J. K. Rowling: “A vida não é uma checklist de aquisições e realizações”

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O texto é antigo, foi escrito há quase 10 anos, mas somente agora chega às livrarias brasileiras. E como a autora é responsável por um dos maiores sucessos do mundo editorial deste início de século 21, vale dar uma olhada. Em junho de 2008, a britânica J. K. Rowling subiu ao púlpito como paraninfa para falar aos alunos da Universidade de Harvard. O tema escolhido pela autora da série Harry Potter foi a importância de falhar e de imaginar.

O pequeno texto, editado pela Rocco em um livrinho de capa dura e com ilustrações muito simpáticas, é, na verdade, um grande texto. Rowling explica para a elite do planeta que fracassar ajuda a construir um ser humano mais, digamos, humano. Que imaginar não é criar uma Hogwarts cheia de magia e sim ter empatia, se colocar no lugar do outro e ser capaz de sentir sua dor, suas inseguranças e suas alegrias. Que escrever a série que a tornou milionária não foi o feito mais importante de sua vida: esse peso ela coloca na experiência de trabalhar para a Anistia Internacional, na convivência com vítimas de torturas, violências e todo tipo de atrocidades.

Se pudesse falar com a J. K. de 21 anos, a então escritora de 42 diria: “felicidade pessoal está em saber que a vida não é uma checklist de aquisições ou realizações”. Realista, ela avisa: “Suas qualificações, seu currículo, não são sua vida, mas vocês encontrarão muita gente de minha idade ou mais velha que confunde as duas coisas”. A adversidade ajuda no autoconhecimento e passar por ela faz parte da construção de uma sociedade melhor.

A autora também  conta um pouquinho da vida pessoal ao lembrar como os pais, cuja origem humilde naturalmente levou ao desejo de um futuro de sucesso para a filha, se opuseram às escolhas quando se tratou de iniciar os estudos acadêmicos. Mas ela não culpa os pais pela perspectiva e dá uma boa lição: “Existe um prazo de validade para culpar os pais por guiarem vocês para o lado errado: no momento em que vocês têm idade para assumir o controle, a responsabilidade é sua”. E completa: “Não posso criticar meus pais por torcerem para que eu nunca vivesse na pobreza”.

Vidas muito boas – As vantagens do fracasso e a importância da imaginação é um livrinho muito útil, não importa a sua idade. E se você leu Harry Potter enquanto deixava de ser criança para se tornar adolescente e, mais tarde, um adulto, vai encontrar ali muitas das ideias existenciais que embalaram a criação do pequeno bruxo.

Vidas muito boas – As vantagens do fracasso e a importância da imaginação

J. K. Rowling. Tradução: Ryta Vinagre. Rocco, 80 páginas. R$ 29,90

Nahima Maciel

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