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Por mais surpreendentes que sejam as denúncias envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, seja na seara dos atos antidemocráticos/tentativa de golpe de Estado, seja nos gastos do cartão corporativo, o governo Lula terá que fazer uma escolha: gasta parte da energia nesses temas da segurança — entre eles o chamado pacote da democracia que vem por aí — ou acalma o país para garantir uma boa discussão da reforma econômica — na qual a tributária é considerada a mais importante. A partir daí, consolidaria os recursos para os programas sociais, especialmente a revolução que o presidente da República deseja fazer no sistema educacional.
Se depender exclusivamente de Lula, a ordem é virar a página. Deixar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Judiciário cuidem de Bolsonaro e a Presidência da República fique fora dessa seara. Falta combinar com o PT, que, diante dos atos antidemocráticos, se apresenta com sangue nos olhos, pedindo a cabeça do ministro da Defesa, José Múcio, e reclamando internamente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. O entorno de Lula espera que a fala inicial dele, ontem, no café da manhã com a imprensa, tenha sido a senha para o PT reajustar o foco para os programas sociais.
Um quebra-cabeças…
O mosaico que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem montando há anos dentro do inquérito dos atos antidemocráticos, tem agora uma peça-chave: o manuscrito de uma minuta de decreto encontrado na casa de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do DF e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, é visto como uma prova de que houve realmente vários desenhos para evitar a posse de Lula.
…que preocupa os bolsonaristas
A continuar nesse caminho, avaliam alguns, cresce o risco de que Bolsonaro seja encaminhado a prestar depoimento assim que pisar em Brasília. Se houver alguma prova mais incisiva de participação do ex-presidente, ele pode ser preso.
Uma ajuda a Ibaneis
A minuta de um decreto de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontrada na casa de Torres ajudará o governador Ibaneis Rocha na própria defesa. É que quanto mais elementos houver de que o ex-ministro estava no grupo que tentou articular um golpe no país, mais chances de recair sobre ele toda a culpa pela desmobilização de 8 de janeiro.
E a economia, hein?
O setor produtivo não gostou nada dessa história do voto de qualidade no Carf. É que, a partir de agora, a mão sempre pesará a favor da Receita Federal. Há, no setor produtivo, quem considere que o governo quebrou o que disse Lula: previsibilidade, transparência e credibilidade. O da “previsibilidade”, dizem alguns, não foi cumprido com o anúncio das medidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O mercado, porém, gostou.
Caligrafia/ O autor da minuta do decreto encontrado na casa de Anderson Torres ainda não é conhecido. Já tem gente no mundo jurídico desconfiada de que não foi o ex-ministro que escreveu.
TCU em festa…/ Para marcar os 130 anos do Tribunal de Contas da União, o atual presidente da Corte de contas, Bruno Dantas (foto), levantou três pontos prioritários com os quais pretende marcar sua gestão: transparência, responsabilidade fiscal e cultura de consensualismo.
… e na lida/ A ordem é dar segurança aos gestores de que eles podem tomar decisões para não haver um “apagão das canetas”, quando muitos não decidem para não serem processados mais à frente.
Quem diria…/ O governo está apenas na sua segunda semana, encarando hoje uma sexta-feira 13, e parece ter mais tempo, de tantas coisas que aconteceram. E ainda estamos apenas nas “flores do recesso”, aquele período em que o Congresso e Judiciário estão de férias. 2023, realmente, promete.
Antes de decretar a intervenção federal no DF, o presidente Lula cogitou uma ação via Parlamento, mas, consultados por Lula, ministros do Supremo Tribunal Federal consideraram que o mais rápido para garantir a proteção do patrimônio e a apuração dos atos terroristas de Domingo (9/1) era a intervenção. Afinal, os petistas pediram ao governador Ibaneis Rocha, em dezembro, que desistisse da nomeação de Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública. Ibaneis considerou uma interferência indevida na sua gestão. Agora, diante da depredação geral dos principais prédios da Esplanada, e do blecaute nas forças de segurança em todos os níveis, a confiança entre Lula e Ibaneis está quebrada e difícil de ser reconstruída.
Em tempo: Embora Ibaneis tenha sido afastado pelo ministro Alexandre de Moraes e ainda tenha pela frente um processo de impeachment, Lula não se envolverá nesse assunto. Depois do pedido público de desculpas, Lula, em princípio, prefere restabelecer a relação com quem estiver no comando do DF.
Acabou a paciência
Os atos terroristas de domingo fizeram com que os defensores da retirada imediata dos bolsonaristas das portas dos quartéis ganhassem a batalha dentro do governo e no Congresso. José Múcio, agora, tem menos de uma semana para esvaziar tudo. “Se o Exército não retirar da sua porta as pessoas que incitam ou participam desses atos terroristas, passará a ideia de conivência com a baderna”, diz o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rego (MDB-PB).
Deixe seu recado após o sinal
Veneziano contou à coluna que, por volta de 8h da manhã de ontem, recebeu um telefonema da segurança do Senado preocupado com a possível invasão do Congresso. “Liguei para o Ibaneis e não consegui falar. Quem me atendeu foi Gustavo Rocha, que me disse que eu não precisava me preocupar, porque seria uma manifestação pacífica, de pequeno porte, no máximo, 400 pessoas”, afirma.
Controle de quem?
O presidente em exercício do Senado ainda argumentou: “Mas, estão falando em 100 ônibus. E Gustavo Rocha, então, me disse. Não se preocupe que está tudo sob controle”. Agora, depois do terror nos palácios, Veneziano, que é do mesmo partido de Ibaneis, não tem dúvidas: “Houve uma omissão sem precedentes. Não tem cabimento. É imperdoável”.
E o Planalto, hein?
O Gabinete de Segurança Institucional, que deveria proteger o Planalto, vai passar por um pente fino. Todo serviço de inteligência falhou e nada explica o fato de manifestantes depredarem o prédio e a segurança deixar correr solto, sem sequer um tiro de advertência. Até armas foram roubadas.
Joio & trigo
A PM do DF também vai passar por uma investigação para saber quem foi conivente. Mas nem todos os policiais de serviço no fim de semana podem ser acusados. Muitos saíram feridos, tentando proteger o patrimônio público.
Tchau, férias!/No início da noite de ontem, Ibaneis Rocha já havia decidido a cancelar o período de descanso. Agora, afastado pelo ministro Alexandre de Moraes, vai se dedicar a tentar salvar o próprio mandato.
Frágil Brasil/ Não foi apenas Santos Cruz que se manifestou sobre a tolerância com o extremismo. Em seu Twitter, o ex-governador de São Paulo João Doria foi direto: “Inaceitáveis os atos terroristas em Brasília(…) Ruptura patrocinada e financiada por extremistas bolsonaristas. São criminosos. A desordem expõe o Brasil e sua fragilidade institucional”.
Enquanto isso, no Itamaraty…/O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, passou a tarde ao telefone, em contato com chanceleres de vários países mundo afora. O terror será pauta, inclusive, da reunião da Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (Celac), no fim do mês, na Argentina. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também está se mobilizando.
O Republicanos foi pedir o apoio do PT para garantir a vice-presidência da Câmara para Marcos Pereira e a vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) para o deputado Jhonatan de Jesus (RR). Ouviu a seguinte resposta: “Se vocês vierem para a base do governo, está fechado”. A legenda terá 41 votos na próxima Legislatura. Ainda que tenha em sua bancada bolsonaristas convictos, como Diego Garcia (PR), a sigla tem um grupo disposto a apoiar o governo. Que ninguém se surpreenda se, mais à frente, o Republicanos, partido da senadora eleita Damares Alves (DF), faça parte do governo Lula. É com parte desses deputados que o governo pretende compensar aqueles votos do União Brasil — que não virão de jeito nenhum.
O que importa
Além da conversa para acertar os ponteiros e afinar a equipe, a reunião ministerial de hoje alertará a todos sobre a necessidade de ter em mente que este governo é uma frente ampla. E a democracia é o maior valor. Portanto, não dá para brigar por “miudezas”.
Saiu, mas pode voltar
Será o momento ainda de dizer com todas as letras que todos devem trabalhar pelo sucesso do governo e em harmonia. Afinal, se a gestão não tiver sucesso, Jair Bolsonaro terá uma avenida aberta rumo a 2026.
Ministra iogurte
Nos restaurantes de Brasília, os deputados começaram as apostas sobre quanto tempo a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, vai se segurar no cargo. Quem menciona mais tempo, fala em 90 dias. Se nas primeiras votações, o União Brasil não estiver coeso, será a senha para o seu afastamento.
Segurança pública
Recém-empossado no cargo de Secretário Nacional de Segurança Pública, o ex-deputado Tadeu Alencar (PSB-PE) tem como meta principal tirar do papel o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). O tema será discutido com os secretários estaduais ainda neste mês. A ideia é promover um trabalho conjunto das polícias federal, militar, civil e guardas municipais, porém, sem unificação das polícias e, sim, de políticas.
Planejamento é bom, mas…
Depois da eleição de 1994, o então presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), havia reservado o Ministério do Planejamento para o economista e educador Paulo Renato Souza — que havia montado todo o governo e o esboço das reformas necessárias. O tucano José Serra, que podia escolher aonde iria, preferiu o Planejamento, para estar no centro das discussões econômicas. Só virou candidato a presidente da República, porém, quando assumiu a pasta da Saúde.
Sempre palaciano/ Vice-líder do governo de Jair Bolsonaro, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), fez questão de comparecer à posse de Simone Tebet no Palácio do Planalto e ainda trocou cumprimentos com a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que chegou a encaminhar uma ação contra Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal porque, numa discussão, o ex-presidente chegou a dizer “jamais iria estuprar você, porque você não merece”.
Área restrita/ Quando foi convidado para ser ministro da Justiça, Flávio Dino, negociou antes todos os cargos do seu ministério. Assim, a equipe assumiu junto a ele. Logo, está fora da distribuição de espaços entre aliados.
A partilha dos santos/ Nem todas as imagens sacras que foram retiradas do Alvorada no início do governo Bolsonaro devem voltar. A de Santa Bárbara, do século XVIII, está hoje no Palácio do Jaburu. Como o vice-presidente Geraldo Alckmin é muito religioso, ainda não está decidido se todos os objetos voltarão.
Por falar em volta…/ Os bolsonaristas farão o primeiro teste de mobilização depois da posse neste fim de semana, em Brasília. A ideia é tentar angariar mais pessoas para os acampamentos a fim de evitar a desocupação.
Em guerra interna, União Brasil sonha com o segundo escalão do governo Lula
O União Brasil terá sua primeira reunião no final deste mês e, a contar pelas conversas que dominam os bastidores, a tendência é mesmo de independência em relação ao governo. Isso porque os ministros anunciados, Daniela do Waguinho, Juscelino Filho e Waldez Góes não representam a maioria dos deputados. A esperança dos ministros é de que, até lá, eles possam ter força para tirar o eixo de poder das mãos do líder Elmar Nascimento (União Brasil-BA) ou acalmá-lo. A de Elmar, avisam seus fiéis escudeiros, é emplacar bons aliados em postos-chaves, como a Codevasf. A corrida para saber quem controlará o partido segue até o final do mês.
* * * * *
Com tantos aliados interessados nos “filés” do segundo escalão e o que isso passou a representar na correlação de forças da frente ampla e internamente nos partidos, o presidente Lula precisou antecipar a reunião ministerial. Melhor conversar agora do que deixar que essas rusgas virem uma crise de, como se diz no jargão da política, de vaca não reconhecer bezerro.
Todo o cuidado é pouco
Servidores do Planalto desconfiaram de pessoas sentadas nas antessalas e tentaram saber de quem se tratava. Eram ocupantes de cargos de confiança do governo Jair Bolsonaro que simplesmente ficaram por ali. Delicadamente, foram encaminhadas à porta de saída.
Difícil missão
Muito bem acomodado no primeiro escalão, o PSB terá dificuldades em emplacar os seus integrantes nas estatais e outros cargos. O partido, inclusive, já foi avisado.
Emplacou e desgostou
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, entrega hoje três nomes para assumir a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), área cobiçada também pelo PSD de Carlos Fávaro. O nome mais forte é Edegar Pretto, que esteve cotado inclusive para ministro. A Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) preferia a Conab no Ministério da Agricultura.
Alckmin para acalmar
A alta na Bolsa de Valores foi vista como um alívio pelos ministros do governo Lula 3, mas não vem sendo atribuída apenas à declaração de Jean Paul Prates, futuro presidente da Petrobras, sobre não-intervenção nos preços do petróleo. Houve também o discurso seguro e em defesa da iniciativa privada e da reforma tributária feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, em sua posse como ministro de Indústria e Comércio.
Tempo esgotado
Vence hoje o prazo de 48 horas para que sindicatos e associações do setor de combustíveis e até o Instituto Brasileiro de Petróleo prestem esclarecimentos sobre a manutenção dos preços elevados, mesmo depois de o governo prorrogar a isenção. Se não explicar, punições virão.
A queda de braço não cessa/ A bolsa subiu, mas, enquanto o governo não disser a que veio em termos de âncoras fiscais, o dólar não baixa. Entre os ministros, a ordem é manter o sangue frio, mas, na bancada do PT, nem tanto: “O mercado precisa descer do palanque”, diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Elas vão ter que se entender/ Com a ex-ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira muito bem instalada na ONU e com muito trânsito internacional, a ministra Marina Silva pode ter em Izabela uma ponte para ajudar. O nome de Marina tem peso como representante da floresta, e Izabela tem fama de boa gestora.
Virou moda/ Dona Lu Alckmin, esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin, saía do salão nobre do Planalto quando um menino da sua cidade lhe mostrou as meias coloridas. Alckmin fez escola com seu estilo divertido nos pés.
A maratona de transmissões de cargos desses dias não tirou o foco dos ministros. Cientes de que o tempo agora corre contra o novo governo no sentido de mostrar resultados, os titulares da Fazenda, Fernando Haddad, e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, começaram ontem mesmo a cuidar do futuro. Haddad, que, em conversas com aliados não se cansa de repetir que a “confusão é grande”, colocou toda a equipe para trabalhar as pontes com o mercado financeiro. A ordem é buscar uma trégua, depois da queda da Bolsa e alta do dólar no primeiro útil do governo, logo após o discurso de posse do ministro. E assegurar algo melhor como âncora fiscal do que a “estupidez chamada teto de gastos”.
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Quanto a Alexandre Padilha, a prioridade é atender a todos antes da reabertura do Congresso, em fevereiro. Nesses primeiros dias, é preciso dar uma acalmada no União Brasil, que não conseguiu garantir os votos dos quais o governo precisará, e os partidos que ficaram de fora do primeiro escalão.
Um passado para o futuro
O presidente Lula ainda deve demorar um tempo para voltar a despachar no Planalto. Ele deseja ver o gabinete do jeito que era quando deixou a Presidência. Se resolver fazer isso em todo o Palácio, terá que tirar as salas novas, instaladas na ampla e antiga sala de estar do quarto andar, que havia sido concebida no governo Lula.
Uma Conab para três
A divisão do Ministério da Agricultura levou a um acordo de cavalheiros sobre com quem ficará a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E, como a empresa tem interface com Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Indústria e Comércio, as três pastas terão voz na diretoria da Conab.
De Padilha para Padilha
Transferido para a Casa Civil nos tempos do ministro Eliseu Padilha, do governo Michel Temer, o chamado “Conselhão” será reeditado e volta para Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais. Lá, onde funcionava quando foi criado no governo Lula 1. O conselhão reúne, governo, empresários, e líderes da sociedade civil, que analisam políticas públicas e dão sugestões.
Olho neles
Além do núcleo duro do governo, as atenções sobre como será o andar da carruagem da gestão Lula 3, se voltam também ao Itamaraty, onde está de volta a diplomacia presidencial. Aliás, muitos embaixadores brasileiros vieram para a posse a fim de saber o que novo governo lhes reserva. A movimentação será intensa por esses dias no MRE.
Cada um com seu cada qual/ Sem a tradicional transmissão de cargo na maioria das cerimônias de posse, senadores, deputados e até presidentes de partidos, e a ex-presidente Dilma Rousseff fizeram as honras das casas. Na transmissão de cargo de Rui Costa, na Casa Civil, reinaram os baianos. Até o governador Jerônimo Rodrigues discursou.
Enquanto isso, nos Portos…/ Quem fez as “honras da Casa” foi o PSB. Discursaram o senhor Dario Berger, o líder da bancada, deputado Felipe Carreiras, o presidente do partido, Carlos Siqueira. Geraldo Alckmin foi, mas preferiu guardar o discurso para hoje, quando assume o Ministério de Indústria e Comércio.
Com um apelido desses…/ … O nome virou detalhe. Ao discursar na posse de Ester Dweck no Ministério da Gestão a ex-presidente Dilma Rousseff começou a citar as pessoas presentes. Ao perceber a presença do ex-senador Lindbergh Farias, não lembrava o nome dele de jeito nenhum. Porém, emendou com o apelido. “Chamo sempre ele de Lindinho, experiente. Seu primeiro nome é difícil de lembrar”.
Por falar em Dilma…/ Em vários discursos, os ministros que entraram se referiram ao processo de impeachment de 2016, quando Dilma Rousseff foi apeada do poder. O novo chanceler, Mauro Vieira, foi direto, ao citar que retomava o mesmo cargo que deixou em maio daquele ano: “em meio a um doloroso processo de impeachment que fraturou o país e deixou marcas profundas”. Para os petistas e aliados, chegou a hora de reescrever essa página da história. E quem conta a história são os vencedores.
Enquanto isso, na Casa Civil…/ As plaquinhas das salas estão sobre a mesa de entrada da Casa Civil, à espera da distribuição dos espaços palacianos aos novos ministros. Tudo será remodelado.
As contas de Fernando Haddad e Simone Tebet para reconstruir ministérios
Passado o dia da festa, o momento é de se agarrar ao serviço, e o principal é definir o dinheiro para o mar de prioridades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, têm o desafio de reconstituir o orçamento dos ministérios ainda em janeiro. Até aqui, as pastas do Trabalho, do Esporte e de Minas e Energia, por exemplo, estão com poucos recursos e precisarão de revisão, conforme diagnóstico da equipe de transição já entregue a Haddad.
Os ministérios que não têm do que reclamar são aqueles que concentram as emendas parlamentares. Saúde, Educação, Desenvolvimento Regional, Infraestrutura (dividido em Transportes e Portos) e o de Cidades. Só para o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, há R$ 10,5 bilhões, avisa o relator do orçamento, Marcelo Castro.
O aviso a Bolsonaro
Ao dizer em seu discurso que não adotará uma postura revanchista, mas que cumprirá o “devido processo legal”, o presidente Lula mandou uma mensagem direta a Bolsonaro: qualquer crime que tenha sido cometido no governo anterior será devidamente punido.
A pressão do etanol
A turma do agro presente à festa da posse de Lula chegou disposta a cobrar do governo a revisão da desoneração de impostos de combustíveis fósseis. Os produtores de etanol, que têm sido uma ponte do agro com a nova administração do país, querem que esse assunto seja tratado o mais rápido possível, antes da reforma tributária.
Recado aos sindicalistas
Àqueles que sonharam com a volta dos impostos, o secretário da CUT, Wagner Ribeiro, avisa: “Não tem volta do imposto sindical”, diz ele, que é muito ligado ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e deve ser secretário-executivo.
Prioridade
Na construção que fará do Ministério do Trabalho, Marinho já elencou como prioridade três frentes: requalificação profissional, emprego para a juventude e as novas profissões que surgiram com a tecnologia.
Detalhe importante/ Um grupo de mulheres chegou à festa do Itamaraty comentando que Lula nomeou mais ministras do que Dilma Rousseff, e coisa e tal. A ex-ministra Ideli Salvatti, que estava no grupo na hora fez uma ressalva: elas agora estão fora do núcleo de governo.
Memória/ Houve um tempo em que a reunião de coordenação do Planalto era composta apenas por mulheres. Dilma, Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli (Relações Institucionais) e Helena Chagas (secretaria de Comunicação). Agora, o núcleo de poder será masculino.
Por falar em Ideli… / Perguntada se voltaria para Brasília, ela respondeu assim: “Donde hay gobierno soy lejana”.
A ponte na ONU/ Outra que não quer saber de voltar ao Poder Executivo é a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira. Ela é consultora da ONU e funcionará como um posto avançado do governo para o setor.
E a Janja, hein?/ A primeira-dama passou pela prova da posse. Quem a conhece bem relata que será uma figura de destaque. É inteligente, articulada e… Manda. Manda muito.
Pura emoção/ O ponto alto da posse foi a subida da rampa com os representantes da sociedade brasileira. Se Jair Bolsonaro queria passar a ideia de posse “capenga”, Lula deu a volta por cima.
A maioria dos ministros do governo Lula 3 toma posse hoje preocupada com a estrutura para montar suas equipes. É que o número de cargos disponíveis vem sendo comparado a colocar a população da cidade de São Paulo dentro do Plano Piloto, com acomodações confortáveis. Ou seja, não cabe. São 9.587 cargos comissionados para distribuir nos Ministérios e estruturas vinculadas. A forma de resolver isso, a fim de trazer técnicos gabaritados ainda não foi definida. Por enquanto, dentro do segundo escalão predomina a certeza de que, quem conseguir chefe de gabinete e secretária que se dê por satisfeito. A avaliação de alguns é a de que a promessa de não aumentar o número de cargos não chega a fevereiro.
Em 2010, o Ministério do Planejamento apontou que, entre 2002 e 2009, período do primeiro governo Lula, o gasto com cargos de confiança aumentou 119%. A pressão de muitos agora é para que o presidente repita a dose no governo Lula 3. O petista disse que, no momento, isso está fora de cogitação. O estica-e-puxa em torno desse tema começa amanhã. Hoje, é dia de festa e de pronunciamento presidencial. Os problemas, Lula vai tratar a partir de segunda-feira.
O jogo mudou
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com o ex-ministro da Secretaria de Governo Célio Faria Júnior, dia desses no Planalto. Lá, foi informado que as emendas parlamentares estão a cargo do Congresso e que ele não cuidava delas há tempos.
Fim de festa
As antessalas palacianas, sempre lotadas nos últimos dias do ano, com os parlamentares ávidos por garantir a liberação ou inclusão nos restos a pagar, estavam praticamente vazias na última semana.
Lábia e cargos
Com o Congresso no controle de grande parte das verbas discricionárias do orçamento, resta ao futuro governo formatar a maioria com os cargos. Ou com o convencimento, dentro do mérito dos projetos. Essa é a forma mais republicana e que tende a prevalecer no futuro, talvez distante.
Congresso do futuro
Muitos dizem que a era do “rolo compressor”, ou seja, aprovação na base do toma-lá-dá-cá de cargos e emendas, está nos estertores. Afinal, não vai dar para trocar ministro a cada votação importante. A próxima Legislatura será o ensaio de algo novo na relação entre os Poderes e os partidos.
A vida como ela é/ Petistas passaram os últimos dias reclamando com a indicação de Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) para o ministério do Turismo. Lula, então, foi direto: “Os nossos, nós já temos. Precisamos que ela traga os votos deles”.
Tem que conviver com o coleguinha/ No Rio, Daniela apoiou Claudio Castro (PL) ao governo estadual e não Marcelo Freixo, que assumirá a Embratur. No União, já tem gente se referindo a Freixo como “olheiro”. Na turma mais lulista, porém, o que se comemora é Claudio Castro dizer, em entrevista ao Estadão, que trabalhará junto com Lula.
Que pressa, hein?/ Um carro preto, com o adesivo de pára-brisa para estacionamento na posse e a placa “Veículo Oficial”, transitava a mais de 120km/h no Eixão Sul, ontem, às 11h. Quem deveria dar o exemplo de direção responsável, quase provoca um acidente.
Dia da Paz Mundial/ Espera-se que este 1º de janeiro seja realmente de paz. Quem venceu, que governe para todos. Quem perdeu, que organize uma oposição fiscalizadora. E vamos em frente, porque faltam apenas 51 sábados para o próximo Natal. Feliz 2023!
Prorrogação de isenção de impostos sobre combustíveis é recado: quem manda é o partido
A decisão de prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis por parte do futuro governo, depois de o ministro da Fazenda se posicionar em sentido inverso, deu um sinal ao mercado de que Fernando Haddad tem o cargo, mas o PT tem a força. Especialmente depois que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse em entrevista à Globo News que o melhor seria prorrogar por um período.
A decisão, porém, vem no sentido de evitar o mau-humor do eleitorado logo na largada do futuro governo. Internamente, prevaleceu o receio de disparada dos índices inflacionários. Agora, caberá à nova gestão, depois da posse, mostrar que Haddad terá, sim, força para comandar a área econômica. Este ano, avisam alguns, ainda não houve esta demonstração.
A legenda que mais preocupa Lula
De todos os partidos que se juntaram na frente ampla encabeçada pelo PT, o União Brasil é considerado o que pode “entregar menos”, uma vez que o futuro ministro da Integração Nacional, Waldez de Góes, está no PDT e já existe um movimento de deputados para tentar barrar seu ingresso na legenda.
Ministro sem bancada
Góes não tem trânsito na bancada da Câmara. Terá que construir essa relação via senador Davi Alcolumbre (União-AP) e o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE). Só tem um probleminha: conforme o leitor habitual da coluna já sabe, Bivar tentou, mas não conseguiu tirar o deputado baiano Elmar Nascimento do cargo de líder na Câmara. Elmar, que integra o grupo dos “sem-ministério” e tem respaldo da bancada, já se proclamou independente.
Foi o único
Lula, que de bobo tem nada, fez uma “nota de rodapé” ao declarar Góes como ministro de seu governo. Foi o único que ele mencionou como alguém que, além da gestão da pasta, terá que cuidar da “articulação com o Congresso” — ou seja, arrumar votos. Aliás, na bolsa de apostas sobre quanto tempo vai durar a equipe que posará para a primeira foto ministerial, amanhã à tarde, no Palácio do Planalto, o ministro da Integração é visto como o primeiro a ser trocado.
Apito de cachorro
A última live de Jair Bolsonaro como presidente da República foi vista por alguns com algum sinal de preocupação. Embora ele tenha dito com todas as letras que condenava os atos terroristas, o fato de mencionar a posse como algo “previsto para 1º de janeiro” deixou uma certa tensão no ar. Alguns aliados dele acham que pode ter sido um “dog whistle politics”, aquele “apito de cachorro político” que só os extremistas escutam.
Nem tanto
Aliados de Bolsonaro têm dito que o objetivo, agora, é buscar reconstruir uma imagem longe dos extremistas que atearam fogo a carros e ameaçaram explodir um caminhão de combustível nas imediações do aeroporto.
Recursos humanos togado/ Integrantes do PL têm se referido ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, como o “RH” do partido. É Moraes quem libera o dinheiro para pagar 13º salário e tudo mais dentro da legenda.
Olho nele/ O aviso de que haverá um pronunciamento do presidente em exercício, Hamilton Mourão, hoje, às 20h, foi enviado às emissoras de tevê assim que Bolsonaro decolou. Senador eleito pelo Rio Grande do Sul, há quem diga que o general da reserva veio para ficar na seara da oposição.
Acalma aí/ Dizem também que Mourão, além de desejar um Feliz Ano Novo a todos os brasileiros, deixará claro que amanhã vai ter posse, no sentido de tentar dissipar a tensão.
Feliz Ano Novo/ Hora da virada no governo, no país, enfim, na vida. A você, leitor, obrigada por mais um ano e que 2023 venha repleto de saúde, paz, prosperidade, democracia, serenidade e boas notícias para todos os brasileiros.
Presidente eleito deixa três pontos para amarrar até fevereiro
A demora do presidente eleito em montar a equipe do governo Lula 3 deixa pelo menos três pontos pendentes para ajeitar até fevereiro. Primeiro, a amplitude da base e resistências do PT a nomes de alguns partidos. Em segundo, a aposta dos agentes econômicos de que a inflação deve subir por causa da decisão do futuro governo de não prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis. Afinal, na cabeça do povo e do “Seu José da Quitanda”, vale a máxima: quando a gasolina sobe, sobe tudo.
E ainda há um terceiro ponto: a desconfiança mútua entre Lula e o Centro/Centrão. O presidente eleito terá que dissipar a suspeita de que deu um empurrãozinho na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) — de acabar com as emendas de relator, o chamado orçamento secreto. Até aqui, há mais desafios do que motivos para relaxamento no dia da posse. Aliás, relaxar mesmo, só o “Lula Palooza” idealizado por Janja.
MDB apoiará, mas…
A opção de Lula por Renan Filho e Jader Filho para ministros de Lula deixou uma parcela expressiva dos emedebistas se sentindo como o “patinho feio”. Ainda que o Pará tenha eleito nove deputados dos 66 deputados emedebistas, soou com a volta da “velha politica” dos caciques partidários.
…tem problemas
Além das parcelas do próprio MDB, Lula corre o risco de não ter todos os votos, caso aceite o pedido do PT para que não dê porteira fechada aos aliados. A guerra, a partir de agora, será em torno dos cargos nos estados.
Ele tem a força
A resistência do PT em aceitar Elmar Nascimento (BA) como ministro com a grife União Brasil arrisca jogar a maioria dos deputados do partido na oposição. Quem conhece a fundo a agremiação avisa que Luciano Bivar não controla a bancada de
59 deputados.
Na ponta do lápis
Este ano, Luciano Bivar tentou correr uma lista para tirar Elmar da liderança do União Brasil. Não conseguiu sequer 20 assinaturas.
O clima do momento/ Lula chega hoje à situação em que todos os partidos que o apoiaram em outubro se acham “o ponto percentual” que garantiu a vitória no segundo turno. O Solidariedade, de Paulinho da Força, é um deles. Até agora, não tem um ministério.
Virou chacota/ Nos bastidores dos partidos quase aliados, a tal frente ampla que Lula prometeu na campanha vem sendo chamada de “Frente Ampla do PT”, onde todas as tendências foram contempladas.
Esqueceram deles…/ A virada do ano está logo ali e nada ainda de Ministério para o PT de Minas Gerais. Ali, está com jeitão de “santo de casa não faz milagre”.
…e ajudaram os outros/ Até aqui, de políticos raiz no ministério Lula 3, Minas terá o senador Alexandre Silveira, que deve ser confirmado na pasta de Minas e Energia. É o nome defendido por Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado e candidato a mais dois anos no comando da Casa.
Gente para demonstrar força/ Os petistas não vão desistir do show, todo concebido pela futura primeira-dama Janja. A ordem é reunir uma multidão capaz de mostrar que o PT não perdeu apoio nas ruas. Aliás, dado às nuvens escuras no horizonte, o PT vai precisar de apoio popular para ajudar a criar um ambiente menos tenso.
Ao fazer as contas, os emedebistas concluíram que Simone Tebet está melhor no Planejamento do que estaria em áreas como Educação ou Desenvolvimento Social. Ali, no coração da organização do que o governo deve priorizar, ela terá uma visão multitemática com acesso a todos os dados das políticas a serem adotadas a partir de janeiro. De quebra, ainda fará o acompanhamento das estatais, função que, até o governo Dilma, estava a cargo da pasta entregue e aceita pela senadora. O PT, que tanto fez para evitar dar visibilidade a Tebet, terminou entregando um farol para que ela visse todo o governo.
IBGE preocupa
A equipe de Simone Tebet está para lá de preocupada com o IBGE. O Instituto ainda não conseguiu terminar o censo, teve sérios problemas de contingenciamento de verbas e, sem informações precisas, nenhum planejamento funciona. Na largada é ali que Simone atuará com mais afinco.
Muita calma nessa hora
A senadora não pretende chegar logo em 2 de janeiro trocando todo mundo. É preciso, primeiramente, saber “quem é quem” e não permitir a descontinuidade no censo.
A disputa por Cidades
Ainda não é hoje que Lula deve tirar foto com os futuros ministros. É que há uma briga interna pelo ministro das Cidades. O PT de Minas, por exemplo, considera que ainda está a ver navios e precisa ser contemplado.
Sai daí rapidinho!
O quase ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado a “mergulhar” nesse período em que Brasília se mostra tensa. Os mais próximos esperam que ele viaje para os Estados Unidos, a fim de não ser acusado de ampliar a tensão até a posse.
Fica por aqui
Muitos daqueles que gostariam de ver Bolsonaro liderando a oposição, entretanto, estão frustrados com essa atitude. Deixar Brasília, para alguns, pode ser até compreensível. Agora, sair do país, soa como medo do futuro.
A conselheira…/ Economista responsável pelo programa de governo de Simone Tebet ao longo da campanha, Elena Landau, cotada para a equipe do Planejamento capitaneada pela senadora, é citada nas conversas internas dos petistas como alguém que não pode integrar o futuro governo.
… falou demais/ Na última sexta-feira, Elena foi direta em seu artigo no Estadão. Escreveu que “Lula tinha uma oportunidade de montar um ministério plural em todos os sentidos e a jogou fora”. Acrescentou ainda que o presidente acertou em recriar o Ministério do Planejamento e “errou” ao criar um “desnecessário” Ministério da Gestão. Concluiu dizendo que o “conjunto da obra mostra uma aposta no que sempre deu errado neste país. 2023 já nasce envelhecido”. Elena é uma das pessoas a quem Tebet mais ouve.
O árbitro/ Lula já avisou que, quando houver divergência na equipe econômica, será ele a decidir. E, pelo visto, terá muito trabalho.
Enquanto isso, na Defesa…/ O futuro ministro, José Múcio Monteiro, esticou até onde conseguiu a saída dos comandantes militares. Esta saída entre o Natal e o Ano Novo não é vista como um problema.
Por falar em problema…/ A tensão em torno da posse que toma conta desses dias não cessará em 2 de janeiro. Pelo menos, é assim que alguns no entorno de Lula pensam. Aliás, vale a pena assistir à entrevista do deputado distrital reeleito Chico Vigilante (PT) ao CB.Poder. Ele considera que o melhor seria não ter show na Esplanada. O momento é de trabalho. Uma festa tão efusiva só se justificaria se o futuro governo fosse uma unanimidade no país.











