Espaço para personagens vividos por atores e atrizes trans aumenta na televisão

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Personagens de produções como Euphoria, A dona do pedaço e Bom sucesso mostram preocupação em inserir transgêneros no audiovisual

A sociedade está em constante mudança e a televisão acompanha tudo de perto ー mesmo que, em algumas vezes, com uma velocidade menor do que a esperada. A inclusão dos transexuais em novelas e séries em papéis não marginalizados é um desses avanços. Ainda mais se interpretados por atores e atrizes trans, como pode ser visto nas novelas A dona do pedaço e Bom Sucesso, ambas na Globo, e nas séries Euphoria, da HBO, e Toda forma de amor, do Canal Brasil.

A brasiliense Gabrielle Joie (leia entrevista com a atriz) tem motivo de sobra para comemorar. Ela dribla o preconceito e estrela Toda forma de amor como Marcela. Na série, a atriz bombou na internet com uma polêmica cena de sexo ao lado de Rômulo Arantes Neto, intérprete de Daniel, um dos donos da boate Trans World, um dos principais cenários da minissérie, por enquanto disponibilizada apenas na seção do Canal Brasil no serviço sob demanda Now. Toda forma de amor tem pitadas policiais, com o assassinato de vários trans em São Paulo, e traz uma gama de discussões por meio de um grupo de terapia LGBTQI.

Em Bom Sucesso, novela das 19h da Globo, Gabrielle vive Michelle, uma das melhores amigas de Gabriela (Giovanna Coimbra), filha da protagonista Paloma (Grazi Massafera). Desta vez, o tom da personagem da atriz brasiliense é bem mais leve, o que não significa que questões importantes e polêmicas não serão levantadas. A escola é um dos cenários em que ela mais aparece e foi lá, por exemplo, que Michelle já teve que lutar para usar o banheiro feminino e enfrentou hostilidade na aula de educação física. Com personalidade forte, Michelle mostrou, em menos de um mês de novela, que conhece bem os direitos dela.

Leveza

Foto: Globo/João Miguel Júnior. Glamour Garcia discute temas da temática trans com leveza em A dona do pedaço: “A comédia é uma das formas mais fortes de se criticar”

Mais tarde, em horário nobre, é a vez da atriz Glamour Garcia brilhar como a Britney, de A dona do pedaço. É interessante notar que o público conheceu Britney antes da transição, ainda na primeira fase do folhetim de Walcyr Carrasco ー mesmo autor de Amor à vida, em que foi dado o primeiro beijo gay das novelas brasileiras. Acompanhamos quando a família dela fica sabendo da transição, já que a personagem estava no interior de São Paulo e apenas o irmão dela, Zé Hélio (Bruno Bevan) acompanhava a vida dela. Tudo isso foi mostrado pelo autor com muito humor, mas também com diálogos esclarecedores.

“Toda a sociedade ganha quando quando personagens como esses aparecem. Tem, sim, um lado didático, uma preocupação em elucidar que está havendo uma restituição de direitos das pessoas trans. É interessante vermos essa temática, essa discussão numa novela, ainda mais de uma forma positiva e construtiva”, afirma Glamour, em entrevista ao Próximo Capítulo. “Acho muito importante que tenha essa abordagem, principalmente neste momento em que o cenário político no Brasil está muito pesado, especialmente para a comunidade LGBT. E a comédia é uma das formas mais fortes de se criticar. A personagem da Britney é essencial”, completa.

Glamour ressalta a relevância de Britney ser vivida por uma atriz transexual, como ela: “É mais do que importante. É super representativo. Não é só representação, é tornar as coisas concretas. A atuação é uma arte que extrapola as questões de gênero. Mas eu também acho que o audiovisual ー o cinema e a tevê ー tem um espaço de criação, então é justo. Mas é mais produtivo quando as pessoas trans podem se representar na televisão.”

Naturalidade

Foto: HBO/Divulgação. Hunter Schafer chama a atenção como Jules em Euphoria

Diante de tantos personagens marcantes em Euphoria, série da HBO, é difícil não se envolver com Jules, a transexual interpretada por Hunter Schafer. A menina acaba tomando para si o papel de protagonista da atração, posto que era para ser de Rue (Zandaya). Além de talentosa e carismática, Hunter confere a Jules uma naturalidade encantadora. Os dramas de Jules não são amenizados e nem apresentados de forma leve ー nada em Euphoria é ー , mas fica natural. Assim, Hunter, Gabrielle e Glamour contribuem para que fique cada vez mais natural para a sociedade que os transexuais galguem caminhos cada vez mais altos tranquilamente.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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