O teste da base do governo na Câmara será o auxílio reduzido

Publicado em coluna Brasília-DF

Ao colocar a proposta de autonomia do Banco Central (BC) para abrir sua gestão na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) optou pelo tema que estava mais maduro, de forma a dar o discurso de sucesso no diálogo entre os Poderes da República. Mas, nos bastidores, todo mundo diz que a proposta não pode ser considerada um teste da base fiel ao presidente e, sim, a sinalização da Câmara de que, ali, a prioridade do presidente da Casa será a agenda econômica, sem a qual a perspectiva de sucesso eleitoral no futuro estará prejudicada.

Lira, assim como Jair Bolsonaro, sabe que, logo ali na frente, passados os temas mais fáceis, como a autonomia do BC, a coisa vai apertar. O grande teste será o auxílio de R$ 200. A oposição vai tentar elevar esse valor cortando despesas em obras que o governo deseja mostrar em 2022. Lira foi eleito com a ajuda do Palácio do Planalto para ajudar na construção dos consensos dentro daquilo que o governo deseja. Se a base aliada desandar, corre o risco de o presidente da República colocar a culpa no colo do presidente da Câmara. Bolsonaro já fez isso com Rodrigo Maia lá atrás. E nada garante que não repetirá a dose.

Reforma a conta-gotas

Bolsonaro não fará a reforma ministerial no ritmo que desejam os partidos, nem do jeito que eles pediram. E há um motivo para isso: deixar a turma com a expectativa de poder e não desagradar aqueles que o apoiam desde a campanha presidencial.

Teste de fidelidade
O presidente foi, inclusive, aconselhado a esperar passar o feriado de carnaval para anunciar o novo ministro da Cidadania. Assim, já estará resolvida a Comissão Mista de Orçamento e a Comissão de Constituição e Justiça. Há quem diga que, se houver uma rejeição ao nome da deputada Bia Kicis (PSL-DF) na CCJ, o mal-estar será grande.

Ficamos assim
Antes de colocar a autonomia do BC em votação, Lira tem encontro marcado com líderes dos partidos de oposição para estabelecer um acordo de procedimentos.

Termômetro
Lira quer aproveitar para medir como está a disposição dos oposicionistas em aceitar um valor menor do auxílio emergencial, de forma a não comprometer ainda mais as contas públicas. Ocorre que, depois de, no ano passado, a Câmara fechar o auxílio em R$ 500 e Bolsonaro subir para R$ 600 apenas para levar a melhor no eleitorado, ninguém da oposição acredita em acordo com o presidente.

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Estica e puxa/ A transferência da instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) para amanhã (10/2) foi lida como um sinal de que Elmar Nascimento (DEM-BA) não desistiu do cargo.

Nem vem/ Em conversas reservadas, porém, os mais próximos a Arthur Lira dizem que o nome é Flávia Arruda (PL-DF) e ponto. Não é uma questão pessoal e, sim, de proporcionalidade. O PL é maior que o DEM e Arthur, que brigou por Flávia em dezembro, não vai ceder agora.

Sem álibi/ O deputado João Roma (Republicanos-BA) está numa sinuca de bico. Apontado como um nome para o Ministério da Cidadania, ficará mal no seu partido se for chamado e recusar o cargo. Se aceitar, fica mal com o presidente do DEM, ACM Neto. Se João Roma for ministro, a indicação será atribuída a Neto, o que dará mais munição para o grupo do partido incomodado com o governo, enfraquecendo a posição do presidente da legenda como independente. É aquela velha história do sujeito que passou por um beco no momento do crime, na hora do crime, mas jura que é inocente.

Por falar em enfraquecimento…/ Os deputados podem até permanecer no DEM, mas alguns nomes começam a olhar para a porta de saída. Na lista, estão o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que não apoiará Bolsonaro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Mas ninguém fará qualquer movimento agora. A ordem é tentar segurar esse pessoal na legenda. Paes, por exemplo, que acabou de assumir, precisa de paz para trabalhar.

Partidos esperam reforma ministerial para depois do carnaval

Publicado em coluna Brasília-DF

A expectativa de poder foi crucial para ajudar Arthur Lira (PP-AL) a acomodar seus aliados nos últimos dias, a começar pelo Republicanos, que abriu mão de um cargo na Mesa Diretora da Câmara e, agora, aguarda um ministério. O mesmo vale para o DEM, que, ao sair do bloco de Baleia Rossi, deu ao presidente Jair Bolsonaro o que o capitão mais desejava: derrotar Rodrigo Maia, antes mesmo de anunciado o resultado. Nos bastidores, os deputados afirmam que o presidente terá de cumprir os compromissos e acomodar os novos aliados ao seu lado.

Embora o presidente tenha dito que há “apenas uma vaga” em sua equipe, a Secretaria-Geral da Presidência, ele não tem uma situação tão confortável, do ponto de vista político, que lhe permita deixar ao relento a turma que, agora, assume o poder no Congresso. Afinal, se a economia não responder rapidamente, o presidente terá dificuldades de manter o eleitorado e, por tabela, os novos amigos da velha política.

2022 começa agora

A briga entre Rodrigo Maia e ACM Neto tem como pano de fundo os rumos do DEM para 2022. Neto ainda tem uma janela aberta para apoiar a reeleição de Bolsonaro e uma parcela da bancada interessada nesse caminho. Nessa trilha, Rodrigo não seguirá nem amarrado.

Rodrigo e Luciano
Do MDB, passando pelo PSDB, pelo Cidadania e até pelo PSL, Rodrigo Maia estudará bastante antes de escolher um partido para chamar de seu. Afinal, foi o primeiro presidente do DEM, quando o PFL trocou o nome, tem história política. Ele jogará junto do empresário Luciano Huck rumo a 2022. São amigos há 20 anos.

Por falar em PSDB…
Foi preciso uma intervenção do PSDB paulista, leia-se João Doria, para evitar que o PSDB fizesse igual ao DEM e saísse do bloco de Baleia Rossi. O movimento contava com o apoio do PSDB de Minas. O líder da bancada, Rodrigo de Castro, foi acusado pelo MDB de atuar para atrasar o pedido de registro do bloco de Baleia. A disputa no PSDB indica que Doria não terá vida fácil no ninho para ser candidato a presidente da República.

Apostas
O governo calcula que o mote da oposição para a eleição do ano que vem promete ser a pandemia e os erros do governo nessa seara. A aposta dos bolsonaristas, porém, é de que esse tema já terá passado e que o povo estará mais interessado na economia.

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Frota, o primeiro tiro/ A abertura da sessão preparatória, com o discurso de Alexandre Frota, do PSDB-SP, cheio de ácidas críticas ao governo, fez parte da estratégia da oposição de tentar levar o plenário a mudar de ideia em relação a Arthur Lira. Chamou Bolsonaro até de abutre, que acabou com a Lava-Jato, se omitiu na prisão em segunda instância; falou do líder com dinheiro na cueca (senador Chico Rodrigues) e por aí foi.

Lá e cá/ Depois que Luiz Miranda (DEM-DF) se juntou ao comboio para o passeio de moto, no último sábado, o presidente Jair Bolsonaro chamou o ex-deputado Alberto Fraga, de quem é amigo há 20 anos. Conversaram por mais de duas horas. Não dá para deixar um velho amigo com ciúmes de Miranda, que não foi chamado para conversar depois do passeio.

Diferenças importantes/ Arthur Lira fez campanha voltada para os deputados e não para o público externo. Aliás, na Câmara, quem fez campanha para os cargos internos, via público externo, invariavelmente, se deu mal.

Por falar em público externo…/ A aglomeração de deputados no plenário da Câmara, durante a sessão preparatória, deixou o corpo médico de plantão atônito por causa da pandemia da covid-19. Muitas excelências mantinham a máscara no queixo, outras cobriam apenas a boca. Preocupante. Até porque, diante de uma nova cepa, até quem já teve a doença não está completamente livre do vírus.

“Rodrigo Maia fez ouvidos moucos ao clamor dos brasileiros. A história é implacável”
Luiza Erundina (PSol-SP), referindo-se aos sucessivos pedidos de impeachment, que Rodrigo desprezou e ameaçou abrir no último dia, quando não havia mais tempo