Quem ganha e quem perde com a politização da vacina

Publicado em coluna Brasília-DF

Coluna Brasília-DF, por Carlos Alexandre de Souza (interino)

Em mais um de seus comentários infames sobre a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro chegou ao nível mais baixo da politização de um tema que deveria ser tratado com mais compostura e respeito. Ao comemorar o fato de a Anvisa ter suspendido os testes com a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela farmacêutica chinesa SinoVac, o presidente escancarou que está preocupado apenas com os dividendos políticos no enfrentamento à doença. Pouco importa quem teria morrido durante os testes, quanto mais as circunstâncias do óbito. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, disse o mandatário do país que já perdeu quase 163 mil vidas para o novo coronavírus. A obsessão do presidente é vencer uma guerra — afinal, não somos “um país de maricas” — na qual não haverá vencedores. Ao permitir que o vírus da política contamine suas ações, Bolsonaro tripudia do esforço de milhares de cientistas, voluntários e autoridades sanitárias envolvidos na produção de um imunizante que pode ser aplicado não apenas no Brasil, mas no mundo. Com esse tipo de comportamento em Brasília, perde a ciência. Perde o Brasil.

Não adiantou
Pouco esclareceu a justificativa da Anvisa de suspender o teste conduzido pelo Instituto Butantan, que informou não haver relação entre a morte do voluntário e a aplicação da CoronaVac. A tentativa de impingir um verniz técnico foi insuficiente para conter a forte reação à decisão de suspender os testes e — mais grave — a suspeita de que a agência está a serviço do Planalto. Não se trata de suposição despropositada, considerando o histórico de intervenções presidenciais nas políticas relativas à pandemia.

De novo, o STF
Não foi por outra razão que o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, determinou o prazo de 48 horas para que a Anvisa explique os termos da decisão que interrompeu as pesquisas com a CoronaVac. Mais uma vez, a covid-19, uma calamidade sanitária, passa a fazer parte do desgastante rol da judicialização.

Parceiro
“O que o cidadão brasileiro não precisa hoje é de uma Anvisa contaminada por guerra política. Ela existe? Claro que existe. Está aí. Mas tem de ficar deste muro para fora”, defendeu-se o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na tentativa de conferir isenção e credibilidade à agência que comanda. Em março, contrariando as recomendações do Ministério da Saúde, Barra Torres acompanhou o presidente Bolsonaro, ambos sem máscara, à multidão aglomerada em frente ao Palácio do Planalto.

De escândalo…

o próximo dia 14, completa-se um mês que o senador Chico Rodrigues, do DEM-RR, foi surpreendido pela PF com mais de R$ 30 mil na cueca. Muito se riu, muitos se escandalizaram. Imediatamente após o escândalo, Rodrigues perdeu o cargo de vice-líder do governo no Senado. Em seguida, foi afastado do Conselho de Ética — o mesmo colegiado que hoje analisa uma representação contra o parlamentar.

… Em escândalo
Na Câmara, outro caso rumoroso caminha a passos vagarosos. Está no Conselho de Ética uma representação contra a deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser a mandante da morte do marido. Ela foi denunciada pelo Ministério Público no fim de agosto. Não foi presa porque tem foro privilegiado.

Pó chinês
Na falta de saliva, Bolsonaro disse ser necessário utilizar a pólvora para responder às hostilidades do presidente eleito dos EUA, Joe Biden. Mas, a história conta, a pólvora é uma invenção chinesa. E agora, Jair?

Munição
Apenas para comparar. Em 2019, segundo o instituto sueco Sipri, os Estados Unidos gastaram US$ 732 bilhões em armamentos. São 27 vezes mais do que o valor investido pelo Brasil na defesa do território nacional. Haja pólvora.

Mais política, menos tribunal

Publicado em coluna Brasília-DF

Coluna Brasília-DF, por Carlos Alexandre de Souza (interino)

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, está incomodado com o “uso epidêmico do Supremo para resolver todos os problemas”. Com 40 anos dedicados à magistratura, Fux considera que a instância máxima da Justiça brasileira se ocupa demasiadamente de questões que deveriam ser dirimidas por outros poderes. “O Supremo não pode intervir na política. A política é necessária, e em um Estado democrático de direito a instância maior é o Parlamento”, defendeu o ministro, durante live promovida ontem. Não faltam exemplos, nas duas maiores democracias da América, de episódios que exigem um posicionamento do Poder Judiciário, com naturais desdobramentos políticos. Interferência do Planalto na Polícia Federal e obrigatoriedade da vacina são alguns dos temas judicializados no Brasil, com forte desgaste entre o chefe do Executivo e integrantes do Supremo. Nos Estados Unidos, apesar da vitória anunciada de Joe Biden, o presidente Donald Trump insiste em recorrer aos tribunais para denunciar fraude nas eleições. A judicialização política, chamada de “moléstia” por Fux, parece disseminada. A saída, para o presidente do STF, é o resgate da política como arte do entendimento.

Estresse democrático
A excessiva participação do Judiciário, motivo de queixa de Fux, pode ser efeito do estresse enfrentado pelas democracias neste primeiro terço do século 21. Quando a luta partidária extrapola os limites republicanos; quando a eleição não representa a legítima vontade popular; quando os Poderes entram em conflito constitucional impõe-se a necessidade de recorrer ao Judiciário, guardião da lei.

Campo minado

Enquanto o Judiciário reclama do peso político que se acumula sobre a toga, o Legislativo aumenta a temperatura em Brasília. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não poderia ser mais claro na crítica à morosidade do governo em articular uma pauta de votação. “O Brasil vai explodir em janeiro, se as matérias não foram votadas. O dólar vai a R$ 7. A taxa de juros de longo prazo vai subir para um país que vai ter 100% da riqueza em dívida. Imagina, em vez de pagar os 4%, 5%, começar a pagar uma dívida de 15%, 20% ao ano?”

Futuro incerto
O alerta de Maia faz sentido. Faltam pouco mais de 45 dias para se encerrar o estado de calamidade, medida que suspendeu todas as amarras orçamentárias para o governo agir no enfrentamento da covid-19. O tempo está correndo, e não há sinal do que o governo pretende apresentar para questões urgentes, como teto de gastos, auxílio emergencial, desemprego recorde, reforma tributária.

No escuro
O retorno paulatino da energia elétrica no Amapá ganhou contornos políticos. Candidato a prefeito de Macapá, Josiel Alcolumbre rebate as acusações de que o rodízio estaria privilegiando bairros mais abastados, deixando a periferia no escuro. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, saiu em defesa do irmão candidato. “Em vez de procurar culpados, nós estamos focados na solução, que é resolver o problema dos amapaenses”, disse.

Vote de máscara
Presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso repetiu uma recomendação que deveria ser inquestionável: no dia da votação, o eleitor deverá usar máscara. “Esta não é uma ordem do TSE, mas é uma orientação de quase todos os municípios brasileiros”, esclareceu Barroso. E completou: “No mundo civilizado, as pessoas cumprem as regras e respeitam as outras”. Data venia, excelentíssimo: há controvérsias.

Assinatura
Barroso lembrou, ainda, um detalhe, não menos importante: o eleitor deve levar a própria caneta para assinar o caderno de votação. Tudo para evitar o contágio do novo coronavírus.

Justiça terá que fazer valer a regra do jogo nos EUA

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Coluna Brasília – DF, por Carlos Alexandre de Souza
(com Luiz Calcagno)

Em mais uma prova do ineditismo de 2020, os Estados Unidos caminham para o quarto dia de incerteza na eleição mais importante do mundo. Ainda que Joe Biden esteja muito perto de se tornar o novo escolhido para a Casa Branca, o democrata também terá de vencer a batalha nos tribunais para se tornar o 46º presidente dos EUA. Nem mesmo os 70 milhões de votos favoráveis, marca impressionante da preferência dos eleitores norte-americanos, asseguram, no momento, a vitória de Biden. A exacerbação do conflito político no país obrigará a intervenção do Poder Judiciário, que, provocado, fará valer a regra do jogo no regime democrático norte-americano.

Desgaste perigoso
No Brasil, sabemos que a intervenção do Judiciário na arena política se trata de medida delicada. Basta lembrar alguns episódios recentes, como a denúncia de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal; o inquérito aberto para investigar atos antidemocráticos por apoiadores do titular do Planalto; ou a briga a respeito da obrigatoriedade da vacina contra a covid-19, motivo de pugilato verbal entre o governo federal e o governador de São Paulo, João Doria.

Equilíbrio delicado
Se a judicialização da política produz muita controvérsia e desgaste institucional, a politização do Judiciário tampouco fica atrás. No momento em que a decisão de um magistrado gera um fato político, põe-se à prova o equilíbrio dos Poderes, condição essencial para o funcionamento de democracias.

Disfunção política
Não foi por outra razão que o ministro Luiz Fux, ao assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), prometeu afastar a Corte do noticiário político e resgatar a missão precípua de zelar pelo cumprimento da Constituição. Uma Justiça muito próxima das paixões partidárias é sinal de alguma disfunção na política, que se mostra incapaz de formar consensos na sociedade.

Apoio na CMO

A deputada Celina Leão (PP-DF) saiu em defesa da colega Flávia Arruda (PL-DF) na presidência da Comissão Mista do Orçamento (CMO). Argumentou que o bloco liderado por Arthur Lira (PP-AL) reúne a maioria dos parlamentares da Câmara e, por isso, teria direito de definir quem assume o cargo. Afirmou, ainda, que o grupo que ocupa a liderança do colegiado hoje, composto por DEM, PSDB e MDB, está mudando as regras do jogo, justamente quando há chances reais de, pela primeira vez, uma mulher presidir o grupo.

Vale o regimento
O imbróglio sobre os cargos da Mesa Diretora da comissão parece longe de acabar, e há quem diga que a solução só aparecerá depois das eleições municipais. “Todas as assembleias e câmaras têm um regimento muito forte e presidencialista, para o presidente dar conta de comandar o parlamento. Ter a força do Rodrigo Maia (DEM-RJ) contra é ruim. Mas, chega um momento que fica insustentável. Ele consegue por um tempo, mas tem que cumprir o regimento”, avaliou Celina Leão.

Frente conservadora
Começa a ganhar corpo no Congresso a formação de uma Frente Parlamentar Mista Conservadora. O grupo não teria necessariamente um viés religioso, frequentemente associado a bandeiras como o movimento antiaborto. Uma das envolvidas na iniciativa é a deputada Bia Kicis (PSL-DF), que mantém contato com os ministros Fábio Faria e Ernesto Araújo a fim de dar capilaridade à Frente.

Palanque antiliberal
Um dos movimentos é o contato com parlamentares conservadores de outros países da América do Sul. “As pautas liberais têm muito palanque, precisamos lutar pelas conservadoras — luta contra o aborto e contra a liberação das drogas. Precisamos lutar por essas ideias e pelas liberdades individuais”, defende Bia Kicis.

Xô, dragão
A expectativa de vitória de Joe Biden tem refletido na baixa do dólar em todo o planeta. Por aqui, a moeda norte-americana fechou ontem a R$ 5,54, o menor valor desde outubro de 2019. Resta saber quando a inflação trará um alívio para o bolso do brasileiro.

Polarização, aqui e lá

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Coluna Brasília-DF, por Carlos Alexandre de Souza (interino)

A batalha voto a voto entre Donald Trump e Joe Biden levou ao ápice a polarização política nos Estados Unidos. A troca de acusações entre os candidatos, cada qual dizendo que a eleição não será alvo de fraude, e a estratégia do republicano de judicializar o pleito presidencial injetam uma dose extra de estresse na democracia norte-americana. Esse momento histórico, no entanto, pode ser visto como sinal de vitalidade política dos Estados Unidos. O comparecimento em massa dos eleitores, fenômeno que não era visto em muitas décadas, indica que a polarização força um posicionamento político do cidadão, apesar de o voto não ser obrigatório naquele país. Por aqui, a polarização também testa as instituições democráticas. Resta saber se a marcha beligerante levará a um avanço ou a um retrocesso nas questões relevantes do país, profundamente impactadas pela pandemia do novo coronavírus.

Arte engajada
Fiel seguidora de Bolsonaro, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) decidiu expressar de forma artística a lealdade ao presidente. No gabinete parlamentar, exibe um retrato ao lado do mandatário. O quadro é assinado pelo artista Marco Angeli, que tem obras no Palácio do Planalto também. Segundo a deputada, dois integrantes do governo já a procuraram, interessados em encomendar trabalhos de Angeli.

Ligado
O ministro Ricardo Salles, que está em Manaus acompanhando o vice-presidente Hamilton Mourão em uma agenda com embaixadores, passou o dia preocupado com o resultado das eleições nos Estados Unidos. Ao longo do dia ele parou várias vezes para olhar o celular e acompanhar a apuração. Conversou com assessores e jornalistas e relembrou a promessa de Biden em arrecadar US$ 20 bilhões para combate ao desmatamento.

Faça o que eu digo…
O líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), recomendou aos governistas da Casa que votassem pela derrubada parcial do veto 26/2020 da desoneração da folha salarial de 17 setores da economia, cumprindo o acordo firmado por Eduardo Gomes (MDB-TO). Bezerra, no entanto, votou contra, e duvidou da medida.

… Mas, fique alerta
“Lembro que hoje (ontem), durante os entendimentos com os líderes, o ministro do TCU, Bruno Dantas, chamava a atenção de que a decisão poderia ser tomada, mas que ele ainda entendia que haveria problemas de constitucionalidade na derrubada do veto. É importante que a gente possa revisitar o tema para viabilizar o acordo”, afirmou o líder do governo.

Sonhos intranquilos
Bezerra sugeriu, ainda, que o relator do Orçamento, Márcio Bittar (MDB-AC), trate do tema na Comissão Mista do Orçamento. Coube ao líder do MDB, Eduardo Braga (AM), contradizer o senador. Na sequência, o ex-líder governista Izalci (PSDB-DF) também se posicionou. “A dúvida que se colocou na votação traz intranquilidade ao
mercado”, alertou.

Luz vermelha

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse haver uma luz vermelha no mercado alertando que o Brasil já passou do ponto de inflexão em que os gastos públicos se tornam contraproducentes. O país precisa, portanto, voltar à disciplina fiscal. Campos Neto fez o comentário após ser questionado, em uma live, sobre o movimento em setores do governo para romper o teto de gastos. Segundo o BC, o ajuste fiscal e o teto de gastos são fundamentais para que o país possa manter os juros baixos e atrair investimentos privados.

Autonomia é tudo
Apesar de o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), ter dito que há acordo para a Câmara votar a autonomia do BC após as eleições municipais, Campos Neto e Guedes não mencionaram esse prazo ontem, ao agradecer a aprovação do projeto no Senado. Eles lembraram que a medida garante o controle da inflação e passa mais credibilidade
ao mercado.

Vitória de Biden não mudará projeto da Base de Alcântara, avalia ministro

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O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, afirmou há pouco em entrevista à Rede Vida de Televisão que uma vitória do democrata Joe Biden nos Estados Unidos não alterar parceria entre os dois países fechados em relação à base de Alcântara. “Lá já estamos na fase de plano de negócios para a região”, disse o ministro, numa referência ao acordo de salvaguardas assinado em março entre os dois países para que os Estados Unidos possam usar a base de Alcântara para lançamento de satélites. Outros técnicos dizem que não vai mudar porque, afinal, esse acordo é extremamente favorável aos Estados Unidos.

Durante todo o dia, o governo acompanhou a apuração dos votos nos Estados Unidos e também já foram elencados que projetos podem sofrer alguma descontinuidade em caso de derrota do presidente Donald Trump. Um dos que pode sofrer descontinuidade é aquele que permitiu a entrada mais etanol dos Estados Unidos no Brasil com tarifa zero até dezembro deste ano. Bolsonaro fez a concessão aos americanos para dar uma ajuda a Trump no setor e conseguir que o governo americano estudasse a compra de açúcar brasileiro. Se Biden ganhar, as apostas no Brasil são as de que esse acordo será abandonado. Algo que os produtores de etanol brasileiros não vão reclamar.

No entorno de Bolsonaro, seus mais fiéis escudeiros não apostam na substituição do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, caso Trump seja derrotado. O chanceler tem um trunfo nessa relação com o Planalto, os laços de amizade com o deputado Eduardo Bolsonaro. Em recente entrevista à Jovem Pan, em que pintou o cenário para o caso de vitória de Biden, o deputado Eduardo Bolsonaro, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, disse que não vê mudança na política externa brasileira, ainda que o democrata vença a eleição.

A campanha do medo

Publicado em coluna Brasília-DF

Coluna Brasília-DF por Carlos Alexandre de Souza

No dia decisivo para a corrida à Casa Branca, o presidente Jair Bolsonaro recorreu à mesma estratégia do ídolo republicano: lançar suspeitas sobre a legitimidade do voto popular, por meio de teorias conspiratórias. Ao mencionar, em uma rede social, a ameaça de uma interferência externa de grandes potências na disputa eleitoral, Bolsonaro pôs em dúvida a lisura do processo eleitoral norte-americano. É o mesmo estratagema adotado por Trump, que ameaça recorrer à Suprema Corte se concluir que a votação — em boa parte antecipada, pelos correios — foi objeto de fraude. Curiosamente, a suposta interferência na eleição norte-americana de 2016, tema debatido à exaustão, teria ocorrido em benefício de Donald Trump.

Ao analisar a eleição nos EUA, Bolsonaro mencionou o risco de interferência na corrida eleitoral de 2022 no Brasil. É mais uma evidência de que não há tema mais importante no Palácio do Planalto do que a reeleição. Pandemia e crise econômica são apenas circunstâncias do momento.

Perigo vermelho
A tática do medo é conhecida em disputas eleitorais. Ao citar interesses ocultos para prejudicar o agronegócio brasileiro, Bolsonaro recorre ao arsenal conspiratório que costuma se manifestar na retórica bolsonarista. A ameaça chinesa, os perigos do globalismo, os riscos do comunismo são inimigos contumazes da trincheira nacional.

Fora, comunistas

O discurso do medo também veio a público na semana passada, quando Bolsonaro, em visita ao Maranhão, disse que iria varrer o comunismo do país. Também repetiu o golpe quando mandou um cidadão comprar arroz na Venezuela, em resposta à queixa contra a alta inflacionária do produto no bolso dos brasileiros.

Emprego novo
Primo dos filhos de Bolsonaro e apoiador de primeira hora do presidente, Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, está de emprego novo. Vai trabalhar como servidor da Primeira-Secretaria do Senado Federal, a pedido do senador Carlos Viana (PSD-MG). Léo Índio estava lotado no gabinete de Chico Rodrigues (DEM-RR), o senador flagrado com mais de R$ 30 mil na porta dos fundos. Foi preciso afastar o integrante do clã Bolsonaro do escândalo da cueca, a fim de eliminar qualquer traço de proximidade entre o Planalto e o parlamentar, até então um dos vice-líderes do governo no Senado.

É isso mesmo?
Chico Rodrigues está afastado de suas funções no Senado, sob alegação de que prepara a defesa para as acusações de corrupção com recursos federais para combater a covid-19. Não há sinal de que o caso do senador seja apreciado no Conselho de Ética do Senado.

Quase normal
No Rio de Janeiro, a pandemia praticamente chegou ao fim. A menos de duas semanas para as eleições, o prefeito Marcelo Crivella derrubou as últimas restrições sanitárias para evitar o contágio na capital carioca. Os banhistas podem ficar à vontade na praia, está permitida a venda de bebidas alcoólicas, bem como o aluguel de barracas e cadeiras. Na avaliação de Crivella, o Rio atingiu a “imunidade de rebanho”. Em todo o estado, a covid-19 matou 20.651 pessoas, segundo os dados divulgados pelo ministério da Saúde.

Persona non grata
O Palácio do Planalto decidiu revogar a decisão de conceder o grau Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul à embaixadora das Filipinas no Brasil, Marichu Mauro. A diplomata caiu em desgraça após o flagrante de agressão a uma funcionária da representação filipina em Brasília. Marichu Mauro foi convocada pelo governo filipino para explicar a violência.

Centrão tenta esticar recesso parlamentar do Congresso até fevereiro de 2021

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Brasília-DF, por Denise Rothenburg

Se depender do ânimo do Centrão, as atividades legislativas se encerram em 20 de dezembro e só voltam em fevereiro de 2021, para a eleição da nova Mesa Diretora da Câmara e do Senado. Esse é mais um movimento dos líderes do bloco, partidários de Arthur Lira (PP-AL) para não dar protagonismo ao atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A ideia é dedicar esse período aos bastidores e fechar apoios que garantam a vitória do bloco.

Em conversas reservadas, os centristas têm dito que não adianta querer manter o Congresso funcionando em janeiro, sem que, por exemplo, os relatores das reformas apresentem seu trabalho. E, até aqui, não há garantias de que as reformas deslanchem antes de fevereiro.

Vai ter guerra

A atitude do Centrão de apostar no recesso e a reabertura de investigação na Procuradoria-Geral da República contra Rodrigo Maia por supostos recebimentos da OAS são vistos como movimentos coordenados para enfraquecer o presidente da Câmara. Se a corda continuar esticada desse jeito, não haverá clima para votar nada.

E cada um se arma como pode

A avaliação de parte dos congressistas é a de que tanto a PGR quanto o Centrão atacaram Maia cedo demais. Ao governo interessa votar, pelo menos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Sem ela, não poderá usar um doze avos do Orçamento em janeiro. E, sem aprovação da LDO, não há recesso. Ou seja, Maia ainda tem cartas para jogar e expertise política para montar sua estratégia. O fim de ano promete.

Padrinhos nada mágicos

A marca destas eleições municipais é a ausência de prestígio dos padrinhos. Jair Bolsonaro e Lula até aqui não serviram de alavanca a seus candidatos e Bruno Covas também tem feito carreira-solo em relação ao governador João Doria.

Sem efeito

Fracassou a ideia do PT de aproveitar as candidaturas deste ano para promover uma grande campanha pela inocência de Lula. A maioria dos candidatos, de olho na própria sobrevivência, abandonou esse movimento. Está cada vez mais difundida a máxima de que a política é local.

CURTIDAS

Corpo estranho/ Embora o líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), tenha jogado muito tempo ao lado de Arthur Lira, a relação, hoje, está trincada. Lira tem dito a amigos que a reforma tributária não anda por causa do relator.

Híbrido/ Depois de acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na visita ao Maranhão, o senador Roberto Rocha (foto, PSDB-MA) é visto como alguém que colocou um pé em cada canoa para o futuro.

Alguém será traído/ Roberto Rocha tanto pode apoiar o presidente, quanto dizer mais à frente que sua presença ao lado de Bolsonaro era institucional. A escolha do caminho — se o apoio a seu partido ou à reeleição — só se dará em 2022.

No embalo do eleitor/ A postura de Roberto Rocha, aliás, é a mesma em praticamente todos os partidos. Se Bolsonaro continuar popular, a maioria seguirá com ele. Se o eleitor o abandonar, a classe política que nunca foi bolsonarista raiz será a primeira a largar o presidente na chuva.

Desoneração da folha pode parar na Justiça

O pulo de Paulo Guedes
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Ao dizer que o imposto sobre transações eletrônicas não existe e, ao mesmo tempo, afirmar que não apoiará a desoneração da folha de pagamentos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou nos congressistas a sensação de que recorrerá à Justiça, caso o Congresso derrube o veto do presidente Jair Bolsonaro.

“Está muito claro que ele é a favor da desoneração da folha, é da Escola de Chicago, mas se não conseguir receita compensatória, vai reclamar e o caminho para isso é a Justiça. Ficou a dica”, relata o senador Esperidião Amin (PP-SC) à coluna.

Cientes de que essa briga será longa, os líderes do governo tentarão evitar que a sessão do Congresso, da próxima quarta-feira, alcance o quórum para a derrubada do veto. Até aqui, tem muita gente no Poder Executivo dizendo que é melhor evitar esse confronto agora. Falta convencer os congressistas, que prometeram derrubar o veto e sabem que não há acordo para substituição de impostos, nem tampouco para novos tributos.

O esforço das Forças

As Forças Armadas estão dedicadas a separar as estações, o seu papel de Estado e o lado político do governo, do qual quer manter distância regulamentar. Quanto mais separados, melhor. Assim, se o país enfrentar dificuldades de ordem política ou econômica, ninguém poderá apontar o dedo para os militares de um modo geral.

O esforço do governo

Desde o artigo do ex-porta-voz da Presidência general Otávio Rego Barros, publicado no Correio, na última terça-feira, o governo deflagrou movimentos para mostrar que, até aqui, as Forças Armadas tiveram um bom tratamento do governo do capitão: ganharam orçamento, melhoria salarial e uma previdência mais palatável.

Blinda aí

Com a exoneração do filho do Pastor Everaldo do governo do Rio de Janeiro, o governador em exercício, Cláudio Castro, espera tirar seu gabinete da linha de tiro em que o PSC entrou, com a prisão do religioso. Aliás, o governador fará tudo o que estiver ao alcance para ficar distante das confusões de Wilson Witzel e do escândalo que levou Everaldo à prisão.

Enquanto isso, no Ceará…

A notícia da conversa entre Lula e Ciro Gomes foi vista pelos petistas como uma forma de o ex-governador neutralizar a gravação que o ex-presidente fez para a campanha de Luiziane Lins à Prefeitura de Fortaleza.

Mais à frente, suspeitam os petistas, Ciro voltará ao “modo ataque” em relação ao Partido dos Trabalhadores. Eles não se esquecem de que, em 2018, Cid Gomes gritava para os partidários do ex-presidente “Lula está preso, seu babaca”.

Curtidas

Exército responde I/ A propósito da nota “quem cala…”, que mencionava a falta de posicionamento público do comandante do Exército, Edson Pujol, o Centro de Comunicação Social da Força mandou a seguinte nota: “O Centro de Comunicação Social do Exército informa que o comandante Pujol não ofereceu qualquer posicionamento a interlocutores em relação ao artigo do ex-porta-voz da Presidência general Otávio do Rego Barros”.

Exército responde II/ A manifestação do Exército segue dizendo que “é oportuno reiterar a postura institucional do Comandante do Exército em manter-se focado exclusivamente nos temas inerentes à Força Terrestre. Nesse sentido, a opinião do ex-Porta-Voz da Presidência da República é de sua única responsabilidade na condição de militar da reserva. O Comando do Exército repudia veementemente esse tipo de ilação, que de modo algum colabora para o aperfeiçoamento das instituições democráticas”.

Pior dos mundos/ A brincadeira de Bolsonaro, chamando os maranhenses de “boiola”, por causa da cor rosa do guaraná Jesus, deixou mal os candidatos ligados ao governo. Numa região considerada machista, quem não achou a piada do presidente homofóbica está com receio de ter problemas para explicar que ele não quis ofender os políticos nem os eleitores.

Por falar em Bolsonaro…/ O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) conversava dia desses com um amigo, quando, de repente, sai-se com esta: “Não dá para conversar aqui. Tem gente olhando!” Como se tratava de uma varanda, com uma mata próxima, o amigo não entendeu. Flávio, então, rindo, apontou para as árvores: um tucano acompanha tudo.

Centrão trava Congresso para não dar protagonismo a Rodrigo Maia

Publicado em Política

A confusão está posta na relação do governo com o Congresso e entre os principais atores da politica dentro do Parlamento. E a pimenta que passa do ponto nessa mistura é a eleição para presidente da Câmara. O chamado Centrão, assim como Bolsonaro, cansaram de ver o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dando as cartas. O Centrão não quer dar protagonismo a Rodrigo Maia nessa reta final de mandato, porque isso significaria mais poder para o comandante da Casa trabalhar a própria sucessão. Aliás, o grupo mais ligado ao líder do Centrão, Arthur Lira, está em contagem regressiva para fevereiro, certo de que, se jogar direito, terá a força para comandar a Câmara. Esse jogo, somado ao da oposição, que se retirou do plenário virtual e presencial até que Rodrigo Maia coloque em votação a medida provisória que baixou o valor do auxílio emergencial para R$ 300, travou tudo.

O presidente Jair Bolsonaro tem buscado no portfólio do primeiro escalão do governo alguém com expertise política suficiente para desfazer esse nó, mas, ao mesmo tempo, não quer brigar com o Centrão, de onde tirou o novo líder do governo na Câmara. Pende a balança para o Centrão, mas não entrega ao grupo o que essa turma mais deseja, um espaço dentro do Planalto, leia-se a vaga de Luiz Eduardo Ramos.

Com a disputa de poder na segunda metade do governo e desta Legislatura fervendo nos bastidores, onde ninguém acerta o passo e todo mundo age para sobreviver mais à frente, restou ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrar nessa seara para ver se ajudava a resolver o problema grave da crise econômica, que derrete o real e pressiona os juros. O problema, porém, é que, num cenário em que muitos batem cabeça, a entrada de Campos Neto tumultuou ainda mais. A turma do Centrão viu ali uma articulação do próprio Maia __ e não do presidente do BC __ para tentar recuperar protagonismo, como aliás, está posto na Coluna Brasília-DF no Correio Braziliense de hoje.

Da parte do governo, ficou exposta a ineficiência dos líderes para separar a disputa pela Presidência da Câmara do bom andamento das pautas __ algo que hoje não interessa ao Centrão, para não dar protagonismo a Maia. Esse imbróglio, porém, tem que ser resolvido até que 15 de novembro, porque, terminado o primeiro turno da eleição municipal, com a maioria dos deputados e senadores livres para voltar a atenção ao dia-a-dia do Parlamento, acabará a desculpa oficial das eleições para essa trava nas votações. É o prazo para que os atores tentem buscar uma solução para essa trama cada dia mais intrincada, a fim de ajustar o foco nos problemas do país, que vão muito além da disputa de poder das excelências. Se não o fizerem, 2020, um ano quase perdido, terminará sem qualquer votação que renove as esperanças de dias melhores para 2021, o que significa o pior dos mundos para Bolsonaro. Quando a economia balança muito, é hora da politica ter juízo.

Centrão fica contra a parede para destravar pauta na Câmara

Centrão
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

A entrada do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na seara política, com apelos pela desobstrução da pauta, deixou em muitos políticos a desconfiança de que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e parte dos líderes governistas estão falhando na tentativa de buscar um entendimento que faça deslanchar as votações importantes.

Não é papel do presidente do Banco Central trabalhar essas votações. Se entrou, dizem alguns, é porque bateu o desespero. E, se bateu o desespero, é porque a situação é grave.

Da parte dos congressistas, o Centrão agora ficará contra a parede: se mantiver a obstrução, por causa de projetos eleitorais futuros ou simples disputa de poder, terminará responsabilizado por postergar decisões importantes. Há um esforço marcado para 4 de novembro. A hora da verdade está chegando.

Em tempo: dentro da área política do governo, a conversa entre Rodrigo Maia e o presidente do Banco Central foi uma surpresa. As apostas são de que Maia fez uma jogada política para forçar o Centrão a voltar às votações em plenário. O grupo tem se mantido distante para não dar mais protagonismo ao presidente da Casa. A eleição do futuro presidente da Câmara já atropelou o Parlamento.

A ala Mourão

O vice-presidente Hamilton Mourão foi um dos que compartilharam o artigo Memento mori, do ex-porta-voz da Presidência da República general Otávio Rêgo Barros, publicado no Correio Braziliense. Na cúpula do Exército, muitos que receberam a mensagem do vice e o artigo diziam que, finalmente, alguém teve a coragem de falar em público.

A turma de Bolsonaro

Já o presidente Jair Bolsonaro não gostou, mas foi aconselhado a ficar quieto para não gerar mais celeuma em torno do alerta memento mori, feito por Rêgo Barros aos governantes de modo geral. Tem muita gente dizendo que esse silêncio não vai durar.

A ordem é distensionar…

A decisão da Anvisa, de liberar os insumos para produção da CoronaVac no Brasil, e a revogação do decreto que abriria os estudos para parcerias público-privadas na atenção básica à saúde, sem ouvir a pasta da Saúde, vão ajudar a evitar mais polêmicas no governo e centrar no que interessa: levar as reformas adiante.

…e mostrar serviço

O governo vai bater bumbo na aprovação do marco regulatório do saneamento, que já começa a render frutos. Só em Alagoas, já permitiu a concessão do serviço de 13 cidades, por R$ 2 bilhões. A área de comunicação vai esperar apenas juntar mais alguns exemplos para mostrar os avanços no setor.

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Quem cala… / Publicamente, o comandante do Exército, Edson Pujol, não moveu um músculo em relação ao artigo do general Otávio Rêgo Barros. Nas internas, porém, gostou.

Ou vai ou racha/ Espera-se para hoje o ingresso do presidente Jair Bolsonaro na campanha de Marcelo Crivella em busca de mais um mandato para governar a cidade do Rio de Janeiro. Nas internas da campanha, há quem diga que, se Bolsonaro não der uma levantada nos índices eleitorais do prefeito, é melhor Crivella começar a limpar as gavetas.

Enquanto isso, nas coxias da campanha de Eduardo Paes…/ A torcida é para Crivella ir ao segundo turno. Afinal, entre Paes e Crivella, muitos consideram mais fácil vencer o atual prefeito.

Apostas/ Ninguém aposta que a pauta do Parlamento será destravada em 4 de novembro. A expectativa é só depois da eleição. E olhe lá.