O amor e as relações fazem parte da história da tevê (e do cinema). Uma bela paixão já fez muita gente chorar — seja de alegria ou tristeza. Um dos temas mais explorados pela indústria do entretenimento, entretanto, parece não estar saturado. A maior prova disso é a produção Normal people, que reformula o tema a partir da perspectiva do tempo e da intimidade.
A minissérie — baseada no livro de Sally Rooney — é uma parceria do canal estatal britânico BBC e do streaming do Hulu. No Brasil, a produção chega pela plataforma do StarzPlay, a partir de 16 de julho. Para os que não conhecem, o serviço custa R$ 14,90 e conta com produções como The act, Castle Rock e Mr. Mercedes.
Em Normal people, o espectador acompanha Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal) desde a adolescência na litorânea cidade de Sligo, no Norte da Irlanda. Enquanto a menina era mais solitária — e vítima de bullying — na época da escola, o garoto fazia parte do círculo de amizades dos populares (apesar dele mesmo ser mais tímido e introvertido).
A relação de Marianne e Connell tem como ponto de partida algo essencialmente sexual e tipicamente “jovem”. Em pouco tempo, entretanto, a conexão dos dois começa a ultrapassar os limites sentimentais. Contudo, vários obstáculos (externos, e entre eles mesmos) acabam impedindo Marianne e Connell de simplesmente ficarem juntos por muito tempo.
O CONTEÚDO ABAIXO CONTÉM SPOILERS
Em um primeiro momento, Connell tem vergonha de se relacionar publicamente com Marianne. A moça é uma garota rica, e o círculo de amigos que existe em volta dele questiona Marianne moralmente por conta disso. Enquanto isso, a garota, de certa forma, se dispõe a entrar nesse “jogo de segredo” de Connell, algo que deixará mágoas profunda nela.
O amor de Marianne e Connell nada seria sem outro elemento fundamental: o tempo. Mais do que o amor de escola, o público tem uma chance de “seguir a vida” com eles. Após o ensino médio, ambos entram na renomada universidade irlandesa de Trinity, mas separados. Marianne encontra outro parceiro e Connell segue voltado para a academia e sonho de conquistar uma bolsa de estudos.
O reencontro entre os dois se dá de forma ocasional, em uma típica festa universitária. É claro que o amor deles não morreu, entretanto, ambos cresceram. Marianne não está disposta a perdoar os erros do rapaz e embarcar em um relacionamento. O amor dos dois, então, se torna uma poderosa amizade.
Connell passa a frequentar os círculos sociais de Marianne e se aproximar cada vez mais da garota. Agora a dinâmica mudou: Marianne é mais segura, mais popular, enquanto ele sofre para se adaptar a cidade grande. Ambos resistem, mas a atração é maior e envolvimento romântico, e novamente sexual, volta a pautar a relação dos dois.
Em um primeiro momento, a intimidade de Connell e Marianne pode ser algo quase chocante. As cenas de sexo são exacerbadas (especialmente nos episódios iniciais), gráficas e quase explícitas. O trunfo da manga da série, contudo, é não exibir absolutamente nada de forma gratuita. Todas as cenas com vertente sexual entre Marianne e Connell (e até mesmo entre os outros parceiros que ambos eventualmente apresentam) tem um objetivo, uma razão, elas não apenas para sensacionalizar.
A apresentação dessa intimidade sem traços apelativos (não só os atos em si, mas especialmente os diálogos) talvez surpreenda mais pelo fator inédito — em séries em geral — do que qualquer outra coisa. A intimidade entre Connell e Marianne é, de certa forma, o que torna o amor deles mais “normal” e ao mesmo tempo tão resistente ao tempo.
Por falar em tempo, ele não parou. Após a breve aproximação durante o início da faculdade, Connel e Marianne acabam se separando. O interessante aqui é notar o quanto o fim do relacionamento não limita “a ligação” dos dois. A amizade deles não consegue ser quebrada. O amor deles vai além da relação.
Enquanto Marianne parte para trabalhos fora do país, Connell encontra outra parceira. Os anos passam, a vida continuar a seguir, os dois precisam enfrentar os próprios demônios particulares. Com graves problemas familiares, Marianne, ao longo dos anos, parece viver uma transfiguração da violência que sofre em casa para os próprios relacionamentos. A batalha também é dura do lado de lá: após o suicídio de um amigo, Connell tem de enfrentar uma depressão profunda que o leva ao limite da vida.
Apesar das situações extremas — ou da distância —, tanto Connell, quanto Marianne encontram na amizade que tem um ponto de força. Eles se ajudam, independente de qualquer coisa.
O que faz Normal people ser tão boa compõe uma receita que não é necessariamente desconhecida. O tom da minissérie é honesto. A história tem um objetivo é não se preocupa muito em sensacionalizar, apenas a apresentar. O roteiro é brilhantemente bem escrito. Personagens e elementos do enredo entram e saem no momento certo, com um objetivo. A história anda sem pressa, mas com ritmo. Os diálogos só ocorrem quando necessários, e por isso, são tão cativantes.
O trabalho de atuação é outro trunfo, especialmente por parte de Mescal e Edgar-Jones. Toda a construção de Connell e Marianne, e especialmente a intimidade que eles têm é algo difícil de se alcançar, mas a dupla acerta em cheio.
Vale citar também a cinematografia da produção. Sligo, de certa forma, marcou a personalidade (e a história) do casal, assim como Trinity, e a minissérie dá um show ao trazer isso para dentro da telinha. Muitas vezes, o silêncio de uma cena é o que mais poderia “falar”, e é preciso muita competência para fazer esse “caminho de narrativa” funcionar.
Normal people é um dos maiores destaques do ano. Com uma boa e revitalizada abordagem do amor, a produção consegue passar uma mensagem de forma inteligente, sensível e, acima de tudo, bela.
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