São Paulo – Mais da metade das crianças vivem em situações fora do ideal no Brasil, o que atrapalha a formação de cidadãos plenos. Ao mesmo tempo, a primeira infância é a faixa etária em que, se houver investimento, tem mais potencial de quebrar ciclos de desigualdade. É o que destaca Naercio Menezes Filho, doutor em economia pela Universidade de Londres e professor do Insper e da Universidade de São Paulo (USP). “O Brasil é bastante estratificado, com pouquíssima mobilidade entre classes”, disse. “E a primeira infância é a melhor maneira de atacar a desigualdade”, afirmou durante o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância.
O evento começou nesta quinta-feira (3) e continua nesta sexta-feira (4). Apesar de admitir que houve melhorias ao longo dos anos na situação das crianças, há muito o que avançar no país nesse sentido, como Naercio comenta a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em torno de 60% das nossas crianças estão vivendo com pelo menos uma dessas restrições: falta de proteção social, de moradia ou de saneamento básico”, alertou. Além disso, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância), 60% das crianças e dos adolescentes no país, ou 32 milhões, vivem na pobreza. “Será que eles vão ter condições de realizar seus sonhos?”, questionou Naercio.
“Até que ponto o baixo aprendizado (como mostram resultados do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e a situação dos jovens nem nem (que nem estudam nem trabalham) vêm das desigualdades da primeira infância?”, perguntou. “Nossa produtividade, em termos de PIB por trabalhador, é a mesma de 40 anos atrás. Até que ponto isso reflete a falta de qualidade e resultados na educação que, por sua vez, decorre de problemas na primeira infância?”
Segundo ele, que desenvolve estudos em áreas como educação, mercado de trabalho, distribuição de renda e produtividade, a escolaridade das mães é um dos maiores preditores do futuro das crianças. “As análises mostram que os filhos de analfabetas dificilmente chegam à faculdade, enquanto os filhos das mães com nível superior seguem, em sua maior parte, para o nível superior”, observou. Dessa maneira, Naercio relaciona baixos resultados educacionais e profissionais com o que ele chama de “a loteria da vida”: quem teve a sorte de nascer num lar com melhores condições e pais com maior escolaridade terá, desde o ventre, mais vantagens.
“Onde você nasce vai determinar onde você estará daqui a 40 anos, mas não deveria ser assim. A gente acha que é natural, mas todos deveriam ter oportunidades iguais”, defendeu Naercio. “As mães com nível superior fazem cerca de 10 consultas de pré-natal; as mães com até quatro anos de estudo fazem 6. Até o peso ao nascer do bebês de mães com ensino superior é maior”, comparou. Raquel Bernal, professora de economia da Universidade de Los Andes, na Colômbia, também percebe isso.
Em estudo em que comparou atividades estimulantes desenvolvidas com filhos de mães com diferentes níveis de escolaridade em Argentina, Costa Rica, Panamá, Trindade e Tobago, verificou que a quantidade de atividades estimulantes cresce com a quantidade de anos estudados pelas mães. “Existem lacunas significativas nos ambientes de aprendizagem nas casas das famílias por causa de características socioeconômicas”, observou a doutora em economia pela Universidade de Nova York. Por isso, políticas públicas e programas que auxiliam as famílias em sua missão têm grande valor, segundo a pesquisadora.
*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
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