A força do ativismo nos últimos anos impactou a sociedade em diversos aspectos. A dramaturgia foi uma delas. A inserção da diversidade nos elencos e nos temas foi o primeiro âmbito. Depois, veio a mudança de perspectiva, dando protagonismo a pessoas antes coadjuvantes. É isso que duas novas produções da tevê e do streaming fazem: mudam o olhar de local dando espaço para novas figuras.
Lançada na última sexta-feira na Netflix, a série Cursed — A lenda do lago cria uma nova história em torno da lendária espada Excalibur do Rei Arthur. Com criação e roteiro da dupla Tom Wheeler e Frank Miller, a produção inspira-se no livro homônimo também dos dois, lançado no Brasil pela editora Haper Collins, e retrata a história de Nimue (Katherine Langford), jovem com grandes poderes mágicos que vive com o Povo do Céu e vê a vila ser atacada pelos paladinos vermelhos, grupo é contrário à magia e diz seguir a palavra de Deus.
Durante o ataque, a mãe de Nimue, uma das sacerdotisas do povo, entrega à filha a espada de Excalibur e dá a missão à jovem de encontrar o Mago Merlim (Gustaf Skarsgård). Para cumprir o que prometeu, Nimue conta com a ajuda de diversos personagens, entre eles, Arthur (Devon Terrell).
Essa nova perspectiva da história foi criada a partir de uma necessidade que Tom Wheeler percebeu por conta da própria filha. “Uma das motivações, para mim, era dar à minha filha um herói nessa mitologia para conectá-la de um jeito que eu sempre me conectei com o Rei Arthur e com Merlim. E ter algo de coragem, honra, valor, essa mágica, de um jeito que ela poderia se conectar também”, explica o showrunner em entrevista concedida via Zoom.
Por isso, Cursed — A lenda do lago cria uma perspectiva para essa história pelo ponto de vista de personagens femininas fortes. Nimue é só uma delas. Mas há, ainda, Pym (Lily Newmark), melhor amiga de Nimue, e a irmã Igraine (Shalom Brune-Franklin), uma das freiras com acesso aos paladinos vermelhos que ajuda a protagonista durante a fuga e a missão. “Acho que, nessa jornada, tivemos certeza de que tínhamos vozes fortes de mulheres para guiar, no grupo de roteiristas e diretoras, no figurino, na maquiagem… Para a gente, era importante ter essas vozes, porque foi criado por mulheres fortes e era importante honrá-las na história”, explica Wheeler.
A série foi produzida ao mesmo tempo que o livro, o que foi um desafio e uma forma positiva de trabalho. A principal mudança na versão do streaming, composta por 10 episódios, foi o aprofundamento de alguns personagens. “Acho que o que você vê na série é o fato de ter mais acesso ao passado dos personagens, o que não pudemos fazer no livro. Há episódios divertidos que somam. Não são uma contradição do livro, mas adicionam para quem leu, ganhando histórias mais elaboradas. Quem leu o livro, naturalmente, está mais próximos do personagens, por estar nos pensamentos de Nimue e Merlim. Mas, na maior parte, seguimos os mesmos caminhos, explorando novos territórios, também”, completa.
A Disney lança na segunda-feira (20/7), no canal Disney Junior, a primeira animação protagonizada por uma personagem indiana, Mira, a detetive do reino, com exibição às 19h15. A protagonista derruba diversos paradigmas. Primeiramente pela nacionalidade, além da própria perspectiva feminina, já que Mira é responsável por resolver os casos misteriosos do reino da terra fictícia mágica de Jalpur, inspirada na Índia, salvando muitas vezes o príncipe Neel.
“Acho que é muito importante que a gente continue representando diferentes pontos de vista. Acho que na arte e na cultura a gente constantemente pode ser esse veículo para criar mudança. Mira é uma história sobre uma pequena garota que é gentil, curiosa, engraçada, gosta de dançar, de comer e de música, mas, além disso, mostra a diferença, e pessoas que não costumam ver a si mesmas na tela nesse tipo de papel. É um jeito pequeno, que a gente continua a lembrar às pessoas de que somos os mesmos, mas que temos diferentes vozes e que elas devem ser celebradas”, avalia Amritha Vaz, compositora da trilha sonora da animação.
Ela conta que, por meio das canções, buscou trazer a cultura indiana, tão repleta de sonoridades. “Primeiro, foi uma grande honra ter sido convidada para participar dessa produção, porque a música e a cultura indiana são tão importantes para mim. Trazer a cultura na música foi uma grande responsabilidade. O que era muito importante, para mim, era que a música honrasse a tradição musical da Índia, mas, também, trouxesse um lado moderno e internacional, porque Mira é assim, ela tem esse lado moderno de resolver os mistérios. Era importante que a música passasse isso. Para isso, incorporamos diferentes tipos de batidas e aspectos da cultura indiana na música”, completa.
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