Apesar de muitas vezes parecer uma ideia reciclada, ou sem muita necessidade de criação, fazer um remake, ou reboot, talvez seja mais difícil do que desenvolver um conteúdo original. A pressão por ser melhor e a atenção aos detalhes da “série mãe” são uma tarefa dificílima para as histórias “filhas”, e saber manter as essências positivas, que outrora prendiam fãs, chega a ser uma tarefa hercúlea.
É essencialmente essa a sensação de acompanhar And just like that — a continuação do clássico Sex and the city — que volta às telas pelo streaming da HBO Max: existem acertos, mas a produção simplesmente não é tão boa quanto deveria.
Cuidado, spoilers à frente:
Não me entendam mal, a série passa longe de ser ruim — pelo contrário, consegue divertir — e tem importantes evoluções. O maior deles é a diversidade (alvo de grandes críticas no passado). Respondendo ao “série de brancas” que ouviu durante quase toda a existência de Sex and the city, And just like that aposta em uma verdadeira revolução na presença de minorias nas telas, como latinos, negros, lésbicas e gays. Cada personagem que representa uma minoria fala orgulhosamente da própria existência, debate o tema, isso traz mais leveza a esta “presença”.
Outra evolução se volta para as linhas narrativas da história. Se em Sex and the city o principal era focar em relacionamentos e decepções amorosas, And just like that se volta para temas mais “adultos”, como a dificuldade de lidar com os filhos, a morte de parceiros e o amor depois da menopausa.
Carrie (Sarah Jessica Parker) começa a nova série tendo de lidar com a morte de Big (Chris Noth). É uma mudança e tanto: a “it girl” de Nova York agora é viúva. É um salto temporal e tanto.
Outro — inesperado — acerto é a forma como a série lida com a ausência de Samantha (antes interpretada por Kim Cattrall, que não quis retornar para o universo da série). Se antes, a ideia de uma nova Sex and the city sem a mulher parecia tão absurda, ao assistir And just like that entende-se que é um universo diferente, onde talvez a mulher “aventureira” não tivesse tanto espaço.
Samantha não foi “morta” pelos roteiristas, mas também não saiu em paz — em paralelo com a situação real de Kim Cattrall. É um cenário de explicação ousada e que agrada.
And just like that caí ao confundir evolução com esquecimento. Talvez para quem não assistiu a Sex and the city (e provavelmente não verá a nova série), isso passe despercebido, mas para os fãs da produção da década de 1990, é mais óbvio: a essência de Carrie, Miranda e Charlotte foi, de certa forma, perdida.
O medo de começar um relacionamento lésbico de Charlotte, a insegurança de Miranda em encarar a sexualidade da filha e até mesmo o tom melancólico de Carrie sobre a expectativa de um novo relacionamento pós-Big soam fora do que as três já viveram. É como se toda a experiência e todas as relações de Sex and the city tivessem sido esquecidas para um reset de narrativas em And just like that.
Depois de tantos altos e baixos que as três já viveram, certas conversas são dispensáveis, certas situações parecem forçadas, certas pungências são difíceis de entender. Do que vale evoluir tanto o aspecto externo da série, se a essência das protagonistas está em outra dimensão? É como se a série tivesse recebido uma maquiagem superficial, como se o que eles quisessem dizer estivesse em outro conteúdo.
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