A historinha do ser que parte em uma busca impossível para concluir que a felicidade está dentro de cada um, e não na parte que parece faltar, emocionou Jout Jout, que lê o livro inteiro no vídeo publicado no dia 20 de fevereiro. A youtuber conseguiu provocar um frisson em torno do livro ao ser vista por mais de 2,2 milhões de pessoas. Resultado: o livrinho infantil de Shel Silverstein, muito bom, vale repetir, virou um fenômeno literário com aumento de demanda cem vezes superior ao normal. A Companhia das Letrinhas, inclusive, já trabalha em uma reimpressão.
Cartunista e compositor, além de autor de livros infantis, Silverstein nasceu em 1930 e morreu em 1999. Deixou uma biblioteca de 13 livros infantis, entre prosa e poesia, nem sempre com finais felizes, porque afinal, nem sempre a vida é feita de finais felizes. O início da carreira de escritor até lembra um pouco a de J. K Rowling e seu Harry Potter rejeitado por várias editoras. Silverstein amargou quatro anos de recusas até conseguir publicar seu primeiro livro, Lacadio, the lion who shot back. Os editores achavam o livro lindo, mas não queriam editá-lo. Foi em 1963 que a Harper& Row apostou na história de Silverstein.
Lacadio é um livrinho muito bonito sobre a felicidade. E muito triste também. Diante de um caçador, o personagem promete não machucar ninguém e ser fiel àquele que porta a arma caso não seja agredido. Mas o caçador o ignora e Lacadio acaba por devorá-lo. Ao voltar para casa, treina com a arma de seu potencial algoz e se torna um leão muito famoso e admirado. Porém, o sucesso não traz felicidade. É o mesmo fio da meada oferecida em A parte que falta e em muitos outros livros de Silverstein, que é também um poeta capaz de convidar as crianças a dar vida à imaginação. Em Where the sidewalk ends, o autor faz uma proposta às crianças capazes de sonhar e as desafia a imaginar coisas impossíveis, como um sanduíche de hipopótamo. Nos 130 poemas de A light in the attic, provoca o leitor a encontrar uma série de personagens fantásticos em um sótão no qual brilha uma luz mágica.
Dos 13 livros publicados por Silverstein, apenas quatro estão traduzidos para o português. Além de A parte que falta, estão disponíveis A árvore generosa, Fuja do garabuja e Uma girafa e tanto. Neste último, o autor propõe questionamentos surreais e engraçados, como esticar o pescoço da girafa para que ela se torne uma girafa e meia. A árvore generosa tem uma história comovente, uma fábula sobre dar e receber.
Em entrevistas, Silverstein contava que, quando criança, queria ser popular, mas como não conseguia, só lhe restava desenhar. E foi assim que começou a desenvolver o traço marcante de suas ilustrações. O escritor também dizia que, como começou muito cedo, não tinha modelos a serem copiadod, por isso conseguiu criar um estilo próprio. Se for para incorporar as mensagens de Shel Silverstein, valeu a dica de Jout Jout. Quem sabe as editoras brasileiras não se animam em apostar mais traduções do autor?
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