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Radicais aliados de Bolsonaro causam preocupação na crise do coronavírus
Coluna Brasília-DF
A dificuldade de o presidente Jair Bolsonaro fazer valer seu discurso diante da maioria da população, e a queda de popularidade detectada nas pesquisas desta semana, já levaram assessores palacianos ao diagnóstico de que, a preços de hoje, o capitão sairá da crise do novo coronavírus politicamente menor do que entrou. “O perigo é de que o presidente tenderá a se atirar de cabeça na sua zona de conforto, acirrando os ânimos de suas bases mais fiéis, o que, para a sociedade como um todo, significará mais tensão, conflito, incerteza e instabilidade, em meio a uma aguda recessão econômica”, prevê o relatório que o cientista político Paulo Kramer preparou para os palacianos.
Outras avaliações que chegam ao Planalto alertam ainda para a necessidade de o grupo mais fiel ao presidente não confundir os 57 milhões que elegeram Bolsonaro com o bolsonarismo. Desse total, parte expressiva votou nele por causa do desejo de derrotar o PT. Agora, diante da pandemia e das posições do presidente, esses grupos começam a se separar.
Bolsonaro pode até recuperar seus eleitores, a depender do comportamento diante da crise. Se permanecer na linha do conflito, a tendência é consolidar a separação entre antipetismo e bolsonarismo. Se quiser unir novamente esses grupos, terá que colar sua imagem à da equipe do Ministério da Saúde, que está com a aprovação anos-luz à frente do presidente.
Mandetta, o equilibrista
As últimas declarações públicas de Luiz Henrique Mandetta foram bem recebidas pelo presidente, em especial as que colocaram as ações de combate ao novo coronavírus como obra do governo Bolsonaro. De quebra, o presidente também gostou do fato de o ministro da Saúde dizer que estava ali porque o capitão o escolheu e deu liberdade para que montasse a equipe.
Até a próxima crise
O receio da turma do deixa disso é que o gabinete do ódio volte a encher os ouvidos de Bolsonaro, na semana que vem. Afinal, ninguém esqueceu o que o presidente disse a apoiadores, na porta do Alvorada: se o isolamento social não terminar, ele tomará providências.
Bolsonarismo reage
Terminada a entrevista do ministro da Saúde no Planalto, a hashtag #ForaMandetta bombava no Twitter. Parte do material foi monitorado por integrantes da CPMI das Fake News para tentar detectar robôs destinados a esse trabalho. No final do dia, entretanto, defensores de Mandetta começaram a usar a mesma hashtag, de forma a embaralhar o jogo.
Atos & consequências
A prorrogação da CPMI das Fake News é o primeiro reflexo no sentido de preparação do terreno minado que o governo enfrentará no Congresso, depois que a pandemia da Covid-19 passar. O governo tentou evitar, mas não foi atendido. Ali, tem prevalecido a máxima de que o que for “pelo bem do país” será feito. O que for apenas pelo bem de Bolsonaro, nem tanto.
Onde mora o perigo/ Se as quadrilhas já estavam atrás das pessoas para tentar aplicar golpes nos trabalhadores, por causa do auxílio emergencial de R$ 600 às pessoas carentes, o receio agora vai no sentido inverso. É o de que essa mesma bandidagem tente fraudar e vir com trabalhadores fantasmas. Todo cuidado é pouco.
Onde mora o outro perigo/ Esses cuidados não podem ser dispensados, mas o Poder Executivo está de olho também nas cobranças dos opositores, dia e noite, com a hashtag #pagalogo.
Livre do coronavírus/ A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, fez um novo teste de coronavírus, ontem. Foi o segundo desde que a pandemia começou. Deu negativo. Ela tem trabalhado todos os dias, inclusive nos fins de semana, acompanhando de perto o abastecimento.
Apelo aos católicos/ Depois do encontro de Bolsonaro, na porta do Alvorada, com pastores evangélicos, os grupos bolsonaristas de WhatsApp ligados aos católicos replicaram, como se fosse recente, uma foto do presidente rezando na Catedral de Brasília. A imagem é de 5 janeiro deste ano.
Apelo aos católicos II/ A iniciativa dos apoiadores do presidente é no sentido de tentar recuperar terreno entre os mais religiosos nessa temporada de Quaresma.
Coluna Brasília-DF
Essa tem sido a frase mais repetida por ministros do presidente Jair Bolsonaro, quando perguntados por governadores e parlamentares sobre as declarações presidenciais mais polêmicas a respeito da Covid-19, e críticas aos estados, em entrevistas e lives à porta do Alvorada. A recomendação da equipe tem sido prestar atenção naquilo que o presidente escreve. Por exemplo: embora tenha defendido a volta ao trabalho, dispensou por decreto a liberação do número de dias letivos das escolas. Apesar de ter dito que não iria socorrer os governadores, liberou R$ 16 bilhões aos estados por medida provisória e outros recursos virão.
O distanciamento entre o discurso do presidente e a prática do governo prosseguirá, enquanto durar a pandemia. Assim, se a realidade chegar ao ponto previsto pelos mais pessimistas, Bolsonaro colará o seu discurso nos atos do governo. Se ocorrer o cenário mais otimista lá na frente, reforçará o que tem dito. Como muitos nesta pandemia, ele também está de olho na política.
Cálculos políticos
Entre os parlamentares, muita gente não tem mais dúvida: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está de aviso prévio. Bolsonaro só não o substitui agora porque tem medo que o cenário da pandemia se agrave ainda mais e, lá na frente, seja acusado de ter subestimado a “gripezinha”.
Todo cuidado é pouco
Os serviços de defesa ao consumidor avisaram ao governo que têm recebido inúmeras denúncias a respeito de quadrilhas que captam informações de pessoas de baixa renda, por mensagens de celular e e-mails, a fim de pegar os R$ 600. O receio, agora, é que o dinheiro acabe nas mãos dos bandidos. Por isso, é preciso organizar muito bem os cadastros e a distribuição do dinheiro.
Deu água
A ida do deputado Osmar Terra (MDB-RS) ao Planalto esta semana e a reunião com os médicos deixaram a certeza de que o presidente tenta se cercar de visões técnicas parecidas com a sua, tanto em relação ao isolamento social apenas dos idosos, quanto ao uso de cloroquina. O deputado, que é médico, repetiu ao presidente o que já havia dito no CB.Poder que enfrentou a H1N1 sem precisar de distanciamento social geral. Dos médicos intensivistas, Bolsonaro ouviu que a recomendação, por enquanto, é de isolamento social.
“O presidente pode ser criticado, mas faz acenos à população. Tem gente fazendo aceno para composição política”
Do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), referindo-se aos gestos do governador de São Paulo, João Doria, em direção ao ex-presidente Lula
CURTIDAS
À beira de um ataque de nervos/ Silas Malafaia e outros pastores evangélicos estão ensandecidos por causa da escassez de recolhimento do dízimo. Chegou ao ponto de um pastor de Minas Gerais pedir a Bolsonaro, na porta do Alvorada, a abertura de uma linha de crédito para as igrejas.
À beira de um ataque de nervos II/ Malafaia tem colocado seus fiéis para filmar comunidades no Rio de Janeiro, a fim de mostrar que o considera “quarentena de araque”.
Jogos eleitorais/ A filiação de Marta Suplicy ao Solidariedade indica que o PT pode ter ainda mais problemas para a eleição de prefeito de São Paulo. É que Marta, se concorrer, ainda é considerada boa de voto na capital paulista.
Enquanto isso, na economia/ As promessas feitas pelo governo, de recuperação econômica no ano que vem, não são compartilhadas pelos economistas. O cenário, diante de um endividamento necessário agora por causa da pandemia, ainda é para lá de incerto. Quem em juízo não arrisca previsões para o amanhã. Diante do vírus, a ordem é viver a cada dia a sua aflição.
Produtores rurais cobram do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus
Coluna Brasília-DF
Produtores rurais fizeram uma série de reuniões, nos últimos dias, para cobrar do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus. O setor continua trabalhando a pleno vapor e não há o desabastecimento, porém quer das autoridades sanitárias a garantia de máscaras para os trabalhadores e, de quebra, também os testes capazes de mapear quem está infectado, para poder separá-los daqueles que não estão, de forma a garantir a continuidade dos serviços. A ideia é fazer no agro o que foi feito com toda a população da Coreia do Sul.
A preocupação já foi levada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e ao presidente da Comissão de Agricultura, o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que fazem a ponte com o agro e a Saúde, a fim de tentar resolver esse gargalo. O problema é que os testes têm sido voltados para os profissionais de saúde e a uma parcela dos doentes que chegam aos hospitais. Quando o cobertor é curto, uma parte fica descoberta.
O provocador
Foi dessa forma que os parlamentares classificaram Jair Bolsonaro, depois de reunião com um grupo de médicos para discutir o uso da cloroquina, sem avisar a Luiz Henrique Mandetta. Além de expor mais uma vez o ministro da Saúde, o presidente tirou os médicos da sua função na linha de frente do combate ao coronavírus, demonstrou não confiar na sua equipe e reduziu o prazo de validade do pronunciamento à nação esta semana. Pior, impossível.
Onde pega
Bolsonaro está convencido de que, se conseguir liberar logo os recursos para atendimento da população sem emprego, e se a cloroquina der certo, recupera a popularidade perdida. O problema é que a substância é usada hoje em casos de UTI por causa dos efeitos colaterais. E, para completar, tem gente no entorno presidencial torcendo pela demora na liberação de recursos para que ele possa dizer, lá na frente, que tinha razão quanto à volta imediata ao trabalho.
Discurso versus prática
A classe política gostou da mudança de tom do pronunciamento de Bolsonaro, na última terça-feira. Porém, para o “vamos dar as mãos”, será preciso que ele converta o discurso em ações de união e, até aqui, essas atitudes de unidade não vieram.
Pronunciamento iogurte
Há um consenso até dentro do governo de que, se o presidente continuar a ouvir mais o gabinete do ódio e, em especial, Carlos Bolsonaro, sua fala entrará na classificação dos gêneros perecíveis. Hoje, o 02 tuíta muito mais sobre desemprego do que sobre como ajudar no controle da doença na cidade pela qual foi eleito vereador, o Rio de Janeiro. Ou seja, serviço que é bom, é só o zero. Sem o número dois.
Sinais
Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), têm notado uma mudança nas redes sociais. Antes, qualquer postagem dele recebia uma chuva de milhares de interações negativas por parte dos bolsonaristas. Agora, essas interações caíram para menos de 400.
Lula na área…
Em entrevistas a blogs e sites alternativos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveita o momento de crise para tentar comparar a crise econômica, que chamou de “marolinha”, à atual, que Bolsonaro chamou na semana passada de “gripezinha”. “As duas crises levam à necessidade de ter governo, e agora não vejo. Não tem articulação”, disse, referindo-se a Bolsonaro.
… Quer o lugar de Dória
O objetivo do PT nesse momento é recuperar o espaço político de polarização com Bolsonaro, vaga que o governador de São Paulo, João Doria, está conquistando pelo país afora.
Curtidas
Família testada/ O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, que compôs a comitiva de Bolsonaro aos Estados Unidos, em março, descobriu que terminou infectando a esposa, a filha e os netos, e todos foram testados. Estão todos bem.
Família no escuro/ Pelo país afora, há inúmeros exemplos de famílias que perderam entes queridos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Não sabem ainda se foi Covid-19, nem são levados a fazer o teste.
Quem pode pode/ O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, despachou 23 aviões para a China a fim de buscar equipamentos hospitalares e testes para detecção de coronavírus. No mundo, está assim: quem paga à vista, leva primeiro.
110 Sul, a quadra dividida/ Durante o pronunciamento de Bolsonaro, o som dos blocos de apartamentos funcionais em que residem os brigadeiros e altos oficiais da Aeronáutica era o do Hino Nacional. Uma estratégia inteligente para abafar o rufar das panelas nos blocos civis.
Bolsonaro não abrirá mão de posições sobre o combate ao coronavírus
Coluna Brasília-DF
Assessores de Jair Bolsonaro são praticamente unânimes em afirmar que o capitão está convencido de suas posições sobre o combate ao coronavírus e não abrirá mão delas até o final da crise, ainda que danos eleitorais ocorram no futuro. A aposta do presidente continua sendo a de que, quando a crise passar, os eleitores voltarão a apoiá-lo. Nesse sentido, o máximo que a equipe pode fazer por ele, até aqui, é colocar todos os dados técnicos como obra e graça do Planalto.
O problema é que muitos ministros começam a ficar constrangidos com a postura do chefe. Porém, ninguém vai sair enquanto perdurar a crise da saúde e, no caso de Paulo Guedes, vem ainda a crise econômica, depois da pandemia, acompanhada da terceira onda, a política. O futuro do Brasil nunca foi tão incerto.
Atrasados
A demora de Bolsonaro em sancionar a ajuda de R$ 600 aos trabalhadores informais começou a ser explorada pela oposição, e ficará assim por mais tempo. Afinal, completou um mês da chegada do vírus no Brasil e, até o momento, a parte econômica, tão citada pelo presidente, ainda não resultou em recursos nas mãos dos mais necessitados.
Constrangimento
Os diplomatas brasileiros pelo mundo afora estão tontos, sem saber como explicar a posição do governo e a edição da fala de Tedros Adhanom feita pelo presidente, em rede nacional. Afinal, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomendou a volta ao trabalho, e sim a proteção das pessoas mais necessitadas.
Sentiu o tranco
Os cuidados de Bolsonaro ao dizer, em seu pronunciamento, que está preocupado com a saúde das pessoas, foram vistos como um sinal de que percebeu a perda de popularidade. Porém, o fato de dizer que quer retomar seu projeto de desenvolvimento indica que ainda não se deu conta do tamanho da crise e de que terá que ter um plano B.
Terra, o conselheiro
O ex-ministro Osmar Terra sustenta, há 15 dias, que a curva de casos no Brasil não será a mesma de países como a Itália, e que isso não se deve ao isolamento. É na posição dele que Bolsonaro tem se pautado.
“Bolsonaro chora porque viu que errou e errou feio”
Do deputado Fábio Trad (PSD-MS), irmão do senador Nelsinho Trad, que não tem comorbidades e teve 10% dos pulmões comprometidos pela Covid-19
Deputado na UTI/ Vice-líder do PSC, o deputado Aluisio Mendes (MA) está internado no Sírio Libanês, em Brasília, por causa da Covid-19. À coluna, ele contou que há seis dias passou mal, foi ao hospital e os testes deram positivos. Ainda não saiu da UTI, mas apresenta melhoras.
As fake news reinam…/ Como se não bastasse a gravidade da pandemia, as pessoas ainda têm que conviver com montagens de fotos que proliferam pelo WhatsApp sem o menor controle. Uma das últimas, repassadas nos grupos bolsonaristas, mostra a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, junto com o vice-governador Antenor Roberto e o prefeito de Natal, Álvaro Dias.
… e as ironias também/ Nos grupos petistas, alguns posts perguntam “Cadê o Queiroz?”, numa referência ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que recebia depósitos dos funcionários do gabinete de Flávio nos tempos de deputado estadual. Os posts vêm acompanhados de frases do tipo: “reza a lenda que a família Bolsonaro recomendou a ele distanciamento social, isolamento e quarentena, a fim de evitar contaminação”.
Termômetro/ O Park Sul, no setor industrial do Guará, onde, em 2018, os moradores comemoraram de forma efusiva a vitória de Bolsonaro, aderiram ao panelaço na hora do pronunciamento do presidente, ontem à noite.
CB.PODER/ O senador Major Olímpio (PSL-SP) é o entrevistado de hoje do programa, logo depois do jornal local, na TV Brasília e nas redes sociais do Correio Braziliense.
O pronunciamento de hoje mostrou que o presidente Jair Bolsonaro sentiu o tranco da queda de popularidade e estende a mão para o diálogo e para tentar recuperar o que perdeu. Falou da saúde das pessoas, da necessidade de união, se colocou como aquele que detém o comando da equipe ao dizer que determinou aos ministros que cuidem dos brasileiros. Falou inclusive em união de todos, governadores, prefeitos, Legislativo, Judiciário na guerra contra o coronavírus. O discurso de união, de “vamos juntos” e de preocupação primeiramente com a saúde das pessoas finalmente substituiu o da “gripezinha”.
Resta saber se as ações presidenciais seguirão nesse sentido. Na reunião dos governadores do Sudeste, semana passada, por exemplo, o presidente mais atacou do que discutiu saídas para estados como São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil. Ficou mais preocupado com o embate politico com o governador João Doria, citando inclusive a eleição de 2022, algo que não está na cabeça do brasileiro nesse momento. A tensão com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é outro ponto. Não dá para o presidente nomear um ministério técnico e desprezar as recomendações técnicas de sua equipe, ao ponto de ministro ter que olhar para o seu colega da Casa Civil, Braga Neto, e escolher as palavras mais amenas para expor os resultados do confinamento _ como fez Mandetta na coletiva de hoje.
Bolsonaro não deixou ainda de citar a parte que lhe agradou do discurso do diretor Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom. Porém, manteve dessa “missa” a metade, ao mencionar apenas a parte em que Adhanom fala sua preocupação com os informais e desconhecer o trecho com a referência à necessidade de proteção dessas pessoas por parte dos governos.
A parte da OMS, porém, não ocupou tanto o discurso como se esperava e o ponto alto foi mesmo a mudança de tom. Embora Bolsonaro tenha mantido suas referências à cloroquina e à preocupação com o emprego, fez questão de lembrar que não há tratamento específico para Covid-19 e nem vacina. Agora, assim como os médicos trabalham incansavelmente para recuperar a saúde dos cidadãos que procuram os hospitais, o presidente trata de querer recuperar a sua saúde política. Ainda está em tempo. Basta levar o discurso à prática.
Planalto tenta conter os danos de imagem na crise do coronavírus
Coluna Brasília-DF
Ao levar as coletivas do Ministério da Saúde para o Planalto, como parte do gabinete de crise, Jair Bolsonaro adota uma estratégia para evitar a leitura de que a equipe do ministro Luiz Henrique Mandetta é algo estanque, descolado do governo. Aliás, foi aconselhado a adotar esse modelo para tentar amenizar o impacto negativo não só do passeio de domingo, mas também das declarações da manhã, em que novamente defendeu que todos voltem ao trabalho, num momento em que até Donald Trump se rende à necessidade de isolamento. Veremos até quando isso vai durar. O presidente quer os louros do trabalho desenvolvido pelo Ministério da Saúde, mas quer distância do ônus econômico das suas recomendações, de distanciamento social.
Aliados têm dito que Bolsonaro não se convenceu da gravidade da crise. Primeiro, houve a defesa de uma campanha institucional para que o Brasil voltasse ao trabalho. Não deu certo. Depois, o rascunho de um decreto para determinar o retorno imediato às atividades em todo o país. Não funcionou. A contar pela disposição dele, algo mais virá. O Brasil vive a cada dia a sua aflição.
Ministros por Mandetta
Não são poucos os ministros que têm apelado a Bolsonaro para refluir nas declarações dissonantes com as de Mandetta. O que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fala de público, a favor do isolamento, é voz corrente no primeiro escalão do governo.
A terceira onda
As declarações de Bolsonaro só serão tratadas de forma mais contundente no Parlamento, quando o país estiver em condições de voltar à normalidade. Em outras palavras, o Brasil seguirá com crise política em altos e baixos. Ninguém tomará qualquer atitude, até que se resolvam as questões de saúde, e as medidas econômicas tenham alguma resposta a fim de melhorar a vida das pessoas.
Está assim I
Em Londrina (PR), um empresário de 55 anos, que passou a infância e a adolescência em Brasília, começou a sentir dores pelo corpo em 18 de março. Em 20 de março, febre alta e dor de cabeça. Procurou a emergência de um hospital privado três dias depois. Foi mandado de volta para casa, sem teste para coronavírus e qualquer cuidado especial. Preocupado e ainda passando mal, voltou ao hospital dia 25. Aí sim, o tratamento foi diverso. Uma tomografia detectou lesões nos pulmões e, então, foi internado e houve coleta de material para o teste. Ontem, 29 de março, recebeu o resultado: Covid-19.
Está assim II
Esse empresário continua internado. Conta ainda que tem um passado atlético em piscina, alimentação saudável, não fuma, não bebe, não tem hipertensão, diabetes, ou qualquer outro fator de risco. Agora, seu quadro clínico começa a melhorar. “O vírus é violento”, avisa.
Militares e o meio-termo de Villas Boas
Integrantes da cúpula das Forças Armadas cobraram de Bolsonaro uma postura mais afinada com o Ministério da Saúde. Daí o motivo da nota do ex-comandante do Exército, general Villas Boas, que critica ações extremadas, delimita o centro como ponto de equilíbrio e, por tabela, sai em defesa do presidente. Divulgada, ontem, nas redes sociais, coloca Bolsonaro como bem intencionado. A leitura da política é a de que a caserna age para tentar conter o presidente e a crise política.
Continha/ Dia desses, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) reclamou de um juiz que suspendeu a carreata do “Brasil não pode parar”, referindo-se a um cidadão contra 57 milhões –– o número de votos que seu pai angariou no segundo turno. O problema é que, desses milhões, há muitos que defendem o confinamento e não votaram a favor de Bolsonaro, e sim contra o PT.
Sem exemplos para citar/ O fato de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, adotar o autoisolamento depois que um de seus assessores testou positivo para o novo coronavírus, foi mais um baque nas atitudes de Bolsonaro, que, com vários colaboradores com resultado positivo, continua nas ruas.
Difícil, mas deve rolar/ A Câmara fez ontem testes para sessões virtuais. Só tem um probleminha: com 513 deputados, vai ser complicado definir a ordem de uso dos microfones –– e por aí vai.
Enquanto isso, na construção civil…/ Obras de fundação de um edifício na região do Park Sul continuavam ontem a pleno vapor.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, segue espremido. De um lado, um presidente da República que deseja implantar no país apenas o isolamento vertical, reabrindo comércios e todos os serviços não-essenciais e isolando apenas os idosos e pessoas do grupo de risco. De outro, a Organização Mundial de Saúde, as recomendações dos infectologistas, e mais de meio mundo que considera o isolamento a única forma segura de evitar o colapso dos serviços de saúde pública, uma vez que a escassez de testes rápidos para isolamento apenas dos doentes impede outro tipo de tratamento. Entre os dois, Mandetta, para a entrevista de daqui a pouco, promete a verdade. Vai, assim, na linha da citação bíblica, João 8:32, sempre mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Bolsonaro, ao escolher seus ministros, em dezembro e 2018, anunciava que não cederia aos partidos e daria à sua equipe um perfil técnico. Se agora, nesse momento grave, Bolsonaro trocar o ministro da Saude, para colocar alguém que faça apenas a sua vontade, estará rasgando esse ativo que levou à sua eleição e foi amplamente aplaudido pela população. O próprio ministro Paulo Guedes, outro escolhido por um perfil técnico, disse hoje que está preocupado com a economia, mas defende o isolamento.
No mundo inteiro, os negacionistas da gravidade da pandemia que se mostraram mais atentos ao cenário econômico do que às questões de saúde pública tiveram que rever suas posições. Do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Bolsonaro insiste em manter sua sua posição. Vejamos quem está com a verdade. Afinal, como diz o presidente, a verdade libertará.
Defesa por isolamento pode fazer “gabinete do ódio” pressionar pela saída de Mandetta
Coluna Brasília-DF
O discurso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante o último balanço sobre Covid-19 no sábado, foi recebido nos partidos como a última tentativa de chamar a atenção de todos, e busca uma ação conjunta de combate ao coronavírus no país. Sobraram recados tanto para os governadores, que criticam o tempo todo o governo federal – leia-se João Doria, de São Paulo – quanto para aqueles que, dentro do governo, invariavelmente, deixam a ciência de lado – leia-se aí o próprio presidente Jair Bolsonaro, que mostrou a caixinha de cloroquina como a receita recomendada para o momento.
A fala do ministro, entretanto, traz o risco de levar o “gabinete do ódio” capitaneado pelos filhos de Bolsonaro a pressionar mais uma vez para trocar o ministro pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres – aquele que acompanhou o presidente na manifestação de 15 de março. Até para essa turma, valem as palavras de Mandetta: “Temos que ter racionalidade e não nos mover por impulso”.
O nó na saúde I
A boataria que circulou durante todo o dia sobre a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vinha acompanhada de pressões do governo para que ele substituísse integrantes de sua equipe que os bolsonaristas mais convictos chamam nas redes de “comunistas”. A equipe foi toda escolhida por Mandetta. E, pelas palavras do ministro ontem, a equipe permanece.
O nó na saúde II
As projeções oficiais do Ministério da Saúde estão mais difíceis de serem feitas, porque ainda não foi definido um método seguro de cálculo de número de casos para daqui a seis meses. Daí, os atrasos em soltar o número de casos. A ordem é optar por aquele que não seja nem o mais otimista, nem o mais pessimista.
Prepare-se
A redução de voos semanais no Brasil de 14.781 para 1.241 até 30 de abril indica que a quarentena será maior do que se imagina.
Viu, Osmar Terra?
Entre os emedebistas, as comparações de Mandetta da Covid-19 com a H1N1 foram consideradas um recado direto ao deputado Osmar Terra (MDB-RS). Nos últimos dias, Terra deu uma série de entrevistas e gravou vídeos na linha do pronunciamento de Bolsonaro na última terça-feira, de que era preciso cuidado com os idosos, sem necessidade de quarentena generalizada.
CURTIDAS
O trabalho veio do Executivo// O Poder Judiciário se preparava, na semana passada, para uma avalanche de pedidos de internação por causa de sintomas de Covid-19. Até aqui, porém, as ações que mais exigiram decisões urgentes foram as do Executivo Federal, em especial o decreto que tornou atividades religiosas como essenciais e a campanha experimental “O Brasil não pode parar”.
É por aí/ Relator da Medida Provisória 927, de socorro às empresas, o senador Eduardo Braga (foto) (MDB-AM) passa o fim de semana trabalhando com técnicos para um estudo mais aprofundado do texto e apresentar seu parecer o mais breve possível. A linha será garantir emprego, renda e empresa. Para quem não se lembra, é a MP que tratava da suspensão dos salários sem garantia de renda. O presidente Bolsonaro mandou retirar o trecho do texto, depois de críticas nas redes sociais.
Geração espontânea/ O vídeo da campanha “O Brasil não pode parar” terminou a semana sem pai nem mãe.
Coluna Brasília-DF
Em 2005, quando o país viu eclodir o escândalo do mensalão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vislumbrou um possível processo de impeachment. À época, disse a adversários que qualquer movimento contra ele resultaria em ruas lotadas em sua defesa. Agora, o presidente Jair Bolsonaro tem dito o mesmo a um pequeno grupo da sua confiança. Para isso, entretanto, ele precisa recuperar parte da popularidade, sem dividir os louros das medidas adotadas com ninguém, e tratando tudo como se fosse iniciativa do seu governo.
Foi nesse sentido que Bolsonaro anunciou, de bate-pronto, na porta do Alvorada, o valor de R$ 600 mensais de ajuda para os trabalhadores informais, o triplo do projeto inicial do Poder Executivo. O projeto já estava em votação e, àquela altura, a área econômica aceitava, no máximo, conceder R$ 300. O Congresso ia dar R$ 500 e o presidente anunciou R$ 600. Enquanto essa disputa por protagonismo político ajudar a população, será bem-vinda. As consequências, como sempre, virão depois.
Perfil do comando
As trocas de militares no Alto Comando já eram previstas, mas a nova leva é ligada ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e ao comandante do Exército, general Edson Pujol.
Até eles
Alguns hospitais privados, inclusive, no Distrito Federal, projetam queda de faturamento, por causa do cancelamento de cirurgias eletivas e consultas. Até alguns setores da medicina passarão por dificuldades diante da pandemia de coronavírus.
Até ele
Com o estado de Nova York definido como o novo epicentro da pandemia da Covid-19, as declarações do presidente Donald Trump a respeito do coronavírus vão na linha de “pandemia grave”, e que veria, caso a caso, a necessidade de manter ou afrouxar as medidas de isolamento.
Ciência versus política
A virada de Trump é lida entre alguns aliados de Bolsonaro como fruto da campanha política que o presidente dos Estados Unidos enfrentará em breve. Porém, entre opositores do bolsonarismo, é a certeza de que Trump não teve saída, a não ser o que dizem os técnicos e infectologistas.
Só para contrariar/ A ideia de Bolsonaro aparecer com duas caixas de remédio que não precisa usar, e receitar como a promessa contra o coronavírus, teve uma motivação: provocar o médico Ronaldo Caiado, governador de Goiás, seu mais novo adversário.
Joyce na cobrança/ Em seu discurso no plenário da Câmara, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) não mediu as palavras ao cobrar do presidente que pare com essa história de negociar com o Congresso num momento e, minutos depois, ir às redes sociais dizer que não negociou. “Seja homem e cumpra de pé o que combina sentado. Eu o desafio à paz, ao diálogo, à união”.
Muito além da Mega-Sena/ O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou vídeos de reclamações para a abertura de casas lotéricas. Há cidades em que esses estabelecimentos são o canal para receber os benefícios governamentais e, fechados, as pessoas não conseguem sacar valores de aposentadorias, por exemplo.
Espelho meu/ Lula chamou a crise econômica de “marolinha”. Dilma Rousseff saudou a mandioca e queria estocar vento. Bolsonaro chama pandemia de gripezinha e diz que brasileiro mergulha no esgoto e não pega nada. Qualquer semelhança é mera coincidência.
No Sírio Libanês, o hospital dos políticos, a recomendação é de isolamento horizontal
A posição do governo de manter apenas os idosos em casa levou mais especialistas a virem a público defendendo o distanciamento horizontal nesse momento. Infectologista do hospital Sírio Libanês em Brasília, hospital que tem recebido os políticos portadores do coronavírus, dr. Alexandre Cunha fala da importância do isolamento horizontal da população nessa fase da pandemia, recomenda a não circulação de jovens e diz que “as medidas de distanciamento social são as únicas que se mostraram eficazes para conter a disseminação rápida do novo coronavírus”. Ele menciona ainda que uma vacina só estará disponível daqui a um ou dois anos e os tratamentos alardeados como a cura são experimentais e baseados em estudos metodologicamente muito ruins”, afirma, acrescentando que “provavelmente, não terão a eficácia alardeada pela mídia.Os novos estudos já estão mostrando que os resultados não são tão promissores”, diz.
A avaliação do especialista é a de que o distanciamento social é importante para evitar que um grande número de casos ocorra simultaneamente, mesmo que esses casos seja entre pessoas jovens. “É verdade que o vírus tem menor impacto e letalidade e menor hospitalização. Se o número de infectados for muito grande num curto período, isso pode gerar uma sobrecarga do sistema de saúde, o que pode fazer com que haja óbitos evitáveis entre jovens, o que já acontece hoje nos Estados Unidos. E também aumento em idosos, que precisarão de hospital muitas vezes por outros problemas. Se os hospitais estiverem lotados, esses idosos não terão como se tratar”, diz ele, referindo-s a outras doenças comuns nessa faixa etária como problemas cardíacos, hipertensão.
Dr. Alexandre Cunha considera que afrouxar as medidas dependerá de estudos. “É claro, temos medir a cada momento da pandemia qual o momento de baixar a guarda e afrouxar essas medidas. Essa decisão temeu ser tomada por dados técnicos, baseada em dados estatísticos, epidemiológicos, sempre pensando que a economia é importante, o país não pode ficar parado por muito tempo. Mas, se a gente deixar os jovens circularem livremente nesse momento, corre um grane risco do nosso país entrar em colapso, como aconteceu em países como a Itália. Nesse momento, a melhor medida é se manter em casa pra evitar esse contágio rápido. A gente espera que, a medida que a população for sendo imunizada, gradativamente, que as coisas possam ao normal, inclusive os idosos possam voltar a frequentar os lugares que frequentavam habitualmente”, diz ele.