Autor: Denise Rothenburg
O resultado da votação pelo prosseguimento do processo de impeachment — 55 a 22 favorável ao afastamento da presidente Dilma –, deixou o vice presidente Michel Temer com a vantagem na largada do julgamento da presidente. Era tudo o que os aliados do vice queriam, uma vez que sinaliza a dificuldade do PT no colegiado que agora cuidará do julgamento, sob o comando dompresidentecdomSupremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.
Para o PT, o resultado traz desesperança. O partido não conseguiu atingir sequer 28 votos que esperava obter para garantir um fôlego maior, não dando a Michel os 54 votos necessários ao afastamento definitivo.
Ocorre que esse placar, ao mesmo tempo, não deixa Michel deitado em berço esplêndido. Isso porque, se dois senadores que votaram pela abertura do processo mudarem o voto, Dilma retorna.
No entanto, não será fácil para o governo tirar votos desses 55. Para mudar o placar, só se Michel Temer tiver um desempenho pífio nos próximos meses, algo que seus aliados não acreditam. Michel Temer é considerado um conciliador, tem uma vasta experiência política e está cercado de auxiliares com esse perfil,de diálogo com o Parlamento. Michel só perderá se errar demais. A bola e os pontos de vantagem estão com ele.
O futuro presidente em exercício, Michel Temer, pediu aos deputados que compareçam ao Planalto amanhã à tarde para o discurso de posse, 15h. A ordem é demonstrar apoio político. Afinal, ele vai precisar. Temer não pretende detalhar medidas econômicas nessa primeira fala. Apresentará apenas o receituário geral e aproveitará a presença da base aliada para mostrar força política em prol da recuperação econômica.
A pedido do futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a prioridade para acerto das contas públicas será a Previdência. Antes, porém a ordem é esperar que a Câmara resolva o impasse envolvendo o presidente em exercício, Waldir Maranhão (PP-MA). Ontem, ao dizer que não renunciará ao cargo, Maranhão tornou-se um problema, uma vez que, na Casa, a maioria não aceitará que ele presida as sessões.
Em tempo: Temer não pretende indicar ninguém para presidir a Câmara. É escaldado nessa tema. Sabe perfeitamente que Dilma passou a ter problemas com o presidente afastado, Eduardo Cunha, depois de patrocinar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra o peemedebista. Vai monitorar, sem investir em nenhum.
Números & cálculos I
Certos da abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, senadores do governo que sai e daquele que entra começam a trabalhar os votos para a fase seguinte. Os dilmistas calculam ter hoje 24. Se a conta estiver correta, faltam 4 para que eles fechem o número capaz de fazer com que Dilma volte ao governo em 180 dias.
Números e cálculos II
Michel Temer, nos bastidores, contabiliza 57. Precisa de, no mínimo 54. Dado o número de senadores indecisos, alguém está mentindo para alguém. No plenário da Câmara, os deputados prometeram votos para Dilma e terminaram no pró-impeachment.
Inimigo
A palavra é forte para os políticos, mas é assim que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se refere ao ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que ontem não obteve um voto contra a sua cassação. A revolta de Renan, ao ponto de não querer ver Delcídio no plenário para votar o impeachment, é porque chegou aos ouvidos do peemedebista que na delação premiada, o ex-colega direcionou toda a artilharia pesada ao comandante da Casa.
Ele não sabia…
Ao ser alertado por colegas de partido que a decisão de suspender a sessão do impeachment caminha para lhe custar a vaga de presidente em exercício da Câmara, o deputado Waldir Maranhão, saiu-se com esta: “Eu jamais imaginei que tivesse tanta repercussão”. Ah, tá.
Fica onde está
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não pretende ser ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Da ala de senadores do PSDB, apenas José Serra está com os dois pés no governo.
Noite longa
A previsão de término da votação do impeachment é 1 da matina desta quinta-feira. Só de discurso dos inscritos serão 16 horas e 15 minutos.
CURTIDAS
O pacificador/ Integrante da bancada do PV com trânsito entre os ruralistas, o deputado Evair de Melo passou a servir de ponte entre os futuros ministros do Meio Ambiente, Sarney Filho, e o da Agricultura, Blairo Maggi.
Trote I/ Assim que Waldir Maranhão divulgou um ofício revogando a decisão de suspender a votação do impeachment na Câmara, o deputado Sílvio Costa caiu no conto de uma voz parecida com a da presidente Dilma Rousseff. “Ô Silvio, que p… é essa?”, quis saber a voz. Sem perceber que não se tratava da presidente, ele foi logo se explicando: “Foi o Ciro Nogueira…”.
Trote II/ Costa só percebeu que não era Dilma quem falava quando já havia contado a reunião do PP em que Maranhão havia sido pressionado a rever sua decisão inicial para não correr o risco de perder o mandato. “Ah, essa me pegou!”, afirmou ele.
Chama a PF!/ O vôo da TAM JJ3437 que chegou de Salvador ontem terminou com integrantes do movimento negro obrigados a dar satisfações à Polícia Federal. É que ao perceberem que a deputada Tia Eron e o deputado Jutahy Júnor estavam a bordo, elas começaram a gritar “não vai ter golpe” e a criticar os parlamentares, sem levar em conta os apelos do comandante. Resultado: Ao desembarcar em Brasília, a PF foi chamada. Elas só foram liberadas depois de todos os passageiros saírem do avião.
O Partido Progressista joga nesse momento para tentar garantir sua permanência no comando da Casa, sem necessariamente cassar Eduardo Cunha, o presidente afastado. E como fazer isso? Uma comissão do partido vai pedir a Waldir Maranhão que ele renuncie ao cargo para preservar o mandato. Com a renúncia de Maranhão, o PP indicaria outro nome — há dois na roda, Aguinaldo Ribeiro e Esperidião Amin. Falta combinar com o próprio Maranhão e com o restante da Câmara.
Esse nome seria submetido ao plenário. Aprovado, ficaria no comando da Câmara pelo período que falta para a conclusão do mandato da atual Mesa Diretora. Vejamos as próximas horas.
A decisão de Maranhão não durou 24 horas. O presidente do Senado, Renan Calheiros,deu prosseguimento à análise da abertura do processo de impeachment. Ao anunciar sua posição, classificou a decisão de anular a votação do impeachment na Câmara de “intempestiva, extemporânea e, ainda, brincadeira com a democracia”.
Renan, entretanto, estava uma fúria agora há pouco, porque a Comissão de Constituição e Justiça deixou a votação sobre o mandato de Delcídio Amaral para quinta-feira. Assim, Amaral poderá votar o processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Para não permitir que um senador sob processo de cassação vote o impeachment, Romero Jucá sugeriu ao presidente da Casa que leve o caso direto para o plenário amanhã. É o Senado dando mais um recado: Que não irá procrastinar um pedido de cassação, como faz a Câmara em relação a Eduardo Cunha.
Diante da anulação da votação do impeachment pelo presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, para uma nova votação do pedido no plenário da Casa em cinco sessões, a presidente Dilma Rousseff pode ganhar tempo. O assunto agora, provavelmente, voltará ao Supremo Tribunal Federal (STF), com um pedido da oposição para rever a decisão de Maranhão. O pleno da Suprema Corte tem sessão marcada para quarta-feira, mas nada impede que faça uma sessão de emergência para avaliar esse caso.Mas, ainda assim, Dilma pode ganhar tempo. Maranhão pediu ao Senado que lhe devolva o pedido de impeachment para nova apreciação. Portanto, o presidente do Senado, Renan Calheiros, não poderá ler o pedido em plenário. Sem a leitura, não começa a contar o prazo de duas sessões, ou 48 horas, para votação na quarta-feira, ou seja, fatalmente sofrerá atrasos. Talvez, até o início da noite, tenhamos uma luz. Daqui a pouco, os líderes partidários farão uma reunião de emergência para avaliar a decisão de Maranhão. Para quem imaginava o mar da política agitado por causa da votação do impeachment no Senado, o que temos agora é um ciclone na política tropical.
A liminar que determina o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não só do cargo, mas do mandato, é vista como uma faca de dois gumes para o vice-presidente Michel Temer. Ao mesmo tempo em que representa uma folga nas pressões que Eduardo Cunha tem feito para nomeações no governo, gera insegurança quanto às votações de temas importantes para o futuro presidente quanto ao prazo para apreciação desses projetos.
Temer queria chegar apresentando proposta para votação ainda no mês de maio. A depender dos desdobramentos envolvendo Eduardo Cunha, o plenário pode entrar num período de paralisia, até que haja um desfecho final do comando da Casa, ou seja, a escolha de um novo presidente.
A ascensão do primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão, ao comando da Câmara não é vista com bons olhos por nenhuma das forças. Nem os temeristas, nem os dilmistas, tampouco a oposição de um modo geral. Maranhão só chegou ao cargo por causa dos acordos fechados por Cunha para a eleição de presidente da Casa no ano passado, quando o PT, ao lançar candidato, terminou fora da Mesa Diretora. Diante dessa realidade, e na hipótese de o Supremo Tribunal Federal confirmar o afastamento de Eduardo Cunha, a Câmara buscará eleger um novo presidente.
Uma eleição tensa
Essa etapa eleitoral, entretanto, não se mostrará pacífica. São vários os partidos que desejam o cargo, em especial, o PMDB e o PSDB. Os tucanos chegaram a cogitar essa vaga quando das primeiras conversas com Michel Temer. O PMDB da Câmara estrilou. A bancada peemedebista na Casa está se sentindo preterida na formação do Ministério e, para compensar isso, lutará como uma leoa para garantir o espaço de comando no Parlamento, se vier uma decisão do STF que confirme a liminar pelo afastamento de Cunha. Certamente, não haverá tranqüilidade para votação de pacotes econômicos.
Outros problemas
Um receio dos aliados de Michel Temer é que Eduardo Cunha tente boicotar o novo governo, caso se sinta acuado demais. Por enquanto, o deputado está apenas buscando espaços. Deseja indicar um técnico para a Receita Federal, e também quer alguém da sua estrita confiança para líder do governo na Câmara. Diante das circunstâncias, não conseguirá nem um nem outro. Esse é o alívio para Michel. E, por enquanto, o único.
Entre um governo de notáveis e outro que lhe renda votos no Congresso para aprovar medidas importantes logo na largada, o vice-presidente Michel Temer ficou com a segunda opção. Seus aliados informam que pancada maior do que o desgaste do toma-lá-dá-cá será patinar nas primeiras medidas econômicas a serem apresentadas.
O discurso para Michel Temer desistir de reduzir já o número de ministérios vai mais além: É que, sem uma reforma política, não há como promover uma reforma administrativa. E quem quer maioria para governar tem que se relacionar com esse congresso que aí está: São 24 partidos com representação na Câmara, sendo que apenas quatro não vão compor a base parlamentar de Temer __ PT, PCdoB, Rede e PSol. Michel Temer, entretanto, faz chegar a todos escalados para representar os partidos: “Vocês nomeiam e eu demito”. Ou seja, se o sujeito indicado não apresentar resultados ou se enrolar no cargo, estará fora.
Vingança
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, não brinca. Essa semana, mandou exonerar Mônica Azambuja da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A funcionária chegou para trabalhar e lhe pediram o crachá, porque estava demitida “por ordem da ministra”. Mônica foi casada por 27 anos com o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves.
Dança das cadeiras I
A cúpula do PR comunicou a seus deputados que o convite para integrar a equipe de Michel Temer incluía o Ministério dos Transportes acrescido da estrutura da pasta da Aviação Civil. A bancada do PMDB na Câmara foi informada de que a Aviação Civil não será incorporada aos Transportes e será entregue a um representante do partido na Câmara.
Dança das cadeiras II
Quem acompanha o dia-a-dia das negociações de Michel Temer avisa: “Até o dia da posse, nada é definitivo”.
Nem vem
O chefe do Estado Maior do Exército, general Sérgio Etchegoyen, esteve com Michel Temer na noite de terça-feira e, segundo interlocutores do vice-presidente, ainda insiste na recriação do Gabinete de Segurança Institucional. Temer não pretende recriar cargos. Já chega o fato de não conseguir extinguir tantos ministérios como gostaria. Afinal, é um novo governo com Congresso velho.
CURTIDAS
Festa no vizinho/ Renan Calheiros e Eduardo Cunha que se preparem: uma das vizinhas, a advogada Fernanda Hernandez, prepara uma recepção para o filho e a noiva, em sua mansão. É a prévia de casamento, que será em junho, na Grécia. Do jeito que a vida de Cunha e de Renan anda complicada, tudo o que eles querem é distância da badalação.
RSVP/ O senador Gim Argello (PTB-DF), se estivesse liberado, certamente estaria presente. Ele é ligado a Alexandre Pantazis, parente da noiva. Para quem não se lembra, Pantazis é aquele empresário milionário, que já foi filiado ao PTB de Gim e terminou acusado de vender trilhos de má qualidade para a Ferronorte.
Por falar em Gim…/ Seus amigos informam que ele está mais magro e chora todos os dias, por causa da condução coercitiva do filho e o receio de que também acabe preso. Aliás, a carceragem de Curitiba ganhou o apelido de Spa do Moro. Todos que passaram por lá saíram mais magros, inclusive Mônica Moura e João Santana.
Onaireves II/ Assim os deputados aliados ao governo se referem ao deputado Adail Carneiro, do PP do Ceará. Ele saiu do secretariado de Camilo Santana para votar a favor de Dilma na Câmara. Numa tacada só, traiu o governador, Dilma, Lula e ainda os irmãos Cid e Ciro Gomes. Onaireves, para quem não se lembra ou é jovem, foi o deputado que fez um jantar de apoio para Fernando Collor em 28 de setembro de 1992 e, no dia seguinte, votou a favor do impeachment.
E o Cunha, hein?/ Hoje, com o julgamento do Supremo Tribunal Federal, voltará ao foco.
A poucos dias de assumir a presidência da República, o vice presidente Michel Temer passou uma descompostura (bem ao seu estilo, quase imperceptível) no grupo mais próximo e desautorizou todos a falar sobre economia. Com o jeito educado que o caracteriza, Michel abriu a reunião do chamado “núcleo duro” anunciando que a única pessoa autorizada a falar sobre política econômica é o quase ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e, além dele, o futuro presidente da República. aos demais, resta apenas reforçar o que Temer e Meirelles disserem.
A “bronca” tem um objetivo claro: evitar que a presidente Dilma Rousseff, sempre de olho nos passos do vice, tente se antecipar a ele, de forma a boicotar ou se antecipar a ações que estão em planejamento no Palácio do Jaburu. O reajuste do Bolsa Família, dizem aliados de Temer, foi um desses projetos que veio sob encomenda para evitar que o vice pudesse elevar os valores pagos aos mais pobres.
Ayres, o nome
O vice-presidente Michel Temer não desistiu de nomear um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal para comandar a Justiça ou a Defesa. Ontem, jantou com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, de quem é amigo. Sinal de que vai insistir.
Cunha contra Maia
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passou a trabalhar contra a indicação de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para líder do governo Michel Temer na Câmara. São dois problemas: primeiro, Cunha prefere alguém que responda mais ao seu comando. Em segundo, Rodrigo é do Rio, onde o presidente da Câmara não pretende ver ninguém brilhando acima do PMDB.
Dúvida cruel
A presidente Dilma Rousseff foi alertada por alguns amigos que, em caso de impeachment, ela perderá a aposentadoria presidencial e os seguranças a que tem direito. Se renunciar, não perde esses benefícios. É algo a pensar. Porém, no momento, ela não cogita.
Realidade cruel
Apenas no final da semana passada a presidente passou a ter ciência de que seus dias no poder estão contados e que um governo Michel Temer, depois de ganhar fôlego, só terminará em 01 de janeiro de 2019.
CURTIDAS
Aproveita, querida/ Dilma vai aproveitar esses últimos dias para inaugurar casas populares e dar entrevistas. Hoje é a vez da BBC. Em sua equipe, há quem desconfie que, passada a posse de Temer, as falas da presidente afastada vão virar nota de rodapé.
Terra de Murici/ A ausência de Lula no 1 de maio foi lida por muitos como o gesto de “adeus, querida”. Ontem, a ida do ex-presidente a Brasília foi vista mais como uma ação para cuidar de si, depois da denúncia ao STF! Do que uma ajuda à presidente Dilma. Não é de hoje que alguns petistas de peso afirmam que Lula só pensa em si.
Ensaio geral/ O ex-deputado Geddel Vieira Lima acompanhou a reunião de Michel Temer com o presidente do PSDB, Aécio Neves. Já exercia ali o papel de articulador político do futuro governo Michel Temer.
Vem aí/ O vice-presidente Michel Temer vai mandar colocar uma tenda, com banheiro, café e água para os repórteres que fazem plantão no Palácio do Jaburu. Ufa!
Enviado do meu iPad
Uma febre levou o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, ao posto médico da Presidência da República esta tarde. Diante da epidemia de H1N1, todo o cuidado é pouco.

