As mulheres representam 51,48% da população brasileira. São maioria, segundo dados do IBGE de 2015. Mas esse número cai drasticamente quando se trata de livros publicados e da quantidade de escritoras no país. De acordo com pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) que analisou as publicações de grandes editoras brasileiras nos últimos 49 anos, mais de 70% dos livros publicados são assinados por homens. No entanto, as mulheres escrevem. E muito. Os números do mercado editorial têm várias explicações, entre elas o preconceito de que mulheres escrevem sobre assuntos femininos e o fato de muitas terem menos tempo para a escrita porque são responsáveis por duplas jornadas de trabalho.
Há várias iniciativas que tentam mudar esse quadro e dar mais voz às autoras. Uma delas é o site Leia mulheres, que discute literatura feminina em todas as esferas e sugere leituras. Outra é a Sibila Publicações, criada em 2017 pela portuguesa Inês Pedrosa para editar textos e ensaios de mulheres. No Brasil, há pelo menos duas editoras cujas equipes são inteiramente femininas: a Ubu, de Florência Ferrari, Gisela Gasparian e Elaine Ramos, e a Nós, criada por Simone Paulino.
Em Brasília, a Piqui é uma editora de zines e quadrinhos criada por Tais Koshino e Lívia Viganó em 2011 para publicar apenas autoras e a Semilla, idealizada por Tatiana Nascimento, é uma feira destinada a publicadoras. Na Padê Editora, Tatiana também dá prioridade às autoras negras, lésbicas, transexuais e travestis..
Para quem gosta de ler, uma boa maneira de homenagear as mulheres neste 8 de março é embarcar numa lista de livros escritos por elas. O Leio de Tudo fez uma seleção de cinco livros publicados por autoras brasileiras nestes primeiros três meses de 2018. É só coisa nova, já que é preciso fazer um recorte. E uma prova de que literatura feminina, um termo que muitas escritoras rejeitam, não traz apenas assunto de mulher. Dá uma olhada.
Enterre seus mortos, de Ana Paula Maia
Nascida em Nova Iguaçu, Ana Paula é dona de uma narrativa seca, cruel, fria e povoada por homens. Seu personagem recorrente, Edgar Wilson, é um homem de pouquíssimas palavras e muitos mistérios, maldoso em alguns aspectos, fraternal em outros. A dualidade é marca da narrativa da autora. Wilson trabalhou em um abatedouro e, neste novo romance, é responsável por tocar uma máquina de moer animais. Mortos. Ana Paula não faz muitas concessões, então, se você se aventurar por essa leitura, prepare o sangue frio e o estômago, porque a narrativa é tão atraente quanto angustiante.
Todos os dias a mesma noite, de Daniela Arbex
A jornalista Daniela Arbex foi em busca das vítimas e sobreviventes da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS), para reconstituir os momentos que se seguiram ao incêndio que matou 242 pessoas em janeiro de 2013. A autora conversou com pais e mães que perderam os filhos, mas também com integrantes das equipes médicas e de saúde, além de bombeiros e membros da segurança pública e da administração local que participaram do socorro. Foi a primeira vez que os médicos, enfermeiros e psicólogos presentes em hospitais naquela noite falaram sobre o assunto. Um dos melhores trabalhos de reportagem no Brasil publicados neste início de ano.
Manual da demissão, de Júlia Wähmann
Prepare-se para rir e também para chorar com a história trágica dessa personagem que é demitida de uma empresa do mercado editorial e precisa lidar com as consequências emocionais e burocráticas da situação. Júlia partiu da própria experiência para escrever um livro tocante e difícil de largar antes de chegar ao final. O humor é uma das habilidades dessa narradora, vítima de uma crise econômica que parece não deixar sobreviventes.
Tudo pode ser roubado, de Giovana Madalosso
O primeiro romance da escritora curitibana se passa em São Paulo e tem como protagonista uma garçonete que costuma fazer programas e cometer pequenos roubos de objetos de grife. Mas é no submundo de colecionadores de livros e milionários bizarros que ela vai encontrar a aventura mais excêntrica de sua trajetória: roubar a primeira edição de O guarani, o romance de José de Alencar. Giovana já havia publicado um livro de contos – A teta racional -, título escolhido porque também dá nome a um conto que fala das ambiguidades femininas. Para Giovana, toda ficção parte da experiência do autor, mesmo que sejam “lascas de experiência”.
O clube dos jardineiros de fumaça, de Carol Bensimon
Apontada pela revista Granta como uma das promessas da geração 2000 na literatura brasileira, finalista do Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura e autora de dois romances, o mais recente publicado em 2013, Carol Bensimon está com livro novo. O clube dos jardineiros da fumaça trata da desilusão de uma geração que acreditou na filosofia hippie, mas também dos conflitos da geração contemporânea que precisa lidar com esses sonhos desfeitos. O romance se passa na Califórnia e Carol passou um tempo nos Estados Unidos para escrever a narrativa.