Renato Russo e as listas

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Listas de filmes, de músicas, de discos, de bandas, de atores. Listas de coisas a fazer, de músicas para escrever, de atuações geniais, de livros lidos ou a serem lidos. Renato Russo adorava listar e fez isso praticamente a vida toda, por isso os editores Sofia Mariutti e Tarso de Melo encontraram um pequeno tesouro no conjunto de mais de 40 cadernos de anotações deixado pelo músico. Agora organizadas em um único volume, as listas de Russo estão disponíveis para fãs e leitores em O livro das listas – Referências musicais, culturais e sentimentais.

No início, os organizadores pensaram em publicar apenas as referências culturais. Durante a pesquisa, no entanto, Sofia e Tarso perceberam que a prática era tão constante que podiam ir além. Renato Russo gostava de listar outras coisas além de discos, livros e filmes. “Essas listas mostram como ele era metódico e organizado, ele não queria deixar nada de fora, queria categorizar os filmes que viu, o que era bom, por que ele gostou. Ele fazia o próprio Oscar”, explica Sofia. “Ele era muito disciplinado e as listas de coisas a fazer mostram isso, mostram o jeito de organizar o pensamento e toda a produção.”

Muitas dessas listas eram feitas durante turnês, em meio a uma agenda lotada de compromissos. “Acho que era um jeito de ele tomar pé de tudo”, acredita Sofia. “E acho que esse jeito contaminou muito a criação dele também porque ele cria listas dentro das músicas.” Há vários momentos preciosos nas escolhas feitas para o livro. Em Novas ideias para canções, por exemplo, o músico dá título a algumas canções ainda inexistentes e descreve como elas deverão tomar forma, do que vão falar.

A maneira como Russo nomeava suas listagens não era nada convencional. Há uma lista de 10 pessoas que convidaria para um jantar, outra intitulada Minha parada de sucessos eternos, outra de filmes cults favoritos com direito a classificações com símbolos e o número de vezes que assistiu. Cds para comprar, Pessoas que admiro (incluindo um misterioso “aquele maestro”), O que você fez, Coisas a fazer, Filmes que você lembra e o que os fez especiais, há sempre um toque carregado de sentido pessoal.

O livro cobre cadernos das décadas de 1970, 1980 e 1990 e também ganhou comentários dos organizadores, que explicam e contextualizam algumas das citações de Russo. O músico costumava escrever em inglês e as reproduções das páginas com a caligrafia são uma boa amostra de como organizava os cadernos. “A gente quis enriquecer o livro com essas outras listas. Elas apareciam no meio dos cadernos, dos diários. Ele escrevia muito, era compulsivo e prolixo, então era o jeito de organizar o pensamento. Ele estava sempre escrevendo muito e sempre nesse formato de listas. O que ele tinha que ler, ouvir, fazer, às vezes coisas burocráticas, às vezes coisas criativas mesmo”, conta Sofia.

De Renato Russo. Companhia das Letras, 192 páginas. R$ 59,90

Nahima Maciel

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