Com capa dura e uma coleção de fotos muito bem selecionadas pelo editor Angel Bojadsen e assinadas por nomes como Robert Doisneau, Henri Cartier-Bresson, Brassaï, Eugène Atget e Marville&Co, A invenção de Paris é um passeio histórico que tangencia a geografia, a literatura, a arquitetura e os costumes de uma das cidades mais visitadas do mundo.
Hazan abre o livro explicando como a cidade se desenvolveu. Há metrópoles cujo traçado é muito claro e geométrico – caso de Nova York – e outras fruto de aglomerações nascidas tais quais colônias de bactérias. Paris cresceu em camadas. Como uma cebola. Talvez por isso – e esse é um detalhe ressaltado pelo autor – as fronteiras entre os bairros tenham marcações muito claras. Fica impossível, por exemplo, não notar a passagem de um bairro muito organizado e burguês para outro mais popular, habitado por pessoas de variadas origens. É a psicogeografia do limite expressão usada por Hazan para definir como a cidade se divide em arrondissements, espécies de regiões administrativas que, aparentemente, só fazem sentido para o fisco e para os burocratas.
Dividido em duas partes, o livro tem início com capítulos que investigam a antiga Paris, aquela dos bairros, e a nova, dos faubourgs e das aldeias. A segunda parte é dedicada à cidade combatente. Ali, Hazan explora histórias da resistência na Segunda Guerra, da Comuna, tentativa de um governo popular após a queda de Napoleão III, e da própria Revolução de 1789. Sim, porque há uma geografia que delimita a Paris da Resistência, a da Comuna, a de Maio de 1968 e da Revolução Francesa. Essa cidade, o autor chama de Paris Vermelha e avisa, ao fim do livro, que seu poder de ruptura não deve ser subestimado.
A história é a matéria prima de Eric Hazan e, às vezes, ela pode ser pesada e densa. Para equilibrar – porque A invenção de Paris está longe de ser um livro de curiosidades -, ele insere detalhes curiosos que ajudam a dar um contorno mais saboroso à história pura e simples. Assim, descobre-se que a cidade emergiu de um plano em cruz herdado dos romanos e que pedaços da Bastilha foram vendidos como os do muro de Berlim, logo após a Revolução Francesa. Boulevard é um nome militar e Louis XIV instalou, no século 18, três mil lampiões à vela, substituídos por gás um século mais tarde. A eletricidade só chegou mesmo em 1914. Em frente ao Palais de Justice, na Île de la Cité, a poucos metros da Notre Dame, havia um amontoado de tabernas mal-afamadas que o Barão Haussman, prefeito responsável por abrir as grandes avenidas parisienses, tratou de raspar do mapa assim que pôde. A Place Vendôme, hoje sede do luxuosíssimo Ritz e das joalherias mais caras da cidade, já foi palco de revoluções com civis armados que posavam para a coluna de combatentes da Comuna, em 1871. E, naquela época, era também notável uma característica que ainda hoje seduz o mundo. É o escritor Louis-Sébastien Mercier quem melhor a define, como lembra Hazan, em frequentes e deliciosas citações literárias: “Não existe no mundo taberna mais graciosamente depravada”.
A invenção de Paris – A cada passo uma descoberta
De Eric Hazan. Tradução: Mauro Pinheiro. Estação Liberdade, 448 páginas. R$ 145
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