Celebração da democracia

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Severino Francisco

No fatídico 8 de janeiro de 2024, eu havia ido ao Conjunto Nacional para comprar alguma coisa. Quando passamos próximo à Catedral Metropolitana de Brasília, avistamos uma legião de manifestantes enrolados na bandeira do Brasil se dirigindo rumo à Esplanada dos Ministérios sem nenhuma barreira. Era a senha para a tragédia anunciada. Todos sabiam o que iria ocorrer.

Estava acompanhando nos dias anteriores os absurdos acampamentos em frente aos quartéis que clamavam por intervenção militar. Imaginemos que quando o Brasil perdeu para a Croácia nas quartas de final da última Copa do Mundo, os torcedores brasileiros se revoltassem, acampassem em frente à sede da Fifa e exigissem a anulação do jogo, intervenção militar, VAR de papel e gol auditável. Foi mais ou menos isso que aconteceu em relação às eleições para presidente da República em 2022.

Quando estávamos no interior do Conjunto Nacional, assistimos pelas tevês de tela imensa expostas nas lojas uma verdadeira apoteose da boçalidade. Hordas de fanáticos destruíram as sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF da maneira mais revoltante. A meu lado, um jovem comentou: “Tem mais é que fazer isso, senão Lula vai acabar com esse país. Essa eleição foi roubada, não mostraram o código-fonte”.

Em nome de mentiras como essas uma legião de fanáticos foi mobilizada e manipulada, colocando em risco a própria vida. Ao ser questionado sobre a razão de ter colocado uma bomba uma bomba embaixo de um caminhão de querosene, próximo ao Aeroporto de Brasília, que poderia ter causado uma tragédia de enorme magnitude, o terrorista respondeu ao deputado Chico Vigilante, presidente da CPI sobre os atos golpistas na Câmara Legislativa do DF: “Para protestar contra o código-fonte”. “E o que era o código-fonte”?, indagou Chico. Mas o terrorista confessou que não sabia o que era.

Apesar da omissão dos governantes, da polícia e de outras autoridades, as instituições se uniram e venceram, ao menos parcialmente, o mais terrível ataque que a democracia sofreu desde a redemocratização. Por isso, é extremamente oportuna a celebração da resistência que ocorrerá, amanhã, no Congresso Nacional. Esses fatos graves não podem ser esquecidos.

A narrativa surreal de que a horda de bárbaros que vandalizou os monumentos de Niemeyer, tombados como patrimônio cultural da humanidade, era constituída de velhinhas e velhinhos que só queriam rezar é desmentida pelas imagens gravadas. É um momento de restituir a verdade dos fatos e de celebrar a democracia.

A oposição anunciou que lançará uma carta de repúdio ao ato de segunda-feira. Não deixa de ser uma confissão. A democracia não pertence a Lula ou ao PT. Ela é um patrimônio de todos os brasileiros. A ditadura é o regime de arbítrio, da supressão dos direitos, da censura, da injustiça, da violência, do terror e dos privilégios para poucos que adoram uma mamata. Como disse, recentemente, um dos candidatos a talibãs da taba: “Eu sou a Constituição”.

Todos os partidos, de esquerda ou de direita, têm o dever cívico de defender a democracia. O Brasil precisa ser pacificado. E o primeiro passo rumo a isso será a aplicação da lei e a responsabilização dos que lideraram, instigaram, financiaram e executaram as ameaças à democracia. Senão, o 8 de janeiro permanecerá o dia que não terminou.

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