Especial de Euphoria: Série volta mais pertinente e madura em novo episódio

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Especial de Euphoria toca em assuntos sensíveis e de importância social, em um diálogo profundo entre a protagonista Rue e Ali, padrinho da personagem no Narcóticos anônimos

Por Pedro Ibarra*

Se fosse avisado em 2019 após o estouro de popularidade de Euphoria, que o próximo episódio após o encerramento da temporada seria um diálogo de 57 minutos entre dois personagens, poucos acreditariam. No entanto, esta foi a forma que Sam Levinson, criador e showrunner da série da HBO, encontrou para entregar aos fãs do seriado algum conteúdo novo em 2020. Euphoria teve as gravações interrompidas devido à pandemia e só terá a segunda temporada gravada em 2021.

O novo episódio, nomeado Trouble don’t last always, que estreou no último domingo (6/12), foi gravado sob rígidos protocolos de segurança sanitária e equipe reduzida na intenção de entregar uma continuação ao fenômeno da HBO, ou pelo menos uma amostra do que está por vir na segunda temporada. Tanto o especial quanto a primeira temporada estão disponíveis no HBO Go.

Assim a escolha artística foi de um diálogo entre Rue, personagem que rendeu a Zendaya o primeiro Emmy da carreira, e o homem que a apadrinhou no Narcóticos Anônimos, Ali, interpretado por Colman Domingo. Contudo, por mais que pareça uma opção monótona, o especial se apresenta como um dos mais pertinentes e atuais episódios da série.

A premissa é uma conversa em um restaurante, na véspera de Natal, pouco depois dos adventos do fim da primeira temporada, em que Rue tem uma recaída no vício em remédios. No entanto, o caráter da conversa vai muito além dos fatos da série. Começando pelo vício em drogas da protagonista, passando por reflexões sobre escolhas, “certo e errado”, família, religião, ego e negritude. O especial consegue, com praticamente uma locação e dois atores, se aprofundar muito em temas que têm a discussão mais do que necessária na atualidade.

Crítica do especial de Euphoria

Destacam-se os monólogos dos personagens que, mesmo longos e sem muitos artifícios além do ator falando, prendem o espectador como em uma cena tensa, em que cada palavra é como se fosse uma nova informação imperdível. Entre tantas boas falas, uma se destaca na reflexão de Ali sobre a banalização do termo revolução. O personagem também faz uma crítica às grandes marcas, o que conversa com o momento atual dos Estados Unidos e com os movimentos sociais e antirracistas.

Outro ponto alto está na química entre os atores em cena. Zendaya e Colman Domingo se conhecem há quase 15 anos. A atriz mencionou que lembra de ter contato com ele ainda criança em entrevista na CCXP Worlds. Em cena, eles entregam nos diálogos algo como uma dança, em que cada um dá o espaço para o outro brilhar e a emoção dos dois dá muita potência a cada parte.

Colman teve o personagem melhor desenvolvido no especial do que na primeira temporada e conseguiu entregar uma atuação a nível de premiações. Ali pode, agora, assumir um papel mais importante na história como mentor da protagonista. Rue, por sua vez, tem as emoções mais bem delimitadas e os sentimentos expostos de forma menos enigmática. A personagem toma uma forma mais madura, mas sem exagerar, afinal ainda é uma jovem de 17 anos que lida com difícil vício em remédios.

Características do especial de Euphoria

Crédito: HBO/Reprodução

O fato de ter menos personagens também diminuiu um dos principais problemas do primeiro ano. Euphoria apresentava muitos temas, alguns delicados e sensíveis, e por vezes deixava a desejar no aprofundamento, com pontas soltas para a temporada seguinte, ou resolvendo de forma simplificada. No diálogo do especial, todos os temas foram tratados com cuidado, mas sem deixar de ousar em críticas, em um roteiro redondo que responde as perguntas que faz.

Para os fãs especificamente do enredo do seriado, o episódio entrega reflexões sobre os acontecimentos da vida de Rue, mas ainda fala muito sobre o relacionamento dela com Jules, vivida por Hunter Schafer. A personagem, que termina a primeira temporada fugindo em um trem, faz uma pequena participação no início do episódio.

Outra característica do seriado que também dá as caras no especial são as experimentações em transições de câmera, ângulos de filmagem e em direção como um todo. As cenas permanecem esteticamente muito sofisticadas e inovadoras em quesitos cinematográficos. A música tem um papel interessante na emoção da cena, com um dos principais momentos de emoção do episódio embalado pela excelente canção Me in 20 years, do cantor Moses Sumney.

Tanto este quanto o próximo capítulo especial do seriado não serão atrelados as temporadas, estarão em algum momento entre os acontecimentos da primeira e da segunda. Este fato dá uma importância muito maior à produção, que tem de continuar a história, mas também ser independente dela.

Trouble don’t last always entrega o que era esperado e muito mais, elevando as expectativas do público e dos fãs da série de que algo mais profundo e socialmente importante está sendo preparado para a segunda temporada da original HBO.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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