sociedade, seja por causa da crise econômica e generalizada que herdou, seja por um dúbio comportamento político que tem assumido.

Aliás, governadores por todo o país têm aprendido, na prática, que a realidade do momento os obriga a se distanciarem, o máximo possível, das promessas de campanha. A situação é tão séria que, em alguns casos, o que foi prometido, nos palanques, se tornou agora a antítese do que é necessário e urgente fazer. Transformados em metamorfoses ambulantes, os atuais governadores têm usado, ao máximo, o jogo de cintura para se manterem à tona e não serem tragados com a crise. Muitos, depois de virarem sacos de pancadas, resolveram adotar o velho estilo político da demagogia, atendendo a todos os reclamos do momento, se esquecendo do futuro da população, em primeiro lugar e , em alguns casos, do próprio futuro político, comprometido pela falta de recursos.

A cada ano e a cada crise, vai confirmando o que desde a primeira hora alertamos: a emancipação política da capital, feita para atender a interesses escusos de poucos, em curtíssimo prazo, conduziria Brasília, a capital de todos os brasileiros, para o mesmo beco sem saída experimentado pela maioria das unidades da Federação. A construção de gigantesca máquina burocrática e política para administrar a cidade retiraria, como de fato ocorreu, recursos preciosos das áreas que realmente necessitam de investimentos, como saúde, educação e segurança.

Não é por outra razão que faltam hoje remédios, atendimento médico adequado e equipamentos de exames clínicos. Não é por outra razão que faltam escolas decentes. Não é por outro motivo que as polícias e os bombeiros estão sucateados. Não à toa a cidade vai tendo sua antiga qualidade de vida depauperada a cada dia.

Por que será que faltam ambulâncias e viaturas policiais, tão essenciais, e sobram carros oficiais de luxo, alguns inclusive blindados? Quer saber onde estão os bilhões de reais pagos pelos contribuintes brasilienses? Pergunte aos políticos de plantão. De fato, não faltam recursos. O orçamento do GDF é um dos mais altos do país. Há, sim, uma superestrutura, erguida artificialmente em 1988, e flagrantemente inócua, sem fiscalização efetiva dos gastos e investimentos, sem planejamento adequado, o que, além da má gestão e da corrupção, sorve o maior quinhão dos recursos públicos. Brasília não merece e não precisa dessa gente que diz representá-la, mas que, na verdade, vive no bem-bom às custas de uma população cada vez mais sofrida, abandonada e miserável.

A frase que foi pronunciada

“Qual a diferença entre o eleitor que usa o voto para atender interesses próprios e os políticos que usam o cargo para atender interesses próprios?”
Pergunta de adolescente aprendendo filosofia

História de Brasília
Ainda no aeroporto, há outro absurdo. A ala internacional reúne a Panair, Pan American, Varig e Real. Juntas, são as que mais transportam. Pois bem. As bagagens são atiradas por cima da cerca, porque se esqueceram de fazer um portão. (Publicado em 21/9/1961)

O maior presente

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Circe Cunha e MAMFIL

Uma grande loja de departamento da cidade fez uma pesquisa informal para saber qual era o presente de Natal, dos milhares de itens que estavam ali expostos, que mais despertavam o desejo de consumo dos clientes. Para a surpresa dos pesquisadores, a maioria das respostas indicava que os produtos mostrados, embora cobiçados por muita gente, não poderiam ser adquiridos na ocasião.Grande parte dos clientes usou como justificava os altos preços, ou, simplesmente, a falta momentânea de dinheiro. Mas a grande surpresa mesmo veio da descoberta de que a maioria dos clientes gostaria mesmo era de ser presenteada com a garantia de um emprego seguro, ou colocação no mercado de trabalho por um tempo prolongado. O emprego se tornou, nestes tempos de crise, o maior objeto de desejo de um em cada quatro brasileiros.No Distrito Federal a realidade não é diferente. De acordo com a Companhia de Planejamento (Codeplan), o contingente de desocupados está em torno de 240 mil pessoas. O desemprego na capital, em dezembro, afetava 15,5% da população. Comparada a 2015, a situação é ainda pior e os indicadores têm apresentado tendência constante de alta. Nos números não estão incluídos aquela massa de trabalhadores que simplesmente pararam de procurar colocação no mercado de trabalho ou aqueles que resolveram a questão por conta própria, fazendo bicos ou montando pequenos negócios.

Em comparação com outras capitais, o DF tem oscilado nos primeiros lugares quanto à maior taxa de desemprego. Trata-se de fenômeno gravíssimo com repercussões negativas em cadeia. Entre os países que compõem o G-20, o Brasil terá até 2018 aproximadamente 14 milhões de pessoas sem trabalho. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o fenômeno do desemprego ainda será, por um bom tempo, um dos grandes problemas nacionais. Para a OIT, o Brasil será responsável sozinho por 35% do número de desempregados do planeta. Trata-se da terceira maior população de desempregados entre as maiores economias do Ocidente.Não é pouca coisa. Para se ter uma ideia, os EUA, com uma população bem superior à brasileira, tem 5 milhões de desempregados a menos. O crescimento da informalidade e de empregos precários parece ser a tendência para este ano e para 2018, prevê. Pelo mundo, a situação é gravíssima. O relatório da OIT aponta o aumento de 11 milhões de desempregados a cada ano em regiões como o sul da Ásia e a África Subsaariana. América Latina e Caribe também inspiram previsões sinistras. O número de jovens na idade de trabalhar não corresponde às oportunidades oferecidas. Este será um ano em ritmo desacelerado. Nos países desenvolvidos, a alteração na taxa de emprego é mínima. A Europa também não mudará o quadro de dificuldades para preencher vagas de trabalho.A contração do PIB brasileiro, segundo a OIT, da ordem de 3,3%, refletiu em toda a América Latina e empurrou o continente para uma crise que parece ser de longa duração. No mundo, calcula a OIT, são mais de 201 milhões de desempregados. Até a construção civil, que era considerada o motor da economia, deu uma resfriada, com mais de 3 mil vagas eliminadas no período. O Brasil vai experimentando 20 meses consecutivos de fechamento de vagas formais. É a maior taxa da história do país.

A frase que foi pronunciada

“Meu querido, eu não tenho culpa de estar no poder. A culpa é sua que votou em mim. Agora aguenta”
Político corrupto, no poder pelo voto do favorzinho

Adeus
» Ontem, foi a despedida de Golda Pietricovsky de Oliveira. Nossa amiga no tempo de poeira e lama na construção da capital do Brasil. Cauby, com o olhar distante, parecia rememorar as décadas de experiências vividas e compartilhadas. Iara compreendia a roda da vida, mas esta lhe pisava as alegrias na memória. Ana Ghita recebeu um último beijo no ar, de despedida da mãe que parecia não estar mais presente, Otaviano guardava um aperto no peito ao perceber que só ouvirá a voz daquela fortaleza de mulher paulista dentro de seu coração. Ida lembrou que Golda era mulher de teatro, e que havia intensidade em tudo o que fazia no palco da vida. E arrancou aplausos efusivos e gritos com o nome de Golda de todos que ali estavam ontem. E a cortina se fechou.

Janeiro
» Quem atravessa a Ponte JK e o piscinão do Lago Norte vê algumas garças esperando o tempo passar. É que em setembro, quando as aves migram, sempre deixam um ovo por quebrar, aqui e ali.

Registro
» Puxadinhos serão oficializados. O GDF deu o prazo até fevereiro para os projetos. Quem não apresentar será penalizado.

História de Brasília

Se nós podemos, daqui, sugerir alguma coisa, que procurem o DFL, e prontamente uma linha de alta será levada até lá, e os falados geradores ficarão para alguma alternativa, se puderem funcionar. (Publicado em 21/9/1961)

O trunfo de Trump e a tragédia anunciada

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DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com

Circe Cunha e MAMFIL

Não fossem pelas possíveis repercussões no mundo e, particularmente, no Brasil, o resultado da última eleição americana teria tratamento de praxe pela mídia nacional e seria visto como alternância natural e saudável entre democratas e republicanos. Mas, em face da vitória imprevista do histriônico Trump, um candidato cuja a personalidade é considerada, por todos os entendidos no assunto, como absolutamente irascível, considerando as declarações que ele tem feito, tornam-se necessárias certas precauções e submeter o novo e poderoso personagem à análise permanente e atenta.

Antes de quaisquer possíveis consequências nefastas para o resto do planeta, a chegada à Casa Branca de uma figura com esse perfil provocará consequências internas para americanos, que, a partir do próximo dia 20, vão experimentar dias de grande expectativa e incerteza. Os antigos identificavam na mentira a raiz de todos os males do mundo. O que parte da imprensa séria americana pode identificar na última eleição foi justamente a utilização, inédita e em larga escala, de mentiras (fake news), numa propaganda massiva de desinformação, amplificada a mil pelas redes sociais, para construir e destruir imagens em instantes.

Se a eleição de Kennedy, nos anos 1960, foi fruto do alcance da televisão, a eleição de Trump pode ser creditada, em boa parte às redes sociais, principalmente ao trabalho dos chamados blogs sujos dentro e fora dos Estados Unidos. Nesse ponto, investigações dos serviços secretos americanos parecem apontar para a participação intensa do governo russo na disseminação de informações que, em certo sentido, teriam contribuído para a vitória de Trump.

Se confirmada a hipótese, estaríamos diante de um caso raro de chantagem além de fronteiras cujo preço se assemelharia a vender a própria alma. Tudo nessa eleição é nebuloso e enseja desconfiança, dentro e fora dos EUA. Note-se também que se trata aqui de uma vitória absolutamente personalista, na qual o próprio Partido Republicano, a que insinua pertencer, ficou totalmente alijado do processo ou posto em segundíssimo plano. Nesse sentido, soa próprio afirmar que quem chegou ao poder foi o sujeito e não o tradicional partido político.

Sempre que situações assim ocorrem, nas quais o candidato apenas usa a legenda para alcançar seus objetivos, o resultado, invariavelmente, é ruim. Também no Brasil, os blogs sujos, financiados sorrateiramente pelo próprio governo, fizeram a festa nos últimos anos, e o resultado é esse que aí está. O fato é que uma primeira mostra do que está por vir foi dada agora, na primeira entrevista a jornalistas de todo o mundo. O que se viu na coletiva foi o retrato de uma América que parece caminhar para um mundo totalmente novo, no qual os sólidos pilares que apoiavam uma sociedade consciente de seu papel no mundo foram substituídos por outros erguidos, agora, com a argamassa da mentira e da arrogância.

A frase que não foi pronunciada:
“Quem diria que o Snoopy, de tanto se distrair com a política interna de outros países, pudesse ver escorregarem do seu alcance as próprias rédeas.
Pensamento do ex-presidente Obama

Solidários
» Não só o Banco do Brasil, mas os funcionários da instituição se cotizaram para ajudar a Abrace, que atende crianças com câncer. O BB faz hoje a entrega de 4,3 milhões de recursos. Uma ala inteira foi reformada com a ajuda dos funcionários do BB. “Uma causa nobre em uma fundação que apresenta uma boa governança”, é o que diz a missiva recebida.

Leitor
» Será que dá para perguntar aos chefes do órgão que opera o BRT, salvo engano, o DFTrans, por que as lâmpadas da estação Catetinho ficam acesas 24 horas por dia? Isso acontece praticamente desde que foi construída. Ultimamente, na estação Vargem Bonita acontece o mesmo. As duas estações estão inoperantes. Cada uma delas, com as 30 lâmpadas de 40w ligadas direto, consome por mês aproximadamente 864kw gerando uma conta mensal de R$ 527. Esse é um exemplo que o GDF dá para a economia de energia.

Erramos
» Julio Menegoto, que ocupa temporariamente a Administração de Vicente Pires, continua presidente da Novacap. É funcionário de carreira e conhece cada palmo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil.

Fez bem
» Ao cortar R$ 66 milhões em gastos da Câmara Legislativa, com viagens, diárias, consultorias, serviços terceirizados e outras despesas desnecessárias e supérfluas, o governador Rollember age escudado pela a simpatia e pelo apoio dos candangos, que defendem não só o fim desses desperdícios, mas todos aqueles que não beneficiam diretamente os brasilienses.

História de Brasília
A situação do pátio de manobras do aeroporto de Brasília está a merecer a atenção do ministério da Aeronáutica. Foi muito, o dinheiro gasto, para não dar resultado nenhum. (Publicado em 21/9/1961)

Racionamento por falta de planejamento

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jornalista_aricunha@outlook.com

Circe Cunha e MAMFIL

No fim do ano passado, quando o diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Paulo Salles, declarou que a população precisava rezar para chover, estavam aparentemente lançadas, segundo seu entendimento técnico, todas as condições necessárias para que os reservatórios que abastecem a capital com água tratada voltassem aos níveis normais, evitando, assim, que o racionamento rigoroso fosse decretado pelas autoridades.

Fosse simples assim, bastaria entregar a pasta a algum padre ou pastor, que a situação estava resolvida. Bastaria a população sair em procissão pelas ruas, com velas, entoando cantos religiosos ou quem sabe por meio da convocação de povos indígenas para a realização de antigos rituais invocando as águas do céu.

Não querendo entrar no mérito da eficácia desses métodos, que têm explicação no plano da metafísica, o problema diz respeito à confluência de um complexo conjunto de causas, muito humanas, que remontam à história recente de Brasília e do Entorno. Anteriormente, as desculpas se resumiam a atribuir aos imponderáveis caprichos da natureza pela falta de água. Rezar é bom e alivia a alma, que não necessita desse tipo de água para viver. A fonte da vida é outra.

Obviamente, não cabem à Adasa, da qual a população desconhece a existência, todas as responsabilidades pela escassez de água. A parte que lhe diz respeito diretamente vem exatamente do aparelhamento político imposto pelos governos passados, das agências reguladoras, com a substituição de técnicos especializados e renomados, por apadrinhados políticos, sem qualificação específica para a função. Numa escala de responsabilidades, cabe, primeiramente, à classe política os infortúnios vividos pela população. A transformação das terras do DF em moeda de troca política permitiu que imensas áreas, muitas, comprovadamente de proteção ambiental, com importantes nascentes, está em uma das raízes do problema.

Com a farra dos loteamentos irregulares, construídos da noite para o dia, veio o inchaço populacional desordenado. Uma vez estabelecidas, as invasões eram imediatamente equipadas com redes de água e luz, mesmo antes de qualquer planejamento urbano técnico , consolidando o problema e empurrando a solução para um futuro que, agora vemos, chegou com a conta nas mãos.

A falta de planejamento de longo prazo e de uma política permanente de educação sobre o uso correto desses recursos finitos vem em seguida. A transformação do cerrado em extensas áreas de monocultura para a exportação, com a destruição da vegetação nativa, ao destruir o ecossistema da região, considerado o berço das águas, fez o resto.

É importante observar que, ao longo da história da humanidade, nenhuma civilização foi capaz de prosperar e mesmo sobreviver sem os recursos hídricos necessários e essenciais. Muitas cidades importantes na antiguidade simplesmente foram deixadas para trás, quando a água secou. O exemplo permanece. Portanto, debitar nas contas, já volumosas de Deus e da administração celeste, as causas pelo esgotamento hídrico, não convence, mesmo aos mais crédulos.

A frase que foi pronunciada:
“Esse estádio monstrengo é a prova de que nunca faltou dinheiro para atender pacientes com dignidade nos hospitais públicos. Faltou mesmo foi sensibilidade e humanismo.”
Paciente na emergência do Hran

Notas
» Sob o argumento de superlotação, o Hospital do Paranoá suspendeu, temporariamente, o atendimento a todos os pacientes que procuram a unidade. Essa situação inusitada revela e expõe a falência da estrutura de saúde no DF. Já o Hran, na madrugada de ontem, tinha enfermeiras e médicos de plantão. Só que o atendimento na emergência só começou na troca de turno.

SOS nojo
» Por falar em Hran, no orelhão do PS perto da chefia de enfermagem, havia uma cadeira onde alguém com diarreia sentou. Com a espuma alta, cada um que sentava ali, para amenizar a exaustão da espera, levantava com a surpresa desagradável.

Vermelho
» Não é de hoje que pacientes que necessitam de atendimento de urgência, em todo o DF, só têm acesso ao interior dos hospitais e, portanto, aos cuidados médicos, se derem entrada nos estabelecimentos, deitados em macas e transportados pelas unidades dos Bombeiros e das ambulâncias, de preferência prontos para morrer.

Ver para crer
» E mesmo quem dá entrada é atendido de forma precária. Sem limpeza, sem lençóis, sem a menor dignidade. E justiça seja feita: falta dignidade para os pacientes e para os que optam por trabalhar sem o mínimo básico necessário para exercer a profissão. Os médicos enfermeiras, técnicos, que batem ponto e trabalham, merecem todo o respeito da população. O governador Rollemberg poderia ir a qualquer hospital público de madrugada disfarçado, sem estafe. Alguma coisa mudaria.

Realidade
» Devido a carências no setor, as brigadas do Corpo de Bombeiros foram transformadas em serviço de atendimento de emergência de saúde, transportando pacientes de todo o DF para os hospitais depois de um atendimento preliminar. São heróis que também lutam com condições que poderiam ser melhores.

História de Brasília
Como não há exceção, caiu o decreto das corridas de cavalo, e as determinações sobre o uso de carros oficiais foram desrespeitadas, mas nessa mesma edição há uma carta do chefe da Casa Militar da Presidência, general Amaury Kruel, a respeito. (Publicado em 21/9/1961)

Odebrecht, BNDES e petistas: uma parceria do barulho

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jornalista_aricunha@outlook.com

MAMFIL e Circe Cunha

Se algum dia a Justiça conseguir colocar um ponto final no escândalo do petrolão, encerrando todos os capítulos que formam o maior caso de corrupção que já se teve notícia, ainda assim, restarão pontas desse thriller a serem amarradas para que toda a história tenha uma coerência conclusiva.

Um capítulo à parte e que merece ser aprofundado nessa trama ciclópica é justamente o que envolve a construtora Odebrecht e seus parceiros diretos de peraltices, o Partido dos Trabalhadores, via governo, e os poderosos bancos estatais, tendo à frente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), à época vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, comandado, na ocasião, pelo já notório Fernando Pimentel.

Em 2016, auditoria prévia realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apurou que, entre 2006 e 2014, o BNDES investiu, até onde se sabe, mais de R$ 50 bilhões para a realização de cerca de 140 obras no exterior. O mais incrível é que os empréstimos foram feitos para ditaduras do continente africano e para países da América Latina identificados como amigos dos governos petistas.

O grosso desses financiamentos camaradas foi bancado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) — ou melhor, amparo ao trabalhador estrangeiro. Mais sintomático ainda é quando se constata que todos esses gastos foram realizados sem a análise adequada sobre os riscos dessas operações portentosas. É de surpreender, se isso ainda é possível, que 82% dos recursos foram destinados à onipresente Odebrecht. Para que todas essas façanhas fossem possíveis, o BNDES se transmutou de banco de fomento interno, que consta de seu próprio nome, para banco sem fronteiras.

Para poupar a sociedade do enfado relativo às minúcias desses contratos intrincados, o caridoso governo daquela ocasião decretou sigilo total, por 30 anos, daquelas operações. Daqui a três décadas, a maioria dos personagens dessa epopeia certamente já estará em outro mundo, longe do alcance da lei terrena. Durante quase uma década à frente do BNDES, Luciano Coutinho levou o banco a desembolsar, em oferta de créditos variados, cerca de R$ 1,2 trilhão. Trata-se de um valor superior ao PIB de muitos países do planeta.

O caso da construção do Porto de Mariel e do aeroporto de Cuba é o mais emblemático, não pelos valores envolvidos, pequeno diante de todo o esquema, mas pelo envolvimento direto de Lula, Marcelo Odebrecht e governo cubano. Reunidos em Havana, ao som das rumbas e dos mambos, e sob os efeitos do rum, o trio de magnânimos decidiu, entre uma baforada e outra de charutos, de que forma o dinheiro dos brasileiros, via BNDES, seria derramado na ilha dos Castro.

Pesquisa sobre os negócios da construtora Odebrecht atesta: nos países sérios, a empresa aparece em todos os jornais com o esquema de corrupção descrito em detalhes; nas nações em que a corrupção tem se ajustado entre os políticos, a companhia prospera. O Brasil está na linha, pronto para estabelecer de que lado vai ficar.

A frase que foi pronunciada:

“Quer fazer algo para promover a paz mundial? Vá para casa e AME a sua família.”

Madre Teresa de Calcutá

Peso e medida

» Professores deliram com a notícia de que novas penitenciárias não resolverão a questão da violência nas cadeias enquanto não houver um funcionário para cinco presos. Hoje, são 12 presos por funcionário. Com as devidas proporções, nas escolas públicas, é comum um professor para 40 ou até 50 alunos por hora. O que precisamos: mais professores ensinando e menos monitores nas cadeias.

Sem atitude preventiva

» Invadido por quase uma centena de chacareiros, o Parque Ezechias Heringer, no Guará, uma área de reserva ecológica importantíssima para o ecossistema de Brasília, continua sofrendo os efeitos da ocupação irresponsável e é mais um elemento que vem a se somar aos muitos desastres ambientais sofridos pela capital do país.

Das penalidades

» As equipes de fiscalização, como Agefis, Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a polícia, não têm descanso diante das invasões repetidas e incentivadas, que sempre aumentam no fim de ano. Vão continuar com muito trabalho enquanto a lei não punir devidamente os invasores.

Constitucional

» Para assegurar que os filhos tenham as vagas efetivadas nas escolas públicas, muitos pais são obrigados a acampar nas portas dos estabelecimentos de ensino. O mesmo se repete nas portas dos hospitais, onde a espera é longa. Com isso, o Distrito Federal repete os mesmos problemas já conhecidos de muitas localidades Brasil afora. Isso, apesar de uma Constituição que garante o direito à saúde e à educação.

História de Brasília

Apenas d. Eloá não teve a mesma sorte. O Alvorada vai ser redecorado, os animais do Palácio foram transferidos para o zôo e a cerca de frente da residência presidencial está sendo retirada. (Publicado em 21/9/1961)