Edson Arantes do Nascimento caminha até uma cadeira no meio de um sala, aparentemente vazia, mas aparatada para a gravação de um documentário. A imagem surpreende porque a travessia é feita com auxílio de um andador. Essa é a primeira cena do documentário Pelé, que estreia nesta terça-feira (23/2) na Netflix, e tem um objetivo claro de mostrar que o material apresentará a história do exímio jogador, por vezes, em frames pouco explorados.
Dirigido por David Tryhorn e Ben Nicholas e produzido por Kevin Macdonald, o filme tem como norte o depoimento de Pelé. É a partir das lembranças dele mescladas a imagens reais e depoimentos de amigos que a narrativa se destrincha. A história do Rei do Futebol se mistura com dois aspectos: as Copas do Mundo, desde 1950, quando ele apenas assistia, até 1970, a última disputada por ele, e a ditadura militar no Brasil.
O filme começa pela infância de Pelé, mas logo segue para a oportunidade do jovem e talentoso jogador de futebol no Santos, cidade para a qual a família se muda. O longa-metragem mostra como tudo acabou acontecendo rápido para Edson Arantes do Nascimento, que antes mesmo de completar 18 anos estava na primeira Copa do Mundo da carreira, a primeira vencida pelo Brasil em 1958, na Suécia. O feito, logo, transformou Pelé no Rei do Futebol.
A presença de Pelé nas demais edições do campeonato colocaram o holofote no Brasil, país até então “desconhecido” na Europa. O filme traz imagens bastante raras de momentos de concentração, além de ser muito bacana poder ver (e rever) as cenas que ficaram marcadas na história e que comprovam o talento de Pelé dentro de um campo de futebol. Tudo isso atrelado a entrevistas de companheiros de Seleção Brasileira e de jornalistas. Entre os nomes, estão o jogador e técnico Zagallo, os jornalistas José Trajano e Juca Kfuri. Também há espaço para participações do cantor Gilberto Gil e da política Benedita da Silva.
Como dito, o filme segue dois panoramas históricos. O primeiro é a partir das Copas. Se em 1958 vemos a glória de Pelé, acompanhamos as dificuldades em 1962 e 1966, que levaram o Rei do Futebol a decidir não voltar para um próximo campeonato. Decisão que foi mudada, tanto por desejo próprio, como por uma pressão do governo brasileiro, à época comandado por militares e em busca de uma “alegria para o povo”.
Também é nesse momento que o documentário aborda um tema pouco falado por Pelé, e que o tornou alvo de críticas: a relação dele com a ditadura militar. O longa-metragem não chega a fazer um juízo de valor. Mostra os dois lados da moeda. As críticas de que ele poderia ter se posicionado pela força que tinha a figura dele, mas também o quanto isso poderia custar a ele em meio ao regime militar. O próprio Pelé diz que não sabia o que poderia acontecer com ele, num relato que parece bem verdadeiro.
Depois, o longa-metragem volta para a Copa de 1970, que acabou sendo uma espécie de consagração para o ídolo máximo do futebol brasileiro. Pelé saiu vitorioso do México e, a partir daí, sentiu que poderia finalmente aposentar as chuteiras. A despedida, claro, faz parte do documentário.
Pelé deve agradar, principalmente, os aficionados por futebol. Mas por misturar a história do Rei ainda com a do Brasil se torna num conteúdo interessante para todos.
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