Simpósio internacional de medicina fetal ocorre em São Paulo

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O Centro de Ensino Superior Especializado em Diagnóstico por Imagem (Cetrus) organiza o Simpósio Internacional de Medicina Fetal. O evento será em 19 de outubro em São Paulo, no Bourbon Convention Ibirapuera Hotel. O objetivo do simpósio é debater temas como a prática diária dos obstetras e fetólogos. Autoridades nacionais e internacionais participarão, alguns presencialmente e outros por videoconferência.

Fábio Peralta, Simone Pedra e Katia Bilardo: alguns dos especialistas que se apresentarão no evento

O valor da inscrição é R$ 1.200 e pode ser feita até 19 de outubro, no dia do evento. Mais informações podem ser encontrados no link.

Conheça alguns dos palestrantes:

Simone Pedra (Brasil): chefe do departamento de Cardiologia Fetal do Instituto Dante Pazzanese, chefe da Ecocardiografia Fetal do Hospital do Coração e influente pesquisadora em cardiologia fetal e intervenções cardíacas no feto. Falará sobre cardiopatias fetais, o que diagnosticar no primeiro trimestre, suspeita e prognóstico, além de intervenções no coração fetal a partir de resultados no Brasil e no mundo.

Fábio Peralta (Brasil): doutor em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutor em medicina fetal e responsável pelo setor de Medicina Fetal do Cetrus.

Daniel Rolnik (Austrália): professor de ginecologia, obstetrícia e medicina fetal da Universidade de Monash, autor do ASPRE trial e um dos grandes pesquisadores da atualidade em rastreamento e prevenção de pré-eclâmpsia. No evento, abordará as temáticas rastreamento e prevenção da pré-eclâmpsia em gestações únicas e gemelares.

Katia Bilardo (Holanda): professora de medicina fetal, diagnóstico pré-natal e tratamento do feto da Universidade de Groningen, organizadora do TRUFFLE trial e uma das mais influentes pesquisadoras em vitalidade fetal. Palestrará sobre diagnóstico e conduta na restrição de crescimento fetal e resultados pós-natais.

“Racismo afeta desigualdade na primeira infância”, diz professor de Harvard

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São Paulo – Você já parou para pensar que existe um link entre desigualdade na primeira infância e racismo? É isso que conclui, ao comparar uma série de estudos e indicadores, David Williams, professor de saúde pública, sociologia, estudos africanos e afro-americanos da Universidade Harvard. Ao observar resultados de saúde de crianças nos EUA, ele denuncia que existe forte tendência de as afrodescendentes se saírem pior.

Flávio Moret/ Divulgação

Ele veio ao Brasil para participar do oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, organizado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), que ocorreu entre quinta-feira (3) e sexta-feira (4). O pesquisador explica que o fato de as crianças negras sofrerem com piores condições de saúde tem a ver com a discriminação, piores condições de renda e escolaridade das famílias, além de adversidades nos ambientes em que crescem.

Para completar, as mudanças fisiológicas pelas quais o cérebro e o corpo de crianças que precisam lidar cedo na vida com dificuldades passam podem ter consequências epigenéticas, sendo transmitidas para as próximas gerações. No EUA, a taxa de mortalidade infantil (número de mortes a cada 1 mil nascidos vivos) de negros é de 11,3. Em seguida, estão a de indígenas americanos (8,6), a de hispânicos (5), a de brancos (4,9) e, por fim, a de asiáticos (4,1).

Os dados, liberados em 2017, são do NCHS. Há uma grande diferença de nível de riqueza entre as raças. Para cada dólar que um branco tem, um asiático possui o equivalente a 81 centavos; um latino, 7 centavos; e um negro, apenas 6 centavos. A comparação se baseou em dados liberados pelo U.S. Census Bureau em 2014. A quantidade de anos de estudo é chave para o rendimento, e historicamente os negros têm e continuam tendo menor escolaridade.

Porém, mesmo em condições de escolaridade iguais, a mortalidade infantil dos filhos de negros continua sendo maior. “Nós pensávamos que, no mesmo nível de rendimento e escolaridade, a raça não deveria importar. Mas não foi o que verificamos”, explicou Williams. Entre os pais com até 12 anos de estudo, a taxa de mortalidade infantil dos filhos é de 15,1 entre negros e 9,2 entre brancos.

Aos 12 anos de escolaridade, a proporção é de 13,4 para 6,4. Na faixa entre 13 e 15 anos de estudo dos pais, houve 12,1 mortes entre cada 1 mil crianças negras e 4,8 entre brancas. Com mais de 16 anos de estudo, as taxas foram de 10,5 e 3,8, respectivamente. Os dados foram obtidos em estudo feito por Williams em parceria com outros pesquisadores (Braveman, Cubbin, Egerter, Pamuk e ele próprio, do AJPH).

 


David Williams com Eduardo Marinho e Naercio Menezes Filho. Flávio Moret/ Divulgação

 

Apesar de os resultados se referirem apenas aos EUA, Williams supõe que deve ser possível encontrar grandes diferenças raciais no Brasil também. Aqui, ao comparar adultos de 25 anos, é possível identificar grande discrepância de formação. Em média, os homens brancos têm 8,8 anos de estudo; e os negros, 6,9. Entre as mulheres, as brancas acumulam escolaridade de 9 anos; e as negras, 7,2. As informações são do Banco Mundial e de R. Gukovas et al.

Os dados também não são animadores para indígenas na América Latina. Cruzando informações do Panorama Social da América Latina, do Cepal e da Organização das Nações Unidas (ONU), é possível observar que a mortalidade infantil indígena é superior à das outras crianças nos países analisados, incluindo o Brasil. Aqui, a taxa de mortalidade indígena é de 21,9; contra 16,7 do restante das crianças.

O racismo afeta tudo

“Onde nascem as desigualdades raciais no nível socioeconômico? Grandes diferenças raciais ou étnicas no nível socioeconômico trazem consequências para toda a vida. E não são atos divinos, não são eventos aleatórios”, afirmou o professor de Harvard. “Essas diferenças refletem a implementação bem-sucedida de políticas sociais. O racismo produziu um sistema distorcido, fraudulento”, denunciou.

“Existe o racismo do indivíduo e existe o racismo institucional, que é incorporado às políticas, aos procedimentos, ao jeito que a sociedade usa seus recursos… É o racismo estrutural.” O preconceito racial afeta até mesmo a maneira como as crianças são tratadas no sistema educacional, já a partir da educação infantil.

“Negros, em especial os meninos, são mais suspensos e expulsos da pré-escola. Comparados aos alunos brancos da pré-escola, os negros têm 3,6 vezes mais chances de receber uma ou mais suspensões”, comparou. Isso apesar do fato de os afrodescendentes serem minoria nas instituições de educação infantil nos EUA.

 

Simpósio de primeira infância reuniu 300 pessoas. Flávio Moret/Divulgação

 

“As crianças negras representam 19% das que estão em idade escolar, mas são 47% das crianças na pré-escola que foram suspensas uma ou mais vezes”, comentou ele, com base em estudo de Gillam et al, Research Study Brief e Centro de Estudos da Criança de Yale. Essa pesquisa investigou se existe viés na pré-escola.

Foram testados 135 professores, que assistiram a 12 vídeos curtos mostrando quatro crianças desempenhando atividades diversas. Os educadores foram orientados a detectar “comportamentos desafiadores em sala de aula”. Os pesquisadores verificaram que os professores passaram muito mais tempo observando as crianças negras, em especial os meninos.

E, ao responder qual criança mais precisava de atenção, 42% indicaram o menino negro. O padrão foi verdadeiro tanto para educadores brancos quanto para negros. Além do racismo institucional, David Williams destaca que o racismo perpetrado por indivíduos também é “potente”, trazendo resultados negativos ainda durante a gestação. “O racismo que a mulher grávida enfrenta também impacta a criança.”

O peso do estresse tóxico

As crianças que nascem num ambiente pobre têm mais chance de sofrer com problemas como violência, separação e instabilidade; de viver em casas lotadas e barulhentas, frequentar creches e escolas sem qualidade. E a probabilidade de os negros lidarem com isso é maior, pois eles são a maior parcela dos pobres. Todos esses aspectos negativos desencadeiam consequências também negativas.

“O desenvolvimento do cérebro é afetado pelo ambiente em que a criança é criada”, afirmou Williams. As adversidades (como pobreza extrema, abuso físico ou emocional, negligência crônica, depressão materna grave, abuso de substâncias e violência doméstica) continuadas durante a primeira infância geram estresse tóxico.

“O estresse tóxico interrompe a arquitetura do cérebro e leva os sistemas de gerenciamento do estresse a responderem a limites relativamente mais baixos, aumentando assim o risco de doenças físicas e mentais”, alertou o pesquisador.

“O que as crianças enfrentam cedo na vida, ou ainda no útero da mãe, molda a sua biologia e seu risco de ter doenças. E pode impactar e trazer consequências para as próximas gerações a partir de mudanças no genoma”, disse. Ou seja, os efeitos podem passar de geração em geração, não ficando limitados à vida inteira daquela pessoa.

 

David Williams defende que a intervenção deve começar cedo. Flávio Moret/Divulgação

 

Tem saída

A partir de um contexto desanimador, David Williams explicou que tem solução. “Se a gente quer melhorar as desigualdades de saúde e em todos os outros aspectos, a saída é começar cedo. Se a gente intervir cedo, tem muito o que pode ser feito”, defendeu. Nesse sentido, programas de visitas domiciliares, como o Criança Feliz, durante a primeira infância podem ajudar.

“Nesses programas e visitas domiciliares, fala-se da criança, mas acabam falando do futuro da mãe, o que ela vai fazer, o que vai procurar.” No entanto, David Williams observa que implementar programas para a primeira infância isoladamente não basta. “É preciso agir também no ambiente, na capacitação dos pais, melhorar empregos…”

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

“Onde você nasce determina onde você estará em 40 anos”: o peso da escolaridade e da condição socioeconômica das mães

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São Paulo – Mais da metade das crianças vivem em situações fora do ideal no Brasil, o que atrapalha a formação de cidadãos plenos. Ao mesmo tempo, a primeira infância é a faixa etária em que, se houver investimento, tem mais potencial de quebrar ciclos de desigualdade. É o que destaca Naercio Menezes Filho, doutor em economia pela Universidade de Londres e professor do Insper e da Universidade de São Paulo (USP). “O Brasil é bastante estratificado, com pouquíssima mobilidade entre classes”, disse. “E a primeira infância é a melhor maneira de atacar a desigualdade”, afirmou durante o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância.

O doutor em economia Naercio Menezes Filho

 

O evento começou nesta quinta-feira (3) e continua nesta sexta-feira (4). Apesar de admitir que houve melhorias ao longo dos anos na situação das crianças, há muito o que avançar no país nesse sentido, como Naercio comenta a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em torno de 60% das nossas crianças estão vivendo com pelo menos uma dessas restrições: falta de proteção social, de moradia ou de saneamento básico”, alertou. Além disso, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância), 60% das crianças e dos adolescentes no país, ou 32 milhões, vivem na pobreza. “Será que eles vão ter condições de realizar seus sonhos?”, questionou Naercio.

Produtividade estagnada

“Até que ponto o baixo aprendizado (como mostram resultados do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e a situação dos jovens nem nem (que nem estudam nem trabalham) vêm das desigualdades da primeira infância?”, perguntou. “Nossa produtividade, em termos de PIB por trabalhador, é a mesma de 40 anos atrás. Até que ponto isso reflete a falta de qualidade e resultados na educação que, por sua vez, decorre de problemas na primeira infância?”

O peso da escolaridade das mães

Segundo ele, que desenvolve estudos em áreas como educação, mercado de trabalho, distribuição de renda e produtividade, a escolaridade das mães é um dos maiores preditores do futuro das crianças. “As análises mostram que os filhos de analfabetas dificilmente chegam à faculdade, enquanto os filhos das mães com nível superior seguem, em sua maior parte, para o nível superior”, observou. Dessa maneira, Naercio relaciona baixos resultados educacionais e profissionais com o que ele chama de “a loteria da vida”: quem teve a sorte de nascer num lar com melhores condições e pais com maior escolaridade terá, desde o ventre, mais vantagens.

Raquel Bernal, professora da Universidade de Los Andes

“Onde você nasce vai determinar onde você estará daqui a 40 anos, mas não deveria ser assim. A gente acha que é natural, mas todos deveriam ter oportunidades iguais”, defendeu Naercio. “As mães com nível superior fazem cerca de 10 consultas de pré-natal; as mães com até quatro anos de estudo fazem 6. Até o peso ao nascer do bebês de mães com ensino superior é maior”, comparou. Raquel Bernal, professora de economia da Universidade de Los Andes, na Colômbia, também percebe isso.

Em estudo em que comparou atividades estimulantes desenvolvidas com filhos de mães com diferentes níveis de escolaridade em Argentina, Costa Rica, Panamá, Trindade e Tobago, verificou que a quantidade de atividades estimulantes cresce com a quantidade de anos estudados pelas mães. “Existem lacunas significativas nos ambientes de aprendizagem nas casas das famílias por causa de características socioeconômicas”, observou a doutora em economia pela Universidade de Nova York. Por isso, políticas públicas e programas que auxiliam as famílias em sua missão têm grande valor, segundo a pesquisadora.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Atendidos pelo Criança Feliz devem crescer de 700 mil para 1 milhão ainda este ano e para 3 milhões até 2022

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São Paulo – Reunidas desde ontem para o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, 300 pessoas discutem e refletem sobre equidade durante o período que vai do ventre da mãe aos 6 anos de idade. O evento, organizado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), continua hoje em São Paulo com especialistas do Brasil e do exterior.

“Temos 20 milhões de crianças até 6 anos no país, das quais um terço vivem em vulnerabilidade. E a gente tem que cuidar para resolver isso no início da vida”, destaca Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, uma das entidades apoiadoras do evento, sobre a tônica do simpósio.

Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

“Os bebês nascem iguais, ou com o mesmo potencial de desenvolver, e se a gente mitigar essas diferenças logo no início da vida, a gente consegue avançar. Precisamos encarar esse debate com responsabilidade”, completou.

A participação do ministro Osmar Terra

Convidado para bate-papo no simpósio, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, comemorou os resultados do programa de visitas domiciliares Criança Feliz que, recentemente, foi premiado pelo World Innovation Summit for Education (Wise), grande cúpula de educação do Catar. “É o maior programa de visitas domiciliares do mundo, e a China está pegando informações com a gente para implementar um por lá”, completou. Osmar Terra define a política pública como um programa de exercício de parentalidade que se baseia nas descobertas da neurociência.

O ministro da Cidadania Osmar Terra

“Todo mundo sabe que é no início da vida que se desenvolvem conexões cerebrais numa velocidade incrível”, disse. “A ciência mostra que é impossível não considerar a primeira infância como a fase mais importante, que é impossível um governo não considerar a primeira infância a política mais importante”, declarou Osmar Terra. Ele garantiu que o governo federal está convencido da importância do programa, que tem ganhado apoio ainda de outras entidades.

“A Petrobras não patrocina mais a Fórmula 1. A prioridade de patrocínio agora é a primeira infância”, contou. “Conseguimos que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abraçasse a causa. E a Raquel Dodge separou R$ 250 milhões recuperados pela da operação lava jato para a primeira infância. As coisas estão se juntando”, elencou. Mesmo em tempos de dificuldades econômicas, o ministro garante a continuidade do programa.

“A raiz da desigualdade humana está nesse período da vida e nós temos que ajudar a diminuir. Temos que fazer ser prioridade mesmo com o país quebrado”, defendeu.“Pode faltar dinheiro para o capacete da Fórmula 1, mas não pode faltar para a primeira infância, pode faltar para outras áreas do governo federal, mas não pode faltar para a primeira infância.”

Mariana Luz e Osmar Terra

Criança Feliz será expandido

O programa Criança Feliz, anunciou Osmar Terra, atingirá 1 milhão de crianças este ano. A expectativa é ampliar para 2 milhões no ano que vem é para 3 milhões no último ano do governo Bolsonaro, para contemplar todas as atendidas pelo Bolsa Família. O orçamento do Criança Feliz este ano é de R$ 350 milhões. Em 2020, isso deve passar para um valor entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.

Quanto atingir a totalidade das crianças do Bolsa Família, o orçamento deve ser de cerca de R$ 2 bilhões. “Não é um programa caro. O custo por criança sai razoavelmente barato: em torno de R$ 300 ou R$ 400 por criança por ano”, informou. “É no mínimo 10 vezes menos que o custo de creche”, detalhou Osmar Terra em entrevista coletiva. Apesar disso, ele esclareceu ainda que, de forma alguma, a política pública substitui creches. “A creche tem que existir.”

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

MEC estuda “voucher-creche” para atender crianças das famílias mais vulneráveis

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São Paulo – Participando do oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, respondeu a perguntas de jornalistas em entrevista coletiva. Questionado sobre a articulação do governo federal com relação à necessidade de aumentar o número de vagas em creches públicas, Osmar Terra falou de uma espécie de voucher, que está sendo pensado para isso.

Osmar Terra contou sobre plano estudado por Weintraub

“O governo está vendo uma política… Houve uma promessa de fazer 6 mil creches, isso não aconteceu, ficou reduzido aí para umas 600”, admitiu. “São creches bonitas, grandes, mas os prefeitos não querem, porque o problema não é fazer a creche, é manter a creche”, alegou. “A manutenção custa mais em um ano do que toda a construção. O que o ministro (da Educação) Abraham Weintraub está pensando, emergencialmente, é em dar um voucher de creche para as famílias mais pobres terem acesso a creches públicas ou particulares de modo rápido”, disse.

O valor da educação infantil

O doutor em economia Naercio Menezes Filho

A função da pré-escola no combate a desigualdades, para o professor do Insper e da Universidade e São Paulo (USP), Naercio Menezes Filho é tão importante quanto programas de visitas domiciliares. “Você nunca vai conseguir acabar totalmente com a desigualdade, já que começa ainda na barriga da mãe. Mas você pode atenuá-la de dois jeitos: na família, por meio de programas de visitas, e em pré-escola e creche”, sugeriu o doutor em economia pela Universidade de Londres. “Mas não adianta serem lugares ruins, onde a criança só fica jogada para a mãe poder trabalhar. É importante que as condições sejam de qualidade para ter resultados.”

Daniel Domingues dos Santos, professor da USP

É por isso que Daniel Domingues dos Santos, professor de economia da USP, doutor pela Universidade de Chicago, explica que “nem todas as pessoas se beneficiam por terem acesso à educação infantil”. Ele aponta os resultados da Prova Brasil de 2013 como indícios para isso. A diferença de desempenho em matemática no 5º ano do ensino fundamental entre egressos e não egressos do ensino infantil considerando o nível educacional das mães não foi tão significativa.

“O que esse gráfico mascara para nós é que qualidade tem a ver com equidade. Aí vem a pergunta: o que é qualidade? A boa notícia é que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) hoje dá pistas do que a sociedade entende por qualidade, que está em linha com o que boa parte do mundo entende por qualidade”, afirmou. “Qualidade começa com garantias de direitos de aprendizagem e traz a ideia dos campos de experiência. Qualidade está na oportunização de experiências, como brincar, nos processos que acontecem dentro de sala de aula.”

E os efeitos de uma educação infantil de qualidade são enormes, como mostra o programa Melqo (Measuring Early Learning Quality and Outcomes) que Daniel ajudou a adaptar e validar em Boa Vista (RR). “É como se crianças em salas de aula com interação de qualidade tivessem seis meses a mais de estudo e aprendizado do que as que estavam em salas ruins. Ou seja, elas aprendem seis meses antes o que as que têm acesso a uma educação infantil ruim aprenderão seis meses depois”, comparou.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Simpósio reúne 300 pessoas para discutir equidade na primeira infância

Flávio Moret/Divulgação
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Começou nesta quinta-feira (3) e segue até sexta-feira (4), em São Paulo, a oitava edição do Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância. O evento reúne especialistas do Brasil e do exterior para discutir assuntos importantes para os primeiros seis anos de vida da população, além de desafios em termos de políticas públicas.

Neste ano, o tema norteador do simpósio é “equidade na primeira infância: os primeiros passos para um Brasil mais justo”. Cerca de 300 pessoas participam da programação presencialmente; no entanto, mais de 1.500 se inscreveram. Para incluir esses outros interessados, o NCPI organizou 80 simpósios-satélite, que transmitem a programação ao vivo em diversas cidades do Brasil e até do exterior.

Entre os palestrantes, destacam-se personalidades como David R. Williams, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Harvard; a atriz Denise Fraga; o médico Drauzio Varella; Helen H. Raikes, professora catedrática da Universidade de Nebraska-Lincoln.

Flávio Moret/Divulgação

Claudia Vidigal falou na abertura do evento. Crédito: Ana Paula Lisboa/CB/D.A Presss

Na abertura do seminário, Claudia Vidigal, representante no Brasil da Fundação Bernard van Leer, destacou que as discussões iniciadas no evento não devem acabar com ele. “Uma solução só não resolverá nosso problema. Não se soluciona um problema de desigualdade tão sério quanto o nosso com soluções simplistas. Por isso, oito simpósios e muitas outras discussões”, afirmou.

Acompanhe on-line

O principal objetivo da programação é estimular reflexões sobre a importância de promover equidade de oportunidades durante a primeira infância, passo essencial para construir um país mais justo. O evento é promovido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), e as sete edições anteriores, ocorridas em São Paulo, Recife e Fortaleza, reuniram mais de 2.400 pessoas presencialmente e atingiram 11 mil on-line.

Interessados podem acompanhar o simpósio, que ocorre na Estação Cidade de São Paulo, também pela internet, acessando ncpi.org.br/simposio-internacional. O público-alvo é formado por gestores e líderes do setor público, mas qualquer um que se interesse por primeira infância e deseja se aprofundar na temática pode participar.

Flávio Moret/Divulgação

Integrantes da mesa de abertura Crédito: Flávio Moret/Divulgação

Saiba mais

O simpósio do NCPI é promovido em parceria com as fundações Maria Cecilia Souto Vidigal e Bernard van Leer, o Insper, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e a Universidade Harvard, por meio do Center on the Developing Child e o David Rockefeller Center for Latin American Studies.

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UFSCar promove simpósio de desenvolvimento infantil a partir de sexta-feira (19)

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A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) promoverá a quarta edição Simpósio de Desenvolvimento Infantil (SDI) entre as próximas sexta-feira (19) e segunda-feira (22). A programação será sempre a partir das 8h30 no auditório do Centro de Pesquisas em Materiais Avançados e Energia (CPqMAE), localizado na área Norte do câmpus São Carlos, no estado de São Paulo.

O objetivo é discutir o papel das interações entre genética e ambiente no desenvolvimento infantil. As inscrições para ouvintes estão abertas e podem ser feitas também durante os dias do evento pela internet. Ainda há vagas disponíveis alunos de graduação (R$ 50), alunos de pós-graduação (R$ 160), profissionais (R$ 260) e professores de educação básica (R$ 100).

O simpósio ocorre a cada dois anos e é voltado para pesquisadores, profissionais, estudantes de graduação e pós-graduação e demais interessados no tema. Ao longo dos dias, o evento trará atividades com pesquisadores brasileiros e estrangeiros que vêm contribuindo para o avanço da ciência do desenvolvimento humano e, em especial, explorando novas frentes de pesquisa na área.

Confira destaques da programação:

  • 19 de outubro: haverá duas conferências, “Princípios biológicos do desenvolvimento embriofetal humano” e “Efeitos do álcool e do Zika vírus no desenvolvimento pré-natal”, que serão ministradas, respectivamente, pelas geneticistas Débora Gusmão, professora do Departamento de Medicina (DMed) da UFSCar, e Lavínia Schuler Faccini, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
  • 20 de outubro: as conferências discutirão as possibilidades de intervenções comportamentais direcionadas a indivíduos diagnosticados com o Transtorno de Espectro Autista (TEA). A primeira palestra, intitulada “Intervenção comportamental precoce e intensiva com crianças com autismo por meio da capacitação de cuidadores”, será proferida por Camila Gomes, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-MG) de Belo Horizonte. Na sequência, André Varella, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), tratará das estratégias recentes para o ensino de linguagem a crianças com autismo.
  • 21 de outubro: dia livre
  • 22 de outubro: no período da manhã, David Moore, docente e pesquisador do Pitzer College e da Claremont Graduate University e diretor do Developmental Sciences Program, da National Science Foundation, falará sobre epigenética comportamental e o papel de processos de desenvolvimento sobre a geração de todos os fenótipos; no período da tarde, Moore apresentará dados de pesquisas recentes, conduzidas em seu laboratório, sobre habilidades de rotação mental em bebês.