Severino Francisco
Li primeiro a poesia de Manuel Bandeira, só mais tarde conheci as suas crônicas. Não digo que seja o meu poeta preferido, mas alguns poemas e alguns versos me parecem memoráveis. Certa vez, no meio de um pomar, recitei para uma namorada o Poemeto erótico: “Teu corpo é tudo brilha/Teu corpo é tudo que cheira/Rosa, flor de laranjeira/Teu corpo, a todo momento o vejo/A única ilha no oceano do meu desejo”.
A musa tremeu nas bases, pensou que eu havia escrito aquela maravilha para ela. Lembro, também, do Rondó dos cavalinhos: “Os cavalinhos correndo,/E nós, cavalões, comendo…/Tua beleza, Esmeralda,/Acabou me enlouquecendo.”
Também figura em minha antologia joias bandeireanas o poema Alumbramento: “Eu vi os céus! Eu vi os céus!/Oh, essa angélica brancura/Sem tristes pejos e sem véus!/Súbito! Alucinadamente…/Vi carros triunfais… troféus…/Pérolas grandes como a lua… Eu vi os céus! Eu vi os céus!/- Eu vi-a nua… toda nua!”
Em face da transparência quase absoluta da era virtual pode soar ingênua a visão de Bandeira, mas, para mim, o encanto permanece intacto. O ritmo é outro aspecto notável. Não é apenas porque escreve em versos rimados; a poesia dele tem uma música interna, uma fluência de riocorrente, haurida na mais pura fonte da linguagem popular.
É uma linguagem direta, clara e límpida. Por isso, levei o maior susto quando, mais tarde, li as crônicas e os ensaios de Bandeira. Não imaginava que ele fosse um intelectual tão requintado. O ensaio-crônica que ele escreveu sobre Rubem Braga foi marcante para mim: “Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto. Aí começa ele com o puxa-puxa, em que espreme na crônica as gotas de certa inefável poesia que é só dele.”
Pois bem, uma boa alma me presenteou com o livro magrinho, mas essencial, O poeta e outras crônicas de literatura e vida, de Rubem Braga, organizado por Gustavo Henrique Tuna. Lá, descobri que era o inverso do que eu supunha: Braga é que se declara fã de Bandeira. “Minha adesão a Bandeira foi imediata”, conta Braga. “Ele me ajudou não apenas a namorar as minhas namoradas e me conformar com o desprezo das outras, como a suportar rudes golpes afetivos que sofri, com a morte de pessoas queridas.”
Braga lembra a vaidade que sentiu quando fazia crônicas para um jornal de Belo Horizonte e lhe contaram que várias pessoas pensavam que Rubem Braga era pseudônimo de Manuel Bandeira; Reconhece Manuel na condição de mestre: “A linguagem limpa e ao mesmo tempo familiar, às vezes popular, de muitos poemas, influiu em minha modesta prosa. E da melhor maneira: no sentido da clareza, da simplicidade, e de uma espécie de franqueza tranquila de quem não se enfeita nem faz pose para aparecer diante do público.”
Sim, Bandeira lhe ensinou muitas coisas, admite Braga. “Só não me ensinou o milagre de sua condensação lírica e musical, o pulo do gato da poesia; mas também um escrevedor de jornal e revista não precisava saber tanto…”
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