A revolução da boquinha

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Brasília-DF:  negociações revelam a fraqueza dos partidos.

Severino Francisco

A degradação começa com a falsificação da palavra. Basta dar uma olhada nos nomes dos partidos que povoam a política brasileira para constatar que há um abismo entre as siglas e o que elas significam na vida real.

Vejamos alguns exemplos. O Partido Progressista não convence nem se fosse chamado de monarquista. Faz de qualquer crise uma oportunidade para obter emendas e cargos.

Não perde nenhuma boquinha e seria mais justo se fosse chamado de Partido Passadista. O Republicanos é outro caso flagrante de desconexão entre a nomenclatura e os atos. Nada mais antirrepublicano do que aceitar barganhas com um governo que figura no ranking de pior gestão da pandemia no mundo em um universo de 82 países.

E não se trata de mera formalidade. Essa gestão inepta é responsável por parte considerável das mais de 220 mil mortes por covid-19 no país. Se fosse nomeado de Partido Antirrepublicano causaria menos espanto. Já o Partido Trabalhista Brasileiro se distingue precisamente por estar envolvido em tudo, menos na defesa dos direitos dos trabalhadores.

Mais razoável seria se passasse a se denominar Partido Antitrabalhista Brasileiro. O Avante e o Podemos, também criados sob a matriz trabalhista, vão na mesma linha de falta de empenho para lidar com a agenda que supostamente defendem. Na prática, significam Para Trás e Não Podemos. O Partido Social Liberal tem muito pouco de partido, muito menos de social e ainda menos de liberal.

Integrantes da legenda apoiaram manifestações antidemocráticas pelo fechamento do Congresso Nacional e do STF. Já ao Patriota falta patriotismo e sobra fisiologismo. Está sempre pronto a entabular negociações em benefício de causas muito distantes dos verdadeiros interesses nacionais.

Enquanto isso, o Partido Social Cristão (PSC) apoia ou se omite em questões que não são nada cristãs. Parece que não existem mais partidos; o parlamento se reduziu a um Centrão geral? E o que dizer do Democratas (DEM) que renega a democracia e a independência entre os poderes três vezes? Ou de parte do PT e do PSB, que barganham o ideário em troca da promessa de carguinhos?

Se forem mesmo verdadeiras as notícias da negociação de pactos faústicos no valor de mais 3 bilhões em troca de votos para transformar o Congresso em puxadinho do Palácio do Planalto, eu gostaria de, humildemente, sugerir a criação de uma nomenclatura mais condizente com a realidade da nova política.

Primeiro, os partidos sem nenhum ideal programático deveriam ser inseridos em uma Frente Ampla da Boquinha. E, também, mereceriam ser rebatizados de uma maneira mais precisa e mais coerente com a adesão a governos iliberais, anticristãos, antidemocráticos, anticiência, antivacina e antivida.

Para tanto, proponho os seguintes nomes: Partido dos Invertebrados (PI), Partido da Locupletação (PL), Partido da Autoajuda e do Atraso (PAA), Apátridas (A), Partido do Balcão de Negócios (PBN), Partido do Toma Lá Dá Cá (PTLDC), Partido da Emenda Solidária Para Mim (PESPM), Partido de Socialização da Boquinha (PSB) e PQC (Partido do Queremos Cargos).

Pode ser que a nova nomenclatura não moralize a política, mas pelo menos estabelece uma relação mais verdadeira entre os nomes e os fatos. Aos vencedores, as latas de leite condensado.

Severino

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