Dossiê afirma que Big Techs e crime organizado lucram com golpes na internet

Publicado em Economia, Política, Segurança Pública

Por Eduarda Esposito — O Projeto Brief e a Sleeping Giants lançaram a segunda edição do “Dossiê das Big Techs“. O documento mostra como as plataformas viraram peças centrais das fraudes digitais e, até mesmo, do crime organizado no Brasil. Sobre o lucro com os golpes nas redes sociais, o dossiê explica que o ponto central não é quanto lucram, mas a forma.

crédito: Panos Sakalakis/Unsplash

“Primeiro elas exibem e monetizam anúncios e conteúdos criminosos (impressões, engajamentos, cliques, conversões), e depois — quando o dano já se espalhou — removem uma parte, apresentando os números de bloqueio como prova de eficiência”, afirma o levantamento. Para as organizações, esse modo de ação é perverso. “Quando uma campanha fraudulenta encontra seu público, gera cliques e converte receita, o sistema publicitário fatura e a intervenção vem a reboque, em ritmo e escala insuficientes para evitar que os prejuízos caiam no colo das vítimas e do Estado”, explicam.

Outro grande problema é a falta de regulamentação das plataformas. O dossiê usa como exemplo os bancos, que são altamente regulados e têm deveres claros. Diferente das redes sociais. “Essas plataformas ainda praticam uma autorregulação opaca, priorizando a continuidade da receita publicitária sobre a integridade do ecossistema. Se o anúncio passa pela moderação automática e começa a rodar, a plataforma cobra, ganha, e só depois do dano é que se discute se o conteúdo se trata de golpe ou não”, ressalta o documento.

Outro ponto que o levantamento destacou foi sobre dados da Meta — empresa do Facebook, Instagram e WhatsApp. “Documentos internos da Meta já apontaram que até 70% dos novos anunciantes promoviam golpes, produtos ilegais ou de baixíssima qualidade — um número alarmante, e um sinal de que esse tipo de anúncio é parte relevante do volume de receita da plataforma”, informaram.

Sobre outra grande plataforma, o Google, o dossiê usou notificações da Advocacia Geral da União (AGU) sobre pagamentos indevidos na inscrição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) neste ano. “No Google, há casos de anúncios pagos que aparecem no topo dos resultados de busca, levando a páginas clonadas que capturam senhas, fatores de autenticação dupla e credenciais. A empresa recebe por impressões e cliques até que a fraude seja derrubada. Em julho de 2025, a AGU teve de notificar o Google para retirar, em até 24 horas, anúncios pagos que imitavam o site oficial do CNU 2025, usados para cobrança de taxas falsas —ou seja, as peças seguiam rodando quando o órgão interveio”, relembrou.

Crime organizado também lucra

Outro ponto destacado no documento foi como o crime organizado tem lucrado com fraudes digitais. De acordo com o dossiê, facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) têm usado o crime virtual como capital de giro. “Os estelionatos eletrônicos cresceram 17% em 2024. No Estado de São Paulo, que concentra grande parte das estatísticas nacionais, entre 2019 e 2022, os crimes digitais aumentaram 661%, enquanto os estelionatos eletrônicos cresceram 1.162%. Em janeiro de 2019, havia 377 casos registrados; em dezembro de 2022, foram 11.311 em um único mês, um salto de quase 2.900%. O fato é que o estelionato eletrônico consolidou-se como parte da estratégia central das facções. PCC e CV, no ambiente digital, têm colaborado em operações conjuntas que chegaram a movimentar R$ 6 bilhões em fraudes num único ano”, denuncia o levantamento.

Crédito: Lorrana Penna

Daniela da Silva Scapin, uma das organizadoras do dossiê e ex-funcionária da Meta, afirma que a situação é urgente e o Brasil precisa se debruçar sobre as fraudes digitais. “Reunimos pesquisas acadêmicas, dados públicos e informações já divulgadas por veículos de alta confiabilidade para demonstrar, de forma integrada, como conteúdos patrocinados, anúncios e mecanismos de busca têm viabilizado crimes digitais em larga escala. O dossiê evidencia que se trata de um problema estrutural, diretamente ligado ao modelo de operação das grandes plataformas, e não de casos isolados”, disse ao blog.

Scapin deseja que o documento alerte gestores públicos para o tema e que ações possam ser realizadas. “Nossa expectativa é que gestores públicos e tomadores de decisão utilizem estas informações para avançar em medidas de responsabilização e transparência no ecossistema digital, fortalecendo a prevenção e a proteção dos usuários. Também buscamos ampliar a conscientização da sociedade, mostrando que este é um fenômeno sistêmico, muito além dos episódios individuais que chegam ao nosso convívio”, destacou.

STF vai impor limites em dossiê com dados de servidores contrários a Bolsonaro

André Mendonça AGU
Publicado em coluna Brasília-DF, Política
Coluna Brasília-DF

Ao julgar o relatório sigiloso do Ministério da Justiça, o Supremo Tribunal Federal pretende impor limites, hoje, à execução de um suposto dossiê com dados de 579 servidores que se posicionaram contra Bolsonaro em redes sociais.

A onda do STF é tentar separar o que é dado de inteligência de perseguições, como aquelas promovidas pelo antigo Serviço Nacional de Informações (SNI). A Corte dirá que é preciso ter equilíbrio e, nesse sentido, virá um recado ao ministro da pasta, André Mendonça — do tipo: perseguição política não dá.

Legado poderoso

O procurador-geral da República, Augusto Aras, terá dificuldades em simplesmente fechar as portas da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, em setembro. Por mais que haja filhotes da megaoperação espalhados pelo país, o símbolo do combate à corrupção continua vivo. A avaliação de muitos promotores é a de que a suspensão dos processos de Deltan Dallagnol foi um sinal forte de que a operação precisa terminar suas apurações e pegar a turma que conseguiu se esquivar até aqui.

Muda geral/ Bolsonarista raiz, o deputado Capitão Derrite (Progressistas-SP) renunciou ao cargo de vice-líder do governo. Garante que não é resistência a Ricardo Barros, seu colega de partido, e sim para deixá-lo à vontade para compor a equipe. Ele diz também que não há reação dos bolsonaristas pela nova geografia política. As reclamações, segundo ele, fazem parte do processo e de ciúmes.

Por falar em processo…/ O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) já foi aconselhado a tomar calmante para a acareação com o empresário Paulo Marinho, marcada para setembro. No depoimento, o senador ficou nervoso só de ouvir a voz do ex-amigo.

Festa virtual I/ Em razão da pandemia, a 13ª edição do Prêmio Congresso em Foco será totalmente on-line. Os vencedores serão conhecidos hoje, às 20h, em cerimônia transmitida pelo site e pelas redes sociais (You Tube, Instagram, Twitter e Facebook) do Congresso em Foco. A cantora Fernanda Abreu fecha o evento com um show exclusivo.

Festa virtual II/ A premiação bateu recorde de votação pela internet, com mais de 2 milhões de votos computados em apenas duas semanas. Vale lembrar que o processo de escolha popular é auditado pela APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais). Somando todas as categorias, são 75 parlamentares nominados.