De Cristina Tardáguila e Chico Otávio
Sobre verdades e mentiras na política, vale conferir o trabalho realizado pela dupla de jornalistas. Cristina é diretora da Agência Lupa, especializada em checagem de fatos e membro da Fact Checking International Network, e Otávio carrega mais de três décadas de experiência na cobertura da política. Os dois uniram esforços para elencar uma frase dos últimos oito presidentes desde o governo do general João Figueiredo e mostrar, por meio de entrevistas e pesquisas históricas, como eram, na verdade, grandes mentiras. Foi Cristina quem teve a ideia ao visitar a redação de um dos maiores sites de checagem dos Estados Unidos. “Eles fizeram uma ação com uns pôsteres com frases de presidentes americanos que são super falsas, como o Nixon negando guerra do Vietnã e Clinton negando ter tido relações sexuais com a Lewinski. Aí pensei: nossos brasileiros têm um acervo bem mais rico que esse aí. A gente dá um baile”, conta. Para compilar as frases, os autores conversaram com cientistas políticos, sociólogos, historiadores e jornalistas que cobrem política. “As frases que estão no livro foram escolhidas quase unanimemente por esses grupos”,
avisa Cristina. “E eu tinha certeza que a gente precisava fazer da redemocratização pra frente porque a memória do brasileiro é muito curta.”
De Steven Levitsky & Daniel Ziblatt. Tradução: Renato Aguiar. Zahar, 270 páginas. R$ 59,90
A dupla de cientistas políticos da Universidade de Harvard parte da eleição de Donald Trump para analisar como as democracias contemporâneas estão à beira do colapso. Segundo os autores, o tempo dos golpes de estado acabou. É pelo voto que as democracias entram, aos poucos, na trilha da destruição. E isso traz novas configurações. Com ideias totalitárias, especialmente quando se trata da extrema direita, os governantes chegam ao poder de forma legítima e implodem as instituições democráticas por dentro. Não fecham imediatamente os parlamentos, mas impedem seu funcionamento. Assim como passam a dominar o judiciário. O clássico sistema de freios e contrapesos, tão celebrado por Montesquieu, passa a não mais funcionar e o controle entre os poderes deixa de existir. Assim é possível implantar medidas autoritárias e trocar o sistema legalista por um sistema lealista. Levitsky e Ziblatt atribuem esse fenômeno contemporâneo – que atingiu países como Venezuela, Filipinas, Hungria e Turquia e está em vias de atingir o Brasil – a alguns fatores. Crises econômicas e de segurança são um deles. Assustada diante do caos nesses setores, a população aceita fazer concessões antes improváveis, como abrir mão de direitos civis. Outro fator seria o total colapso do sistema político. Os cientistas defendem que os partidos são responsáveis por impedir que figuras totalitárias cheguem perto do poder de fato. Seriam os guardiões dos portões da democracia, uma imagem recorrente no livro. Quando esses partidos se tornam incompetentes, fenômenos como Chávez, Maduro, Erdogán e Duterte adquirem importância. Levitsky e Ziblatt propõem uma série de perguntas que os eleitores podem fazer em relação aos candidatos escolhidos em uma eleição para saber se ele tem ou não potencial de se tornar um comandante totalitário. É leitura obrigatória para as eleições de 2018.
De David Runciman. Tradução: Sérgio Flaksman. Todavia, 268 páginas. R$ 64,90
A posse de Donald Trump também é o ponto de partida de David Runciman, que é professor de ciência política na Universidade de Cambridge. O fim da democracia contemporânea, para o autor, não será espetacular como foi nos anos 1960 e 1970, com violência e golpes de estado. Será quase imperceptível, lenta e sonolenta. Quando menos esperarmos, estaremos atados. As ameaças são as crises, mas também a falta de atenção dada a temas como as mudanças climáticas e o avanço das tecnologias. Runciman lembra que raramente o destino do mundo é a questão levada em conta durante eleições. Problemas mais cotidianos e imediatos costumam pautar as escolhas nesses momentos. E o que conta, diz o autor, nunca é o que os políticos pensam de tudo isso, e sim o que as pessoas acham daqueles que tomam decisões em seu nome. “É sempre esta a questão básica da democracia representativa: o que pensamos sobre essas pessoas que decidem por nós? O que está em jogo nem sempre importa muito. Pode ser tanto o apocalipse nuclear quanto o preço do pão.” Nessa esteira, a democracia sofrerá morte lenta.
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