De Renato Janine Ribeiro. Companhia das Letras, 300 páginas. R$ 34,90
Renato Janine Ribeiro não foi apenas o ministro que ficou seis meses na Educação em 2015: professor de ética e filosofia da USP, é também uma das vozes mais consistentes da intelectualidade brasileira. Nessa coletânea de ensaios — alguns publicados em revistas e jornais, outros não, todos produzidos nos últimos 20 anos — ele procura aproximar filosofia e ciência política no contexto político brasileiro. Um não precisa abrir mão do outro e ambos podem ser pensados na prática. Logo no início, Janine avisa que filosofar sobre a prática coletiva é abrir rumos novos e sugere “tomar partido, mas jamais adotar, como critério, o de seguir partido”. Ele reflete um pouco sobre ser ministro da educação, mas os ensaios não são sobre isso. São sobre a construção do que chama de sujeitos coletivos e ativos. O primeiro ensaio vai direto na ferida ao sugerir que supostos opostos, como o liberalismo e o socialismo, não são, na verdade, opostos. São métodos legítimos, defende, se tiverem um “ponto de partida ético”’. Igualdade é palavra chave. O liberalismo se ancora na ideia de que todos são iguais no ponto de partida e que o Estado é responsável por retirar os obstáculos para que a competição seja igualitária. O socialismo iguala a todos no ponto de partida e atribui à sociedade a culpa da desarmonia, daí a necessidade de tutela do Estado. “Podemos prosseguir nesta lista de diferenças, mas lembrando que — por mais que expressem duas visões conflituosas do mundo — pode haver migração de uma coluna para a outra”, escreve. Nos ensaios seguintes, Janine segue com temas que, em todos os aspectos, têm a ver com o primeiro texto. As lutas sociais, os direitos humanos, as consequências das desigualdades, política versus democracia, perda de referenciais na sociedade, um caldeirão ao qual os brasileiros deveriam estar atentos, porque está em ebulição.
De Naomi Klein. Betrand Brasil, 292 páginas. R$ 49,90
Quando Donald Trump foi eleito, a jornalista canadense Naomi Klein trabalhava em outro projeto de livro. No entanto, a urgência do resultado das eleições norte-americanas de 2016 fez Klein se debruçar sobre o significado da escolha dos Estados Unidos. Há duas décadas, a jornalista pesquisa e escreve sobre “choques em larga escala sofridos por sociedades”. Seus textos abordam como esses choques acontecem e como eles são explorados pelos políticos e pelas grandes corporações. Eventualmente, são até mesmo intensificados para que se possa extrair um maior proveito. Para a autora de Não basta dizer não, Trump é uma espécie de golpe final dessas estruturas que há décadas desenham o cenário político americano. O livro não trata apenas da ascensão do empresário. Klein propõe que a hora atual é crucial para decidir que tipo de mundo podemos construir e se a manutenção das desigualdades é efetivamente a única forma de seguir adiante. Pelo crivo da jornalista passam a política, o meio ambiente e a democracia. O texto analisa as condições que permitiram a ascensão do atual presidente americano. “Trump não é de maneira nenhuma uma ruptura, mas sim a culminação — o fim lógico de muitas histórias perigosas que nossa cultura vem contando há muito tempo”, escreve Klein.
De José Arthur Giannotti e Luiz Damon Santos Moutinho. Companhia das Letras, 164 páginas. R$ 49,90
Qual o lugar da política no mundo moderno, um cenário de crescentes desigualdades e democracias em crise? O que os gregos e os grande revolucionários têm a nos ensinar? A política pode se submeter a metodologias científicas? É bem filosófico o livro de Giannotti e Moutinho e exige atenção do leitor, mas é um bom caminho para compreender como a sociedade contemporânea chegou ao neoliberalismo que hoje marca a maior parte das economias do planeta. Marxismo e capitalismo fazem parte do cardápio de Giannotti, cujo pensamento encontra diálogo em dois textos do também filósofo Luiz Damon Santos Moutinho.
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